Buscando o céu por medo do inferno - pecados e pecadores na mentalidade cristã
Por Gustavo Uchôas Guimarães | 01/12/2014 | ReligiãoBUSCANDO O CÉU POR MEDO DO INFERNO –
Pecados e pecadores na mentalidade cristã
Gustavo Uchôas Guimarães[1]
Resumo
As diferentes vertentes do cristianismo (Igreja Católica Apostólica Romana, igrejas protestantes e igrejas ortodoxas) têm visões diversas a respeito do pecado, todas primando pelo conservadorismo e apresentando o pecado como um grande mal humano, impedindo-o de se relacionar com Deus. Santo Agostinho, que no fim da Antiguidade escreveu sobre a relação entre o pecado de Adão e a graça de Cristo, influenciou praticamente todo o pensamento cristão a respeito do pecado, e a interpretação de suas palavras gerou as práticas rígidas e os tabus que nortearam a Idade Média e ainda se encontram presentes na mentalidade de bilhões de fiéis, sejam católicos, protestantes ou ortodoxos. Autores como Tomás de Aquino, Martinho Lutero e João Calvino “beberam” das fontes agostinianas para elaborarem seus tratados de moral e seus ensinamentos sobre pecado, livre-arbítrio e predestinação.
Palavras-chave: Pecado. Santo Agostinho. São Tomás de Aquino. Martinho Lutero. João Calvino. Pecado original. Livre-arbítrio. Predestinação. Ortodoxos.
Introdução
O cristianismo, fundado por Jesus de Nazaré, iniciou sua trajetória como uma simples religião perseguida, ainda muito ligada ao judaísmo e com missionários que aos poucos foram se espalhando pelo Império Romano e além de seus limites territoriais. No entanto, após 300 anos de perseguições e de uma história escondida em catacumbas, o cristianismo surge das cinzas de sofrimento para tornar-se a religião do imperador romano, para depois ser a religião oficial do Império e ganhar o status de reconstrutora da cultura ocidental, quando o já velho Império desfaleceu no caos das invasões germânicas.
Hoje, o cristianismo divide-se em várias correntes, que podemos agrupar em três partes principais[2]:
- Igreja Católica Apostólica Romana: o nome “Igreja Católica” surge no século II, em cartas atribuídas ao bispo Inácio de Antioquia e Justino Mártir, além do Cânon de Muratori[3]. Atualmente, tem sede no Estado do Vaticano e seu líder recebe o título de “papa”, sendo considerado representante de Cristo sobre a terra e sucessor do apóstolo Pedro.
- Igrejas protestantes: a primeira delas foi fundada por Martinho Lutero, que em 1517 inicia um movimento historicamente chamado de Reforma Protestante. O nome “protestante” surgiu a partir dos protestos feitos pelos discípulos de Lutero contra a Igreja Católica[4]. Atualmente, existem milhares de igrejas protestantes ao redor do mundo, divididas principalmente em “históricas” e “pentecostais”[5].
- Igrejas ortodoxas: ganhando independência da Igreja Católica Romana desde a Antiguidade, as igrejas ortodoxas protagonizaram o grande cisma do ano 1054, quando o Patriarca de Constantinopla e o Papa excomungaram um ao outro. Atualmente, a principal igreja ortodoxa é a da Rússia.
Cada vertente do cristianismo tem uma visão diferente a respeito de Jesus, do Evangelho por ele pregado e das doutrinas que podem ser inferidas a partir das primeiras pregações feitas pelos apóstolos de Jesus. Neste trabalho, vamos viajar pela noção que o cristianismo tem acerca do pecado e como este fenômeno interfere na visão cristã de católicos, protestantes e ortodoxos.
O termo pecado pode ser definido como uma “transgressão de preceito religioso”[6]; no cristianismo, define-se pecado como “uma falta contra a razão, a verdade, a consciência reta”[7]; no judaísmo, pecado é “a intenção do ser humano de viver independente de Deus”[8]. O próprio Jesus de Nazaré, em suas pregações, falava a respeito do pecado ao acusar os líderes judeus de não crerem em suas palavras (Evangelho de João 8,21; 16,9)[9]. Depois, os apóstolos falavam do pecado como uma realidade da qual o indivíduo seria libertado ao crer em Jesus Cristo, conforme o exemplo do trecho a seguir[10]: “Pois se quando éramos inimigos (ou pecadores) fomos reconciliados com Deus pela morte do seu Filho, muito mais agora, uma vez reconciliados, seremos salvos por sua vida”. (Carta aos Romanos 5,10).
Com o passar dos séculos, no entanto, o cristianismo, em diversos momentos, deixou de cumprir seu papel principal, que era anunciar o Evangelho, a fim de assombrar os fiéis com demônios, punições severas aos pecadores e uma visão exagerada sobre o pecado. Em vez de buscar o Paraíso pelo simples desejo de conquistá-lo, os cristãos passaram a buscá-lo por medo do inferno e do castigo divino. O período medieval (séculos V a XVI) foi “fértil” em imaginações populares a respeito do inferno e do pecado, alimentadas por pregações que anunciavam punições exemplares para os que eram considerados “hereges”. Podemos dizer que o demônio foi uma figura muito lembrada pelo clero na história da Igreja, sendo temido e a quem se atribuía inúmeras capacidades maléficas. Ainda hoje, temos movimentos cristãos que mais falam do combate ao pecado do que da vivência das virtudes.
Se olharmos o cristianismo contemporâneo, veremos um perigoso resgate da figura do demônio e uma “valorização” do fenômeno do pecado nos discursos dos líderes e nas práticas dos fiéis. Em algumas igrejas, chega-se a “conversar” com o demônio[11], a fim de depois retirá-lo do indivíduo; ou ainda, ouvimos muitos discursos apontando os “pecados modernos” (ir a certos tipos de festas, por exemplo), em uma interminável lista de “isto pode” e “isto não pode”[12].
Não pretende-se aqui discutir a veracidade de doutrinas nem entrar em dogmatismos, pois já vemos que as divisões religiosas do mundo atual se devem ao fato de que todos querem ser “donos da verdade”. Imparcialmente e sem partidarismo religioso, vamos compreender a noção de pecado conforme pregada pelas vertentes cristãs e como esta noção afetou a História, gerando episódios como a inquisição católica ou o tribunal calvinista.
1 – Pecado bíblico
Antes de detalhar as posições católica, protestante e ortodoxa a respeito do pecado, do inferno e do demônio, é importante vermos como estes termos eram empregados na Bíblia, que contém a visão dos judeus (Antigo Testamento) e dos primeiros cristãos (Novo Testamento) sobre o tema “pecado” e suas abrangências.
Segundo o relato bíblico, o pecado entra no mundo quando Adão e Eva desobedecem a uma ordem de Deus e perdem o direito de viverem eternamente no Paraíso a eles concedido (Gênesis 3,1-24). A tradição de um ser humano que transgride leis divinas e perde seu contato com a divindade não é exclusiva dos judeus, sendo sugerida em descobertas feitas no antigo território mesopotâmico[13]. Nas tradições religiosas mesopotâmicas, vemos os deuses querendo destruir a humanidade (insatisfeitos com os “pecados” do ser humano)[14].
Após a expulsão de Adão e Eva do Paraíso, o pecado da humanidade ganhará nova evidência no relato do dilúvio.
“Iahweh viu que a maldade do homem era grande sobre a terra, e que era continuamente mau todo desígnio de seu coração. Iahweh arrependeu-se de ter feito o homem sobre a terra, e afligiu-se o seu coração. Mas Noé encontrou graça aos olhos de Iahweh”. (Gênesis 6,5-6.8)
Segundo o relato bíblico (Gênesis 6,1-2), a maldade aumentou quando os descendentes de Set (filho de Adão e Eva) misturaram-se aos de Caim (que era irmão de Set e matou Abel). Assim, Deus teria “purificado” a humanidade nas águas do dilúvio, mantendo vivos apenas Noé e a família. O relato bíblico é idêntico ao dos povos mesopotâmicos: entre os sumérios, o sobrevivente chamava-se Ziusudra; entre os acadianos, Utnapishtim. Na mitologia suméria, o dilúvio também se deveu ao arrependimento dos deuses por terem criado o ser humano[15]. A grande diferença, no entanto, entre hebreus e sumérios estava no caráter de suas divindades: entre os sumérios, os deuses eram suscetíveis a pecados (caso do estupro de Ninlil, cometido por Enlil)[16]; já para os hebreus, sua divindade não pecava e, pelo contrário, era visto como “lento para a cólera e cheio de amor e fidelidade” (Êxodo 34,6), embora fosse capaz, segundo os hebreus, de punir os ímpios conforme suas más ações.
