BULLYNG NA SALA DE AULA DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Por Nely Silva Alves Guariz | 27/05/2013 | Educação

BULLYING NA SALA DE AULA DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL                                                                                Magda Vilela O. Cardoso[1]

Nely  Silva Alves Guariz ²

 Rose Cristiane F. S. Liston ³ 

RESUMO 

A efetivação do presente artigo consiste no levantamento de informações que versam sobre o Bullying no ambiente escolar, aqui definido como manifestação de atitudes agressivas, intencionais no universo escolar e repetitivas, suas consequências e possíveis causas, adotadas por um e/o grupos de alunos contra outros. Nessa perspectiva esse estudo utiliza-se do método descritivo – bibliográfico para coleta de dados, por meio de reflexões sobre o bullying escolar sob diferentes concepções no intuito de tomar o problema e de poder contribuir para o aprofundamento das reflexões acerca dessa temática.  O objetivo primordial desta pesquisa paira sobre a intenção de refletir o fenômeno bullying no contexto escolar bem como sobre os fatores que contribuem para sua ocorrência no âmbito educativo. Portanto, toma-se de modo especifico uma reflexão sobre o termo bullying e suas diversas formas de manifestações, bem como conhecer as possíveis consequências e causas de sua ocorrência e buscar meios mais eficazes no sentido de combatê-lo no âmbito escolar.

Palavras-chave: Escola. Bullying. Consequências. Causas. Ensino-Aprendizagem.

ABSTRACT 

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The implementation of this Article is a survey of information that deal with the bullying at school, defined here as a manifestation of aggressive attitudes, intentional and repetitive school in the universe, its consequences and possible causes, performed by one and / or groups of students against other. From this perspective this study makes use of the descriptive method - literature for data collection, through reflections on school bullying in different concepts in order to take the problem and to contribute to the deepening of reflections on this theme. The primary objective of this research hovers over the intention to reflect the phenomenon of bullying in the school context as well as the factors that contribute to its occurrence in the educational field. Therefore, it becomes so specific a reflection on the term bullying and its various forms of manifestations, as well as knowing the possible consequences and causes of its occurrence and to seek more effective ways in order to combat it in the school.

Keywords: School. Bullying. Consequências. Causes. Teach-Learning. 

INTRODUÇÃO 

O presente trabalho de pesquisa busca compreender as várias manifestações de violência que sem dúvida tornou-se uma das maiores preocupações dos sistemas de ensino. Sabe-se que o bullying é um problema mundial e que nos dias atuais tem-se intensificado sua prática no ambiente escola e que pode ser definido como um conjunto de atitudes agressivas, de forma intencional e repetitiva, atitudes essas que podem ser praticadas por um e até mais alunos contra outros. Compreende-se que essa prática é uma forma de abuso psicológico, físico e social. São muitas as formas de práticas do bullying, o que torna esse trabalho necessário a fim de compreender e até mesmo encontrar soluções que possam interferir no processo de eliminação e/ou redução dessa prática que vem sendo uma constante no contexto escolar.

A pesquisa aqui se instaura em um estudo de natureza compreensiva sobre o bullying, suas consequências psicológicas e suas possíveis causas no contexto escolar, embora sua dimensão e de alcance mundial, ou seja, de longo alcance. Portanto, durante a pesquisa são evidenciados alguns tipos de papéis sociais praticados pelos agressores portadores dessa síndrome. Acredita-se que com esse estudo sobre bullying é possível identificar instrumentos teóricos que norteiam o meio escolar e a identificação das causas que levam seus estudantes a serem agressivos, perseguidores e intolerantes para com o outro, que em meio a essa violência, possa romper o comodismo exaurido no ambiente escolar.

Trata-se, portanto, de um fenômeno mundial, encontrado em todos os ambientes educacionais e compreende que essa prática é uma forma de abuso psicológico, físico social, o que torna essa pesquisa necessária no sentido de encontrar possíveis soluções que possam interferir no processo de eliminação e/ou redução da prática do bullying, o qual  tem sido uma constante no contexto escolar. O  estudo portanto,  fundamenta-se nas contribuições de alguns teóricos renomados como Içami Tiba (2002); Constantini (2004);  Cury (2003); Fante (2005); revista Nova Escola (2010) entre outros igualmente pertinentes, dos quais faz-se leituras, para o devido enriquecimento deste trabalho.

