Breves Considerações Sobre O Filme 'o Processo'
Por Carolina Cunha dos Reis | 18/02/2008 | DireitoO Processo
O personagem verdadeiro de O Processo é a culpa.
• Filme: não diz qual é a culpa, retrata a condição humana na nossa sociedade,
onde aceitamos tudo sem discutir.
• Não há presunção de inocência: K. é preso em abstrato, sendo que ele próprio
não era ameaça alguma, foi pura ARBITRARIEDADE DO ESTADO.
• K. morto à distância, quem o matou não sabia o porque de fazer isto.
• IDÉIA DE JUSTIÇA: Justiça não é para ser procurada e sim discutida. Se a
pessoa procura a justiça ela nunca vai até ela. Pessoa que bate à porta da
Justiça é aquela que se declara incapaz de discutir a Justiça.A Justiça nunca
será achada porque ela não é procurada e sim discutida.
• Pilha de Processos: É a negação da discussão. Assim os tribunais estão cheios
e abarrotados de pessoas enquanto que as ruas estão vazias.
• Escritório de Advogacia: cliente preso no quarto – Bloch – Mostra a falta de
preparação do povo para entender e discutir o direito.
• Direito visto no filme como uma CIÊNCIA E NÃO COMO UMA ARTE, há até uma
sátira que demonstra essa afirmação – A figura do Advogado deitado em sua cama
ou seja em seu berço esplêndido e o cliente aos seus pés submisso à ele. Isso
mostra que o Direito é ciência exercida por aqueles que o estudam , que impõe
regras arbitrárias ao restante de que nada tem conhecimento.
• Relação entre Tribunal = Estado no filme. Ambos são abstratos pois controlam
a vida das pessoas através das leis.
• Justiça = Tribunal ...é o centro do filme – sendo assim uma perspectiva
LOGOCENTRICA.
• K. busca discutir sua defesa, mas sem saber qual sua culpa, qual é a acusação
feita para sua condenação;
• Dentro do Tribunal existe a moral abstrata ou seja aquela que se sabe que
existe mas não sabe onde está.
• K. é submisso ao Estado = questionar, ou seja, ser ético é crime, por isso
ele é morto como um cão.
• Justiça "encostada": Livros de Direito empoeirados na mesa do
tribunal, onde havia uma foto de uma bunda dentro, ou seja, bunda que abunda
dentro do livro – existem coisas que desviam a atenção do juiz- o que desvia a
atenção do juiz são as relações sociais, o juiz nunca tem atenção só para a
lei, ele não atenta para o problema em si.
• Postura LOGOCÊNTRICA dos operadores do Direito – só eles se acham capazes de
discutirem o Direito. Eles não o discutem com pessoas "comuns".
• Morte à distância: morte da discussão, da capacidade de participação, ou
seja, da ÉTICA. Naquele Estado ser ético era ser condenado à morte. Hoje somos
morais porque podemos questionar sem o Estado se redimir e nos tirar a vida
arbitrariamente.
• A Lei é acessível à todos – Quem pede para entrar sabe que a Lei é para
todos, mas sabe também que tem de pedir para ela ser aplicada – isso declara
sua incapacidade de resolver seus próprios problemas.
• GUARDA na porta do Tribunal: Uma barreira para ser transposta – Objetivo
seria _ a proteção da própria Lei (que no filme é de acesso restrito) deve ser
preservada.
• A Lei é protegida do manuseio do todo, à poucos cabem a capacidade de
discutir e ter acesso à lei ( Lei:interpretada por aqueles que tem designo para
essa finalidade).
• Logocentrismo: Razão é o centro de tudo, tudo se baseia na ciência. (direito
não sendo visto como uma arte)
• Mesmo ele dentro do Tribunal, não tem acesso à justiça e sim à algumas
pessoas.
• PULGAS: ele já têm até intimidade com elas, pede elas para tentarem convencer
o guarda deixa-lo entrar
• Há relação de subordinação no filme TODO.
• Tribunal: é a sala do juiz – ele não tem acesso aos juízes – nem mesmo à
Suprema Corte – Ele conhece os magistrados apenas por figuras (pinturas).
• Não se enxerga justiça na lei – idéia discursiva à partir da lei. Para ter
uma idéia de Justiça – possibilidade de qualquer um poder participar da
discussão.
• Hierarquia: Relação ontológica do poder:divisão do poder em classe, para
criar uma sensação de que tudo é acessível. Acesso à justiça – discutir a lei –
o problema tem que se adaptar à lei.
• K. quer a aplicação da lei e não a aplicação da lei.
• Todos são iguais: como você – a porta está aberta para aquele que não é
cidadão, que quer somente a aplicação da lei – ele se declara incapaz – quando
ele entra dentro do tribunal ele não consegue mais sair por causa do discurso
retórico que há dentro do tribunal.
