Câncer bucal e a contribuição da Odontologia

Por SAMARA RIBEIRO DA SILVA | 22/08/2015 | Saúde

SILVA, Samara Ribeiro

 

            O câncer bucal é uma injúria perene e, muitas vezes, dispendiosa que necessita ser tratada precocemente, posto que quanto mais tardiamente inicia-se o tratamento, maiores são as mutilações e pior o prognóstico. No entanto, apesar de seu diagnóstico ser relativamente fácil, comumente através de uma lesão ulcerativa presente na cavidade oral, quase sempre ele é determinado tardiamente, acarretando sequelas funcionais, estéticas e sociais ao paciente.

            Nesse contexto, inúmeras áreas no campo da saúde podem, direta ou indiretamente, contribuir para a prevenção do câncer bucal. Todavia, a Odontologia, como ciência diretamente ligada à área de sua incidência pode, satisfatoriamente, atuar na promoção da saúde e prevenção precoce da lesão. Mas, a realidade se revela assustadora ao notar que, em muitas situações, o profissional cirurgião-dentista ou mesmo o discente da área não se mostram preparados e habilitados para lidar com a situação.

            Em inúmeras pesquisas, realizadas em diferentes regiões geográficas, que buscavam avaliar o conhecimento e as práticas de estudantes e cirurgiões-dentistas acerca do câncer bucal, o conhecimento mostrou-se insatisfatório relacionado à doença.

            Em determinado trabalho realizado por Gaetano Nicotera e colaboradores, na Itália, através de um questionário que procurava avaliar o conhecimento de 215 profissionais, somente cerca de 53,0% dos cirurgiões-dentistas sabiam indicar o tipo de câncer mais comum da boca. E menos que 5,0% declararam saber como examinar a língua em busca de lesões suspeitas. No Brasil, Suélem Maria Santana Pinheiro e colaboradores, em estudo semelhante que buscava avaliar o conhecimento de 38 profissionais, na Bahia, identificaram quase 40,0% dos entrevistados que se sentiam incapacitados para realizar procedimentos de biópsia (exame complementar utilizado para auxiliar o estabelecimento do diagnóstico, através de uma amostra coletada da lesão).

            Para atuar com eficiência na prevenção de uma doença é plausível que se saiba identificar a população de risco e, assim, instituir medidas que possam atingir benéfica e favoravelmente os indivíduos em questão, de modo a diminuir a probabilidade de ocorrência da doença. Portanto, a saber, o câncer bucal é lesão que acomete mais o gênero masculino, indivíduos leucodermas (etnia branca), com idade acima dos 40 anos e que, frequentemente, apresenta hábitos tabagista e etilista.

            Oliveira e colaboradores ao avaliar o conhecimento de 160 acadêmicos, no Rio Grande do Norte, observaram que pouco mais de 50,0% sabiam identificar o gênero mais acometido pela lesão, e cerca de 45,0% não sabiam afirmar qual a faixa etária mais prevalente. Na Espanha, por sua vez, Raquel González Matínez e colaboradores notaram que dos 224 cirurgiões-dentistas entrevistados, aproximadamente 77,0% conheciam os efeitos prejudiciais do tabaco sobre a saúde oral. Mas, somente cerca de 43,0% afirmaram terem sido treinados a lidar com pacientes tabagistas que querem abandonar o hábito.

            Diante do exposto, o câncer bucal representa considerável problema de saúde pública. O Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) estimou, para o Brasil, no ano de 2014, 11.280 novos casos de cânceres orais em homens (11,54/100 mil) e 4.010 em mulheres (3,92/100 mil). Essas taxas permitem que a doença ocupe desde o quarto ao sexto local das doenças neoplásicas mais frequentes, nos homens, e desde a nona até a décima quinta posição, nas mulheres, em dependência da localização no estado.

            Faz-se, portanto, necessária uma abordagem intersetorial e multidisciplinar no intuito de estabelecer estratégias de prevenção que visem diminuir a incidência e a prevalência de tal injúria. Em especial, é necessária uma abordagem específica direcionada aos cirurgiões-dentistas e estudantes de odontologia, com ações que visem prepara-los a lidar com o câncer bucal, visto que, em alguns aspectos ainda revelam-se despreparados para atuar na prevenção, na limitação dos danos causados pela enfermidade ou mesmo na reabilitação do paciente portador do câncer bucal.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

GONÇALVES AJ, ALCADIPANI, FMAC. Clínica e Cirurgia de Cabeça e Pescoço. Ribeirão Preto: Tecmedd, 2005. 432 p.

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA. Estimativa 2014: Incidência de Câncer no Brasil. Disponível em: http://www.inca.gov.br/estimativa/2014/index.asp?ID=3.

MARTÍNEZ RG, MOLINA ED, ESCODA CG. A survey of oral surgeons tobacco-use-related knowledge and intervention behaviors. Med Oral Patol Oral Cir Bucal. Jul 2012; 17 (4): 588-93.

NEVILLE BW, DAMM DD, ALLEN CM, BOUQUOT JR. Patologia Oral e Maxilofacial. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 798 p.

NICOTERA G, GNISCI F, BIANCO A, ANGELILLO IF. Dental hygienists and oral cancer prevention: knowledge, attitudes and behaviors in Italy. Oral Oncology. Jan 2004; 40: 638-44.

OLIVEIRA JMB, PINTO LO, LIMA NGM, ALMEIDA GCM. Câncer de Boca: Avaliação do Conhecimento de Acadêmicos de Odontologia e Enfermagem quanto aos Fatores de Risco e Procedimentos de Diagnóstico. Rev Bras Canc. Mar 2013; 59 (2): 211-18.

PINHEIRO SMS, CARDOSO JP, PRADO FO. Conhecimentos e diagnóstico em câncer bucal entre profissionais de odontologia de Jequié, Bahia. Rev Bras Cancerol. Fev 2010; 56 (2): 195-205.