1. O FENÔMENO BULLYING NA ESCOLA E SUAS CARACTERIZAÇÕES

“Precisamos contribuir para criar a escola que é aventura, que marcha que não tem medo do risco, por isso que recusa o imobilismo. A escola em que se pensa, em que se atua, em que se cria, em que se fala, em que se ama, se advinha, a escola que apaixonadamente diz sim à vida”.

                                             (Paulo freire) 

1.1    Conceituação do Fenômeno Bullying 

O termo bullying vem suscitando nos dias atuais muito interesse dos profissionais de educação dada as constantes práticas no âmbito escolar. Para Fante (2005) O termo “Bullying” é de origem inglesa utilizada para designar práticas de violência física e/ou psicológica de forma intencional e contínua que pode ser praticada por um ou mais sujeitos no intuito de provocar a intimidação ou agressão à vítima incapaz de se defender. Na escola os agressores vitimam os próprios colegas.

Segundo Cléo Fante (2005, p. 28-29):

O bullying é um comportamento agressivo e antissocial [...] seu termo equivalente na língua portuguesa, define-se universalmente como um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro, causando dor, angustia, e sofrimento. Insultos intimidação, apelidos cruéis, gozações que magoam profundamente, acusações injustas situações de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos levando-os a exclusão, alem dos danos físicos, morais e materiais, são algumas das manifestações do comportamento bullying.

Na concepção de Fante percebe-se que o bullying pode ser reconhecido em vários contextos nas escolas, nas famílias, nos locais de trabalho, enfim em todo o espaço onde existem relações entre humanos e/ou sujeitos.

Fante (2005) e Guareschi (2008) afirmam que o bullying é a forma de violência mais cruel, pois tal nível de agressividade torna suas vitimas reféns da ansiedade e de emoções que interferem nos seus processos de aprendizagem e convívio social devido à excessiva mobilização de emoções de modo, de angústia de raiva reprimida. Isso pode ser decisivo no incentivo à evasão escolar e ao ingresso desses alunos no mundo das drogas e do crime, bem como formar gerações de pessoas psicologicamente desestruturadas, que poderão vir a cometer violência domestica e adotar características antissociais.

Ainda Fante (2005) salienta que não é muito simples a identificação das práticas do bullying, pois eles ocorrem de forma silenciosa. Isso implica numa atenção mais apurada, que em certo grau de suspeita pode chegar a um diagnóstico. O envolvido muitas vezes tenta mascarar seus atos de violência, omitindo os fatos e/ou intimidando o outro com ameaças para não revelar sob a pena de punição. E o silêncio da vítima passa a ser um aliado forte do agressor.

São inúmeras as formas de violência velada que enfrentam muitos de nossos alunos, dentre elas humilhações, gozações, ameaças, imputação de apelidos constrangedores, chantagens, intimidações. Na maioria das vezes as vitimas sofrem caladas por vergonha de se exporem ou por medo de represarias de seus agressores, tornando- se reféns de emoções traumáticas destrutivas como medo, insegurança, raiva pensamentos de vingança e de suicídio, alem de fibras sociais e outras reações que impedem sem bom desenvolvimento escolar (FANTE, 2005, p.16).

Nesse sentido nota-se que o bullying é uma prática que traz sérios problemas e um deles é a destruição da autoestima, o respeito por si mesmo, o que gera um sentimento de impotência da vitima diante da vida. 

1.2 Caracterizações do Bullying e Cyberbullying na Escola 

Como pontua Nogueira (2005) que existe uma série de aspectos que caracterizam o Bullying. Em sua concepção deve existir uma vítima, esta pode ser atacada por um valentão e/ou por um grupo. Deve haver uma desigualdade de poder entre a vítima e o agressor, esta pode ser não só física como também social, psicológica ou de impossibilidade de defesa. A ação de violência não pode ocorrer uma única vez, deve se repetir, se suceder por um período de tempo. Esta provocará uma dor não somente no momento do ataque, mas cria na vitima uma expectativa de próximos ataques. A vitimação pode ocorrer com uma única pessoa ou por um grupo, sendo que com o grupo a intimidação é menos frequente.

