Características Do Ensino Da Redação Em Londrina
Por Djalmira Sá Almeida | 26/06/2008 | EducaçãoAtravés das leituras que tenho feito acerca do ensino de redação no Brasil, do envolvimento em cursos de capacitação de professores do Paraná, das pesquisas que venho realizando nas escolas da periferia e centro de Londrina e da minha experiência com diversas modalidades de ensino em diferentes níveis e séries, posso afirmar que o ensino da norma e argumentação lingüística nas escolas, tanto públicas quanto particulares, não tem alcançado seus objetivos primordiais, nem no que se refere ao preparo de alunos leitores autônomos e produtores competentes de textos nem quanto à produção escrita do professor.
Vejo que há uma defasagem no ensino da língua portuguesa que se revela nos textos dos alunos, demonstrando que, mesmo com a insistência da escola em priorizar a norma culta com base em regras gramaticais, ainda assim, o aluno não está apresentando mudança de estágios como se espera, quanto aos níveis de aquisição da linguagem.
Em conseqüência dessa defasagem, o conhecimento lingüístico do aluno tende a uma estagnação, revelando uma cristalização do seu dialeto nas fases da influência dos amigos e da vizinhança, acarretando uma manutenção desse estágio durante as séries do 1o e 2o graus, chegando ao Curso Superior ainda no mesmo nível e, na maioria das vezes, até quando esse aluno busca uma profissionalização.
Utilizei o modelo laboviano para entender até que ponto o professor pode intervir para auxiliar o aluno nas mudanças de estágios, acompanhando-o nesse processo através do diálogo.
Refletindo sobre os níveis de aquisição da linguagem e a dificuldade que os alunos enfrentam no momento de criar conhecimento e na passagem para a transformação desse conhecimento, passei a crer que o problema é muito mais complexo do que é possível supor, pois está na dependência de outros fatores: do preparo do professor para ensinar a escrever, da metodologia que ele utiliza, dos objetivos que são priorizados para a escrita, do entendimento da família quanto à função social da escrita e da valorização dos que sabem e gostam de escrever e de ensinar a escrever, pela sociedade .
Mediante os resultados da minha pesquisa, durante o curso de mestrado em Filologia e Lingüística de Língua Portuguesa, foi possível constatar três características básicas do ensino de redação nas escolas de Londrina: todas as atividades de gramática são efetuadas completamente isoladas dos problemas dos textos dos alunos; o dialeto padrão utilizado na escola só serve na hora da aula, também desvinculado dos desvios do dialeto dos alunos, sem nenhuma preocupação de descrição, análise e estratégias de escolhas para utilizar em diversas situações; o tratamento dado à leitura apenas como pretexto para avaliar gramática e interpretação, sem vincular à literatura nem à redação.
Essa postura das escolas pesquisadas retrata uma realidade comum em todas as escolas de região, visto que recebem alunos de diversos pontos da cidade. Isso dificulta a emancipação desses alunos como cidadãos, pois dificilmente é externado o pensamento deles ou então, os textos são cópias e reproduções mal feitas de outros textos ou propostas de redação que já apareceram em concursos públicos.
Neste sentido, analisando os resultados da pesquisa, percebi que o ensino de Língua Portuguesa em Londrina, especialmente nas escolas em questão (Mercedes Martins Madureira, Hugo Simas, Vani Ruiz, Vicente Rijo e Colégio São Paulo), embora apresentem uma tendência interacionista e operem com atividades voltadas para a construção do conhecimento (o que já é um grande avanço) ainda deixam a desejar quanto ao ensino de redação. Necessitam tomar uma direção, no sentido de exigir que seus alunos vivam o ato de escrever na escola, para utilizar na vida, e não só para aprender a ler/interpretar lições de livros didáticos, mas interpretar todo tipo de texto e escrever sobre qualquer assunto, com significado e utilidade.
Para que isso aconteça, proponho que as escolas em questão renovem seus planos político-pedagógicos envolvendo as diversas áreas do conhecimento em projetos coletivos, priorizando a interdisciplinaridade e a exploração de várias linguagens na manifestação do conhecimento. A utilização de recursos criativos como oficinas de leitura, clubes de pesquisas, grupos de estudos e projetos de monitoria são estratégias que fogem da rotina escolar as quais os professores podem adotar para alcançar a amplitude, unidade e diversidade de sua disciplina.
Neste trabalho relato experiências com oficinas de leitura e produção de textos no Curso Superior, bem como procedimentos com disciplinas especiais envolvendo a interdisciplinaridade numa abordagem pragmática nos cursos de História, Ciências Sociais, Processamento de Dados, Pedagogia, Letras, Ciências Contábeis e Secretariado Executivo. Com essas experiências pretendo comprovar que a cada novo plano e a cada nova execução verifico o crescimento que vou adquirindo como profissional, além de perceber a necessidade de sempre estar buscando mais conhecimento para atender a um novo grupo.