Brincar é Coisa Séria!

Por Fabiana Saturnino da Silva | 15/02/2015 | Educação

BRINCAR É COISA SERIA!

 

                                                                                                            Fabiana Saturnino da Silva[i].

[1] Licenciada em Pedagogia pela Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, docente na rede municipal de ensino.

O presente projeto foi desenvolvido no primeiro semestre do ano de 2012, na Escola “Brincando e Aprendendo/ Extensão Nova Era” no município de Cáceres situada na rua dos freis bairro nova era. Com o objetivo de Utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical, plástica, oral e escrita) ajustadas ás diferentes intenções e situações de comunicação, de forma a compreender e ser compreendido, expressar suas ideias, sentimentos, necessidades e desejos de avançar no seu processo de construção de significados, atitudes e autonomia, enriquecendo cada vez mais sua capacidade expressiva. Pautamos nos estudos teoricos-metodológicos de Paulo Freire (1987), assim como os estudos do professor Cleomar Ferreira Gomes (2009), numa perspectiva de “humanização” dos seres humanos. Dos estudos realizados no projeto, compreendemos o desenvolvimento das crianças pequenas a partir das teorias sociointeracionistas com Piaget, Vygotsyk e Wallon, com os quais percebemos a relevância do brincar e do movimento no contexto da Educação Infantil. Foram realizadas atividades lúdicas (jogo/brincar) de forma diversificada e globalizada, propondo desafios à criança para que a mesma possa desenvolver-se e construir seus conhecimentos por meio das relações. Evidenciamos que aprender brincando foi muito prazeroso e divertido. O ato de brincar proporciona às crianças relacionarem se  umas com as outras, e ao relacionarem-se constroem o conhecimento. Chegamos à conclusão que a criatividade perpassou todo o desenvolvimento do nosso projeto, para confeccionar materiais, aproveitar e otimizar os espaços da escola e ajuda de alguns pais ou responsáveis; assim como percebemos o prazer das crianças brincarem, para nós também foi bastante prazeroso. Então a nossa práxis pedagógica foi no intuito de propiciar o movimento,  algo farto na infância que acontece naturalmente, por isso a necessidade de possibilita-lo no interior da escola, por meio do brincar, favorecendo primeiramente a “humanização” do homem desde a infância e concomitantemente a aprendizagem, porque como as crianças estão sempre propensas a brincar, nada melhor que juntar as duas pontas do processo e aprender prazerosamente.

Palavras chaves: humanização, brincar, aprendizagem.

BRINCAR É COISA SERIA!

   

Fabiana Saturnino da Silva

 

Escola Municipal “Brincando e Aprendendo” Extensão Nova Era

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

JUSTIFICATIVA

A intenção do projeto é por meio do brincar e da música, no prisma das linguagens corporal, plástica, oral e escrita, fortalecer o processo de desenvolvimento global da criança com dois anos na Educação Infantil, tornando mais significativo e prazeroso o processo educativo, na escola municipal “Brincando e Aprendendo/Extensão Nova Era”.

Brincar efetivamente é coisa séria, pois a criança o faz de maneira bastante compenetrada demonstrando no jogo, em suas representações, os papéis socialmente identificados no seu grupo familiar e social. Essa atividade lúdica engaja as emoções, o intelecto, a cultura e o comportamento; o brincar é construído historicamente em determinada sociedade, ou seja, a criança aprende a brincar com os membros de sua cultura carregando junto valores e conhecimentos pertencentes ao seu grupo social.

Nesse sentido a criança como sujeito social representa o mundo através das produções culturais historicamente construídas, jogos, brincadeiras, músicas e histórias. Tais produções se diferenciam de uma cultura para outra e são transmitidas de geração para geração, sem serem propriamente ensinadas, mas, na maioria das vezes, aprendidas por meio da ação do brincar.

