Campo Petrolífero De Tupi: Como Se Fabrica Uma Boa Notícia
Por Félix Maier | 14/11/2007 | SociedadeFélix Maier
Como a volta olímpica do Flamengo, feita no Maracanã na tarde de 11/11,
com seus jogadores desfilando com a "Taça das Bolinhas", feita de
isopor, a "descoberta" do campo petrolífero de Tupi não passa de mais
um embuste lulano.
Não que não exista tal campo, atualmente
avaliado em cerca de 8 bilhões de barris. O fato é que a descoberta do
megacampo de Tupi já havia sido anunciada em 2005. Lula, espertalhão
como sempre, requentou a notícia, principalmente depois de sofrer mais
um apagão, o do gás. Talvez para melhor negociar na visita que fará à
Bolívia (e entregar novamente de bandeja ao presidente Evo Cocalles)
outros investimentos da "nossa Petrobrás" (ou seja, do governo e dos
petroleiros), para aumentar o volume de venda de gás ao Brasil.
Assim,
de uma hora para outra, o Brasil passou de país sem gás para membro da
OPEP... Ainda que nada prove que a extração de nas profundezas de 7.000
metros, no Campo de Tupi, seja viável, tecnologica e economicamente.
Pelo menos a médio prazo. Enquanto os brasileiros sonham com o País na
9ª colocação entre os países da OPEP, a realidade nua e crua é que o
gás irá aumentar de preço, em cerca de 25%. Fala sério!
Não só
Lula se beneficiou da "notícia", a quem Hugo Chávez, maliciosamente,
chamou de "novo sheikh do petróleo" na Cúpula Ibero-Americana realizada
em Santiago do Chile. Outros também se beneficiaram com o factóide
lulano, obtendo altos lucros. As ações da Petrobras subiram mais de 14%
de um dia para outro e foi a dica para muitos se desfazerem dos títulos
e ganhar um dinheiro extra em cima da "notícia" de Luiz “Papai Noel” da
Silva. No dia seguinte, tudo voltou à normalidade de sempre. As ações
da Petrobrás caíram e não se fala mais no assunto. Nem nas ações da
Petrobras, nem no Campo de Tupi. Pelo menos por ora.
Afinal,
se algum óleo for retirado daquelas profundidades abissais, ela só irá
ocorrer lá por 2014. E olhe lá! Hoje, não existe ainda tecnologia para
extrair óleo e gás de regiões tão profundas. Como Lula afirmou que
ainda no seu governo será retirado tal óleo, e vendido, de preferência,
por baixo preço aos países pobres, não teria ele novamente cometido um
ato falho, admitindo que irá se bater por um terceiro mandato, ainda
que, em público, diga que "não sabia de nada"?
Lula apóia-se,
cada vez mais, na tríade em que pretende obter o terceiro mandato (quem
sabe também o quarto, o quinto...): Transposição das Águas do São
Francisco, Copa do Mundo de 2014 e o Campo de Tupi. Quem é que vai
segurar o garanhão de Garanhuns? Tupi or not Tupi, esta é a questão!
Pode
faltar gás para o Brasil, na atualidade, porém flatulência é o que não
falta para os petistas e aliados do governo fazerem seu foguetório
particular. Pum! Pum!
***
Jornal da Comunidade
Edição 989 - 10/11 a 16/11 de 2007
http://www.jornaldacomunidade
Opinião
Como se fabrica uma notícia
RUY FABIANO
Na
quinta-feira, 8, os jornalistas foram surpreendidos por uma boa notícia
– coisa rara, nestes tempos: a Petrobras havia encontrado vasto campo
de gás e petróleo na Bacia de Santos. Mais: a descoberta elevaria as
reservas brasileiras em 50%. Nada menos.
Neste momento em que
as dificuldades comerciais com a Bolívia de Evo Morales ameaçam o
abastecimento de gás, a notícia pareceu ainda mais auspiciosa.
Infelizmente, porém, não é bem assim. A “descoberta” ocorreu há dois
anos – e já havia sido anunciada, mais especificamente em 5 de setembro
de 2005.
De lá para cá, não houve novidade que justificasse
trazê-la novamente à tona – a não ser, claro, criar um falso clima de
euforia, que fez com que as ações da Petrobras valorizassem em 14%.
Esse, porém, é apenas um subproduto. Qual será o real objetivo de
apresentar com estardalhaço uma notícia velha, sem que nada de novo a
ela se tenha acrescentado, de modo a justificar sua reedição?
Mesmo as projeções em relação à descoberta não constituem novidade. Já haviam sido feitas dois anos antes.
A
operação comercial do primeiro campo da Bacia de Santos só começará em
2011, e apenas para testar sua viabilidade. Confirmadas as estimativas,
a exploração – se houver, pois há dificuldades operacionais que a põem
em dúvida - começará apenas por volta de 2013 ou 2014. Isso, aliás, já
havia sido dito antes.
O óleo encontrado está entre 4.500 e 7
mil metros de profundidade. As prospecções da Petrobras vão a no máximo
2.700 metros de profundidade. Mais do que isso, o custo operacional
aumenta enormemente – e a empresa admite nem poder estimá-lo.
Informa
apenas que, mesmo em profundidades menores, a exploração de um campo
que produza 150 mil/barris dia fica acima de US$ 1 bilhão, o que já é
um custo monumental.
Para profundidades como as previstas nesse campo, ainda não há nem
tecnologia,
nem recursos. Ou seja, a descoberta, cuja viabilidade exploratória
ainda nem está avaliada, tem, por enquanto, sua prospecção
inviabilizada em face do custo.
Não obstante, Lula sapecou:
“Parece que entramos para a Opep, não é Dilma (Rousseff, chefe da Casa
Civil)?” E Dilma, no mesmo tom de euforia: “Nós saímos de uma situação
de um país que estava se tornando auto-suficiente para a de um país
exportador - patamar em que estão países como a Venezuela e os árabes.”
O diretor da Petrobras, Guilherme Estrela, menos afeito à
coreografia marqueteira, foi bem mais sóbrio: “O que encontramos dá
robustez às nossas hipóteses, mas ainda é uma hipótese”.
Isso,
porém, não está no press-release da Secretaria de Comunicação da
Presidência da República (Secom). É preciso que o repórter seja um
chato e se disponha a prospectar esses, digamos, detalhes junto à área
técnica da Petrobras para decompor a notícia. Feito isso, ela
desaparece das manchetes, perde seu glamour e deixa de ser o que
objetivou ser: instrumento de propaganda governamental.
Especulou-se
que Lula havia feito o re-anúncio da descoberta como recurso
estratégico preliminar para a visita que faz a Evo Morales. Improvável.
As agressões do governo Morales ao Brasil – e mais especificamente à
Petrobras – em nenhum momento incomodaram o governo Lula.
Como
se recorda, o governo Lula, desde o primeiro momento sustentou o
direito de a Bolívia fazer o que fez: rasgar um acordo comercial e se
apropriar militarmente de uma refinaria brasileira. A visita de Lula
reveste-se da cordialidade de sempre. A farsa do re-anúncio, portanto,
não se dirige a Morales.
Dirige-se a nós mesmos.