BRINCADEIRA É COISA SÉRIA: o lúdico e o jogo como ferramenta no cotidiano da educação infantil.

Por HENRIQUE GUILHERME GUIMARÃES VIANA | 22/05/2017 | Educação

RESUMO 

A criança desde cedo começa a explorar o mundo ao nosso redor através de brincadeiras que proporcionam prazer. As brincadeiras estão repletas de experiências que levamos por toda nossa vida adulta. Nessa abordagem, o lúdico e os jogos estão diretamente relacionados à forma pela qual a criança se desenvolve durante o período escolar. É na atividade lúdica que a criança forma conceitos, seleciona ideias, estabelece relações lógicas, integram percepções, relações cognitivas às vivências e vai se socializando. Assim, este trabalho, desenvolvido no âmbito da educação infantil, objetiva investigar bibliograficamente a importância da psicomotricidade e, em especial a aplicabilidade do jogo e do lúdico na educação infantil. A escolha pelo tema Brincadeira é coisa séria: o lúdico e o jogo como ferramenta no cotidiano da Educação Infantil se justifica a partir das observações feitas ao longo da experiência e prática na área da educação. Esta pesquisa terá como víeis principais os estudos dos teóricos Friedmann, Huizinga, Vygotsky, Luckesi e Piaget. Portanto, pretende ainda esta pesquisa mostrar o quanto é ausente à inclusão do lúdico no processo ensino – aprendizagem, faltando, talvez, aos profissionais da educação à busca por caminhos que desperte na criança o prazer de estar na escola ou em qualquer outro ambiente educativo. Tais caminhos ou ferramentas podem ser extraídos da própria escola, do seu entorno ou mesmo elaborados pelos próprios alunos, desde que orientados pelo professor ou profissional da área.

Palavras-chave: Educação infantil. Psicomotricidade. Lúdico. Jogo. Brincadeira 

ABSTRACT

The child early begins to explore the world around us through games that provide pleasure. The games are full of experiences that we carry throughout our adult lives. In this approach, the playful and the games are directly related to the way the child develops during the school term. It is during play that children form concepts, ideas, selects, establishes logical relationships, integrate perceptions, cognitive relations to experiences and will be socializing. This work, developed in the framework of early childhood education, objective Bibliographically investigate the importance of psychomotor and in particular the applicability of play and playfulness in early childhood education . The choice of theme Play is serious: the play and the game as a tool in everyday Childhood Education is justified from observations made ​​throughout the experience and practice in education. This research will mainly víeis theoretical studies of Friedman , Huizinga , Vygotsky , Piaget and Luckesi . Therefore, this research also intends to show how much is missing the inclusion of playfulness in the teaching - learning process, lacking perhaps education professionals to search for ways to awaken in children the pleasure of being in school or any other educational environment . Such paths or tools can be extracted from the school itself, its surroundings or even developed by the students themselves, since guided by the teacher or professional.

Keywords: Early childhood education . Psychomotor . Playful . Game. joke

 

Introdução

 

Capacidades afetivas emocionais e cognitivas fazem parte do universo da criança enquanto um ser social, interagindo assim com o meio em que vive e desenvolvendo várias formas de comportamento. Portanto, faz-se necessário ressaltar que o jogo bem como as atividades lúdicas não é apenas uma atividade recreativa, mas sim uma grande contribuição para o desenvolvimento cognitivo.

A partir dessa colocação, torna-se singular ressaltar que desde muito cedo todos nós entramos em contato com o universo lúdico. Estimular atividades que explorem a brincadeira e o jogo faz com que as crianças se desenvolvam de forma espontânea, pois são através destas que se desenvolve na criança, a expressão, a criação, a imaginação e as relações afetivas com o mundo, com as pessoas e com os objetos.

Ressalta-se ainda que, como dito no resumo, esse trabalho se justifica diante da ausência de ações, projetos e atividades psicomotoras no universo educacional infantil bem como a partir das observações feitas ao longo da experiência e prática na área da educação.

Portanto, a pesquisa bibliográfica mostra o quanto à inclusão do lúdico no processo ensino-aprendizagem é deficitário, talvez, pela falta de profissionais da educação em busca por caminhos que desperte na criança o prazer de estar na escola ou em qualquer outro ambiente educativo.