Pode-se observar que brincar não significa simplesmente recrear-se, isto porque é a forma mais completa que a criança tem de comunicar-se consigo mesma e com o mundo. A presente ideia vem ao encontro de que acreditamos que a linguagem cultural própria da criança comunica-se através dele e por meio dele irá ser agente transformador, sendo o brincar um aspecto fundamental para se chegar ao desenvolvimento global da criança.

Contudo, conforme GOMES (2009), com prazer aprende-se, melhor e mais rapidamente, e como as crianças estão sempre propensas a brincar e a jogar, nada melhor que juntar as duas pontas do processo e aprender prazerosamente.

CONTEÚDOS

  • Música
  • Brincadeiras
  • Movimento (dança e expressão corporal)
  • Histórias, Parlendas, Trava-línguas, poesia, poema e Quadrinhas.
  • Textos informativos
  • Prenome
  • Contagem oral,
  • Noções de quantidade, forma e tamanho.
  • Conto e reconto
  • Elementos da natureza
  • Cores
  • Jogos
  • Plantas e animais;
  • Sinalização do Trânsito
  • Meio Ambiente (entorno da escola)
  • Datas comemorativas
  • Pintura e colagem
  • Conhecimento do próprio corpo.
  • Alimentação
  • Cultura do adulto e da criança;

OBJETIVO GERAL

                

         Utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical, plástica, oral e escrita) ajustadas ás diferentes intenções e situações de comunicação, de forma a compreender e ser compreendido, expressar suas ideias, sentimentos, necessidades e desejos de avançar no seu processo de construção de significados, atitudes e autonomia, enriquecendo cada vez mais sua capacidade expressiva.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

  • Ampliar as experiências no campo do ritmo, audição e expressão corporal;
  • Estimular a linguagem oral, expressão corporal e comunicação;
  • Incentivar a ação intencional;
  • Desenvolver a autoestima;
  • Enriquecer o vocabulário;
  • Ampliar a cultura da criança;
  • Familiarizar com o alfabeto, cores e formas;
  • Desenvolver a imaginação e criatividade;
  • Estabelecer comparação entre quantidade, grandeza e forma;
  • Obter noções de número, numerais e sequência numérica através dos dedos das mãos e de brincadeiras;
  • Incentivar as conquistas corporais;
  • Desenvolver a psicomotricidade;
  • Controlar os esfíncteres;
  • Manipular diferentes gêneros literários;
  • Possibilitar tempo e espaço de forma que a criança possa expressar sua liberdade e autenticidade, sua habilidade motora, cognitiva, afetiva e social;
  • Desenvolver a capacidade de ouvir;
  • Brincar com a música, inventando, reproduzindo, dramatizando e dançando de acordo com o ritmo;
  • Incentivar o gosto pela escuta de histórias e pelo momento de leitura;
  • Desenvolver as acuidades auditiva e visual;
  • Incentivar o trabalho em grupo para a valorização da cooperação e solidariedade;
  • Explorar as noções matemáticas presentes na música e nas brincadeiras;
  • Favorecer a participação da família no desenvolvimento do projeto;
  • Vivenciar as diferenças culturais, os costumes e as tradições;
  • Valorizar cultura brasileira, regional e local;
  • Participar das datas cívicas e comemorativas;
  • Desenvolver a linguagem artística, autonomia e identidade das crianças por meio do brincar e da música;
  • Valorizar as produções artísticas e escritas;
  • Identificar alguns animais e plantas;
  • Desenvolver hábitos de higiene corporal, bucal, alimentar e ambiental;
  • Vivenciar hábitos de preservação ambiental;
  • Favorecer o gosto por contos, poemas, parlendas, trava-línguas, quadrinhas entre outros gêneros;
  • Familiarizar com as placas e sinalizações do trânsito.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Assim como para a construção de uma casa é fundamental começar pela base ou alicerces para dar sustentação, o presente projeto toma como base e alicerce para o seu desenvolvimento, os estudos de alguns autores, tais como Paulo Freire (1987), em relação a “humanização” numa perspectiva da educação para libertação. Assim como os estudos do professor Cleomar Ferreira Gomes (2009), que trata o lúdico como instrumento que “humaniza” os seres humanos, devido às relações estabelecidas entre o eu e o outro. Sobretudo os teóricos sociointeracionistas que estudam o desenvolvimento infantil, como Jean Piaget, Lev Vygotsky e Henry Wallon. Nessa perspectiva que perpassara toda a práxis pedagógica do nosso projeto, Brincar é Coisa Séria. c

