Caminhada
Por Ailton Araújo de França | 04/12/2015 | FrasesPonho-me a caminhar,
Pé na estrada!
Percebo logo que
Quanto mais caminho,
Mais curvas se me apresentam.
E tanto mais apresse o passo,
Não chego!
Aonde vai dar?
Onde estou me levando?
Sempre tem uma curva
Que, sinuosamente,
Não me deixa ver a seguir,
Tenho que ir até lá e, qual surpresa,
Novamente outra curva,
Parece não ter fim!
Penso em desistir!
Ando cansado, acho, às vezes -
A mesma coisa a se repetir.
Outras vezes me vejo disposto e sigo.
Novamente outra curva
Que não me deixa ver o destino.
Entretanto, qual destino há nesse mundão,
Senão aquele que eu mesmo faça?
Caminho que tem fim não satisfaz,
Não sacia, não ressarci.
Carecemos sempre do inesperado
Para que o corpo resista,
Para que a mente se fortaleça.
Se assim não for tudo vira atonia,
Melancolia, marasmo ou estagnação.
Não obstante
Tanto mais caminhe,
Não veja o fim -
Outra curva,
Outro encanto,
Outro desencanto!
Às vezes uma reta
Que se confunde com o horizonte
E engana aos olhos
Longe...! -
Todavia, sou eu, mais e mais,
Senhor da caminhada, da descoberta –
Um desbravador
Da tortuosidade em toda a sua beleza!
Isso anima, e ainda que o cansaço se faça,
O descanso revigora.
Apoio-me, então, na razão,
Pois que a emoção engana, cega e corrompe.
Mentindo a realidade, desvia o curso,
Anuvia o alvo, causando por vezes, asfixia.
Parei um pouco, achei uma sombra.
Acho até que cochilei,
Achei um assombro: não posso parar,
Hei que continuar
Até que encontre o termo!
Talvez esteja ali, acolá,
Ou aqui!
Certo é que não quero esperar,
Prefiro eu mesmo achar o onde.
Sabendo, pois, que a vida
É sempre ida, não tem volta,
Continuei!
Recompus-me!
Aonde danado chegarei?
Imaginando que soubesse,
Qual seria a graça?
Qual o desafio?
Qual a surpresa?
Qual o deslumbramento?
Por que me seria dado
Conhecer o fim,
Se mal consigo desfrutar sequer
Da paisagem que se me é apresentada
Ao longo?
Mas, ainda que me fosse concedido
Conhecimento do fim,
Creio, não quereria
Ter exercitado meus músculos,
Minha marcha, meus desejos e anseios,
Minha curiosidade.
Morreria ali mesmo em mim,
Não teria apreendido valores,
Imagens.
Não teria sabido,
Não de ouvir falar,
Mas por experiência própria,
A contextura do pó da estrada,
Do piso pisado,
Das flores, do estalo das folhas,
Dos espinhos das rosas.
A tessitura dos sons naturais,
Dos seres, dos ventos,
Das curvas que parecem querer cantar
A canção ondulante.
Dos pingos da chuva que se multiplicam,
E sonantes, cortam o ar,
Molham o rosto,
Dessalgam a pele
E encharcam o chão – poças.
Destarte,
Sabendo que faço o caminho que é meu
Também o fim me pertence,
O desenho é meu.
Assim lá vou eu como bom caminheiro
Fazendo marcas
E me gastando pelo caminho.
Cada curva sua surpresa,
Ainda tenho tempo!