BRASIL, O PAÍS DO MARKETING

Por sander dantas cavalcante | 09/06/2009 | Crônicas

BRASIL, O PAÍS DO MARKETING

 

O Brasil é, sem dúvida alguma, o país do marketing. Um atrás do outro. “Fome Zero”, por exemplo, é marketing digno de nota. Um país com milhares de miseráveis, onde crianças e adultos morrem de fome, literalmente, todos os dias, ainda assim tem a inspiração de lançar tão criativa propaganda.

 

Quem, na faixa etária dos quarenta, não se lembra do “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Por trás do aparente ufanismo, sabemos que a mensagem era “quem não for governo será exilado”, e isso, na melhor das hipóteses. Que o diga (se pudesse) Wladimir Herzog, jornalista morto pela ditadura.

 

“Quem não vive para servir, não serve para viver”. Marketing de natureza militar, estampado, anos atrás, em alguns quartéis. Curiosa é a inspiração desse marketing. Em Esparta, cidade grega com gosto para a guerra, havia o sinistro costume de jogar de penhascos, deficientes - físicos e mentais – e idosos.

 

Vejam outro marketing de fazer inveja à equipe eleitoral do Presidente Obama: “Brasil, O País do Futuro”. Esse é forte e inteligentíssimo. Esse futuro pode nunca chegar, mas não precisamos saber disso, basta termos a esperança que um dia o Brasil será o Cara! ou não, como diria nosso Caetano.

 

“Brasil, Um País de Todos”. Também é muito bom. Quem precisa saber que esse “Todos” são só “Eles”? Não precisa. O slogan tá aí e pronto. O marketing é mais importante pelo que parece ser do que pelo que é.

 

E não é recente a aptidão do Brasil pelo marketing. Isso existe desde o descobrimento. Basta relembrar a expedição de Cabral, que trazia consigo o marketeiro-mor do rei ou vocês não se lembram de Pero Vaz de Caminha e sua famosa carta? Ora, para povoar o nosso querido Torrão, não bastavam os degredados, pois precisávamos, também, dos destemidos aventureiros, que teriam como incumbência engordar os cofres dos reis, após tirarem sua parte do lucro, claro. E como viriam para cá, se a narrativa de Caminha não fosse atrativa? E tome lábia do Escrivão-marketeiro. Falam que o rei até chorou e nem precisam perguntar se a carta deu certo, afinal, alguém duvida que os aventureiros tenham acreditado? É só olhar para o lado e verão que ainda estão aqui, tirando seus lucros e enchendo os cofres do rei. Ah, já ia esquecendo. Os degredados não são mais degredados; uns estão presos, outros soltos – a maioria – mas, com outros nomes. Contudo, ainda estão por aqui.

 

Apenas um marketing, pelo que me lembro, não deu certo. A catequização dos Índios. Sem discutir a real intenção dos Jesuítas, está na cara que a real intenção da Coroa era puxar nossos nativos para o trabalho. Mas, convenhamos, convencer quem gosta de pesca, rede, sombra e água fresca ao trabalho duro, não é tarefa fácil. Essa, não deu para engolir. Ponto para os índios. Ponto, aliás, coitados, que lhes custou caro: perderam suas terras. Se o marketing não vence no campo, vence no tapetão.

 

Agora, tiremos o chapéu para o chefe dos marketings. “O Grito do Ipiranga”. Esse é ótimo. O grito houve, mas em decorrência de uma forte dor de barriga do príncipe, diarréia mesmo, quando estava ele de cócoras, atrás da moita real. Verdade é que esse grito, ou uivo, sei lá, trouxe profunda recompensa, pois, além de nos presentear com uma bela obra – a de Pedro Américo, não a do Príncipe, esclareça-se - , também nos deu a Independência do Brasil. Marketing melhor, impossível.