No contexto cultural, ao brincar, a criança não apenas expressa e comunica suas experiências, mas as (re) elabora, se reconhecendo como sujeito pertencente a um grupo social e a um contexto cultural, aprendendo sobre si mesma e sobre os homens e suas relações no mundo, também sobre os significados culturais do meio em que está inserida. O brincar é, portanto, experiência de cultura, através da quais valores, habilidades, conhecimentos e formas de participação social são constituídas e reinventadas pela ação coletiva das crianças. R

 Conforme Vygotsky (1993), o ser humano constitui-se como tal na sua relação com o outro social. A interação social é um processo que se dá a partir e por meio de indivíduos com modos de agir, determinado pela histórica e cultura, não sendo possível dissociar as dimensões cognitivas e afetivas dessas interações e os planos psíquico e fisiológico do desenvolvimento decorrente delas.

Nesse contexto, o brincar se constitui em um ato motor, nessa dimensão o RCNEI (Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil), define movimento como sendo o desenvolvimento da motricidade global harmoniosa o qual inclui a função cinética (coordenação motora-precisão) e a função tônica (qualidade de gestos - variações musculares). A concepção de movimento, conforme o Referencial Curricular para Educação Infantil (1998). É que:

“vai além das atividades de mexer com as partes do corpo de deslocar-se no espaço. a criança se expressa e se comunica por meio de gesto (...) e interage estilizando o corpo. A dimensão corporal integra-se ao conjunto de atividade da criança (...). Os jogos, as brincadeiras, as danças revelam, por seu lado a cultura corporal de cada grupo social constituindo-se em atividade privilegiadas nas quais o movimento é aprendido e significado. (...) nesse sentido, é importante que o trabalho incorpore a expressividade e a mobilidade próprias às crianças... (p.18-19).

Comungando com esse conceito, as brincadeiras cantadas fundem musicalidade, dança dramatização, mímica e jogos, representando um conhecimento de grande contribuição à vida de movimento da criança.           

Parafraseando CORSINO (2008), no universo das brincadeiras as crianças podem explorar copiar, desbravar, descobrir, imitar, vivenciar sua experiência e elaborar o meio que vive, relacionando as manifestações culturais infantis todo esse movimento de construção da vida. Da

            Contudo é pela/na experiência lúdica que o ser humano é capaz de romper os limites de sua imaginação, expondo o seu pensamento. Porque a imaginação está relacionada, diretamente, com a riqueza de experiências vividas pelo indivíduo. Sobretudo as experiências e vivências são à base da imaginação, por isso, quanto mais variadas e ricas forem, mais estaremos ampliando os saberes dos educandos e possibilitando as relações humanas. Sendo assim, preparando-os para ser um cidadão capaz de enfrentar desafios e participar na construção de um mundo melhor.

METODOLOGIA

O trabalho educativo no intuito de oferecer ás crianças situações e possibilidades de descobertas, (re) significação de novos sentimentos, criatividades, dinâmicas prazerosas, afetuosas, onde construam valores, e sintam prazer no movimentar e no agir.

Nesse sentido a metodologia deverá utilizar de atividades lúdicas (jogo/brincar) de forma diversificada e globalizada, tendo a música como forma efetiva de trabalho, propondo desafios à criança para que a mesma possa desenvolver-se e construir seus conhecimentos.

