Carta aberta de Che Guevara aos políticos brasileiros
Por Luiz Eduardo Farias | 14/01/2011 | HistóriaGostaria muito de abrir esta mensagem com felicitações, mas isso não será possível. Pessoas como vocês não mereceriam tal atitude. No mais, o que tenho a dizer é direto e curto, até porque não tenho tanto tempo a perder.
Durante a minha estada em Cuba, após a revolução, sempre tive um papel fundamental no novo regime. Era um dos três homens mais poderosos deste país. No entanto, sempre tive em mente que era um representante do povo e, desta forma, tentei ao máximo honrar a minha imagem de homem público.
No meu tempo de ministro não aceitei salários, pois poderia viver com o soldo de $125,00 de oficial do Exército Rebelde. Como posso ser um representante do povo se não viver semelhante a ele? Por isso, jamais vivi em mansões, nunca tive carros luxuosos e possuía hábitos de vida humildes. Para mim, isso nunca foi um esforço e sim uma obrigação.
Fiquei sabendo que vocês têm o costume de empregar seus parentes e usar verbas públicas para favorecer pessoas próximas. Não aprenderam nada comigo! Quando recebia meus pais em Cuba eu exigia que eles pagassem a gasolina e as refeições que fizessem. Quando a minha esposa recebeu de presente um par de sapatos italianos eu a repreendi: "a cubana comum usa sapatos importados?" Não. Então porque ela usaria?
Confesso que talvez, para os outros e não para mim, possa ter sido exagerado. Lembro-me de um dia que minha filha adoecera e sua mãe pediu o carro para levá-la ao hospital. Não pensei duas vezes e a mandei ir de ônibus, como todos faziam. Pode parecer muito duro, mas era contra os meus princípios utilizar o carro e o combustível "do povo" em benefício próprio.
Sei que esta mensagem não irá mudar a forma como vocês fazem política. Aliás, somente acredito na revolução como forma de libertar o povo das amarras imperialistas e devolver a sua soberania numa sociedade em que o indivíduo seja substituído pela comunidade. Não obstante, como vocês jamais farão uma revolução para o povo (vide 1964), poderiam ao menos aprender que seus cargos não são uma profissão de carreira e sim uma vocação.
Entendo bem porque o povo do seu país deixou de acreditar em vocês. Mas o meu exemplo permanece para que possa ser seguido. Será que um dia serão capazes de reproduzi-lo?