• No filme inteiro ele busca acesso ao tribunal – mas quando as portas se
fecham – ele se vinculou ao paradigma dos que estão lá dentro, ou seja ,o
discurso retórico ele não consegue mais sair.
• Tudo pertence ao Tribunal: como Estado – que cria os paradigmas
• A lei cria um mundo hipotético – abstrato Relação LEI x REALIDADE
• Lógica do sonho: Fantasia Lógica do pesadelo: realidade – isso coexiste com a
gente sendo algo perene – uma contra partida.
• A lei cria uma sensação de segurança que não é absoluta.
• K. não tem identidade – apenas em seu trabalho que ele a encontra -
identidade ligada ao cargo que ele exerce.
• Postura ética – ação – movimento – o que é ético pode ser imoral.
• Auteridade constitutiva da ipseidade: conhecimento do outro infinito
(indeterminado – e não determinado) – qual é a essência, a potência do outro
(do ser) – ver as possibilidades no outro – Constitutiva: criar – constituir –
inventar – Identidade = Ipseidade – Identidade que permite identificar o papel
de cada um no meio social – Eu não tenho identidade sem o outro.
• A presença do outro me impõe o discurso para construir uma sociedade, um
ideal – construir um espaço social para saber qual o papel de cada um na
sociedade – Perspectiva da inclusão – visão do ser humano como potência, com
possibilidade.
• A afirmação de você ser você exclui todos.
• Estado retém nossa identidade: exclui o sujeito mas não mostra isso.
• K. tem uma postura de buscar identidade –mas num momento tardio, quando ele
está preso aos paradigmas de que ele não é cidadão, mas um gerente que obedece
as leis do Estado
• A lei é colocada como divina: Juiz como um DEUS – a submissão absolveria o
homem.
• A visão do mundo não é a mesma para todos – A pessoa que não conhece a lei a
vê como uma monstruosidade.
• Quem morre é a identidade do cliente, ele não é uma cidadão, e sim uma
galinha despenada, um massa de carne ambulante.
• A procura de K. na aplicação da lei, ele pede proteção – A concepção do
Estado Liberal, Social e Democrático (discussão de inteligir os Estados ) – O
pedido, o pleito das pessoas ao Estado como grande Pai, a proteção declarando
sua incapacidade
• Onde e como está o Direito subjetivo = Faculdade de agir - Facultas Agendi –
possibilidade de provocar uma ação
• Direito só existe quando é provocado – Perspectiva Dogmática – somos
representados, temos nossa faculdade de agir limitada, declarando nossa
incapacidade. Perspectiva Zetética – Implica na capacidade ilimitada de agir –
todo discurso voltado para a construção da minha identidade – posso – sou capaz
de resolver meus problemas – negação de um terceiro.
• A discussão da liberdade,igualdade e fraternidade na auteridade constitutiva
da ipseidade à partir de uma idiossincrasia.
• Moral é regra – Não existe regra na Ética – ética é discussão.
• Se a lei não tiver um conteúdo ético é simplesmente moral
• Ética atual = Ciência
• Ética antiga = Retórica – experiência
• O homem hoje opta pela ciência (a capacidade de ser inteligente) e não pela
prudência(ligada à experiência)
• Ética – idéia de discussão – ação – voltada para a construção do social
• Todos são igualmente diferentes - igual liberdade: todos são livres
• Podemos enxergar igualdade entre diferentes no campo do concreto e o
contrário no campo do abstrato.
• Nada do que é estabelecido é uma representação fiel da realidade
• Estado está sempre questionando IGUALDADE x LIBERDADE
O filme mostra a incapacitação de discussão com os tribunais, abarrotados de
processos, onde, a desorganização impera nos enormes e austeros corredores do
tribunal., donde se vê uma moral abstrata que, enquanto dentro do tribunal
sabemos que existe, mas não sabemos onde está, diferentemente do lado externo,
onde a moral é concreta, porque resguarda os valores na inter-relação dos
indivíduos na sociedade.
O filme apresenta a discussão do tráfico de influencia, ou seja, a
representação do poder e da submissão do povo sob a influencia destes poucos
que o detém.
Assim, todo o filme se passa por discursos retóricos que procuram desviar a
atenção das pessoas.
O direito é visto como uma ciência e não como uma arte, pois o povo se declara
incapaz, sem preparo para entender e discutir o direito, tornando-se submissos
aos operadores do direito.
Joseph K. foi imprudente, pois não tinha conhecimento jurídico, e ao entrar no
tribunal e tentar se defender de uma condenação abstrata, querendo somente a
aplicação da lei e não discuti-la.
Ética - é uma discussão concreta. Não é ciência, é ação movimento;
Moral - é a linguagem que é determinada no movimento ético;
Política - construção do social a partir da postura política;
Ciência - conhecimento concreto, mas constrói conceitos abstratos, ciência
empírica.