  • Serão realizadas rodinhas de conversas informais instigando a criança a falar, utilizando á linguagem oral; relatando suas experiências;
  •  Ler, narrar, contar e recontar histórias; contextualizar datas cívicas e comemorativas;
  • Contextualizar sobre a cultura nacional, regional e local, utilizando livros, cartazes, lendas, canções e parlendas;
  • Cartazes para apresentação de imagens, fotos e figuras; também para leitura de letras de músicas;
  • Trabalhar com evento da Copa do Mundo na África;
  •  Realização de passeio pela escola para as crianças familiarizar-se com o ambiente escolar e com os funcionários;
  • Manuseio de livros, jornais, revistas, gibis e livros de historinhas;
  • Utilização de Cd’s de canções infantis e de outros gêneros sempre atentando para a letra da música;
  • Explorando a música: a letra, o significado, o movimento, dramatização, o ritmo, contagem numérica entre outros; 
  • Representação da música por meio da linguagem dos desenhos, utilizando os recursos da colagem, pintura e modelagem. Produções artísticas serão livres e orientadas;
  • Participação da criança sem sofrimento nas datas comemorativas e cívicas;
  • Confecções de cartazes coletivos;
  •  Realização de brincadeiras que envolvem a participação de todos;
  • Impressão das mãos e dos pés das crianças com tinta guache;
  • Exposição das produções artísticas das crianças, para apreciação dos pais ou responsáveis;
  • Brincar com bastões de madeira e garrafas PET coloridos de tamanhos diferentes;
  • Caixa para encaixe das formas geométricas. Blocos de madeira e blocos lógicos;
  • Utilização diária da rotina, regras da sala e palavrinhas mágicas (obrigado, por favor, desculpa, com licença entre outras);
  • Crachás, cartazes com letras grandes e chamadinha fixada na parede com os prenomes das crianças;
  •  Cartaz com a letra da música “Abecedário da XUXA”;
  •  Convidar a criança para ir ao banheiro sempre que perceber a necessidade da mesma;
  • Conhecimento e cuidados com o próprio corpo, por meio do uso da exploração de suas habilidades físicas, motoras e perceptivas;
  • Dobradura, abrir e fechar embalagens, fazer nó, perfurar, amassar e desamassar papel;
  •  Pintura a dedo e com pincel;
  • Cantigas de roda, parlendas, travas - línguas, poemas, poesia e quadrinhas;
  • Confecção de um semáforo e algumas placas de trânsito;
  • Brincadeiras diversas de faz-de-conta, livre e orientada;
  •  Jogos e brincadeiras envolvendo as atividades de correr, equilibrar, arremessar e agarrar bolas, rolar, pular, subir, descer, escorregar, pendurar-se, movimentar-se, entre muitas outras;
  •  Brincar com sucata. Construir um repertório de brincadeiras que mais agradam as crianças;
  • Brincar livre no pátio da escola;
  • Nomeação e identificação de alguns animais e plantas, utilizando o espaço da escola, fotos, imagens, fantoches e outros;
  •  Passeio pela escola para conhecer e familiarizar com o ambiente escolar e funcionários;
  • Utilização de filmes curtos de acordo com as atividades propostas, pelo simples prazer de assistir e em alguns explorando a interpretação;
  • Expressão corporal (alongamento, ginástica e relaxamento).

 

AVALIAÇÃO

 

A avaliação deve ser processual e diagnostica, por meio da observação e registro do seu desenvolvimento de modo a obter informações que favoreçam no processo de aprendizagem da criança. Levando em consideração os objetivos propostos e o desenvolvimento individual da criança em todos os aspectos, registrando sempre o seu desenvolvimento no relatório de observações sobre a criança, e quando necessário retomar para alcançar os objetivos propostos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria da Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Lei Federal n.9394, de 26/12/1996.

CÁCERES. Prefeitura Municipal de. PROPOSTA PEDAGÓGICA DA EDUCAÇÃO INFANTIL DO MUNICÍPIO DE CÁCERES. Cáceres-MT, Secretaria Municipal de Educação, 2005.

