Breve Reflexão sobre a Relação entre Cultura e Educação
Por Francisco dos Santos Silva | 03/10/2017 | EducaçãoBreve Reflexão sobre a Relação entre
Cultura e Educação
Francisco dos Santos Silva
Graduando em Pedagogia.
Instituto Tocantinense de Ensino Superior e Pesquisa - Faculdade ITOP
Introdução
Existe uma intrínseca relação entre cultura e educação, visto que a própria educação é considerada como sendo parte da cultura. A cultura pode ser entendida como fruto da inventividade humana, só existe cultura porque existe o homem, e a educação está incluída neste meio. Pois é sabido que desde os primeiros homens houve a necessidade de repassar os costumes aos mais jovens, bem como o modo de caça, preparar determinado objeto, a maneira de ser, etc.
Sabe-se que o processo educativo não acontece apenas na escola, mas convencionou-se socialmente que a escola é responsável pelo processo de educação formal, pela transmissão do saber sistematizado. Em consequência a esta ideia, os saberes aprendidos fora da escola, na educação informal, são postos em segundo plano.
A Prática Educativa
Quando se fala em prática educativa logo se pensa em escola, professor, aluno, livros didáticos, objetivos, metodologias, e claro, avaliações. A prática educativa está sim relacionada a tudo isto, mas não se limita somente a esses aspectos. A prática de ensinar está presente em praticamente todos os setores sociais, pois é sabido que a educação não acontece única e exclusivamente na instituição escolar.
A educação é vista (a prática educativa) como o meio para, entre outras coisas, a difusão dos ideais, ideologias e saberes de grupos dos setores sociais. Portanto a prática educativa está presente em diferentes áreas dos setores sociais como forma de difundir, transmitir e fazer com que seja internalizado certos conhecimentos e habilidades, como o caso das campanhas de conscientização, das propagandas estimulando o consumo, etc. Para uma compreensão mais acertada Libâneo (2010, p. 30), diz que a
Educação é o conjunto das ações, processos, influências, estruturas, que intervêm no desenvolvimento humano de indivíduos e grupos na sua relação ativa como o meio natural e social, num determinado contexto de relações entre grupos e classes sociais. É uma prática social que atua na configuração da existência humana individual e grupal, para realizar nos sujeitos humanos as características de "ser humano".
Portanto a educação como prática social se faz essencial para o funcionamento da sociedade como um todo, uma vez que a prática educativa consiste, em elemento transformador das relações sociais, na medida em que interfere diretamente nas ações, processos e estruturas no modo de pensar humano, e consequentemente na sua relação com a natureza e com outros indivíduos. “É inevitável que as gerações adultas cuidem de transmitir às gerações mais novas os conhecimentos, experiências, modos de ação que a humanidades foi acumulando em decorrência das relações incessantes entre homem e o meio natural e social” (LIBÂNEO, 2010, p. 73). Isso quer dizer que o processo educativo é fruto de um processo de aquisição de certas capacidades e qualidades necessárias para que o homem atue no meio social.
No que se refere à educação formal, aquela ofertada por instituições escolares, onde há intencionalidade na prática, objetivos pré-estabelecidos a serem alcançados, entre outros, há certos requisitos para uma prática dita eficiente. Antes de tudo a educação, a prática educativa, é um ato social, mas este ato não pode estar pautado no improviso, quando nos referimos ao ensino formal.
Forquin (1993, p. 12) nos diz que se referindo à educação, cultura significa “um patrimônio de conhecimentos e de competências, de instituições, de valores e de símbolos, constituído ao longo de gerações e característico de uma comunidade humana particular, definida de modo mais ou menos amplo e mais ou menos exclusivo”. O autor ainda ressalta que na educação escolar sempre há uma seletividade no “interior da cultura” (ibdem, p.12) e reformulação para, assim, ser transmitida na forma de conteúdo escolar.
Piletti (2004) coloca alguns critérios quanto aos conteúdos escolares. Em primeiro lugar devem estar ligados à realidade atual (social, econômica, cultural) e serem representativos, isto é, o aluno tem de ver os elementos inerentes à sua realidade inseridos nos conteúdos, portanto o conteúdo tem que ter uma validade prática. Também os conhecimentos adquiridos através dos conteúdos (informações transformadas em conhecimentos) devem ser usados em “situações novas”.
O etnocentrismo e relativismo cultural na escola
Na medida que o homem e consequentemente as sociedades primitivas evoluíam a necessidade de passar à geração mais nova os conhecimentos construídos socialmente e historicamente acumulados aumentava. E a escola surge como difusora da cultura dominante e do conhecimento, na mesma medida em que passa a difundir as ideias de uma cultura etnocêntrica. Na visão tradicional o que há é uma cultura homogeneizadora, com concepção de cultura ideal, cheia de estereótipos, portanto, etnocêntrica.
O etnocentrismo é compreendido como o ato em que uma cultura é posta como o centro, em determinado grupo ou mesma sociedade, passado a servir de padrão para julgar todas as demais formas de cultura, em geral de modo depreciativo. A cultura dos demais. Isto, seus modos de ser, seus costumes, valores são vistos como inferiores.
Como exemplo temos os antigos romanos, que consideravam os demais povos como bárbaros, pois não tinham os mesmos costumes que eles, a cultura helenista. Também tomo como exemplo os europeus que se consideravam civilizados, cultos, mais inteligentes que os nativos da nova terra recém descoberta. Da mesma forma que todos os países europeus que fixaram colônias na África.
Citei esses exemplos históricos, mas na atualidade o etnocentrismo está bem vivo e presente, quando alguém ver, por exemplo, um documentário em que mostra os vietnamitas comendo carne de cachorro (considerada uma iguaria no Vietnã), ou o fato de na Índia considerarem um rio sagrado (rio Ganges), alguns podem julgar uma e outra como atitudes impróprias, primitivas, pois esse juízo é pautado na comparação de uma cultura com a sua própria: a cultura do eu (a melhor) comparada com a cultura do outro (inferior).
Em uma sociedade como a nossa está repleta de pensamentos etnocêntricos, pois existe uma cultura dominante, a qual é amplamente difundida e sobreposta à outras formas de cultura. E a escola é a agencia de perpetuação dessa forma de cultura, a dominante.
O relativismo cultural é a compreensão da cultura do outro em sua própria singularidade, merecendo respeito e aceitação mesmo sendo divergente do modelo dominante. É o contrário do que representa o etnocentrismo, visto que analisa e compreende as diversas culturas em seus próprios âmbitos, em seus próprios contextos socio-históricos. A partir do memento que se entende que cada cultura é singular, que não se deve compará-las entre si, é o começo para superar o pensamento etnocêntrico.
Para concluir
A prática educativa escolar tanto pode ser uma perpetuadora de uma cultura etnocêntrica quanto um processo de superação dessa. A educação escolar não pode se manter neutra nesse processo, é inevitável uma ou outra ação.
Portanto a prática educativa na escola deve levar a comunidade escolar a entender que não existe uma cultura única, uma melhor, superior à outra, mas que existe um multiculturalismo. Cada cultura é deve ser vista e entendida à sua própria luz.
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, Carlos R. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 1986.
CANDAU, Vera M.; MOREIRA, Antônio F. (org.). Multiculturalismo: diferenças culturais e práticas pedagógicas. 2 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
FORQUIN, Jean-Claude. Escola e cultura: bases socias e epistemológicas do conhecimento escolar. Porto Alegre: Artemed, 1993.
LIBÂNEO, José C. Pedagogia e pedagogos, para quê. 12 ed. São Paulo: Cortez, 2010