Estudiosos como Lopes (2002); Constantini (2004) e Fante (2003) classificam a vítima em três categorias:

  • Vítima típica: é pouco sociável, sofre repetidamente as consequências dos comportamentos agressivos de outros, possui aspecto físico frágil, coordenação motora, deficiente, extrema sensibilidade timidez, passividade, submissão, insegurança, baixa autoestima, aspectos depressivos.
  • Vítima provocadora: refere-se aquela que tem uma característica diferenciada como cabelo “pixaim”, ruivo, muito magro ou muito gordo, e que atrai o provoca reações agressivas contra as quais não consegue lidar. Tenta brigar ou responder quando é atacada ou insultada, mas não obtém bons resultados.
  • Vítima agressora: reproduz os maus tratos sofridos. Como forma de compreensão, procura outra vitima mais frágil e comete contra esta todas as agressões sofridas na escola ou em casa, transformando o bullying em um ciclo vicioso.

De acordo com (Olweus apud, Fante, 2005, p. 74-75) a maioria das vítimas ficam em silêncio, isso sugere que o professor fique atento a alguns sinais, observando comportamentos que:

  • Durante o intervalo fica frequentemente isolado e separado do grupo, ou próximo do professor ou de algum adulto;
  • Na sala de aula tem dificuldades em falar diante dos demais, mostrando-se inseguro ou ansioso, alem de perder constantemente os seus pertences.

O mesmo procedimento deve ser adotado quando for preciso identificar o agressor. Os comportamentos mais comuns são:

  • Colocar apelidos ou chamar pelo nome ou sobrenome dos colegas de forma malsoante; insulta, menospreza, ridiculariza, difama;
  • Tirar dos outros colegas materiais escolares, dinheiro, lanches e outros pertences, sem o seu consentimento.

Cabe ao professor, como sujeito transformador que acredita na possibilidade de mudança, começar a praticar sua função de agente da transformação.

Segundo Nogueira (2005), no Brasil a ABRAPIA (associação brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência) no Rio de Janeiro de 2002, desenvolveu uma pesquisa que constatou que a frequência maior entre os alvos do bullying de 5.875 estudantes, 10,9% são alvos/autores e 12,7% autores do bullying e que a frequência maior está entre meninos tanto como autores quanto como alvos.

Ainda em sua concepção Nogueira relata que em relação às meninas, embora a prática do bullying seja em menor proporção está relacionada a atos de exclusão ou difamação. E que os alunos são protagonistas de bullying em suas diversas formas como alvos quando sofrem o bullying e como alvos/autores quando ora sofrem ora praticam o bullying.  Os autores de bullying são os alunos que só praticam o bullying e as testemunhas de bullying são os alunos que não sofrem e nem praticam bullying apenas convivem em ambientes onde ele ocorre. O que ocorre em consequência a todos que vivem e/ou convive com essa prática hostilizadora no ambiente escolar.

Nos dias atuais o espaço virtual compreende um ilimitado campo de poder de agressão que se expande a cada dia e de fácil alcance de sua vítima, que muitas vezes não sabe de quem se defender, pois a tecnologia vem dando uma nova configuração ao problema batizado como cyberbullying, considerado pelos estudiosos uma prática mais cruel do que o bullying tradicional que antes era restrito apenas aos momentos de convívio dentro da escola.

De acordo com a reportagem exaurida na Revista Nova escola que trata do Cyberbullying (2010, p. 66-71) no espaço virtual os xingamentos e provocações são continuamente atormentadores das vítimas por meio das ferramentas de Internet e de troca de mensagens em E-mails ameaçadores, mensagens negativas em sites de relacionamentos e torpedos com fotos e textos constrangedores, o que torna muito difícil a identificação do agressor e/ou agressores aumentando a sensação de impotência.

Aramis Lopes, especialista em bullying e cyberbulling chama a atenção do leitor para três personagens fundamentais nesse tipo de violência: o agressor (uma pessoa que não aprendeu a lidar com sua raiva e se satisfaz com a reação de sua vítima agredida). No anonimato possibilitado pelo cyberbullying, o qual favorece a sua ação, cujo (agressor utiliza-se do computador sem ser submetido a julgamento pela sutileza de não está exposto); a vítima (geralmente é um sujeito pouco sociável, tímido, que foge ao padrão da turma pela condição física, religião, raça, peso, cor, etc, que quando agredida se retrai e sofre silenciosamente tornando um alvo ainda mais fácil); o expectador (uma testemunha dos fatos que não sai em defesa da vítima e nem se junta aos agressores), sujeito passivo que não toma partido, indiferente e outrem que pode atuar como plateia ativa e/ou torcida, reforçando a agressão e até mesmo incentivando com risos e palavras, o que o coloca na condição de coautor ou corresponsável na prática do bullying.

Na concepção de Fante (2005) especialista em violência escolar, são muitos os efeitos negativos para o que agride e para quem é agredido em relação ao processo de ensino-aprendizagem, pois na maioria das vezes esses sujeitos apresentam déficit de atenção, falta de concentração e desmotivação para os estudos. Em comparação ao bullying tradicional, bastava sair da escola e estar com amigos para sentir-se seguro, mas com a invasão da intimidade de forma virtual o medo torna-se uma constante na vida do sujeito. O cyberbullying apresenta-se de duas formas: uma das personagens mantém um blog com fofocas e a outra responsável pelas trocas de mensagens comprometedoras em relação à vítima agredida.

Pelo já exposto, num ambiente que se instala o bullying, fica notório que as relações não estão pautadas nos valores morais e éticos, o que denota a necessidade do seu combate e prevenção, uma responsabilidade de toda a equipe escolar.

2. BULLYING: POSSÍVEIS CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS PSICOLÓGICAS

A escola depois do espaço familiar é o ambiente onde ocorrem os fatos mais relevantes da vida dos estudantes, pois é nesse espaço que eles desenvolvem experiências coletivas, estabelecem laços de amizade, afetividade, descoberta da vida em sociedade,  formação da sua identidade pessoal e social e sua autonomia enquanto sujeito pensante. Compreender, portanto, que a criança e/ou adolescente em seu processo de desenvolvimento precisam encontrar um ambiente escolar equilibrado, sereno, com boa relação com a comunidade educativa, vinculo efetivo, dialogo para que alcancem uma maturidade. Caso contrário, terão uma aprendizagem seriamente comprometida, bem como o seu desenvolvimento físico, intelectual e psicológico.

Como bem evidencia Weiss (2004, p.23) que: “Aspectos emocionais estariam ligados ao desenvolvimento afetivo e sua relação com a construção do conhecimento a expressão deste através da produção escolar [...]”. Nessa contextualização percebe-se que muitas das dificuldades podem ser resultantes da relação que é estabelecida entre professor/aluno, escola/família e aluno/aluno no processo de construção do conhecimento.

Guerra (1998, p. 32) enfatiza que:

A “violência é um processo de objetivação da criança e do adolescente no qual ambos são despidos de qualquer subjetividade e reduzidos à condição de objeto de maus-tratos”.  Em sua visão são muitas as formas de violação humana que podem ser descritas em quatro grupos como: violência Física, Violência sexual, violência psicológica e negligência. Dentre estas se destacam com mais frequência no âmbito escolar, à violência física e a psicológica.

Essa autora pontua que o fenômeno da violência é resultado da interferência de fatores externos (desajuste familiar, cultura, situação econômica, social, as questões raciais, drogas, tráfico etc.) e de fatores internos (clima escolar, relações interpessoais, interações sociais etc.) entre outros.

