Cacófatos, Cacofonia e as Nossas Letras

Por Sergio Sant'Anna | 26/11/2008 | Crônicas

As mudanças em nossa Língua Portuguesa entrarão em vigor a partir do primeiro dia de janeiro do próximo ano. Portanto, teremos que nos adequar a essa brutalidade contra o nosso idioma. Ajustes simplesmente editoriais. Com isso teremos dezenas de árvores jogadas na lata do lixo já que diversas obras, especialmente as de cunho didático, tomarão como residência nossos lixões.

Mas venho através destas linhas relatar sobre um vício de linguagem que muitas vezes passa despercebido, inocentemente sobre os olhos leigos e preocupados coma simples ortografia. O cacófato (cacofonia) resulta da união de sons desagradáveis ao ouvido, agressiva aos cultuadores dos bons costumes. É interessante a infinidade de histórias que circulam sobre as linhas, páginas e programas televisivos sobre a displicência com esse vício. A cantora Ana Carolina em sua música "Pra Rua Me Levar" tem uma parte que causa dúvidas para aqueles desavisados que apenas escutam a canção e saem cantarolando por aí. No trecho "... ver a cidade..." confesso que há aqueles que afirmam que o correto é veracidade. Vários foram os comentários positivos à cantora e compositora pela palavra de auto-ajuda. Pode? E tem muito mais. Certa vez um periódico da cidade de São Paulo soltou em suas páginas, logo após a Copa das Confederações do ano de 1997, "Flávio Conceição pediu a bola e Cafu deu". Confesso que passou seria mais elegante, um toque de classe. Mas parece que o redator não possuía essa genialidade. Portanto soou como..., impublicável para esse momento. Façam as suas apostas. É fácil. Basta um pouco de Rubem Fonseca.

E a todo o momento somos vítimas desses vícios, principalmente aqueles que lidam com a fala. Ao vivo são muitas as gafes, pobres jornalistas. Tenho pena dos narradores de futebol. E os comentaristas com seus cérebros sacudidos por uma "patada atômica" do renomado Rivelino? Esses são fregueses (gíria futebolística). E vamos a elas: "Uma má notícia" (mama). E aquela: "Leônidas marca gol de bicicleta" (marca gol). Não podemos deixar de exclamar outras mais: "Vou-me já!" (me já); "Olhe a boca dela" (bo ca dela); "Governo confisca gado de fazendas no interior de São Paulo" (confisca gado); "Nenhum segurança havia dado" (havia dado), nada contra a masculinidade e muito menos a opção sexual; "Vagalumes no cume brilham" (cume brilham); "Usei um pilão de socar alho" (socar alho); " Na vez passada" (vespa assada); "Já que tinha resolvido" (jaquetinha); "Existe uma herdeira" (uma herdeira); "Olha essa fada" (safada).

O nosso idioma é rico, precisamos sentir vontade de exaltá-lo e para isso basta descobrir que a língua portuguesa não é um bicho-de-sete cabeças. E para encerrar um cacófato impublicável: "Acabou-se tudo".