Brigas

Por Luana Dutra | 02/07/2013 | Contos

Ele, fumando sentado no sofá, aquele mesmo sofá de outros tão quentes momentos. Ela, com os cotovelos na janela, os olhos e rosto molhados, mãos frias, olhar perdido nas luzes que via pouco a pouco surgindo na cidade.  Estavam discutindo há mais de uma hora.

                - Então é isso? – pausa para soltar a fumaça – Acaba assim?

                Da parte dela, só se ouviu um gemido, quase imperceptível. Ele que a conhecia tão bem, por esses quatro anos juntos, ouviu sem dificuldade. Suspirou imaginando a resposta que ela não havia dado, e no suspiro uma dor tomou-lhe conta, parecendo ocupar cada gota de sangue que fazia parte do seu corpo.

                Ela não queria que ele fosse embora, sentia uma vontade quase incontrolável de se atirar nele, beijando, suplicando para que fique, que o ama, que nada terminou, que eles podiam ser felizes mais uma vez. Acontece que, depois de quatro longas brigas neste mesmo mês, a sua força não era suficiente para tal atitude.

                O cigarro findou. Ele se levantou, pegou a mala com as poucas roupas, que minutos antes tinha preparado em meio aos gritos dos dois. Gritos esses, que ecoavam em suas mentes até agora. Por que brigaram? Nem eles mesmos sabiam. Coisas banais se tornaram incômodo suficiente para tais confusões.

                Ele amava-a como jamais amaria mais alguém. Olhou-a na janela, atraente em sua camisola branca, meio transparente. A sala em crepúsculo fazia com que a luz que vinha de fora iluminasse somente ela, dando um tom de irreal, de sonho. Como era linda!

                Não sabendo mais o que fazer ali, ele caminhou lentamente até a porta, a abriu, olhou para aquela que sentia quase o mesmo que ele agora, e saiu em meio a soluços. Ela ouviu, e se sentiu morrendo, de tanto sofrimento. Não. Não podia deixá-lo ir!

                Abriu a porta, ele ainda estava no corredor. Com uma voz que parecia mais um sussurro disse:

                - Volte?

                Era tudo o que ele precisava ouvir. Largou a mala. Agarrou sua amada, deu lhe um beijo molhado de lágrimas, levou-a para o quarto e fizeram amor. Um amor com gosto de vida, com um prazer que chegava a ser dor por tamanha dimensão, e com uma pressa de quem tem saudades e não vê há anos. Findaram dizendo a uma só voz:

                - Eu te amo.