Este caráter atribuído a Deus, o de punir os ímpios, é amplamente relatado no Antigo Testamento, onde vemos o povo de Israel sendo abençoado quando se aproximava de Deus e abandonado à própria sorte quando se afastava dele, em um claro conceito hebreu de que o pecado era sinônimo de afastamento de Deus. Neste conceito, portanto, não era considerado pecador aquele que seguia a Lei de Deus (no caso, a que foi transmitida por Moisés como sendo de autoria divina). Esta ideia do seguidor fiel não ser considerado pecador gerou um preconceito religioso muito forte no judaísmo antigo, atestado nos trechos bíblicos a seguir:
“Então o sacerdote Esdras se levantou e declarou-lhes: ‘Cometestes uma infidelidade desposando mulheres estrangeiras: aumentastes desta forma a culpa de Israel’!” (Esdras 10,10)
“O fariseu, de pé, orava interiormente deste modo: ‘Ó Deus, eu te dou graças porque não sou como o resto dos homens, ladrões, injustos, adúlteros, nem como este publicano; jejuo duas vezes por semana, pago o dízimo de todos os meus rendimentos’.” (Lucas 18, 11-12)
Em ambos os trechos (um do Antigo e outro do Novo Testamento), percebe-se o preconceito em relação aos que são considerados “infiéis”. Nos dois casos, o pecado é entendido como descrença em Deus e atos contrários à Lei estabelecida por Moisés.
Como o Antigo Testamento não foi escrito de uma vez, mas ao longo de cerca de mil anos, vemos algumas variações na mentalidade sobre o pecado e quem o comete. O livro de Esdras, por exemplo, trata como “pecadores” aqueles que não eram do povo de Israel, enquanto o livro de Rute, escrito provavelmente na mesma época (século V a.C.)[17], pertence ao conceito de que basta aceitar o Deus de Israel para não ser mais considerado “pecador”, independente da nacionalidade (no livro, Rute era nascida no povo de Moab, inimigo tradicional dos hebreus). No século II a.C., o judaísmo chega a admitir que um pecador poderia ser perdoado após a morte, como nos refere o relato de 2Macabeus 12,38-45 (presente na Bíblia católica e ausente na protestante), onde Judas Macabeu oferece sacrifícios pedindo o perdão divino a soldados que morreram com imagens de outros deuses escondidas na túnica. O trecho diz que tal sacrifício pelos mortos tinha validade por causa da crença na ressurreição, que ocorrerá no dia do Juízo Final, segundo a tradição das religiões monoteístas[18]. Com esta atitude do antigo judaísmo, vemos como a religião é suscetível a variações na mentalidade e adaptações a conceitos que surgem no decorrer dos tempos.
O Novo Testamento bíblico traz o relato da vida de Jesus de Nazaré e de como seus primeiros discípulos estruturaram o cristianismo no Império Romano. A visão neotestamentária sobre o pecado e a figura do pecador consiste na aquisição de elementos judaicos, sua releitura e aplicação para conquistar à fé cristã os “excluídos” do judaísmo. Para os primeiros cristãos, a desobediência de todos foi necessária para que depois a misericórdia divina também se estendesse a todos (Romanos 11,32), ou seja, Deus teria tirado um bem a partir do mal, quando deu a redenção a todos os pecadores. Ainda neste raciocínio, Jesus veio, segundo os cristãos, para salvar os que eram discriminados como “pecadores”[19], além de derrubar o conceito que os distinguia dos “justos”, ao considerar o pecado como característica também dos “eleitos de Deus” (João 8,32-34). Assim, o pecador já não era mais apenas o que não era do povo de Israel ou aquele que não seguia a Lei de Moisés, mas todos “estão debaixo do pecado” (Romanos 3,9).
2 – Pecado católico
2.1 – Doutrina
O catolicismo fala em diversidade de pecados, classificando-os em mortais e veniais[20]. Os mortais são os pecados que incorrem em gravidade e são feitos com pleno conhecimento e consentimento; já os veniais são os pecados que impedem a prática da virtude, mas sem ferir gravemente a ligação com o divino, ou ainda os pecados graves cometidos sem pleno conhecimento e/ou consentimento. Para ilustrar melhor esta distinção entre os pecados: matar alguém é um pecado que incorre em gravidade e, portanto, é um pecado mortal, assim como roubar, mentir, trair, fraudar, entre outros similares[21]; no entanto, o uso de roupa imprópria dentro da igreja, uma discussão conjugal ou o uso de um “palavrão” podem ser considerados veniais, pois não incorrem em gravidade ao ponto de comprometer a salvação pessoal, embora necessitem também, segundo a doutrina católica, de confissão e perdão através do sacerdote[22].
A simples distinção entre pecados mortais e veniais é insuficiente quando não considera situações isoladas que podem atenuar ou aumentar a gravidade do pecado. Assim, a doutrina católica tornou-se flexível em relação a tais situações, como por exemplo: matar deixa de ser um pecado grave quando é feito em legítima defesa da pessoa ou do grupo, pois o catolicismo considera o amor a si mesmo como primeiro fundamento da moralidade e que, portanto, o primeiro dever do homem é fazer respeitar o próprio direito à vida[23]. Outra demonstração de flexibilidade em matéria de pecados ocorre quando a Igreja utiliza o conceito de “ignorância involuntária” para referir-se a pecados normalmente graves que deixam de o ser ou que têm sua gravidade diminuída quando quem o comete é levado por “pressões exteriores e perturbações patológicas”[24], além de outras razões atenuantes. Desta forma, uma pessoa que é ameaçada de morte caso não minta será liberada da culpa, apesar da mentira ser um pecado mortal.
Além de distinguir entre pecados mortais e veniais, a doutrina católica aponta os chamados “pecados capitais”[25], que seriam a origem de todos os pecados, graves ou não. São eles: orgulho (ou soberba), avareza, inveja, ira, impureza (ou luxúria), gula e preguiça. Esta lista foi confirmada pelo Concílio de Trento (1545-1563)[26], que buscava estruturar solidamente a doutrina católica diante do avanço do movimento protestante. A tradição católica medieval associava os pecados capitais a demônios[27], conforme será detalhado oportunamente.
2.2 – Pecado original
“Por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte, e assim a morte passou a todos os homens, pois todos pecaram”. (Romanos 5,12)
Este versículo é a base para que o catolicismo fale em “pecado original”, ou seja, a desobediência dos primeiros seres humanos que passa a todas as gerações como um desligamento entre o homem e Deus[28]. Segundo o catolicismo, os primeiros homens quiseram ser iguais a Deus, porém “sem Deus, e antepondo-se a Deus, e não segundo Deus”[29]; assim, ao se desligarem da perfeita amizade que mantinham com o Criador, introduziram a morte no mundo e transmitiram o pecado às gerações posteriores, não sendo este pecado no sentido de um ato contra Deus, mas no sentido de uma ausência da santidade original que o Criador colocara nos primeiros homens. Portanto, o pecado original não tem a ver com faltas pessoais (mesmo porque um recém-nascido não é capaz de pecar), mas com a condição do ser que acaba de vir ao mundo, já submetido à morte e desligado da perfeita comunhão com Deus, em razão da desobediência dos primeiros seres humanos[30].
Ainda segundo o catolicismo, o batismo tem a função de apagar no coração humano a culpa dos primeiros homens, refazendo a ligação de santidade entre o homem e Deus, razão pela qual a doutrina católica incentiva o batismo de crianças, acreditando que assim elas, desde cedo, garantirão uma ligação com o divino e, portanto, a salvação que ele oferece ao gênero humano. Mas aí surge um questionamento: se o batismo apaga o pecado original, que introduziu a morte no mundo, porque as pessoas batizadas continuam mortais e suscetíveis a pecar? A Igreja Católica responde a esta questão através da Bíblia e de sua interpretação doutrinária[31].
“Vós fostes chamados à liberdade, irmãos. Entretanto, que a liberdade não sirva de pretexto para a carne, mas, pela caridade, colocai-vos a serviço uns dos outros”. (Gálatas 5,13)
“O Batismo, ao conferir a vida da graça de Cristo, apaga o pecado original e faz o homem voltar para Deus. Porém, as consequências de tal pecado sobre a natureza, enfraquecida e inclinada ao mal, permanecem no homem e o incitam ao combate espiritual”.