Por outro lado, interdisciplinar psicopedagogia, psicomotricidade, educação física, saúde, fonoaudiologia, fisioterapia e outras áreas de intervenção profissional, sem que haja, no entanto, conflitos entre as referidas áreas seja um caminho para melhor desenvolvimento das ações e atividades psicomotoras no processo ensino-aprendizagem.

O tema sobre os jogos e as brincadeiras na aprendizagem possui uma vasta literatura e este trabalho tem como fundamentação teórica, os trabalhos de Huizinga, Vygotsky, Luckesi e Piaget, onde serão apresentados e discutidos o pensamento e a abordagem de cada teórico sobre o assunto em questão.

 

Desenvolvimento

 

O Lúdico

O ato de brincar é indispensável à saúde física, emocional e intelectual e sempre esteve presente em qualquer povo desde os tempos mais remotos. Através da brincadeira, a criança desenvolve a linguagem, o pensamento, a socialização, a iniciativa e a autoestima, preparando-se para ser um cidadão capaz de enfrentar desafios e participar na construção de um mundo melhor. (SANTOS, 2000, p. 135).

Desse modo, a convivência de forma lúdica e prazerosa com a aprendizagem, proporcionará a criança estabelecer relações cognitivas às experiências vivenciadas, bem como relacioná-las as demais produções culturais.

O lúdico tem sua origem na palavra latina “ludus”, que significa em português, jogo. O lúdico faz parte das atividades essenciais da dinâmica humana, caracterizando-se por ser espontâneo, funcional, satisfatório.

Na atividade lúdica, o que importa não é apenas o produto da atividade, o que dela resulta, mas a própria ação, o momento vivido. Possibilita a quem a vivencia, momentos de encontro conseguem e com o outro, situações de fantasia e de realidade, de ressignificação e percepção, de autoconhecimento do outro, de vida, de cuidar de si e olhar para o outro.   Segundo Luckesi (2000), as atividades lúdicas são aquelas que proporcionam uma experiência de plenitude, em que nos envolvemos por inteiro, estando flexíveis e saudáveis.

As atividades lúdicas correspondem a um impulso natural da criança, e neste sentido, satisfazem uma necessidade interior, pois o ser humano apresenta uma tendência lúdica. O lúdico apresenta dois elementos que o caracterizam: o prazer e o esforço espontâneo. Ele é considerado prazeroso, devido a sua capacidade de absorver o indivíduo de forma intensa e total, criando um clima de entusiasmo. É este aspecto de envolvimento emocional que o torna uma atividade com forte teor motivacional, capaz de gerar um estado de vibração e euforia. Em virtude desta atmosfera de prazer dentro da qual se desenrola, a ludicidade é portadora de um interesse intrínseco, canalizando as energias no sentido de um esforço total para a consecução de seu objetivo. Portanto, as atividades lúdicas são excitantes, mas também requerem um esforço voluntário.

As situações lúdicas mobilizam esquemas mentais. Sendo uma atividade física e mental, a ludicidade aciona e ativa as funções psico-neurológicas e as operações mentais, estimulando o pensamento. Enquanto brinca, a criança reproduz muitas situações vividas em seu cotidiano, que através do faz de conta são reelaboradas criativamente, vislumbrando novas possibilidades e interpretações do real.

O mundo da fantasia, da imaginação, do jogo, do brinquedo e da brincadeira, além de prazerosa também é um mundo onde a criança está em exercício constante, não apenas nos aspectos físicos e emocionais, mas, sobretudo no aspecto intelectual.

Toda atividade lúdica pode ser aplicada em diversas faixas etárias, mas pode sofrer intervenção em sua metodologia de aplicação, na organização e no prover de suas estratégias, de acordo com as necessidades peculiares das faixas etárias. As atividades lúdicas têm capacidade sobre a criança de gerar desenvolvimento de várias habilidades, proporcionando a criança desenvolvimento, prazer convívio profícuo, estímulo, desenvolvimento harmonioso, autocontrole e autorrealização.