Para Fante (2005) as consequências para as “vítimas” desse fenômeno são graves e abrangentes e com grande repercussão no âmbito educativo, pois gera o desinteresse pela escola, ocasiona um déficit de concentração e aprendizagem, a queda do rendimento escolar, e mesmo a evasão, entre outros. Em relação à saúde física e emocional, pode surgir a baixa autoestima, o stress, transtornos psicológicos, depressão, suicídio, etc. Para os agressores, ocorre o distanciamento e a inadaptaçao as normas e objetivos educativos da instituição escolar e consequentemente da violência para a obtenção de poder e dominação, atitudes e condutas violentas. Para os “expectadores”, que em sua maioria são alunos, o sentimento de insegurança, ansiedade, stress, medo etc.

A criança ou adolescente uma vez alvo ou alvo/autor do bullying tem como resultado uma interferência negativa em seu processo de aprendizagem em detrimento da forte carga emocional traumática de uma determinada experiência vivenciada, o que pode implicar na sua capacidade de autossuperação na vida.

De acordo com Silva (2010) os problemas de uma vítima de bullying são os mais diversos possíveis e dependem de cada sujeito, da sua estrutura, de suas vivências, de sua predisposição genética, da forma e da intensidade das agressões sofridas. Mas acrescenta que todas as vítimas, sem exceção, sofrem com os ataques do bullying, não importa se esta ocorre em menor ou maior proporção. Muitos sujeitos levam consigo cicatrizes profundas em decorrência das agressões para sua vida adulta, e necessitam de acompanhamento especializado para superação do problema.

Ainda para Silva (2010) os problemas mais comuns apresentados pelas vítimas de bullying são: desinteresse pela escola; problemas psicossomáticos; problemas comportamentais e psíquicos (transtorno do pânico), depressão, anorexia e bulimia, fobia escolar, fobia social, ansiedade, etc., bem como desenvolver doenças preexistentes, em virtude de um longo grau de estresse da vítima, o que pode levar ao homicídio e ate mesmo o suicídio.

Na concepção de Lopes Neto (2005) o sujeito que sofre o Bullying mostra-se mais vulnerável a desenvolver processos depressivos e de baixa autoestima na fase adulta. Em sua concepção, o bullying pode trazer alguns infortúnios como prejuízos financeiros e sociais, uma vez que o sujeito (criança/adolescente) que sofre ou pratica bullying pode precisar de vários serviços especializados para tratar da saúde mental, justiça da infância e adolescência, educação especial e programas de assistência sociais.

 Lopes Neto (2005) salienta ainda que outro prejuízo que surge na família do aluno alvo do bullying é a ocorrência da desestrutura da dinâmica familiar quanto se vê envolvido nesse ato de agressão contra um de seus entes queridos, principalmente quando sentem-se impotentes para proteger sua prole e/ou mudar a situação. Nesse contexto muitos são os sintomas (depressão, ira, inconformismo contra si mesmo ou contra a escola, frustração, impotência etc.) que influenciam na estrutura familiar.

Dentre as várias formas de violência, a que mais tem repercutido nos últimos  anos é a violência que vem sendo praticada no interior das escolas entre professores e alunos, violência essa que vem deixando marcas negativas em suas vidas,  a qual rompe com a integridade do espaço escolar, gerando instabilidade nas relações interpessoais e de ensino-aprendizagem:

O medo constante e repetitivo bloqueia a agressividade e o bom funcionamento mental, prejudicando as funções de raciocínio, abstração, interesse por si mesmo e pelo aprendizado, alem de estender-se a outras faculdades mentais ligadas à autopercepçao, concentração, autoestima e capacidade de interiorização (FANTE, 2005, p. 24).

 

Como se vê existe um consenso dos autores já mencionados em relação à violência escolar e extraescolar, eles acreditam que a violência é decorrente das diferentes relações sociais de classe, de gênero, de raça/etnia que refletem na relação escolar em sua maneira de cuidar.

Boff (1999. P. 68) em relação ao relacionamento escolar no sentido de cuidar acrescenta que o cuidar compreende necessariamente envolvimento afetivo com o outro/a: ‘Cuidar é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de atenção, de zelo, e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação e preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro”. Desse modo acredita-se que o ambiente familiar tem grande relevância na estrutura comportamental, pois as crianças, adolescentes e jovens observam e copiam muitas vezes o proceder de seus pais perante a vida. E é nesse momento em família que os valores ganham grande importância no processo de formação. Isso implica em uma educação de valores que são transmitidos de pais para filhos do nascimento até a morte. Esses valores são repassados através do exemplo.

Conforme evidencia Tiba (2002, p. 132) “Construir uma casa é muito mais fácil que reformá-la. Reformar, no caso de um filho, seria o mesmo que sempre dizer “não” para algo que ele já tenha feito muitas vezes, melhor ensinar aos poucos”. Na fala de Tiba, percebe-se um chamamento aos pais e educadores em observar com atenção o comportamento do aluno dentro e fora do contexto de sala de aula no sentido de perceber se há diferenças individuais no seu rendimento escolar e procurar descobrir as principais causas de sua ocorrência.   Escola e família no contexto de formação são os pilares indispensáveis na construção de valores, os quais são responsáveis diretos no processo de desenvolvimento dos sujeitos.

Como bem pontua Cury (2003) que a prática do afeto entre uma família é  a estrutura de toda a educação, que tem no diálogo o sustentáculo da reação interpessoal, além da verdade e da confiança que configuram-se nessa relação elementos primordiais entre pais e filhos.

Já é notório que o bullying existe em todas as escolas, o que difere essa prática entre elas é a postura que cada um adota mediante os casos de bullying. Na escola o bullying (agressor) se expressa de formas variadas que vão desde uma brincadeira de mau gosto, gozações, apelidos, difamações, constrangimentos menosprezos a agressões físicas. Estudos apontam para a necessidade da adoção de uma postura mais efetiva contra o bullying entre as escolas públicas, visto que estas já contam com uma orientação padronizada perante os casos (acionamentos de Conselhos Tutelares, Delegacias da Criança e do adolescente, etc.).

Em linhas gerais, a identificação precoce do bullying pelos responsáveis (pais e Profissionais) é de grande relevância para superação de eventuais traumas e transtornos psicológicos em detrimento da prática do bullying. É função da escola abrir espaço para os alunos, pais e comunidade escolar para discutir comportamentos agressivos e transgressores a fim de evitar a impunidade e a ploriferação do crescimento da violência na escola.

 

3 - O PAPEL DA EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE PREVENÇÃO À PRÁTICA DO BULLYING

 

Sabe-se que o Bullying tende a manifestar na forma de segregação social e de atitudes de aversão ao diferente e, que atualmente o sujeito desde a sua mais tenra idade não é mais percebido como mero receptor de informação, o que demanda do âmbito educativo proporcionar meios para que os sujeitos-alunos aprendam não só os conteúdos programáticos, mas também que tenham a preocupação de desenvolver nesses alunos características morais e éticas bem definidas. Para tanto faz-se necessário que os valores morais e éticos transmitidos pelo professor por meio de propostas pedagógicas contemplem de fato a realidade contextual dos alunos.

Na sociedade atual o individualismo é expresso pela cultura dos tempos modernos (era industrial e tecnológica), em que o ter é mais valorizado que o ser, o que tem gerado distorções dos valores éticos. Vive–se numa sociedade globalizada, cujas mudanças ocorrem de forma acelerada, em todas as instâncias da vida social e nesse contexto, a educação tanto na família quanto na escola tornou-se obsoleta, confusa, sem parâmetros ou limites. A permissividade dos pais em relação aos filhos tem trazido sérios transtornos ao ambiente escolar, pois os filhos tendem a se comportar em sociedade de acordo com o modelo doméstico.

Muitos não têm preocupação com as regras sociais, não refletem na importância de convívio coletivo e nem nas consequências dos seus atos transgressores. Isso implica da parte da escola a transmissão dos valores educacionais mais éticos e responsáveis, uma vez que a sociedade é continuamente delineada de geração a geração. Cabe a escola e a sociedade como um todo auxiliar na condução do processo de construção para a obtenção de uma sociedade mais igualitária e menos violenta.

Ao enfatizar a capacitação dos educadores Fante (2005) pontua que a educação está inserida num contexto de dominação e discriminação e que em decorrência dessa realidade precisa com urgência refletir sobre a construção das relações no sentido de torna-las mais objetivas, profundas e com pertencimento de grupo, em que a coletividade vença o espírito individualista, a violência, a massificação o conformismo e o egoísmo humano. É urgente que seja introduzido no interior da escola a cultura da paz que tem como saudável a justiça e a emancipação do sujeito. É no ambiente escolar que a criança deve fazer a experiência de relacionamentos significativos, duradores e desenvolver atitudes e valores éticos morais que estruturam psicologicamente seu processo de desenvolvimento social.

Acredita-se que a capacitação dá ao professor habilidades para perceber os sinais e aos apelos silenciosos dos alunos vitimas do bullying, pois muitas vezes essas vítimas não pedem ajuda por meio de suas vozes, mas por meio da linguagem e expressão corporal. Os professores precisam estar atentos às mudanças rápidas de comportamento e atitude entre aluno e entre aluno e professor.

Fante (2005) e Abrapia (2007) citam três importantes fatores essenciais para a obtenção de resultados positivos na prevenção da problemática do bullying no contexto sócio educacional:

a)      Não existem soluções simples para a resolução do bullying; o fenômeno é complexo e variável.

b)      Cada escola deveria desenvolver suas próprias estratégias e estabelecer suas prioridades no combate ao bullying;

c)      A única forma de obtenção de sucesso na redução do bullying é a cooperação de todos os envolvidos: alunos, professores, gestores e pais, levando em consideração os sentimentos negativos mobilizados e as sequelas emocionais vivenciados pelas vitimas do bullying;

d)     Para que se possa aplicar qualquer tipo de ação faz – se necessário conhecer o publico alvo e os problemas que a escola em questão apresenta. Com muito conhecimento e um leque de opções de ações específicas e já testadas e funcionais, elaborar planos de ações de acordo com a faixa etária do aluno.

Pode–se perceber que o bullying não pode ser aceito como uma fase da vida, próprio da idade e nem como parte do processo de maturação do sujeito, mas sim concebido como crime que precisa ser contido e punido no âmbito educacional e social. E sendo a escola um espaço próprio e adequado para o aprendizado de conteúdos e conceitos é também um espaço privilegiado para desenvolver uma construção coletiva e continua de valores morais e éticos para o desenvolvimento pleno da cidadania, cabe ao professor e ao aluno como sujeito transformador acreditar nas possibilidades de mudanças que ocorrem do processo acelerado  no contexto social e começar a agir como agente da transformação social.

Mediante essas considerações o estudo evidencia que há um consenso dos autores em relação à violência na escola e extraescolar, pois os mesmos enfatizam que a violência é decorrente das diferentes relações sociais de classe, de gênero, raça/etnia, os quais refletem na relação escolar em sua maneira de cuidar, o que faz-se necessário que a escola trabalhe valores éticos e morais no sentido de impedir que seus alunos sejam vítimas dessa síndrome que tanto agride a integridade física, psicológica, moral, emocional e cognitiva da vítima do bullying.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

  Arriscamos afirmar após o estudo que o Bullying tem sua origem nos processos afetivo-emocionais, uma vez que se manifestam nas formas de violência que torna o agressor a própria vítima e refém da sua ansiedade e de suas emoções, as quais interferem no seu processo de aprendizagem e de sua convivência social.   São muitos os fatores que incidem sobre as manifestações dessa síndrome.   Dentre eles citamos: a violência física, psíquica e emocional, decorrendo assim atitudes de comportamentos agressivos e antissociais como a humilhação, a intimidação, insultos, apelidos, acusações injustas e sem fundamentos, as quais causam dor, angústia e sofrimento.

  Nesse sentido compreendemos que a prática do Bullying traz sérias consequências para a vítima e também para o agressor, pois acreditamos que o agressor também é vítima da doença, uma vez que a caracterização do Bullying apresenta-se por meio de comportamentos desajustados e sem limites e o agressor apresenta dificuldades de aprender novos comportamentos aceitos socialmente, pois tem o poder impróprio de aplicar  as suas vítimas.

