Caminhada

Por Ana Karolina Pereira | 14/07/2010 | Poesias

Só sei que comigo foi assim.

Foi lá na cumeeira da serra
Q?uessa história sucedeu
Dois jovens se encontraram
E dali o amor nasceu
Viveram eternamente
O fato que ali se deu.

Sebastião, homem guerreiro
Ligeiro e trabalhador
Filho da terra da esperança
Cabra da peste sim sinhô
Sem preguiça nem vingança
Êta homem vencedor.

Irailda, moça bonita,
Saia rodada, jeito de flor
Olhos de mel, cabelo de fita
Divina beleza cheia de esplendor
Candura de anjo, vestido de chita
Graça de moça que Deus fabricou.

Na capital do Forró
Foi que os olhinhos se "encontrô"
Olhou, cheirou
Sentiu, gamou.
Daquele dia em diante
Foi Deus quem abençoou.

O casório, como se diz
Foi como manda a tradição
Tudo posto no papé
As alianças na mão
Promessa de fidelidade
Amor e compreensão.

Caruaru, melhor terra
De meu amado Pernambuco
Com sertão, agreste e serras
Terras de Joaquim Nabuco
De índio, festas e guerras
Negro, branco e mameluco.

O agreste que acima vos falo
Num dia se fez em flor
E deu ao casal guerreiro
Numa casaca de cor
Uma filha pra criar
Paz, alegria e amor.
Com uma saia pra plinçá2
O sorriso se expandia
Todos a comemorar
Essa vida que surgia
Foi só a bela chegar
Pra puder raiar o dia.

Fabiana, a primogênita.
Parecida com o sol
Branca que nem uma nuvem
Cabelo sem nenhum nó
Uma bela galeguinha
Que de todos era o xodó.

Muito logo Irailda
De novo veio anunciar
Que por bondade divina
Resolvera engravidar
E agora Flaviana
A terra vinha habitar.

Bastião e sua amada
Resolveram se mudar
Pegaram suas duas f lhas
Saíram dos além-mar
E dentro de poucos dias
Estavam na capitá.

Recife das pontes lindas
Lindas de enfeitiçar
Foi paixão que sucedeu-se
Deles com o grande mar
Nesta vila de riqueza
Resolveram se assentar.

No bairro de São José
Um comércio iniciaram
Trabalhavam dia e noite
Nova vida começaram
Mesmo com muito empecilho
Num progresso engrenaram.

Depois de dois anos passados
Uma grande alegria viveram
O sonho de um filho homem
Que a si se prometeram
Era hora de cumprir
Mas de Deus não receberam.

José, o grande menino
Nasceu, mas não demorou
Foi ali mesmo no parto
Que seu corpo se enroscou
Num dia bendito e triste
Veio e logo Deus levou.
Ao viverem a grande perda
Com falta, tristeza e dor
Noites e noites de lágrimas
O coração em clamor
Karolina a nova filha
Logo à família brindou.

É dessa menina aqui
Que começo a falar
Toda cheinha e alegre
Brilhante que nem luar
Tinha olhos de esperança
E uma vida pra inventar.
Beleza que nem aquela
Nunca se viu nascer
É tanto que em poucos dias
Fez na família renascer
A alegria perdida
Naquele triste entardecer.

A peraltice era sua marca
Numa infância de riqueza
Brincava, corria, pulava
Dançava com realeza
Cantava que nem cigarra
De voz era uma beleza.

Certa vez em sua infância
Procurava o que fazer
Subiu em cima da mesa
Foi a manteiga comer
De posse do manteigueiro
O fez desaparecer.

Como era imunizada
Pelas trelas que fazia
Nem dor de barriga teve
Só apenas uma azia
Que passou que nem foguete
Não se demorando um dia.

Essa é só uma das artes
Que Karolina aprontou
Sempre com o poder da fala
Ela a todos conquistou
Com seu jeito desenrolado
O mundo ela conquistou.

Ainda quando criança
Decidiu foi trabalhar
Para ajudar uma moça
Que tinha dívidas de enforcar
Trabalhou por vários meses
Mas não quiseram lhe pagar.
Passado o ocorrido
Do trabalho só lembrança
Continuou com os estudos
Era motivo de esperança
Sempre foi boa na classe
Desde quando era criança.

Por dominar nos estudos
Karolina era conhecida
Ganhava muitos troféus
Tinha inteligência aguerrida
Mas quando ganhou estrelas3
A vida ficou sofrida.

Aquele prêmio lhe deu
Direito à piscina freqüentar
Como era espaço disputado
Todos queriam tomar
Neste meio de guerrilha
Veio um inimigo arrumar.

Rafael, o terror da escola
Decidiu lhe atormentar
Mas já era a quarta série
Tinha ela que agüentar
Rafael lhe torturava
E ela sem revidar.

Logo em outro colégio
Entraria pra cursar
A quinta série almejada
Um estudo de lascar
Numa escola bonitinha
E sem ninguém pra infernizar.

No colégio de agora
Não conhecia ninguém
Mas isso não foi problema
Para quem bom papo tem
Karolina fez amigos
Talvez pra mais de cem.
O empenho escolar
Continuou a acontecer
Sempre em primeiro lugar
Era de surpreender
Aquela menina esperta
Inteligente de arder.

Mesmo sem o desejar
A liderança conquistou
Todos confiavam nela
Para representante ganhou
Lutou agindo bravamente
E a ninguém enganou.
Chegando ao ensino médio
Nova escola apareceu
Com ajuda dos professores
Educação boa conheceu
Com dedicação e força
Seu mundo se enverdeceu.

Neste novo ambiente
Veio a reencontrar
Aquele antigo inimigo
A quem um dia quis matar
Mas já passada a infância
Gostou de se aproximar.

O sentimento que tiveram
Não foi o de antigamente
Pareciam mais seguros
Com até jeito de gente
Se juntaram, conversaram
Riram furtivamente.

Relembrando os velhos tempos
Os dois se aproximaram
Esqueceram as antigas brigas
Mas não se desarmaram
Viveram a atualidade
Mas muito não se achegaram.

Mas no ano que seguiu
Rafael não estava lá
Tinha era se mudado
Para uma escola particular
Karol lamentando muito
Não podia acompanhar.

Foi naquele mesmo ano
Que o pesadelo chegou
Uma dor grande lhe invadiu
Mas Karolina enfrentou
Via seu pai internado
Um derrame o derrubou.

Bastião, cabra da peste
Abençoado por Deus
Teve um derrame sem seqüelas
Para alegria dos seus
Mas Karol preocupada
Dos estudos esqueceu.

O desestímulo visitou
A vida de Karolina
E um emprego ela arrumou
De vendedora num shopping
O tempo se encurtou
E da escola desertou.
Não só a doença do pai
Fez Karolina fraquejar
Na escola teve problemas
Grandes demais a enfrentar
Pois um professor de química
Queria a todos detonar.

Chegando o 3º ano
Karolina escolheu
Continuar só estudando
Para alegria dos seus
Satisfazendo seu ego
Chegaria ao apogeu.

O apogeu de Karolina
Era chegar à universidade
Que tinha de ser FEDERAL
Como os sem oportunidade
O dinheiro era curto
Pra pagar mensalidade.
Em meio aos acontecimentos
E outras coisas desejar
Um professor procurou
Para aprender a tocar
Agarrado a um violão
Foi Rafael reencontrar.

Nesse momento citado
Foi que tudo aconteceu
Karol voltou a cantar
Na igreja do bairro seu
E Rafael seu amigo
Puro ânimo ofereceu.

Logo as aulas começaram
EIa aprendendo a tocar
Rafael em certas tardes
Ia a Karol ensinar
Freqüentava sua casa
Pra melhor lhe estimular.

A alegria foi voltando
Para o coração brilhante
O sonho do vestibular
Voltava a ser importante
E todo aquele gás
Era mesmo inebriante.

Por ironia do destino
Outro fato aconteceu
No dia da inscrição
Dinheiro não apareceu
A isenção não ganhou
E perdeu os sonhos seus.
A universidade parecia
Sonho impossível de alcançar
O medo era não conseguir
Na federal ingressar
Pois era mais uma estudante
De origem popular.

Em meio a tanta tristeza
Coisa boa aconteceu
Começou a namorar
Com o velho amigo seu
Rafael era seu nome
Ela a Deus agradeceu.

Rafael lhe ajudou
Desde o primeiro momento
A Karolina incentivou
Deu-lhe amor e alento
Os seus sonhos alcançaria
Mesmo com tanto tormento.

Pois ele também almejava
Chegar ao mesmo lugar
Para isso sua mãe
Cursinho resolveu pagar
Queria estudar melhor
E passar no vestibular.

O moço não teve dúvida
Da amizade sagrada
E escondido da mãe
Fez uma negociada
E o dinheiro do curso
Dividiu com sua amada.

Quatro meses passou
Pagando as mensalidades
A dele e a de Karolina
A quem jurava fidelidade
E seria no fim do ano
Que viria a felicidade.

Mas a moça decidida
Trabalhava e estudava
De dia estava na lida
E à noite ela sonhava
Com a universidade pública
Que tanto idealizava.

Estava chegando a hora
De conferir o listão
Nervosismo e euforia
Expectativa e tensão
Unidos os dois derrotavam
O grande "bicho-papão".
Ela foi agraciada
Com o curso de estatística
E Rafael dava entrada
Em engenharia agrícola
Estava agora iniciada
Toda uma grande jornada.

Alguns anos se passaram
E juntos os dois continuam
Dentro da universidade
O amor se perpetua
Sentem que são um conjunto
E ali é a casa sua.

Num desses dias de aula
Karolina conheceu
Um projeto encantador
Que num mural ela leu
Conexão de Saberes
Era esse o nome seu.

A seleção estava aberta
Para todo estudante
Que vindo de escola pública
E sem renda abundante
Tivesse garra e coragem
De trabalhos importantes.

Conexões de saberes
Um projeto de extensão
Que deseja estender
Pra toda população
Os saberes da escola
Com muita convicção.

Mas também é engajado
Na prática de pesquisar
Trazendo pra universidade
As experiências de lá
De toda comunidade
Que conhecimento tenha a dá.

Desse jeito a intertroca
Tem muito pra prosperar
Pesquisando e estudando
Conhecer pra articular
Mostrando caminhos diversos
Para todos dialogar.

Todas as comunidades
Agora ao projeto ligadas
Morro da Conceição, Chico
Mendes
Em cidade conectadas
Iputinga, Silva Jardim, peixearte
Estabelecem rede ampliada.

Karolina é professora
De uma comunidade
Matemática é sua área
Lutando contra a realidade
Deseja levar a todos
Pra dentro da universidade.

Sendo a vida muito boa
Valendo a pena viver
Essa foi a minha história
Que você acabou de ler
Lute agora com coragem
E certamente vai vencer.


Ana Karolina Pereira