O brincar infantil constitui a forma básica mais importante e decisiva do ser humano, por fazer desabrocharem e ativarem as forças criativas da criança. Todo educador precisa estar consciente dos malefícios dos brinquedos industriais, produzidos em série, de gosto pouco duvidoso, e que não atendem as necessidades de descoberta da criança. A maioria deles se apresenta de tal forma que a força da fantasia da criança não encontra alimento para dar vazão à imaginação, às construções simbólicas próprias da criança, pois não há nada a contemplar, a imaginar, a projetar sobre esses brinquedos.

A fantasia infantil necessita de liberdade para se desenvolver através do manuseio ativo e curioso, do material que a criança tem a oportunidade de vivenciar no mundo, como as formas e a qualidade de tudo que existe.

O brincar intensifica a percepção infantil que, por sua vez, direciona seu pensar de maneira cada vez mais equilibrada, favorecendo aprendizagens ao longo do seu crescimento. Ao desenvolver suas potencialidades, a criança aprende a interagir, vencendo suas dificuldades, tornando decisões nas situações conflituosas.

 

O jogo e suas características

 

Quando faz referência aos jogos na aprendizagem, Friedmann (1996) ressalta: o jogo é, um quebra cabeça... não é, como se pensava, simplesmente um método para aliviar tensões. Também não é uma atividade que prepara a criança para o mundo, mais é uma atividade real para aquele que brinca. (p. 20).Assim, encontraremos exposições diferenciadas de outros teóricos no decorrer dessa monografia.

Na obra Homo Ludens, Johann Huizinga (1980), defende a ideia de que o jogo é inerente ao ser humano. É uma realidade originária que corresponde a uma das noções mais primitivas e profundamente enraizadas em toda a realidade humana. É a partir do jogo que nasce a cultura, e não o contrário. Para ele, brinquedo, lúdico e brincadeira são atividades singulares e culturais que fazem parte das características dos seres humanos e dos animais.

Huizinga (1980) caracteriza o jogo como uma função da vida, mas sem possibilidades de definição exata em termos biológicos, lógicos e estéticos.

A intensidade do jogo e seu poder de fascinação, não podem ser explicados por análises biológicas. É, contudo, nessa intensidade, nessa fascinação, nessa capacidade de excitar, que reside à própria essência e a característica primordial do jogo. (p.5).

 

Os estudos de Huizinga (1980) demonstram a natureza e o significado do jogo, do brincar, principalmente pela função cultural, como via de construção do conhecimento e da cultura humana, não desconsiderando o prazer, a diversão, e o delírio presentes nas práticas lúdicas. A intensidade e o fascínio na realização do brincar caracterizam o lúdico como parte da vida criança.

O autor, com seu pensar anuncia que o jogo é mais do que um fenômeno fisiológico ou reflexo psicológico. Vai além do ser, do estar e do fazer, envolve de significados o agirem. Ultrapassa os limites da atividade puramente física ou biológica.

È uma função significante, isto é, encerra determinado sentido às coisas, às pessoas, ao mundo. No “jogo”, existe o fascínio, que inebria o Ser, que transcende as necessidades imediatas da vida e confere sentido à ação, intensidade do viver.

Mesmo em suas formas mais simples, ao nível animal, o jogo é mais do que um fenômeno fisiológico ou um reflexo psicológico. Ultrapassa os limites da atividade puramente física ou biológica. É uma função significante. Isto é, encerra um determinado sentido. No jogo existe alguma coisa “em jogo”, que transcende as necessidades imediatas da vida e confere um sentido à ação. Todo jogo significa alguma coisa. Não se explica nada chamado “instinto” ao princípio que ativo que constitui a essência do jogo: chamar-lhe “espírito” ou “vontade” seria dizer demasiado. Seja qual for à maneira que o considerem, o simples fato de o jogo encerrar um sentido, implica a presença de um elemento não material em sua própria essência. (HUIZINGA, 1980, p.4).

 

A essência do jogo reside na sua intensidade, fascinação e capacidade de excitar, expressando-se através do ritmo e da harmonia. O brinquedo, em sua singeleza, é capaz de prover de recursos para a vida, à criança que se transforma em cidadão; e necessita de um processamento mais ordenado para o seu desenvolvimento. A realidade áspera do mundo dos adultos deve ser mitigada para o universo infantil. O brinquedo cumpre esta tarefa.

É através do processo de experimentação, que o mundo social será introduzido gradativamente nas relações infantis, tendo os brinquedos e jogos o papel relevante a cumprir nesta tarefa. A socialização se faz completa, quando pode a criança experimentar no jogo e no brinquedo suas reações, aprendendo a se conhecer.

Huizinga (1980) define três características essenciais ao jogo. Antes de qualquer coisa, o jogo é uma atividade que exige liberdade, se sujeito a ordens deixa de ser jogo, passando a ser, no máximo, uma imitação forçada. Consideramos então, que seja uma atividade voluntária que exige liberdade e leva a libertação. Nesse ponto, Huizinga, se aproxima de Walter Benjamim (1989), que em “A Criança, o Brinquedo e a Educação” diz:

E assim, chegamos à segunda característica dos jogos que se apresenta intimamente ligada a primeira e que é a de que eles estão conscientemente fora do “mundo real”.       Durante qualquer tipo de jogo, pode-se observar uma suspensão da vida cotidiana: trata-se de uma atividade temporária, com finalidade independente desta vida “corrente” e se realiza tendo em vista uma satisfação, que consiste nesta própria realização do jogo.

Quando brincamos, criamos um “mundo” separado daquele em que vivemos o que não diminui ou torna menos rica a imersão da brincadeira. Mesmo assim, completamente absorvidos por este mundo criado, não passamos a ignorar o cotidiano, é como se ele existisse numa dimensão paralela a qual podemos retornar a qualquer momento. Por este motivo, um jogo verdadeiro e espontâneo pode também ser extremamente sério.

A terceira característica descrita por Huizinga possui estreita relação com as anteriores, definida como o isolamento, a limitação: “dentro do círculo do jogo, muitas vezes as leis e costumes da vida cotidiana perdem valor, ali, somos diferentes e fazemos coisas diferentes” (p.16), ou seja, o jogo tem um fim em si mesmo.

Brincar não constitui perda de tempo nem é, simplesmente, uma forma de preenchê-lo. A criança que não tem oportunidade de brincar sente-se deslocada. O brinquedo possibilita desenvolvimento integral da criança, já que se envolve afetivamente, convive socialmente e opera mentalmente. Tudo isso ocorre de maneira envolvente, sendo que a criança dispende energia, imagina, constrói normas e cria alternativas para resolver imprevistos que surgem no ato de brincar.

O brinquedo facilita a compreensão da realidade e é muito mais um processo do que um produto. É, ao mesmo tempo, a atividade e a experiência envolvendo a participação total do indivíduo. Exige movimentação física, envolvimento emocional, além do desafio mental que provoca. As brincadeiras, os jogos, os brinquedos podem e deve ser objetos de crescimento, possibilitando à criança a exploração do mundo, descobrir-se, entender-se e posicionar-se em relação a si e a sociedade, de forma lúdica e natural exercitando habilidades importantes na socialização.

 

O aprendizado através do brinquedo segundo Vygotsky

 

São diversos os autores que exaltam a importância do jogo durante toda a vida do homem, mas, principalmente, durante a infância. Há algum tempo, esse artifício vem sendo utilizado na escola, como forma de facilitar o aprendizado.

É sabido que o jogo infantil é uma atividade física e mental que favorece tanto o desenvolvimento pessoal quanto o sociológico. A criança evolui com o jogo e o jogo da criança também vai evoluindo com ela. Vigotsky (1987), afirma que na brincadeira, “a criança se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento diário; no brinquedo, é como se ela fosse maior do que ela é na realidade” (p.117). No seu ponto de vista, a brincadeira cria uma Zona de Desenvolvimento Proximal, favorecendo e permitindo que as ações da criança, ultrapassem o desenvolvimento real já alcançado, permitindo-lhe novas possibilidades de ação sobre o mundo.

A Zona de Desenvolvimento Proximal seria, em poucas palavras, o que o autor define como a diferença entre o desenvolvimento atual da criança e o nível potencial de desenvolvimento, que atinge quando resolve problemas com auxílio de membros mais experientes da cultura.

No desenvolvimento, a imitação e o ensino, desempenham um papel de primeira importância. Põem em evidência, as qualidades especificamente humanas do cérebro e conduzem a criança a atingir novos níveis de desenvolvimento. A criança fará amanhã sozinha, aquilo que hoje é capaz de fazer em cooperação. Por conseguinte o único tipo correto de pedagogia é aquele que segue em avanço relativamente ao desenvolvimento e o guia; devem ter por objetivo não as funções maduras, mas as funções em vias de maturação. (VIGITSKY, 1979, p.138).

                Vygotsky (1991) vê a brincadeira como uma situação imaginária criada pela criança em seu contato com o mundo social. Ela se justifica pelo simples ato de brincar e não por suas consequências. À medida que a brincadeira se desenvolve, dá estruturação básica para o surgimento de novas mudanças relacionadas ao desenvolvimento da criança, de acordo com suas necessidades, criando uma nova possibilidade de atuar frente ao real.

            O autor ressalta ainda que não é o caráter de espontaneidade do jogo e da brincadeira que os torna uma atividade importante para o desenvolvimento da criança, mas sim, o exercício no plano da imaginação. Contudo, a capacidade de planejar, imaginar situações diversas, representar papéis e situações do cotidiano, bem como o caráter social das situações lúdicas, os seus conteúdos e regras inerentes a cada situação é que compõe a sua importância. Nesse sentido, o brinquedo auxilia o desenvolvimento, fazendo com que, pouco a pouco, a criança comece a distinguir os significados dos objetos reais; sua percepção evolui a partir das experiências que o próprio brinquedo proporciona, ampliando seu imaginário. (Vigotsky, 1991).

 

O desenvolvimento da criança segundo Piaget

 

            Segundo Piaget (1967, p.32), “o jogo não pode ser visto apenas como divertimento ou brincadeira pra desgastar energia, pois ele favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo, social e moral”. Agindo sobre os objetos, as crianças, desde pequenas, estruturam seu espaço e seu tempo, desenvolvem a noção de casualidade, chegando à representação e, finalmente, à lógica.

            As crianças ficam mais motivadas para usar a inteligência, pois querem jogar bem, esforçam-se para superar obstáculos tanto cognitivos como emocionais. E, estando mais motivadas, ficam mais ativas durante o jogo. Para Piaget (1973), os jogos e as atividades lúdicas tornam-se mais significativas, à medida que a criança se desenvolve, com a livre manipulação de materiais variados, ela passa a reconstruir, reinventar as coisas, o que já exige uma adaptação mais completa.

            Através da atividade lúdica e do jogo, a criança forma conceitos, seleciona ideias, estabelece relações lógicas, integra percepções, faz estimativas compatíveis com o seu crescimento físico. A partir desse contexto, Piaget (1967), estabelece diferentes estágios de desenvolvimento cognitivo, pelos quais todos os seres humanos passam, ocorrendo uma modificação progressiva dos esquemas de assimilação, propiciando diferentes maneiras de o indivíduo interagir com o meio, ou seja, de organizar seus conhecimentos visando sua adaptação. Segundo o autor os estágios são: sensório-motor, pré-operatório, operatório-concreto e opertório-formal.

            Quando se refere ao processo de ensino, o autor assegura ser a aprendizagem uma consequência do desenvolvimento cognitivo, e o de equilibração, onde acontece na interação entre o indivíduo e os meio ligados com outros fatores como experiências, genética, maturação biológica, formando os esquemas, a assimilação, a acomodação e a adaptação.

            A essa evolução cognitiva, Piaget denomina de Estágios de Desenvolvimento, onde observa quatro fases que evoluem como uma espiral são elas: sensório-motor, pré-operatório, operatório-concreto e operatório-formal; de modo que cada estágio engloba o anterior e o amplia. Piaget, não define idades rígidas para os estágios, mas sim que estes se apresentem em uma sequência constante.