  São muitas as formas de manifestação de bullying, mas consideramos o cyberbullying o mais grave, pois essa prática invade toda a privacidade da pessoa vítima do bullying, que há algum tempo atrás se limitava apenas aos momentos de convívio dentro do espaço escolar.   Nesse contexto torna-se imprescindível que a escola enquanto instituição social e formadora busque desenvolver experiências coletivas no âmbito educativo, tendo em sua concepção educadora o estabelecimento de laços de amizade, afetividade e a promoção de  atividades que favoreçam a autoestima do educando no processo de formação de sua identidade pessoal e de sua autonomia enquanto sujeito que pensa, age, cria e recria e transforme a sociedade em que vive.

  É da escola a função de garantir um espaço para a prática moral e ética por meio de vivências reais em suas relações entre iguais, numa constante discussão sobre os valores morais e éticos, tendo em sua ação uma prática dialógica que reflita de forma contextualizada os conflitos existentes e decorrentes dos fatores externos (desajuste familiar, cultura, situação econômica, social, as questões raciais, drogas, trafico, alcoolismo, etc.) e dos fatores internos (clima escolar, relações interpessoais, interações sociais, etc.) entre outros que surgirem.

  Com base nesse estudo acreditamos que muitas vezes os adolescentes aderem comportamentos desviantes, sem ter consciência das consequências emanadas de sua atitude impensada e involuntária como: doenças físicas e/ou emocionais, depressão, síndrome do pânico, distúrbios diversos e outras anomalias que o ser humano está sujeito. Somos produtos do meio, o qual exerce grande influência em nosso modo de vida, que podem incidir em comportamentos decorrentes de circunstâncias do momento e de sucessivos infortúnios que desencadeiam sintomas diversos (depressão, ira, inconformismo contra a própria escola e a si mesmo, impotência, etc.), das quais influenciam a nossa vida em sociedade.

A ação educativa da escola voltada para o “cuidar”, deve revelar uma atitude de preocupação, responsabilidade e compromisso que caracteriza no envolvimento afetivo capaz de instaurar a integridade do espaço escolar, gerando estabilidade nas relações interpessoais de forma a interferir positivamente no processo de ensino-aprendizagem. Para tanto o diálogo entre família/escola deve figurar no ambiente educativo como ferramenta no processo de ensinar e aprender.

 Tentar resgatar um adolescente desvirtuado dos valores éticos e morais, no caso do aluno, seria o mesmo que sempre dizer “não” para práticas que ele já tenha feito muitas vezes, o melhor é ensinar o caminho que a criança deve andar desde a mais tenra idade, passo a passo e quando jovem irá saber distinguir entre o bem e o mal, a verdade e a mentira, o feio e o belo e fazer boas escolhas. Negligenciar uma formação pautada em valores é o mesmo que desvirtuar a verdadeira essência da criança enquanto sujeito social e, sobretudo, da educação.

  Em relação ao papel da escola e do educador faz-se urgente o oferecimento de cursos de capacitação para todos os segmentos do espaço educativo para lidar com o problema do bullying, pois é preciso reprimir essa prática e em seu lugar propagar a paz, a tolerância, o respeito mútuo e a solidariedade, pois agindo assim a escola estará contribuindo não somente para reduzir a prática de futuros crimes e violência, como também para uma sociedade mais justa e igualitária. A escola como espaço próprio e adequado para o aprendizado de conceitos é também um espaço privilegiado para desenvolver uma construção coletiva e contínua dos valores morais e éticos e consequentemente, o pleno exercício da cidadania. Assim, cabe ao professor/aluno como sujeitos transformadores acreditar nas possibilidades de mudanças e começar a agir para a transformação social.

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1 Concluinte do Curso de Especialização em Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental. FECRA. Faculdade de Educação de Costa Rico-MS. E-mail: nelyguariz@hotmail.com.

² Concluinte do Curso de  Especialização em Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental. FECRA. Faculdade de Educação de Costa Rico-MS. E-mail: Magda_aia@hotmail.com.

³ Professora Mestra. Professora Orientadora. Curso de Especialização em Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental. FECRA. Faculdade de Educação de Costa Rica – MS. E-mail: rose_liston123@hotmail.com.

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