CORSINO, Patrícia. Pensando a infância e o direito de brincar.In:Salto para o futuro: Jogos e brincadeiras: desafios e descobertas. 2 ed. Brasília:SEC/MEC, ANO XVIII boletim 07, maio de 2008 (p.12-24). Disponível em http://www.tvbrasil.org.br/saltoparaofuturo.

FELIPE. Jane. O Desenvolvimento Infantil na Perspectiva Sociointeracionalista: Piaget, Vygotsky e Wallon. In: CRAIDY, Carmem Maria, KAERCHER, Gladis Elise P. da Silva. Educação Infantil: pra que te quero? Porto Alegre, 2001. (p.27-37).

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro, paz e terra, 1987.

GOMES, Cleomar F. Brinco, logo existo: o papel da ludicidade na educação escolar. In GRANDO, B. S. Corpo, Educação e Cultura. Ijuí: Editora Unijui, 2009.

VYGOTSKY, Lev. Pensamento e linguagem. 5a reimpressão. São Paulo: Martins Fontes, 1993. Jogos e brincadeiras: desafios e descobertas. 2 ed. Brasília:SEC/MEC, ANO XVIII boletim 07, maio de 2008 (p.12-24). Disponível em http://www.tvbrasil.org.br/saltoparaofuturo.

RELATOS DE EXPERIÊNCIAS

Nessa trajetória de desenvolvimento do projeto, á luz de Paulo Freire numa perspectiva de “humanização” numa concepção da educação para libertação, partindo da infância, iniciaram as atividades permeadas por brincadeiras, que por meio delas começamos nos conhecer.

No período de adaptação das crianças ao ambiente escolar, o brincar foi à atividade que possibilitou a relação de aproximação e confiança entre nós, utilizando a música, os movimentos e as brincadeiras de roda; alguns alunos demoraram em estabelecer essa relação de confiança, mas sempre estabelecendo uma relação dialógica, respeitando o ritmo da criança, as suas manifestações de medo e ansiedade, esse período foi superado.

Ao brincarem com blocos de madeira, a maioria das crianças se concentra ao fazer torres e empilhamento classificando por tamanho e forma. Teve uma criança que construía torres cada vez mais altas, dizendo que era casa dele , quando terminava era visível o seu a sua alegria, prazer e satisfação pelo que fez, sorria e batia palmas, depois derrubava tudo e começava outra vez, isso se repetia por várias vezes até iniciar outra atividade, e quando eu falava que teríamos que juntar e guardar os blocos na caixa, eles não queriam deixar de fazer suas construções, dessa maneira eu dizia a eles que amanhã eles continuariam construindo novas casas, a aceitação no guardar foi demorada, porém hoje eles já fazem com alegria.

            

Os blocos de madeira aguçavam a imaginação e criatividade, cada criança organizava os blocos de sua maneira, quando perguntávamos o que elas tinha feito, diziam que era a sua casa, eu percebia que a casa era a sua referencia nas construções, uma mesa, cadeira e até um bolo eram construídos. Segundo Vygotsky quando isso ocorre é porque a criança já é capaz de simbolizar. Para Vygotsky de acordo com

 Felipe (2001) é que:

Tal capacidade representa um passo importante para o desenvolvimento do pensamento, pois faz com que a criança se desvincule das situações concretas imediatas sendo capaz de abstrair. (FELIPE, p.28,2001)

 

Nesse momento também aconteciam às trocas de blocos, muitos ajudavam o colega a empilhar suas torres que para eles eram casas, essa relação era permeada de diálogo. 

A caixa de encaixe com formas geométricas confeccionada pelas professoras foi um sucesso, organizamos as crianças sentadas no chão de modo que todos pudessem ver o colega encaixar as peças, foi tão interessante que nesse momento todos ficaram em silêncio e parados para observar o colega encaixar, percebemos que algumas crianças demoravam um pouco para encaixar outros não, quando terminavam de encaixar todas as peças batiam palmas e sorriam, e queria continuar brincando, eu e a ADI Tatiane intervia dizendo para criança que o colega também queria brincar.