            Cada estágio é definido por diferentes formas de desenvolvimento. A criança deve atravessar cada estágio segundo uma sequência regular, ou seja, os estágios de desenvolvimento cognitivo são sequenciais. Se a criança não for estimulada/motivada na devida altura, não conseguirá superar o atraso do seu desenvolvimento. Assim, torna-se necessário que em cada estágio a criança experimente e tenha tempo suficiente para interiorizar a experiência, antes de prosseguir para o estágio seguinte. Normalmente, a criança não apresenta características de um único estágio, com exceção do sensório-motor, podendo refletir certas tendências e formas de estágio anterior e / ou posterior. Ex.: uma criança que se encontre no estágio das operações concretas, pode ter pensamentos e comportamentos característicos do pré-operatório e/ou algumas atitudes do estágio das operações formais.

            Segundo Piaget (1979, p. 193), o desenvolvimento das inteligências não é linear, ou seja, não ocorre por acúmulo de informação. Na visão de Piaget esse desenvolvimento se daria por saltos e por rupturas. Sendo assim, os estágios representam uma lógica da inteligência que será superada radicalmente por outro estágio superior, apresentando assim, outra lógica de conhecimento. Ou seja, a inteligência muda de qualidade de acordo com as mudanças de estágio, onde cada um representa uma qualidade dessa inteligência. Assim, de acordo com a teoria piagetiana, os estágios necessariamente são seguidos, de forma que nenhum deles possa ser ignorado.

Estágio Sensório-motor

 

            O estágio sensório-motor desenvolve-se entre os zero e dois anos de idade. A principal aquisição do período sensório-motor destaca-se a construção da noção do “eu”, através da qual a criança diferencia o mundo externo do seu próprio corpo. As principais características observáveis durante essa fase, que é até os dois anos de idade da criança são: a exploração manual e visual do ambiente; a experiência obtida com ações (a imitação); a inteligência prática (através de ações); ações como agarrar, sugar, atirar, bater e chutar; ações que ocorrem antes do pensamento e, noções de permanência do objeto. Piaget mostrou com clareza que a fase de zero a dois anos de idade é extremamente rica, e que a inteligência começa a estruturar e mostrar seu valor antes mesmo da linguagem.

 

Estágio Pré-operatório

 

            O segundo estágio de desenvolvimento considerado por Piaget é o estágio pré-operatório que coincide com a fase pré-escolar e vai dos dois anos até aos sete anos em média. Este estágio também chamado pensamento intuitivo é fundamental para o desenvolvimento da criança. Apesar de ainda não conseguir efetuar operações, a criança já usa a inteligência e o pensamento. Este é organizado através do processo de assimilação, acomodação e adaptação.

            Neste estágio, a criança já é capaz de representar as suas vivências e a sua realidade, através de diferentes abordagens, como o jogo, o desenho. De um modo geral, podemos dizer que, neste estágio, o desenho representa a fase mais criativa e diversificada da criança. A criança projeta nos seus desenhos a realidade que ela vive, não há realismo na cor, e também não há preocupação com os tamanhos. As principais características observáveis nesse período são: inteligência simbólica; a confusão entre aparência e realidade; raciocínio transdutivo; a característica do animismo (a vida dos seres inaminados).

            Nesse estágio, a criança procura desenvolver a habilidade verbal. Aqui, ela já consegue nomear objetos e raciocinar intuitivamente, embora ainda não consiga coordenar operações fundamentais. Este estágio também é conhecido como o período da fantasia e do jogo simbólico. A linguagem está ao nível de monólogo. Todas as crianças falam ao mesmo tempo sem ter uma linearidade com que o outro está dizendo.

Estágio Operatório-concreto

           

            Este estágio se observa mais ou menos entre os sete e doze anos de idade. Para Piaget é neste estágio que se organiza verdadeiramente o pensamento. No estágio anterior as crianças são sonhadoras, muito imaginativas e criativas.

            É a partir deste estágio, que as crianças começam a ver o mundo com mais realismo, deixam de confundir o real com a fantasia. É neste estágio que a criança adquire a capacidade de realizar operações. Podemos definir operação como ação interiorizada – realizada no pensamento, composta por várias ações; reversível – pode voltar ao ponto de partida.

            As principais características desse período são: o equilíbrio entre a assimilação e a acomodação torna-se mais estável; surge a capacidade de fazer análises lógicas; a criança ultrapassa o egocentrismo, ou seja, dá-se um aumento da empatia com os sentimentos e as atitudes dos outros; começa a perceber a conservação do volume, da massa, do comprimento, etc.

            Neste estágio, também algumas características das crianças começam a serem aprimoradas, como por exemplo, elas se concentram mais nas atividades, colaboram mais com os colegas e apresentam responsabilidade, respeito mútuo e participações em grupo.

 

Estágio Operatório-formal

 

            O estágio operatório formal desenvolve-se a partir dos 12 anos de idade em média. Nesse período o adolescente começa a raciocinar lógica e sistematicamente. Esse estágio é definido pela habilidade de engajar-se no raciocínio proposicional. As deduções lógicas podem ser feitas sem o apoio de objetos concretos.

            Diferente do período anterior, agora o adolescente tem o pensamento formal abstrato. Ele não necessita mais de manipulação ou referência concreta. No lado social, a vida em grupo é um aspecto significativo, junto com o planejamento de ações coletivas. Reflete sobre a sociedade e quer transformá-la, mais tarde vem o equilíbrio entre pensamento e realidade.

            Segundo os estudos realizados por Piaget, podemos concluir que a criança transforma aquilo que aprende de acordo com a sua capacidade interna, tornando-se transformadora da aprendizagem, criadora, se essa capacidade de aprendizagem e oportunidade lhe for oferecida.

            Segundo Piaget (1987), o conhecimento não pode ser aceito como algo predeterminado desde o nascimento, pois resulta das ações e interações do sujeito com o ambiente onde vive. Todo o conhecimento é uma construção que vai sendo elaborada desde a infância, através da interação sujeito com os objetos que procura conhecer, sejam eles do mundo físico ou cultural físico ou cultural.

 

Conclusão

 

            Brincar e jogar são coisas simples na vida da criança. O jogo, o brincar e o brinquedo desempenham um papel fundamental na aprendizagem de todos os indivíduos. O jogo é a mais importante das atividades da infância, pois a criança necessita brincar, jogar, criar e inventar para manter seu equilíbrio com o mundo.

            A vida infantil é constituída pelo mundo do brinquedo, um mundo criado pela criança, onde ela mesma se autocria. O brinquedo é importante objeto cultural produzido pelos adultos, para as crianças, que ganha ou produz significados no processo da brincadeira, pela imagem que a realidade representa e transmite. Nessa perspectiva, a utilização do brinquedo e da brincadeira no cotidiano das instituições, deve estar associada a atividades criativas, autônomas e imaginativas.

            A brincadeira como atividade social específica, é vivida pelas crianças tendo como base um sistema de comunicação e interpretação do real, que vai sendo negociado pelo grupo de crianças que estão brincando. Assim, esta pesquisa apresentou e concluiu que os encontros e as atividades presenciais, o material gráfico do curso, a literatura pesquisada e os estudos dos teóricos que fundamentaram esta investigação estão intrinsecamente interligados, permeando o universo da educação infantil através dos jogos, das brincadeiras e do lúcido enquanto ferramentas essenciais da psicomotricidade no desenvolvimento da criança.

            Desse modo, o propósito geral de conceber o lúdico no processo de construção do conhecimento do aluno, inter-relacionando brinquedo, jogos, brincadeiras, visa à formação integral do educando, semeando valores e atitudes que os farão ter um futuro pleno.

Portanto, vimos que o processo de aprendizagem faz parte do ser humano e que as brincadeiras fazem com que o processo se desenvolva de forma lúdica. Precisamos cultivar e estimular a criatividade, a observação e o senso crítico, para que as crianças possam ter um olhar amplo e uma visão complexa do mundo que as rodeia.

            Dessa forma, este trabalho contribuirá de forma decisiva para a criação e aplicabilidade de materiais alternativos que visem fazer dos jogos e das brincadeiras um ambiente mais saudável na sala de aula.

 

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