Caixinha de Surpresas
Por Central Press | 08/08/2013 | EducaçãoOs acontecimentos dos últimos meses parecem indicar que a juventude está atendendo a chamados que eram considerados, até muito pouco tempo atrás, por políticos, pais e professores, sem a menor atratividade.
De certo modo, convencidos de que os jovens estavam mergulhados em consumismo, narcisismo e apatia, nos surpreendemos com o grau de envolvimento e compromisso que esta geração tem demonstrado. Inesperadamente, mostram-se preocupados com as perspectivas profissionais futuras, com a economia brasileira, com a qualidade da educação, transportes e saúde oferecida à população, ao mesmo tempo em que rejeitam toda espécie de contenção e hierarquia.
Estão presentes nas ruas, para o bem e para o mal, para clamar por direitos civis e humanos, para bradar contra corrupção, preconceito e exploração, e até mesmo para praticar atos de destruição e violência que não podem ser admitidos, mas que, como parte de um contexto geral de descrença nas instituições, tem o valor de alerta que não pode ser ignorado. Eles deixaram pasmados grande parte dos educadores não ligados a instituições religiosas, admirados com a rapidez e efetividade da adesão à Jornada Mundial da Juventude. Foram centenas de milhares de moços e moças, que nos últimos anos pareciam um pouco apartados dos preceitos da Igreja Católica, de certa forma distante de seu dia-a-dia.
Ocupados com traquitanas tecnológicas, aparentemente indiferentes aos problemas sociais, sem grande confiança no processo educacional, adeptos de comportamento bem mais livre que o de seus pais, distantes das prescrições consideradas fundamentais pelas entidades religiosas, nada fazia supor que atenderiam com tal intensidade a um pedido de encontro para celebrar religiosidade, castidade e contemplação. Mostraram-se resolutos, enfrentaram desafios, gritaram alto a sua crença e determinação, de forma não muito diferente daquela com que bradaram a exigência de mais atenção às necessidades básicas do país.
A figura carismática de um líder popular que está falando diretamente ao coração desta faixa etária, após muitos anos de distanciamento, recoloca a questão da esperança e da fé, não necessariamente contemplativa, na agenda de toda a população. Acreditar em valores simples e poderosos, na possibilidade de uma sociedade saudável, honestidade e solidariedade; para educadores essa questão é vital. Como aprender e ensinar num ambiente de descrença e desânimo?
Porém, a real solidariedade deve carregar consigo uma boa dose de responsabilidade, não apenas com as tradições (religiosas ou sociais), mas, principalmente, com o devir, com a construção de uma comunidade melhor. A perspectiva de mudar o país a partir da juventude, da realidade de seus posicionamentos, abre sim, como diria o Papa, “uma janela para o futuro”.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência das Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil.