CASTELO ELDORADO, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO MARILÂNDIA DO SUL – 1942-1964

Por sidney mori da cruz | 03/07/2017 | História

 

RESUMO:

Este artigo pretende discutir a memória do Castelo Eldorado. Uma propriedade particular localizada no Norte paranaense, cuja História remete ao período áureo do desbravamento do Paraná. Este trabalho irá dissertar sobre memórias e patrimônio, objetivando manter viva a memória individual e coletiva, quanto a localidade e a História da “República do Eldorado”. Também discutirá a relação deste com a História de Marilândia do Sul, e a sua importância para o município, bem como a sua relação com a História local, retratando o Castelo Eldorado como patrimônio para os seus munícipes; para a história regional, pois está inserido no contexto da colonização do Norte pioneiro e de uma forma sucinta para a história mundial; pois o personagem central da História é um colonizador alemão que parte para o Brasil em busca de um sonho, de um ideal. Onde a sua saga é narrada ante aos acontecimentos bélicos envolvendo a os conflitos na Europa e no mundo todo com a II Guerra Mundial. Para problematizar, o objetivo deste trabalho é não deixar que morra a memória histórica do Castelo Eldorado e apresenta-lo como um Patrimônio Histórico; e assim criar uma identidade histórica que permaneça viva às ações do esquecimento.

INTRODUÇÃO

Sob a perspectiva historiográfica há uma grande quantidade de artigos, teses e livros que tratam da imigração de europeus no Brasil. Desde 18121 levas de imigrantes aportaram em solo brasileiro, estes carregando em suas malas, bagagens de planos e sonhos futuros.

Muitas cidades foram construídas a partir destas imigrações, formando colônias de imigrantes europeus que se estabilizaram em várias regiões do Brasil.

Esta imigração continuou no final do século XIX e início do XX; a produção industrial apresentava altos índices de excedente fabril e havia também uma forte demanda por matérias primas e mão de obra.

Países como França e Inglaterra, movidos pelo capitalismo interno são impulsionados a buscar através da conquista militar o espaço ocupado por outros povos e nações, é neste contexto capitalista que surge o Imperialismo2.

A partir da prática Imperialista em curso, muitos indivíduos aventuraram-se em outras terras; “O aventureiro e o missionário encontraram no Estado financiado pelo capitalista o mecenas para a realização do ideal civilizatório” (JOANILHO, 2011.p 19).

Estes países para justificar sua invasão a estas nações, as pautaram como raças inferiores, e se elegeram a si mesmas como povos que alcançaram a plenitude civilizatória na evolução das espécies.

Surge também neste contexto o Pangermanismo3 alemão que impulsiona mais ainda os ideais de imperialismo.

Fazendo assim uma comparação às teorias de Darwin no mundo animal, julgando-se como nação civilizadamente “superior”, subjugaram as outras como “inferiores” e apossaram-se de seus recursos naturais para atender as nações superiores em seu pressuposto estágio evolutivo alcançado.

Segundo Hobsbawm (1995, p. 29-61), o contexto das duas grandes guerras é marcado pela ideologia alemã, pelo racismo, religião e políticas de segregação. O cenário Europeu passa a ser redesenhado, tendo a Alemanha como principal protagonista nos dois grandes conflitos mundiais.

As duas grandes guerras do século XX podem ser definidas pela sua estratégia política, as nações começaram a unir-se em alianças militares no sentido de unir forças, visando a exploração do imperialismo.

Surgem as ideologias, e ataque e defesa são as pautas da guerra; assim a deflagração da I Grande Guerra se deu pelos interesses de imperialistas e capitalistas.

Todos os envolvidos tinham de certa forma a preocupação quanto a defesa de suas colônias e territórios conquistados, ou o ataque em busca de maiores extensões de terras, prestígio e poder.

No pós-guerra o cenário político e geográfico da Europa ficou completamente alterado, colônias ocupadas passaram às mãos dos aliados vitoriosos, e os países perdedores, iniciam agora um novo regime de ideologias racistas e nacionalistas.

Governos totalitários e líderes absolutistas como Hitler na Alemanha e Mussolini na Itália, começam a traçar o cenário da II Guerra Mundial.

Durante o apogeu dos grandes conflitos a partir do ano de 1914 muitos cidadãos de países envoltos nestes conflitos se aventuram em lugares novos, assim o Brasil passou a ser alvo de milhares de imigrantes que aportaram em solo brasileiro trazendo consigo um ideal de vida e trabalho.

Um destes imigrantes alemães, João Henrique Stalk chega à região Norte do Paraná com o mesmo sonho e ideal de todo imigrante europeu. Stalk idealiza e constrói entre os anos de 1942-1964 a “República do Eldorado”, empreendimento industrial, residencial e comercial que dá início à atividade comercial e econômica de extração da madeira de Pinheiro (Araucária).

O periódico: Revista Jeito, em sua publicação número 14 do Ano 2 de Setembro de 1988, traz em sua edição uma reportagem sobre o Castelo Eldorado e a República do Eldorado.
 

Mesmo estando situada em um município, a área era chamada de “República do Eldorado”, contando com 780 residências, hotéis, escola, igreja, farmácia, contabilidade e moeda própria que circulava no local sob a denominação “borio”, aceita pelos comerciantes de Marilândia do Sul e Apucarana. (JEITO, 1988 p.19).

Stalk constrói o Castelo Eldorado, Patrimônio Histórico da cidade de Marilândia do Sul4, como sua residência e toda estrutura necessária para o beneficiamento da Araucária.

Para melhor compreensão este artigo faz uso da metodologia da pesquisa oral e cita fontes orais de pessoas que vivenciaram em seu contexto o auge da República do Eldorado.

História Oral é uma metodologia de pesquisa e constituição de fontes para o estudo da história contemporânea surgida em meados do século XX, após a invenção do gravador a fita. Ela consiste na gravação de entrevistas gravadas com indivíduos que participaram de, ou testemunharam acontecimentos e conjunturas do passado e do presente. (ALBERTI, 2005, p. 25)

CASTELO ELDORADO, MEMÓRIAS E LEMBRANÇAS

Memórias, são fundamentais no processo histórico; e importantes na vida pessoal e coletiva das pessoas que vivem em comunidades. As memórias podem ser materializadas a partir da reflexão de um momento ou da observância de um lugar, os denominados “lugares de memória”, segundo (NORA, 2011: p.12) estes lugares são localidades em que a lembrança histórica é trazida à memória.

O patrimônio histórico cultural de um povo, incluindo seus costumes, dança, poesia, melodias, festas, contos, folclores e comidas típicas se constituem em memórias materializadas, onde são lembradas e remetidas as gerações posteriores.

O Castelo Eldorado é um destes lugares de memórias, onde o visitante é remetido às memórias do passado, possibilitando a reflexão ao relacionar o contexto da imigração, da guerra e da extração da madeira.

1 Os imigrantes alemães começaram a chegar no Brasil em 1812 e se estabeleceram no Rio de Janeiro, criaram as colônias de Santo Agostinho e Nova Friburgo, a partir de 1824 iniciou-se a direção destes para os estados da região Sul. Levy, Maria Stella Ferreira. "O papel da migração internacional na evolução da população brasileira (1872 a 1972)." Revista de Saúde Pública 8.supl. (1974): p 51.

2 Imperialismo é a denominação do período entre 1870 e 1914 em que Estados Unidos e países da Europa Ocidental impunham a conquista e subjugação como forma de crescimento econômico, impondo sua política, economia e cultura a países da: África, Oceania, América latina e Ásia; considerando as como nações atrasadas passives de serem conquistadas em prol do progresso. (BRUIT, Hector H. O. 1988).

3 Pangermanismo: Ideal alemão de caráter nacionalista e de superioridade racial que se constituía em unir todos os povos germânicos da Europa Central em uma única nação. (MAGALHÃES,2014)

4 Município de 8.863 habitantes segundo senso do IBGE de 2010, localiza se no Norte paranaense distante 379 km da capital Curitiba e está inserido na Região Metropolitana de Londrina. POLIDORO, Maurício; TAKEDA, Mariane Mayumi Garcia; BARROS, Omar Neto Fernandes. Mapeamento do índice de carência habitacional na Região Metropolitana de Londrina–PR. Geografia (Londrina), v. 18, n. 2, p. 75-87, 2009.

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