A segunda citação, tirada do Catecismo da Igreja Católica, alega que o pecado original tem consequências na vida humana e que, mesmo apagado o pecado original pelo Batismo, tais consequências permanecem. Então, podemos dizer que o Batismo pregado no cristianismo é ineficaz? Para a doutrina católica, não. O catolicismo entende esta questão do Batismo apagar apenas o pecado, mas não suas consequências, à luz de um conceito altamente discutido na filosofia e na teologia: o livre-arbítrio. Baseado neste conceito, a Igreja Católica afirma que Deus, mesmo sabendo de tudo o que vai acontecer ao homem, deu-lhe a liberdade de escolher entre o bem e o mal (explícita no trecho bíblico mencionado há pouco). Assim, o Batismo não apaga as consequências do pecado original porque isto seria tirar a liberdade humana para escolher o que fazer com a redenção oferecida por Deus. Sobre o livre-arbítrio, vamos expor mais detalhadamente no capítulo sobre Santo Agostinho e São Tomás de Aquino.
A doutrina do pecado original ganhou consistência a partir do século V, quando o bispo Agostinho de Hipona combateu o pelagianismo, doutrina propagada pelo monge britânico Pelágio. Segundo o pelagianismo (ou aqueles que o combatiam), não existe um pecado original, sendo o homem um ser que nasce totalmente neutro e que pode alcançar uma vida íntegra com sua própria vontade, sem a graça de Deus, usando apenas o seu livre-arbítrio. Neste caso, a graça de Deus somente ajudaria o homem a obedecer às leis divinas, mas não o levaria a salvação, esta podendo ser alcançada pelos próprios méritos do indivíduo. Agostinho de Hipona, combatendo este pensamento, afirmou que o pecado de Adão não afetou somente a ele mesmo (como dizia Pelágio), mas foi herdado por toda a humanidade e, portanto, apenas pela graça de Deus se poderia alcançar a salvação e uma vida santa. O Concílio de Orange, realizado no ano 529, foi a favor de Agostinho e condenou Pelágio como herege[32].
2.3 – O pecado em todo lugar: imaginário medieval preservado muito além da Idade Média
O demônio era visto em toda parte na Idade Média. Terror dos fiéis, o pecado assombrava-os como cão pronto a morder fatalmente. O imaginário popular concebeu figuras extremamente exóticas que ilustravam o mal, o pecado e o diabo. Dizia-se até que o diabo poderia se disfarçar de anjo ou apóstolo, a fim de enganar as pessoas[33].
A obsessão pelo pecado era reflexo da situação da Europa na Idade Média. Pobre e atrasado durante séculos após a queda do Império Romano (ano 476), o continente europeu vivia sob guerras, fome e analfabetismo, apesar de alguns momentos e personagens gloriosos. O povo europeu, fragilizado pela precária situação a que era submetido, recorria à fé como instrumento de alívio em sua vida. Acreditava-se que os males do mundo eram causados por demônios que assombravam em busca de almas pecadoras, o que gerou um grande medo no imaginário popular: medo das forças malignas, por um lado, e do castigo divino aos pecadores, por outro lado. Era um grande maniqueísmo que levava o povo a entender-se no meio de uma luta entre o Bem e o Mal, como se suas almas fossem disputadas por Deus, cujo exército seria chefiado pelo arcanjo Miguel, e pelo diabo, na pessoa de Satanás[34].
2.3.1 – Pecados associados aos demônios[35]
O imaginário europeu associava os pecados capitais a demônios, como se cada um deles fosse responsável por uma situação pecaminosa, em paralelo aos santos padroeiros. Portanto, os pecados e os demônios eram assim associados:
- A luxúria era atribuída a Asmodeu, demônio que provocava brigas entre casais e que, na Bíblia, chegou a matar os maridos de Sara (Tobias 3,7-8).
- A gula era atribuída a Belzebu, considerado o príncipe dos infernos.
- A avareza era atribuída a Mamon (nome aramaico que significa “dinheiro”).
- A preguiça estava associada a Belphegor, antigo deus do povo moabita (mencionado na Bíblia em Números 25,1-3) que foi demonizado pelos católicos medievais[36].
- A ira estava ligada a Azazel (mencionado na Bíblia em Levítico 16,8).
- A inveja estava ligada a Leviatã[37], que aparece na mitologia fenícia como o monstro do caos primitivo e é mencionado na Bíblia em passagens como Jó 3,8 e Isaías 27,1.
- O orgulho era associado a Lúcifer, também chamado de Satanás[38].
Estes demônios eram, na arte medieval, personificados como criaturas horrendas, com formas humanas e animais (homens barbudos, dragões, bodes, entre outros).
2.3.2 - Penitências
O pecado era, na visão medieval, algo que tinha de ser amplamente combatido, e quem o cometesse tinha de pagar pelo pecado na mesma medida em que o combatia. Assim, surgiram várias formas de “penitência” para reparar os pecados: as pessoas liam inúmeros salmos, faziam peregrinações, impunham-se castigos físicos e até davam somas em dinheiro à Igreja em troca do perdão[39].
Os salmos eram lidos, por exemplo, após uma polução noturna (considerada pecado na Idade Média)[40]. Os castigos físicos eram também comuns, influenciados pelo conceito platônico de que o corpo era mau e não passava de uma prisão da alma. Ainda hoje, podemos ver rituais de penitência que usam castigos físicos (com muito menos frequência do que na Idade Média, é claro), como a autoflagelação praticada por homens filipinos[41] durante a Semana Santa ou o uso do silício por membros do movimento católico Opus Dei[42] (embora o próprio movimento evite falar deste tipo de penitência, preferindo destacar o arrependimento do pecador e como ele pode voltar-se novamente para Deus)[43].
A entrega de somas em dinheiro como forma de penitência[44] foi o estopim do grande cisma que originou as igrejas protestantes. A prática consistia em uma “doação” da parte do pecador, proporcional ao pecado cometido. Assim, por exemplo, um padre culpado por fazer sexo deveria pagar 219 libras e 15 soldos, ou ainda uma mulher adúltera tinha de pagar aos cofres da Igreja a quantia de 87 libras e 3 soldos. Esta prática, conhecida como “venda de indulgências”, revoltou o padre Martinho Lutero, que em 1517 iniciou o movimento que culminou com a fundação do protestantismo.
2.3.3 – Sexualidade medieval
Uma das áreas de maior pecaminosidade, segundo a Igreja medieval, era a sexualidade. Como algumas sociedades consideradas pagãs mantinham rituais ligados ao sexo, o catolicismo propagou muitas práticas (por vezes absurdas) para combater a “luxúria” de seus fiéis[45], em número cada vez maior ao longo dos primeiros séculos da Era Cristã. A única posição sexual aceita era a famosa “papai-e-mamãe” (na época chamada de “posição missionária”), pois tal posição expressava a submissão da mulher ao domínio masculino, uma interpretação do trecho bíblico que diz: “As mulheres estejam sujeitas aos seus maridos, como ao Senhor, porque o homem é cabeça da mulher... estejam as mulheres em tudo sujeitas aos seus maridos”. (Efésios 5,22-24).
Na verdade, esta interpretação é totalmente questionável hoje, pois o trecho mencionado prossegue dizendo que o marido deve amar sua esposa e não fazer nenhum mal a ela (Efésios 5,25-30), além de outra passagem na qual se diz que o homem deve cumprir seu dever conjugal e que ele não dispõe do seu corpo, mas sua esposa, e vice-versa (1Coríntios 7,3-5). Portanto, vemos que é antigo o hábito de manipular a Bíblia segundo as próprias conveniências.
O combate da Igreja aos “pecados sexuais” ia muito além da determinação de posições no sexo[46]. Um homem piedoso normalmente sentia-se culpado quando tinha orgasmo. A masturbação era proibida: se um padre se masturbasse, tinha de ficar 20 dias em jejum; se uma mulher cometesse tal ato, poderia ser acusada de feitiçaria e pacto com o diabo. O homossexualismo era punido com penitências, jejuns e mortificações. A própria relação sexual entre um casal unido religiosamente era vista com maus olhos: a Igreja recomendava abstinência sexual nas segundas (em homenagem aos mortos), quintas (em memória da prisão de Jesus), sextas (em respeito à morte de Jesus), sábados (em honra à Virgem Maria) e aos domingos (para celebrar a ressurreição de Jesus), restando apenas as terças e quartas (mesmo assim, estes deveriam ser dias de abstinência sexual caso fossem dias de jejum ou de festividades religiosas); além disto, escritores católicos como Agostinho de Hipona, Orígenes e Jerônimo diziam que o sexo era uma coisa má, inspiração demoníaca e um ato vergonhoso e repulsivo (Orígenes chegou a mutilar os próprios testículos, enquanto cantava hinos religiosos).
A relação sexual só tinha uma finalidade, a procriação, e era comum o uso de “cintos de castidade”. Apesar de todas estas restrições, no entanto, não era difícil ver padres contrariando seus votos de castidade e entregando-se aos “prazeres da carne”, ou ainda senhores feudais que exigiam dormir com as esposas de seus camponeses recém-casados, como forma de pagamento de impostos.
2.3.4 – Pecado na Igreja após a Idade Média
Até o século XX, a Igreja Católica alternou momentos de luta contra a modernidade e de abertura a ela (muitas vezes uma abertura modesta)[47]. No entanto, em relação ao pecado, podemos dizer que a doutrina sobre sua natureza, ações e consequências não se alterou, ao contrário da postura frente ao pecador, que ganhou tons de flexibilidade. O pecador, hoje, já não precisa mais ter complexos de culpa e se penitenciar rigorosamente, pois o discurso clerical fala de um Deus próximo e que dá ao homem um amor misericordioso[48].
A penitência persiste, na maioria das vezes, em forma de orações ou gestos de caridade que o fiel deve fazer, em uma tentativa de aplicar nos dias atuais o exemplo de Jesus, que, segundo os Evangelhos bíblicos, veio para “curar” os pecadores (Mateus 9,13). Esta postura católica é recente (se considerarmos a história bimilenar do catolicismo): até meados do século XX, ainda se encontravam livros de orações com promessas de indulgências (temporárias ou definitivas) a quem recitasse tais preces e com insinuações referentes ao inferno, como a ideia de que nele certamente estaria Judas Iscariotes, traidor de Jesus (hoje, a Igreja não se pronuncia sobre pessoas que poderiam estar no inferno, alegando que só Deus conhece as intenções humanas e que pessoas reconhecidamente más podem se arrepender no último instante de vida)[49].
Atualmente, influenciados pelo pentecostalismo protestante, grupos católicos têm buscado resgatar a valorização de práticas (algumas delas medievais) que “afastam” o demônio e as tentações, a fim de com isto evitar o pecado. Dentro da Renovação Carismática Católica (RCC), movimento de linha pentecostal, fiéis usam orações devocionais que “exorcizam” a presença maligna[50]. Com alguns exageros, muitos carismáticos (como são chamados os membros da RCC) retomam costumes antigos como a eliminação de livros e objetos que, segundo eles, são contrários à vontade de Deus e se tornam instrumento do maligno para desviar as pessoas do caminho divino (obras esotéricas, horóscopos e imagens de bruxas e duendes, por exemplo), além da associação entre doenças e possessão demoníaca (mentalidade medieval). Para resolver casos de influência ou possessão malignas, fazem as chamadas “orações de cura e libertação”, que podem incluir fórmulas como a Oração de São Bento, o Terço da Cura, o Ofício da Imaculada Conceição, a oração a Nossa Senhora da Defesa, entre outras devoções, chegando até a incentivar, como forma de “luta espiritual”, o uso de uma correia em torno da cintura (devoção a “sagrada correia” de Nossa Senhora da Consolação).
2.4 – Sacramento da Penitência[51]
O catolicismo distingue sete sacramentos, sinais sagrados que, segundo a doutrina católica, marcam na vida do fiel a salvação divina[52]. São eles: batismo, confirmação (crisma), eucaristia, penitência, unção dos enfermos, ordem (sacerdócio) e matrimônio[53].
A penitência, como sacramento, se expressa mais evidentemente na confissão, quando o fiel conta seus pecados a um sacerdote, recebe através dele o perdão de Deus e se compromete a compensar o pecado com obras virtuosas (orações, gestos caridosos e abstinência de algo que a pessoa goste, por exemplo). O papa João Paulo II deu, em 2002, orientações para a celebração do sacramento da penitência[54], objetivando um melhor aproveitamento da parte dos fiéis e reafirmando o valor da confissão individual (somente um fiel diante do sacerdote), embora não descarte o valor, em ocasiões específicas, da absolvição comunitária (quando vários fiéis confessam seus pecados mentalmente e recebem juntos a absolvição do sacerdote).
3 – Santo Agostinho e São Tomás de Aquino
Não se pode falar em pecado nas visões católica e protestante sem mencionar dois grandes escritores do cristianismo: o bispo Agostinho de Hipona, ou Santo Agostinho, e o padre Tomás de Aquino, ou São Tomás. O primeiro viveu no fim da Antiguidade, já com o Império Romano agonizando ante as invasões germânicas; o segundo viveu no fim da Idade Média, com a Europa renascendo artística e filosoficamente. Santo Agostinho destacou-se ao falar sobre a liberdade do homem e a graça de Deus (influenciando teólogos católicos e protestantes); São Tomás de Aquino destacou-se ao falar sobre a íntima relação entre a razão e a fé[55].
3.1 – Pecado agostiniano
Convertido ao catolicismo aos 33 anos de idade, Agostinho logo iniciou sua vida de escritor, criticando a tendência politeísta de humanizar a divindade e apontando os erros do maniqueísmo, doutrina que ele próprio seguira na juventude[56]. O pensamento maniqueísta ensinava sobre a existência de duas divindades de igual força, o Bem e o Mal, que ocasionaria a presença de duas almas no ser humano, uma boa e outra má; assim, o homem não seria livre e nem responsável por suas ações, pois o bem e o mal feitos eram impostos por sua alma. Agostinho reage contra esta doutrina escrevendo o livro “De libero arbítrio” (“Sobre o livre arbítrio”)[57].
Segundo Agostinho de Hipona, o mal não vem de Deus e não pode prejudicar a excelência de suas obras. De onde, então, viria o mal? Agostinho afirma que o mal não é um ser, como diziam os maniqueístas, mas que é uma privação do ser, ou seja, a ausência do bem. Para ele, o mal não existe no cosmos, e mesmo que haja alguma coisa no universo que pareça defeituosa, a suspeita desaparece se considerarmos a grandeza do universo e sua harmonia. Assim, o mal se encontra onde o ser humano está, tendo duas formas: moral (o pecado) e física (as doenças, o sofrimento e a morte). Agostinho afirma que o mal moral depende de nossa má vontade, pois desde o início dos tempos temos a tendência de escolher entre o divino e o profano; já o mal físico é uma consequência do mal moral, que corrompeu o corpo do ser humano.
Se o mal é, portanto, consequência de nossas escolhas, podemos deduzir, a partir do trecho bíblico de Gênesis 3,1-24 (o pecado de Adão e Eva), que o ser humano já tinha ganhado de Deus o livre-arbítrio, mesmo vivendo em harmonia com ele no Paraíso; mesmo assim, dar o livre-arbítrio ao homem não foi um “risco” corrido por Deus, afinal, sendo onisciente (sabe todas as coisas), já previa que os primeiros homens viriam a pecar. Por que, então, Deus permitiu a entrada do pecado no mundo, se já sabia que o homem iria escolher outro caminho que não fosse a harmonia com o divino? Este raciocínio possivelmente foi o que levou Agostinho a afirmar[58]: “Pois o Deus todo-poderoso..., por ser soberanamente bom, nunca deixaria qualquer mal existir em suas obras se não fosse bastante poderoso e bom para fazer resultar o bem do próprio mal”.
Esta afirmação agostiniana confirma o que o apóstolo Paulo já dizia ao afirmar que a graça divina superabundou onde o pecado abundou (Romanos 5,20), colocando o pecado como algo que acabou sendo benéfico, pois nele mostrou-se também a graça de Deus. Em relação à graça divina, Agostinho de Hipona deixou um vasto legado à teologia cristã, afirmando que somente pela graça de Deus o homem consegue atingir uma vida virtuosa. Para ele, Deus habita a alma do ser humano e sua graça impulsiona-o a viver voltado para o divino, a fim de não ser absorvido pelos prazeres do mundo[59]. Agostinho mostra em sua obra que toda a vida do ser humano gira em torno da graça de Deus: é pela graça divina que o homem tem vontade de buscar a Deus, como também é pela graça divina que adquirimos os méritos necessários a fim de nos tornarmos herdeiros do Reino dos Céus, junto com Cristo[60].
Agostinho de Hipona segue o pensamento do apóstolo Paulo ao falar sobre a justificação, ou seja, a salvação alcançada quando se adere a Jesus Cristo. O apóstolo Paulo fala deste tema principalmente na carta escrita aos cristãos de Roma, comparando Adão e Jesus, que para Paulo eram figuras antitéticas: enquanto Adão introduziu o pecado e a morte no mundo, Jesus introduziu a graça e a vida plena. Agostinho, nesta linha teológica, vem dizer que a justificação do pecador é uma obra maior do que a criação do universo, pois a graça trazida por Jesus é eterna[61].
A visão agostiniana sobre o pecado e a graça foi transportada pelo próprio Agostinho às suas concepções de Estado e família[62]. Para Agostinho, no âmbito familiar, o celibato é superior ao matrimônio, e nesta concepção ele segue o pensamento do apóstolo Paulo (1Coríntios 7,8); já em relação ao Estado, Agostinho afirma que sua existência seria inútil se o pecado não tivesse entrado no mundo.
3.2 – Pecado tomista
Tomás de Aquino entrou para a Ordem dos Dominicanos, mesmo contra a vontade de sua família, e dedicou-se intensamente aos estudos. Apesar de ter escrito principalmente sobre a razão e sua relação com a fé, deixou também um legado teológico sobre as questões do pecado humano e da graça divina. Para ele, até mesmo a razão é um dom divino, e quando a filosofia (razão) discorda da teologia (fé), não é por imperfeição do dom de Deus, mas por erro do raciocínio humano[63].
Tomás acreditava que o ser humano não é capaz de conhecer a lei eterna, ou seja, o perfeito desígnio de Deus. Portanto, para combater o pecado e levar uma vida virtuosa, o homem, segundo Tomás, recebeu de Deus uma lei natural, isto é, a norma da própria consciência[64], a fim de exercer, pela graça divina, as sete principais virtudes[65]: prudência, fortaleza, temperança e justiça (chamadas “cardeais”, faziam parte do pensamento de Aristóteles a respeito das virtudes); fé, esperança e caridade ou amor (chamadas “teologais”, faziam parte do pensamento do apóstolo Paulo a respeito das virtudes).
A moral sexual tomista seguia a tendência medieval, distinguindo dois tipos de pecados luxuriosos[66]: os cometidos contra a razão (fornicação e adultério) e os cometidos contra a natureza (masturbação, sexo com animais, homossexualidade, sexo anal e oral).
4 – Pecado protestante
Ao contrário do catolicismo, a doutrina protestante é mais simplista e direta em relação ao pecado, ou seja, ela não divide os pecados em categorias nem lhes atribui pesos[67], mas apenas diz que diante de Deus todos os pecados são iguais, baseados no trecho bíblico que diz: “Todos... estão debaixo do pecado... Todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus”. (Romanos 3, 9.23).
É fundamentado no trecho bíblico, portanto, que o protestantismo rejeita a ideia de pecados capitais[68]. Outra particularidade da doutrina protestante é a negação da existência do Purgatório[69], doutrina católica segundo a qual as almas dos pecadores destinados ao céu passariam primeiro por um estado de purificação dos pecados que, em vida, não foram absolvidos pela confissão.
4.1 – Pecado luterano[70]
Martinho Lutero era de natureza inquieta, perseguido pelo medo do inferno e apegado à fé na redenção em Cristo, resolvendo ser padre após uma longa tempestade[71]. Entrou para a Ordem de Santo Agostinho, congregação cujas ideias seriam essenciais para a futura organização teológica do protestantismo. Atualmente, a Igreja Católica busca dialogar com o protestantismo e tem uma visão mais flexível em relação a Lutero[72], chegando até mesmo a pedir perdão pelas ofensas feitas aos seguidores protestantes, embora ainda existam alguns grupos católicos que insistem em desmoralizar a figura luterana[73].
A visão que Lutero tinha sobre o pecado, a fé e a graça divina e sua teologia em torno dos temas sofreram forte influência do apóstolo Paulo e de Agostinho de Hipona. Lutero lançou o princípio do sola fide[74], que em latim significa “somente a fé”, para dizer que o único meio de salvação para o homem é crer em Jesus Cristo e aceitá-lo como seu Senhor e Salvador, baseado em diversos trechos bíblicos (Atos dos Apóstolos 2,21 e 4,12; Romanos 5,1 e 10,9-13). Tal concepção eliminaria a ideia de que a salvação está ligada às obras feitas pelo fiel. O pensamento luterano do sola fide pode ser comparado com a visão católica a respeito do mérito, segundo a qual o homem que crê procura fazer boas obras[75], entretanto mesmo estas são inspiradas pela graça de Deus e, portanto, o mérito não é de quem faz a obra, mas de quem a inspira[76]. Para Lutero, as boas obras são importantes para que o corpo obedeça e se ajuste à fé que foi professada[77].
Lutero, em relação à natureza do pecado, vai além do pensamento católico, ao afirmar que o ser humano é naturalmente pecaminoso, ou seja, o homem não só comete pecado como também é por si mesmo pecador, tendo o mal enraizado dentro de si desde que os primeiros homens introduziram o pecado no mundo. Tal doutrina aproxima-se da doutrina católica a respeito do pecado original, herança agostiniana que direcionou a visão de pecado dos primeiros reformadores protestantes.
A radicalidade luterana chega ao ponto de dizer que o homem, sendo naturalmente pecador, não tem a capacidade de fazer o bem por si mesmo, sendo até as boas obras consideradas pecado, e esta condição perdura enquanto o homem não se justifica pela fé em Jesus Cristo (segundo Lutero, mesmo após a justificação e o batismo, o pecado continua impregnado no coração humano, levando-o ao combate espiritual). Por fim, Lutero afirma que, sendo o pecado fortemente enraizado no ser humano, a busca pelo perdão de Deus e por uma vida íntegra devem ser diárias.
Por causa destas considerações sobre o pecado, há quem diga (inclusive historiadores contemporâneos) que Lutero iniciou a Reforma por causa do diabo[78], fundando o protestantismo muito mais por horror ao diabo do que por amor a Deus.
4.2 – Pecado calvinista
João Calvino era francês, mas passou a maior parte de sua vida em Genebra (Suíça). Contemporâneo de Martinho Lutero, converteu-se ao protestantismo em 1533, aos 24 anos. De temperamento reservado, era extremamente convicto de suas ideias, praticamente obrigando a população de Genebra a seguir sua nova doutrina[79].
Em relação ao pecado, Calvino pregava a completa maldade do ser humano, fruto do pecado original[80], o que segundo ele anularia a liberdade, pois o homem só pode desejar o mal. Para fazer o bem, portanto, o ser humano depende exclusivamente da graça de Deus, único que pode despertar no homem a fé e salvá-lo do pecado, tendo por instrumento a Igreja, a quem até mesmo o Estado, segundo Calvino, deveria se submeter.
O pensamento calvinista destaca, entre outros pontos, a doutrina da predestinação[81], segundo a qual Deus já estabeleceu, antes da criação, quem irá se salvar e quem terá a condenação eterna. Tal doutrina não é exclusiva dos protestantes, sendo defendida também pela Igreja Católica, assim como por hindus, muçulmanos e outros crentes não-cristãos[82].
Só que o calvinismo diverge do catolicismo em relação à predestinação: na doutrina católica, Deus conhece o destino de todos os homens e quer que todos se salvem (conforme 1Timóteo 2,4), mas dá ao ser humano o livre-arbítrio (apesar de também já saber o que o homem irá escolher), sem revelar-lhe se será salvo ou não[83], de modo que nenhum homem pode declarar que já é salvo (conforme 1Coríntios 10,12); já para Calvino, a predestinação exclui o livre-arbítrio, afirmando que Deus concede a graça de fé e da redenção àqueles que ele já predestinou a salvação[84], e para confirmar isto, Calvino vai até o Antigo Testamento para mostrar que Deus elegeu o povo de Israel em detrimento dos outros povos (Deuteronômio 4,37 e 32,8-9; Salmo 47[46],4-5; Isaías 14,1), para depois, no Novo Testamento, entregar seus eleitos a Jesus[85], certo de que eles não se perderão (João 17,6 e 18,9). No Novo Testamento, a predestinação aparece em trechos como João 10,26 e 17,9-10, Atos dos Apóstolos 13,48, Romanos 8,28-30 e Efésios 1,3-6.
Partindo do princípio de que o Estado deve se subordinar à Igreja, Calvino conseguiu estruturar em Genebra uma política voltada ao seguimento da religião protestante, tendo esta como lei.
4.3 – Pecado pentecostal
O movimento pentecostal é uma vertente do protestantismo surgida nos Estados Unidos, no início do século XX, e que logo se espalhou pelo Ocidente, tendo milhões de seguidores principalmente nos Estados Unidos e no Brasil. Enfatiza o “Batismo no Espírito Santo”, experimentado pelos apóstolos na festa de Pentecostes (segundo o trecho bíblico de Atos dos Apóstolos 2,1-21), e a prática de dons[86] que seriam doados pelo Espírito Santo (oração em línguas estranhas, profecia, cura, entre outros). Em 1967, surge o movimento pentecostal católico (ou Renovação Carismática Católica), como que em resposta ao espírito renovador do Concílio Vaticano II[87]. No Brasil, entre as principais igrejas protestantes do pentecostalismo podemos citar a Assembleia de Deus, a Igreja do Evangelho Quadrangular e a Congregação Cristã. A partir do pentecostalismo, surgiram as igrejas “neopentecostais”[88], que pregam principalmente uma teologia voltada à prosperidade financeira (caso da Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça de Deus e Igreja Mundial do Poder de Deus).
Sobre a questão do pecado, a linha pentecostal segue o pensamento das igrejas protestantes tradicionais, só que enfatizando mais que as outras a ideia de “guerra espiritual” contra o diabo[89]. Este é visto como atuando sobre o mundo para desviar os “eleitos de Deus”, fazendo com que os fiéis devam tomar providências e lutar contra o mal, a fim de garantirem a salvação adquirida pela fé em Jesus Cristo. Muitas vezes, os pentecostais (e, mais que eles, os neopentecostais) parecem obcecados pelo diabo, vendo em todo lugar perseguições, heresias e tentações. Em igrejas neopentecostais, são comuns os cultos nos quais o pastor “conversa” com o demônio que “possui” o crente, para depois exorcizá-lo.
Assim como no movimento pentecostal católico, fala-se muito na necessidade de cura e libertação[90], muitas vezes associando males físicos e psíquicos a espíritos malignos, em consequência do pecado. Outra característica pentecostal é a rejeição a atitudes, objetos e doutrinas considerados heréticos e contra a vontade de Deus (sendo, portanto, considerados pecado); assim, fazem orações de renúncia à idolatria católica (no caso protestante), à homossexualidade, ao espiritismo, à pornografia, às maldições e maus-olhados, ao horóscopo, a algumas festas (Carnaval e Halloween, por exemplo), ao apego financeiro, entre outros[91].
Atualmente, figuras ligadas ao pentecostalismo têm feito sucesso nos meios de comunicação, tanto protestantes quanto católicos, que divulgam livros, músicas e pregações, a fim de atraírem (pelo menos teoricamente) as pessoas a Cristo. A sociedade pode e deve refletir sobre tais manifestações contemporâneas na mídia, para distinguir aqueles que realmente acrescentam algo bom no mundo atual e aqueles que só querem promover a própria imagem em detrimento da boa-fé dos outros, comportando-se, nas palavras de Jesus de Nazaré, como lobos que arrebatam as ovelhas (conforme João 10,12).
5 – Pecado ortodoxo
Divergindo em questões doutrinárias, políticas e culturais, as igrejas ortodoxas separaram-se do catolicismo a partir da excomunhão mútua entre o papa romano e o patriarca de Constantinopla, em 1054. Desde então, ortodoxos e católicos alternaram momentos de ódio (tomada de Constantinopla pelos cruzados, em 1204) e aproximação pacífica (encontro entre o papa Paulo VI e o patriarca Atenágoras I, em Jerusalém, no ano de 1964).
A doutrina ortodoxa em relação ao pecado mostra atitudes mais flexíveis que a católica. Enquanto esta proíbe, por exemplo, que um fiel se divorcie e se case novamente (situação enquadrada como pecado de adultério), as igrejas ortodoxas permitem o divórcio (baseados nos trechos bíblicos de Mateus 5,32 e 19,9) e dão aos divorciados a chance de se casarem novamente, embora preguem que o primeiro casamento é o mais importante para Deus e não rezem, na segunda celebração matrimonial do fiel, as orações de júbilo rezadas no primeiro matrimônio[92].
Os ortodoxos definem pecado como uma atuação contra a vontade de Deus[93], uma infração dos mandamentos divinos (comparando o pecado a chagas malcheirosas)[94], e comportam-se de maneira ultraconservadora em questões de moral. Para as igrejas ortodoxas, o fiel deve confessar seus pecados ao padre[95], que o perdoa em nome de Deus (tal como a prática católica e ao contrário do protestantismo, cujos fiéis consideram suficiente o pedido de perdão diretamente a Deus). Em situações especiais, nem o padre pode perdoar em nome de Deus, como no caso de um aborto, que só pode ser perdoado em confissão a um bispo[96].
Assim como os católicos, as igrejas ortodoxas aceitam a doutrina do pecado original (não como “mancha moral” que impede aos homens de fazerem o bem, mas como uma corrupção do coração humano, o que não impede ao homem ser “amigo de Deus”)[97], mas é justamente por causa desta doutrina que os ortodoxos rejeitam o dogma da Imaculada Conceição[98], segundo o qual Maria nascera sem o pecado original e não cometera pecados em sua vida. Para os ortodoxos, Maria foi santificada por Deus ao obedecê-lo e gerar Jesus, alegando ainda que a doutrina da Imaculada Conceição diminuiria seus méritos como serva obediente de Deus[99].
Por fim, entre os ortodoxos a salvação é vista como processo ou cura[100], restabelecendo a união entre o ser humano e Deus.
Considerações finais
A Bíblia sempre foi base para todo tipo de doutrina, tanto as “oficiais” das igrejas cristãs quanto as que foram consideradas heréticas ao longo dos séculos. Cada grupo religioso dentro do cristianismo interpreta as palavras de Jesus e de seus apóstolos da maneira como entendem ser inspiração divina (ou da maneira como lhe convém). A Igreja Católica Apostólica Romana, primeira igreja cristã, é centralizada na pessoa do papa, considerado representante de Cristo e que determina as questões doutrinárias seguidas pelos católicos. As igrejas ortodoxas, embora unidas considerem a importância do Patriarca Ecumênico de Constantinopla (hoje Istambul, na Turquia), seguem as instruções doutrinárias de seus respectivos patriarcas (entre eles o de Jerusalém, de Antioquia, de Moscou e de Atenas). E as igrejas protestantes, sem um líder central, seguem a doutrina pregada pelos bispos e pastores de suas respectivas denominações.
Na questão do pecado, vimos como a Igreja Católica Romana sistematizou sua moral em torno de classificações de pecados, atribuindo-lhes pesos, abrindo exceções em casos isolados e mostrando-se extremamente conservadora em temas como sexo e casamento. O catolicismo, ao mesmo tempo em que começa a relacionar-se com a modernidade (evangelização pelos meios de comunicação, por exemplo), permanece rígida em assuntos ligados ao pecado, suas características e seus efeitos sobre o ser humano.
As igrejas protestantes lidam com o pecado de maneira mais simples que o catolicismo, no que se refere a pesos e classificações, mas também de maneira mais rígida e evidente que os católicos, como podemos ver na doutrina calvinista sobre a predestinação ou no modo como os pentecostais “enfrentam” o demônio. A ênfase na fé em Jesus para receber dele a salvação e combater os males deste mundo faz com que muitos protestantes vejam pecado em todo canto, como oportunidades de batalha espiritual para alcançarem o Reino.
As igrejas ortodoxas são tão rígidas quanto os católicos em matéria de pecado, mantendo o conservadorismo apesar dos apelos contemporâneos por abertura às “novidades” e liberdades humanas. Esta proximidade com a Igreja Católica leva as igrejas ortodoxas a um cada vez maior diálogo com o catolicismo, em forma de comissões ecumênicas para diálogos teológicos, que promovem encontros visando discutir aspectos que levem à unidade[101].
Por séculos, o cristianismo e seus líderes assombraram a população com punições, demônios e ira divina, alimentando uma busca pelo céu muito mais por medo do inferno do que por amor ao Deus pregado por Jesus de Nazaré. Hoje, no entanto, a consciência cristã tenta reverter este quadro, no espírito do que já dizia Basílio, contemporâneo de Agostinho de Hipona:
“Ou nos afastamos do mal por medo do castigo, estando assim na posição do escravo; ou buscamos o atrativo da recompensa, assemelhando-nos aos mercenários; ou é pelo bem em si mesmo e por amor de quem manda que nós obedecemos... e estaremos então na posição de filhos”.[102]
As instituições religiosas contemporâneas têm muito a contribuir com questões como a preservação do meio ambiente, a paz entre os povos, a superação da fome e da miséria, entre outros assuntos de crucial urgência. A religião chega a fazer as vezes do Estado, quando este não consegue atender a todas as necessidades de uma população. Por isto, a visão religiosa sobre o pecado e os males do homem deve estimular a prática religiosa voltada à dignidade humana, fazendo com que sejam vencidas as estruturas que condenam o homem a uma vida desigual, miserável e dependente de uma ajuda muitas vezes paternalista e insuficiente. O cristianismo, especificamente, muito mais do que apontar o pecado no mundo e sua ação no coração humano, deve também contribuir para que este mundo seja a materialização do Paraíso que os cristãos esperam, em uma atitude que não seja apenas de olhos para o céu
[1] Pós-graduado em Metodologia do Ensino de História e Geografia pela Universidade Barão de Mauá. E-mail: virginenseuchoas@bol.com.br
[2] Alguns dados sobre as principais religiões. Disponível em: <http://duplavista.com.br/arquivo/alguns-dados-sobre-as-principais-religioes> Acesso em: 26 de junho de 2011.
[3] FREITAS, Pastor Davi. A Igreja no mundo. Disponível em: <http://prdavifreitas.blogspot.com/2011/02/comentando-dialogo-e-acao-licao-9.html> Acesso em: 26 de junho de 2011. Ver também: LIMA, Alessandro. A Igreja Católica foi fundada por Constantino? Disponível em: <http://www.veritatis.com.br/apologetica/artigospapaprimado/763-a-igreja-catolica-foi-fundada-por-constantino> Acesso em: 26 de junho de 2011. E ainda: Igreja Católica – a igreja cristã não tinha nome. Disponível em: <http://caiafarsa.wordpress.com/igreja-catolica-a-igreja-crista-nao-tinha-nome/> Acesso em: 26 de junho de 2011.
[4] Religiões – Protestantismo. Disponível em: <http://www.portalbrasil.net/religiao_protestantismo.htm> Acesso em: 26 de junho de 2011.
[5] Ver nota 2.
[6] FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. 3ª edição.
[7] Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000. Parágrafo 1849.
[8] Kapará, mechilá e o judaísmo rabínico – parte 2. Disponível em: <http://herancajudaica.wordpress.com/2011/04/28/kapara-mechila-e-o-judaismo-rabinico/> Acesso em: 28 de junho de 2011.
[9] A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Sociedade Bíblica Católica Internacional e Paulus, 1994.
[10] Idem.
[11] Cenas de entrevista com demônios na Igreja Universal. Disponível em: <http://exorcismosreais.blogspot.com/2010/05/cenas-de-entrevista-com-demonios-na.html> Acesso em: 18 de junho de 2011.
[12] RÉGENER, Ricardo. É pecado? É pecado? É pecado? Disponível em: <http://meular.wordpress.com/2009/08/30/e-pecado-e-pecado-e-pecado/> Acesso em: 26 de junho de 2011.
[13] O sinete e o selo de Adão e Eva. Disponível em: <http://arqueologia-biblica.blogspot.com/2010/05/o-sinete-e-o-selo-de-adao-e-eva.html> Acesso em: 27 de junho de 2011.
[14] Mitologia assírio-babilônica. Disponível em: <http://cantinhodosdeuses.blogspot.com/2011/03/mitologia-assiria-babilonica.html> Acesso em: 13 de junho de 2011.
[15] KRAMER, Samuel Noah et al. Mesopotâmia: o berço da civilização. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1980. Pág. 110.
[16] Idem. Pág. 106-109.
[17] GOMES, Daniel M. A família como comunidade. Disponível em: <http://www.pib7joinville.com.br/boletim/estudo-complementar/a-familia-como-comunidade.html> Acesso em: 28 de junho de 2011.
[18] Catecismo da Igreja Católica. Parágrafos 1038 a 1041. Ver também: ISLAM, Hajj Hamza Abdullah. Dúvidas? O Alcorão responde. Disponível em: <http://hamzaabdullah357.blogspot.com/2011/04/duvidas-o-alcorao-responde.html> Acesso em: 28 de junho de 2011.
[19] Catecismo da Igreja Católica. Parágrafo 545.
[20] Idem. Parágrafos 1852 a 1864.
[21] Idem. Parágrafos 1858.
[22] ROCHA, Moisés. Estudo sobre pecados veniais. Disponível em: <http://gruporenascer-rcc.blogspot.com/2010/07/estudo-sobre-pecados-veniais.html> Acesso em: 28 de junho de 2011.
[23] Catecismo da Igreja Católica. Parágrafos 2263 a 2267.
[24] Idem. Parágrafo 1860.
[25] Idem. Parágrafo 1866.
[26] Igreja fez lista de pecados na Idade Média. Disponível em: <http://super.abril.com.br/superarquivo/1996/conteudo_31259.shtml> Acesso em: 28 de junho de 2011.
[27] Os sete pecados capitais. Disponível em: <http://www.estudosgospel.com.br/estudos/diversos/os-sete-pecados-capitais.html> Acesso em: 28 de junho de 2011.
[28] Catecismo da Igreja Católica. Parágrafos 399 e 400.
[29] Idem. Parágrafo 398.
[30] Idem. Parágrafo 405.
[31] Idem. Parágrafo 405.
[32] HORTON, Michael S. Pelagianismo: a religião do homem natural. Disponível em: <http://www.monergismo.com/textos/arminianismo/pelagianismo.htm> Acesso em: 28 de junho de 2011. Ver também: Você sabe o que foi o pelagianismo? Disponível em: <http://blog.cancaonova.com/dominusvobiscum/2008/01/21/voce-sabe-o-que-foi-o-pelagianismo-isso-tem-a-ver-com-nosso-estudo-sabia/> Acesso em: 28 de junho de 2011. E ainda: Catecismo da Igreja Católica. Parágrafo 406.
[33] FREMANTLE, Anne et al. Idade da fé. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1981. Página 63.
[34] BESEN, Padre José A. A religiosidade na Idade Média. Disponível em: <http://www.pime.org.br/missaojovem/mjhistdaigrejamedia.htm> Acesso em: 14 de junho de 2011.
[35] Ver nota 27.
[36] Belphegor – Bondage Goat Zombie. Disponível em: <http://metal-from-infernum.blogspot.com/2008/12/belphegor-bondage-goat-zombie-2008.html> Acesso em: 29 de junho de 2011.
[37] A Bíblia de Jerusalém. Nota referente ao trecho de Jó 3,8.
[38] Idem. Nota referente ao trecho de Jó 1,6.
[39] Ver nota 34.
[40] SCHNEIDER, Maitê. Entre o amor real e o ideal. Disponível em: <http://www.casadamaite.com/node/3903> Acesso em: 18 de junho de 2011.
[41] Autoflagelação. Disponível em: <http://www.espiritualismo.hostmach.com.br/autoflagelo.htm> Acesso em: 29 de junho de 2011.
[42] MOTTA, Vinícius. Opus Dei, o lado de dentro. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ult2655u69.shtml> Acesso em: 29 de junho de 2011.
[43] MIRALLES, Antonio. A penitência. Disponível em: <http://www.opusdei.org.br/art.php?p=43268> Acesso em: 29 de junho de 2011.
[44] O purgatório e a prática de indulgências no imaginário medieval. Disponível em: <http://inverdadeshistoricas.blogspot.com/2010/05/o-purgatorio-e-pratica-de-inudulgencias.html> Acesso em: 29 de junho de 2011.
[45] MOTOMURA, Marina. Sexo e sexualidade na Idade Média. Disponível em: <http://inverdadeshistoricas.blogspot.com/2010/05/sexo-e-sexualidade-na-idade-media.html> Acesso em: 29 de junho de 2011.
[46] Ver nota 40.
[47] A Igreja no século XX. Disponível em: <http://rodrigocoppe.wordpress.com/2011/03/26/a-igreja-no-seculo-xx-entrevista-ao-ihu-online/> Acesso em: 29 de junho de 2011.
[48] CONSELHO EPISCOPAL LATINO-AMERICANO (CELAM). Documento de Aparecida. Brasília e São Paulo: CNBB, Paulus e Paulinas, 2007. 3ª edição. Página 11.
[49] FEDELI, Orlando. Adoração aos obeliscos (baals); canonização dos santos. Disponível em: <http://www.montfort.org.br/old/perguntas/baals.html> Acesso em: 29 de junho de 2011.
[50] ALVES, Maria Gabriela de Oliveira. Combatendo o bom combate – orientações para cura e libertação. São Paulo: Palavra e Prece, 2007. 3ª edição. Ver também: MORALES, Cristiano; FURLAN, Sebastião Cézar. Relatos de cura e libertação e orientações para o combate espiritual. São Paulo: Palavra e Prece, 2009.
[51] Catecismo da Igreja Católica. Parágrafos 1422 a 1498.
[52] FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975.
[53] Catecismo da Igreja Católica. Parágrafo 1210.
[54] JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Misericordia Dei. São Paulo: Paulinas, 2003. 4ª edição.
[55] ENCICLOPÉDIA CONHECER. São Paulo: Abril, 1972. Volume 1. Página 64. O santo que teve fé na razão.
[56] MESTRINER, Cleber Baessa. Santo Agostinho e uma justificativa para o pecado. Disponível em: <http://www.unimeo.com.br/artigos/artigos_pdf/2005/santo_agostinho.pdf> Acesso em: 01 de julho de 2011.
[57] HIPONA, Santo Agostinho. O livre-arbítrio. Disponível em: http://www.tuapalavra.com/login/fotos/50a3feb934.pdf Acesso em 02 de julho de 2011.
[58] Catecismo da Igreja Católica. Parágrafo 311.
[59] ENCICLOPÉDIA Delta Universal. Rio de Janeiro: Delta, 1988. Volume 1. Páginas 160 e 161. Santo Agostinho.
[60] Catecismo da Igreja Católica. Parágrafos 1996 a 2011.
[61] Idem. Parágrafo 1994.
[62] Santo Agostinho. Disponível em: <http://www.mundodosfilosofos.com.br/agostinho.htm> Acesso em: 01 de julho de 2011.
[63] ENCICLOPÉDIA Delta Universal. Volume 14. Páginas 7676 e 7677. São Tomás de Aquino.
[64] ENCICLOPÉDIA Barsa. Rio de Janeiro e São Paulo: Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1982. Volume 15. Páginas 136 a 138. Santo Tomás de Aquino. Ver também: Catecismo da Igreja Católica. Parágrafos 1954 a 1960.
[65] Catecismo da Igreja Católica. Parágrafos 1804 a 1829.
[66] Ver nota 45.
[67] ZORTEA, Tiago. “Pecado, pecadinho, pecadão... isso não...” Isso não existe. Disponível em: <http://musicaeadoracao.wordpress.com/2009/10/08/%E2%80%9Cpecado-pecadinho-pecadao-isso-nao-%E2%80%9D-isso-nao-existe-tiago-zortea/> Acesso em: 29 de junho de 2011.
[68] RIFFE, Pastor Ron. Os catorze pecados mortais do catolicismo romano. Disponível em: http://www.espada.eti.br/p296.asp Acesso em: 28 de junho de 2011.
[69] Catecismo da Igreja Católica. Parágrafos 1030 a 1032.
[70] SCHEUNEMANN, Thiago Campos. A concepção luterana sobre o pecado. Disponível em: <http://www3.est.edu.br/nepp/revista/011/11thiago.htm> Acesso em: 04 de julho de 2011.
[71] ENCICLOPÉDIA Barsa. 1995. Volume 13. Páginas 49 a 52. Martinho Lutero.
[72] VIER, Frei Frederico (org.). Compêndio do Vaticano II. Petrópolis: Vozes, 2000. 29ª edição. Página 318. Decreto Unitatis Redintegratio.
[73] STANZIONE, Padre Marcello. Futura beata viu Lutero no inferno. Disponível em: <http://fratresinunum.com/2011/02/21/futura-beata-viu-lutero-no-inferno/> Acesso em: 04 de julho de 2011.
[74] DECLARAÇÃO DE CAMBRIDGE. Os cinco solas da Reforma. Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/cinco_solas/cinco_solas_reforma_erosao.htm Acesso em: 04 de julho de 2011.
[75] Catecismo da Igreja Católica. Parágrafos 1814 e 1815.
[76] Idem. Parágrafos 2006 a 2011.
[77] LUTERO, Martinho. Da liberdade cristã. São Leopoldo: Sinodal, 2004. 6ª edição. Página 29.
[78] Lutero e a igreja do pecado. Disponível em: <http://www.fernandojorge.com/#/lutero/4520297635> Acesso em: 04 de julho de 2011.
[79] ENCICLOPÉDIA Barsa. 1995. Volume 4. Página 508. Calvino.
[80] O pecado original. Disponível em: <http://www.ocalvinista.com/2010/07/o-pecado-original-joao-calvino.html> Acesso em: 05 de julho de 2011.
[81] ENCICLOPÉDIA Barsa. 1995. Volume 12. Página 486. Predestinação.
[82] ENCICLOPÉDIA Delta Universal. Volume 12. Página 6611. Predestinação.
[83] A doutrina da predestinação. Disponível em: <http://www.universocatolico.com.br/index.php?/a-doutrina-da-predestinacao.html> Acesso em: 05 de julho de 2011.
[84] Predestinação e livre-arbítrio (Arminius e Calvino – os cinco pontos). Disponível em: <http://assuntados.blogspot.com/2011/03/crer-e-pensar-006-predestinacao-e-livre.html> Acesso em: 05 de julho de 2011.
[85] Predestinação e presciência. Disponível em: <http://www.ocalvinista.com/2010/01/predestinacao-e-presciencia-calvino.html> Acesso em: 05 de julho de 2011.
[86] ENCICLOPÉDIA Delta Universal. Volume 11. Páginas 6230 e 6231. Igreja Pentecostal.
[87] AQUINO, Felipe. XXVII Congresso Nacional da RCC. Disponível em: <http://blog.cancaonova.com/felipeaquino/category/rcc/> Acesso em: 05 de julho de 2011.
[88] STEFANO, Gilberto. Os pentecostais, os neopentecostais, os carismáticos. Disponível em: <http://solascriptura-tt.org/Seitas/Pentecostalismo/PentecostaisNeoPCarismaticos-GilbertoStefano.htm> Acesso em: 05 de julho de 2011. Ver também: Pesquisa FAPESP: A relação dúbia entre igrejas neopentecostais e o demônio. Disponível em: <http://noticias.gospelmais.com.br/pesquisa-fapesp-a-relacao-dubia-entre-igrejas-neopentecostais-e-o-demonio.html> Acesso em: 05 de julho de 2011.
[89] CARDOSO, Jesher Emílio. Diga a Satanás: Touchet! São Paulo: Naós, 2003. 4ª edição. Páginas 29 a 43.
[90] CARDOSO, Jesher Emílio. Op. cit. Páginas 79 a 103. Ver também: REIS, Reinalda Delgado dos (org.). Orações selecionadas por cura, libertação e intercessão. São Paulo: Loyola, 2001. Páginas 94 a 103.
[91] CARDOSO, Jesher Emílio. Op. cit. Páginas 45 a 64. Ver também: REIS, Reinalda Delgado dos (org.). Op. cit. Páginas 83 a 94.
[92] ENCICLOPÉDIA Delta Universal. Volume 8. Páginas 4141 a 4143. Igrejas ortodoxas.
[93] Igreja Ortodoxa resiste em fazer lista de novos pecados. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,igreja-ortodoxa-resiste-em-fazer-lista-de-novos-pecados,138417,0.htm> Acesso em: 04 de julho de 2011.
[94] Sobre as chagas corruptas do pecado. Disponível em: <http://www.ortodoxia-brasil.blogspot.com/2008/10/sobre-as-chagas-corruptas-do-pecado.html> Acesso em: 05 de julho de 2011.
[95] Os sacramentos. Disponível em: <http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/igreja_ortodoxa/a_igreja_ortodoxa_fe_e_liturgia7.html> Acesso em: 05 de julho de 2011.
[96] Do sacramento da penitência. Disponível em: <http://igrejaortodoxahispanica.com/Direito_Canonico/21_Penitencia.html> Acesso em: 05 de julho de 2011.
[97] O ensino ortodoxo sobre a Imaculada Conceição, por Sua Santidade o Patriarca Ecumênico Bartolomeu I. Disponível em: <http://cetroreal.blogspot.com/2010/08/o-ensino-ortodoxo-sobre-imaculada.html> Acesso em: 05 de julho de 2011.
[98] AGUDOS, Camila da Silva. Igreja Ortodoxa. Disponível em: <http://www.coladaweb.com/religiao/igreja-ortodoxa> Acesso em: 04 de julho de 2011.
[99] WOLFF, Edward. A veneração ortodoxa de Maria, a Deípara. Disponível em: <http://www.igrejaservia.org/teologia/teologia_043.htm> Acesso em: 05 de julho de 2011.
[100] Grande Cisma do Oriente – a divisão entre católicos romanos e ortodoxos. Disponível em: <http://www.orm.com.br/oliberal/interna/default.asp?modulo=250&codigo=301585> Acesso em: 05 de julho de 2011.
[101] KALLARRARI, Padre Celso. 8ª Comissão Teológica: Igrejas Ortodoxas Orientais e Católica Romana. Disponível em: <http://www.cssmd.com.br/site/index.php/comissao-teologica-das-igrejas-ortodoxas-orientais-e-da-igreja-catolica-romana/> Acesso em: 05 de julho de 2011.
[102] Catecismo da Igreja Católica. Parágrafo 1828.