Muitas crianças já conseguiam realizar contagem de sua maneira, devido à brincadeira de corrida individual e em dupla, essa atividade acontecia da seguinte maneira, sugeríamos que a corrida se iniciaria a partir da contagem de três dedinhos, feito isso, saiam correndo, no início muitas crianças somente observava as orientações, observamos que em outros momentos realizavam a contagem para correrem, então percebemos que nessa atividade estava presente o movimento e a matemática de forma prazerosa. Observa-se aqui o que prevê Jean Piaget para esse período. No Estágio pré-operacional (por volta dos dois aos sete anos): “nesta fase a criança esta em desenvolvimento acelerado das estruturas do pensamento e elas já conseguem efetuar operações matemáticas” (FELIPE, 2001, p. 29) 

Com criatividade, instigamos a imaginação das crianças, utilizamos as linhas da quadra ou traçadas no chão, a corda, fita adesiva e o banco da escola para trabalhar o equilíbrio.    

A linguagem oral e escrita sempre esteve presente nos momentos do brincar, distribuímos giz branco e colorido para eles escreverem no chão.

Quando começamos a ensinar as crianças a pular corda, primeiro trabalhamos a letra do verso fixado na parede, a dramatização do verso, depois fomos pular a corda, devido a idade das crianças primeiramente começamos com a corda parada e depois em movimentos leves para não provocar acidentes, todos pularam expressando sua alegria e satisfação em estar fazendo esse movimento.

As rodinhas de histórias aconteceram todos os dias, no início as crianças tinham dificuldades em permanecer sentadas para ouvir, no decorrer dos dias foram se sentando em roda e permaneciam.

Ao escutarem Cd’s de histórias percebemos como a acuidade auditiva das crianças estava aguçada, ocorreu que três crianças ao escutarem a história de chapeuzinho vermelho, no momento que o lobo falava as crianças começavam a chorar de medo, foi preciso interferência da professora e auxiliar de desenvolvimento dialogarem com as crianças, para acalmar as mesmas, quando terminava a história estimulávamos as crianças para o recontar, todos queriam recontar ao mesmo tempo, foi trabalhado que quando um fala o outro escuta.

Nas brincadeiras com sucata reinava a imaginação e a criatividade, embalagens viravam bola, carro, panelas entre outros. Nessa atividade podemos perceber o que Henry Wallon diz que pode ocorrer no estágio sensório – motor (um a três anos aproximadamente): “nesse período, uma intensa exploração do mundo físico, em que predominam as relações cognitivas com o meio. A criança desenvolve a inteligência e a capacidade de simbolizar” (FELIPE, 2001, p.28)

Os elementos da natureza propuseram muita alegria. O contato com a terra, água e foram momentos de puro prazer, com o barro criavam formas, faziam bolos e passam em seu próprio corpo.  

As atividades de artes eram realizadas com alegria e satisfação, principalmente as colagens e pinturas realizadas coletivamente, as crianças chamavam seus pais ou responsáveis para apreciar suas produções. Sem dúvida brincar com bola é uma das brincadeiras preferidas pelas crianças, é evidente o prazer de chutar, arremessar e jogar para o alto, encaixar dentro de baldes. Rolar na bola atividade que suscitou prazer e fortalecimento do desenvolvimento motor.

Nessa fase do desenvolvimento fica nítido o egocentrismo, todos querem todos os brinquedos, quando colocamos os brinquedos no chão, as crianças pegam o máximo que as mãos puderem pegar e quando não conseguem choravam e faziam birra, foi preciso muita calma para fazê-los compreender que temos que compartilhar.

Ocorreu um caso que uma criança, pegava bolinhas, ursos de pelúcia e blocos de madeira ele colocava dentro da mochila. Dizia que iria levar para casa para brincar porque em sua casa não havia esses brinquedos, eu disse a ele que não precisava levar porque no outro dia quando voltasse para a escola à bola e os ursos estariam lá para ele brincar essa situação trouxe-nos muita satisfação que a princípio a criança não entendia ia embora chorando, mas em poucos dias acostumou-se com a situação.

O brincar com crianças maiores, foi momentos riquíssimos de trocas de experiências culturais, os maiores sugeriam brincadeiras para os menores que aceitava de imediato. Como as brincadeiras de roda, amarelinha, jogar bola e com bonecas, isso acontecia na maior seriedade e concentração. Sobretudo percebi que essa relação estimulava a oralidade das crianças de dois anos, porque era um ato que fluía naturalmente entre as crianças.

Foram usados fantoches, para contar histórias e dramatizar músicas que foi um sucesso aguçando a imaginação. Os fantoches passavam nas mãos de todas as crianças, mas nem todos pegavam. Alguns só observavam outros pegavam e recontava a história ou a música conforme a professora ou a auxiliar de desenvolvimento infantil havia feito. Muitas crianças desenvolveram a coordenação motora fina.    

Instigamos as crianças a ler sem saber ler convencionalmente através dos cartazes fixados na parede e manuseio de livros, o que eles demonstravam prazer em fazê-lo.

Diariamente quando as crianças despertavam do sono estimulava as crianças realizarem alongamento, e aproveitando os colchões fazíamos atividades de rolamento e virar cambalhota. Entretanto nesse momento para as crianças o mais interessante não era só fazer a atividade sugerida; mas o que eles queriam era esconderem-se embaixo do colchão, para serem encontrados, quando isso acontecia gritavam, gargalhavam e corriam para se esconderem embaixo de outro colchão.

A avaliação do nosso projeto ocorreu por meio das observações e registro diário das atividades, através desse processo possibilitou-nos a retomar com outras atividades.

O que fizemos nesse projeto enquanto mediador do conhecimento foi intervir na zona de desenvolvimento proximal ou potencial das crianças e provocando avanços que não ocorreriam naquele momento espontaneamente, conforme Vygotsky em Felipe (2001). Nesse contexto, a nossa práxis educativa esteve sempre permeada de afetividade e pelas emoções, que são elementos constitutivos do humano, sendo que “o ouvir” e “se fazer ouvir” ocuparam papéis determinantes nesse processo; porque necessitamos do outro para nos tornamos humanos, isto é, num sentido de “incompletude”, ao recebermos as marcas do outro (re) significamos-as; parafraseando Paulo Freire (1987).

Chegamos à conclusão que a criatividade perpassou todo o desenvolvimento do nosso projeto, para confeccionar materiais, aproveitar e otimizar os espaços da escola,  a ajuda de alguns pais ou responsáveis, funcionários e equipe gestora da escola foi significante; assim como percebemos o prazer das crianças brincarem, para nós também foi bastante prazeroso.

No entanto torna-se necessário ressaltar que a formação continuada promovida pela escola e o primeiro encontro de educação infantil promovido pela secretaria de educação do município de Cáceres, foi de extrema relevância para o desenvolvimento do projeto e de toda práxis pedagógica, nos encontros compreendemos melhor o desenvolvimento infantil, a importância do brincar, da música, das relações afetivas, confeccionamos fantoches entres outros materiais; haja vista que o conhecimento absorvido nos encontros ocorreu por meio de uma relação dialógica.

Enfim, torna-se necessário ressaltar que por muitas vezes às palavras prazer e satisfação foram repetidas e vividas, isso aconteceu porque o lúdico é inerente à natureza humana, por isso que tudo que envolve o lúdico se expressa por meio do sorriso que caracteriza o prazer e a satisfação de brincar. O movimento é algo farto na infância acontece naturalmente, por isso a necessidade de possibilita-lo no interior da escola, por meio do brincar, favorecendo primeiramente a “humanização” do homem desde a infância e concomitantemente a aprendizagem, porque como as crianças estão sempre propensas a brincar, nada melhor que juntar as duas pontas do processo e aprender prazerosamente.

 

 

 

 

 

 

 

 

 



Artigo completo: