CÂNCER SOCIAL
Por João Cândido da Silva Neto | 27/04/2011 | FilosofiaCÂNCER SOCIAL
Se você espetar um espinho na pele e o não retirar, após alguns dias verá que em volta dele surgiu um líquido purulento.
Este líquido é formado por bactérias e pelos leucócitos, os glóbulos brancos do sangue, que cercam o invasor (o espinho) como forma de proteger o corpo e o defender de ataques externos. Dessa forma o próprio corpo humano nos mostra que possui suas defesas contra ataques do desconhecido.
Ao longo da História sempre se assistiu a eclosão de movimentos sociais se rebelando contra determinadas situações, seja pela vontade de uma minoria descontente, seja pela própria magnitude da sociedade que, frequentemente, rejeita o antigo, o ultrapassado, aquilo que se tornou estranho por não mais se enquadrar no processo dinâmico de mutação do tecido social.
Quando Antonio Conselheiro criou o Arraial de Canudos, na Bahia, e arrebanhou uma população enorme ao seu redor o objetivo era viver em paz, fugindo da falsidade, da hipocrisia e do infame tratamento que lhes dispensavam os poderosos. Mas esse distanciamento recebeu pesadas acusações dos que julgavam aquilo uma agressão à ordem social vigente; e o arraial foi destruído e toda a sua população sucumbiu sob as balas dos fuzis e canhões do Exército Brasileiro cumprindo ordens da poderosa classe dirigente.
Os desmandos dos poderosos e a exploração da população pobre e desassistida justificariam, logo em seguida, o surgimento dos cangaceiros, que infernizaram o Nordeste por muito tempo, para desassossego dos políticos e desespero dos "coronéis". Mas os cangaceiros foram combatidos à exaustão até que tombou o mais afamado deles e o cangaço começou a definhar até desaparecer. De lá para cá a situação social da região mudou, mas sem exageros.
O Poder sempre perseguiu e puniu com violência os que se atreveram a afrontar o direito dos mais fortes de explorarem e oprimirem os mais fracos.
A sociedade atual grita a plenos pulmões, denunciando que a ordem social vigente está fora dos padrões de coerência reconhecidos pelo bom senso.
Gritam os moradores das favelas e gritam os meninos que vendem balas nos semáforos para ajudar suas famílias. Gritam as adolescentes que se prostituem nas ruas, enquanto seus pais gritam porque não foram capazes de sustentar suas famílias e são obrigados a se reconhecerem impotentes diante do caos social que não provocaram, pois são apenas vítimas indefesas e um número a mais nas estatísticas do descalabro moral.
Grita a mãe humilde que, mesmo aflita, espera pacientemente, com o filho no colo, a sua vez de ser atendida no Hospital Público; grita a vítima da bala perdida, disparada não se sabe, se pelo policial que cumpria ordens de garantir a tranquilidade social, se pelos meliantes que denunciam (e jogam em nossas caras) o fracasso desse modelo sócio-econômico preconizado e sustentado pela cupidez insensata do Status Quo agonizante.
Gritam os detentos enjaulados nas masmorras; gritam os jovens desorientados que buscam nas drogas fuga e consolo para os infortúnios de suas existências miseráveis.
Gritamos todos nós.