Capítulos da vida

Por Themis Groisman Lopes | 15/02/2012 | Crônicas

Capítulos da vida

 

 

A cobrança de pênalti sugere uma missão tão fácil. O jogador está diante de seu grande objetivo: o gol. De tão atingível e próximo, parece ser impossível errar. Apresenta alguns obstáculos, tais como: exigência da torcida, nervosismo do jogador, feliz posicionamento do goleiro e naturalmente as traves. Alguns consideram a cobrança uma loteria, outros garantem que só depende da maestria de quem a faz.

 

Final de campeonato. Estádio lotado. Aos quarenta e quatro minutos do segundo tempo, a partida estava empatada. Nesse momento, Carlão é derrubado na área. É marcado pênalti. O próprio jogador, cobrador de faltas do time, posiciona-se para batê-lo.

 

Enquanto o juiz ultima os preparativos, passa pela cabeça de Carlão, em fração de segundos, uma situação muito semelhante a essa: seu casamento. Marina e ele, apaixonados, estão no altar, defronte ao padre. Os convidados lotam as dependências da igreja. De cada lado do sacerdote, junto aos padrinhos, estão seus pais e seus futuros sogros, que para ele, eram uma incógnita. O casamento se realiza sem nenhum impedimento. Os noivos vão felizes para a lua-de-mel . Tudo deverá dar certo, se amam tanto!

 

Após alguns meses, o casal começa a apresentar desentendimentos. Cada um tem um esquema de vida, chateando-se porque o outro não pensa da mesma forma. A sogra de Carlão era uma legítima jararaca. Interfere de todas as formas na vida dos dois. Marina sempre defende a mãe. As discussões se sucedem. Ora por causa de dinheiro, ora por ciúmes ou por qualquer motivo insignificante. O que parecia ter tudo para dar certo, está prestes a acabar. Discutem a possibilidade de separação.

 

O devaneio do jogador é interrompido pelo apito do juiz, autorizando a cobrança do pênalti. Carlão prepara-se, dá a moderna paradinha, e chuta a bola direto nas mãos do goleiro. A torcida vaia. O arqueiro tenta chutar a bola para longe. Essa escapa de seus pés e, no rebote, Carlão coloca a bola no fundo das redes, com uma jogada magistral.

 

Goool.....

 

O árbitro apita o fim da partida. Comoção geral. O herói é festejado pelos companheiros e dirigentes. Nesse momento, nosso personagem sai em desabalada corrida. Nem entra no vestiário. Vai direto para casa. No caminho, compara seu pênalti não convertido, ao seu casamento fadado ao fracasso.

 

Percebe, então, que no jogo, apesar do primeiro erro cometido, houve uma possibilidade de reversão. O acerto aconteceu.  Segue pensando: quem sabe em seu relacionamento, os desacertos possam ser equacionados, ou mesmo resolvidos, ocorrendo também ali uma chance de rebote e, com ela a marcação de um outro gol.

 

 

 

Themis Groisman Lopes