Carne vendida
Por GILBERTO NOGUEIRA DE OLIVEIRA | 22/11/2011 | PoesiasCARNE VENDIDA
Belo Horizonte, 21-01-1977
Quem já viu alma mais pura,
Quem já viu coração maior,
Como a alma e o coração
De uma Manoela qualquer?
Jogada à toa na vida,
Nas presas famintas
Dos monstros da noite.
Foi o sistema quem lhe impôs.
Quem já viu a prostituta,
Sabe como ela é.
Aluga sua própria carne
E ganha muitas doenças
E pouco dinheiro,
Que mal dá para comprar
A carne que lhe é roubada,
Ou mesmo para comprar a carne,
Para mantê-la dentro da pele.
Não tem vontade própria,
Faz o que o seu dono mandar,
Sofre por falta de carinhos.
Isso ela nunca viu nem verá.
Perde sua noite
Pensando que está ganhando a vida,
Perde sua vida
Pensando que está ganhando a noite.