Brás ilidade

Por Paulo A Accorsi de Godoy | 11/05/2017 | Adm

Resumo

O bairro do Brás embora esteja muito próximo à área central de São Paulo, é considerado como um local distante na percepção de significativa parcela de consumidores com um poder aquisitivo mais elevado.

E provável que outras percepções do bairro o relacionem com uma estrutura urbana precária e comércio de produtos com menor qualidade ou de procedência incerta.

Essas sensações fortalecem-se com os relativamente freqüentes encontros de acontecimentos de caráter reivindicatório e em oposição às normas sociais, divulgados e comentados pela mídia

As regras e os limites são continuamente testados nesse espaço no qual sobressai uma intensa e heterogênea movimentação de pessoas. No Brás há um fluxo constante de

indivíduos com as mais distintas aspirações, identidades, ocupações, renda e autenticidade cultural.

Os valores e expectativas dessa população, um pouco da história e tradição ainda conservados e presentes no cotidiano além de opções de lazer, cultura e entretenimento, definem um cenário mais propício para o Brás.

Nesse conjunto há o aprimoramento do varejo da região e em especial do setor de produtos e serviços relacionados com a moda.

Para um bairro com tantos contrastes e acentuada mobilidade cultural é esboçada uma oportuna e restrita estratégia de marketing para algumas empresas do setor de m

Introdução

A compreensão de culturas, identidades, tradições e expectativas complementam ou até mesmo embasam estratégias empresariais e de marketing. Nessa perspectiva, um inicialmente pequeno número de varejistas que comercializam a ampla variedade de artigos da “industria da moda” na região polarizada pelo Brás, podem desenvolver a estratégia de marketing ora delineada. Os envolvidos em sua implementação devem ter competências para avaliar aspectos relevantes de culturas em uma ótica empresarial. Alguns dos objetivos são no sentido de estimular novos deslocamentos e permanência, bem como impulsionar a predisposição a conhecer e adquirir bons produtos e seus significados e encorajar retornos de segmentos específicos de clientes. A estratégia de marketing Será colocada em prática incluindo matérias constitutivas do marketing cultural, sendo bastante centrada na brasilidade.

O fluxo econômico da cultura

A abrangência e expressividade do comércio tradicional no Brás tendem a assegurar uma boa lucratividade aos varejistas.

Na fase introdutória, a estratégia esboçada pode enquadrar-se nos projetos de um segmento de varejistas no Brás, pelas mais diferentes motivações de ordem econômica, relacionadas a concorrência, adequação administrativa, responsabilidade social ou por distintas necessidades empresariais.

O êxito de iniciativas semelhantes, o desenvolvimento de bairros e regiões próximas ao Brás, a contínua necessidade de aprimorar estratégias empresariais e de marketing, a responsabilidade social de contribuir em projetos coletivos e as iniciativas da administração municipal sugerem o acerto de buscar o acréscimo de novos e distintos segmentos de publico consumidor para o varejo da região.

Conceitos, técnicas e recursos do marketing cultural e/ou da “visão de fluxo econômico da cultura” são alguns dos instrumentos válidos para implementar a estratégia mercadológica

Segundo Ana Carla Fonseca Reis em entrevista à Revista E, os produtos e serviços

“culturais engendram dois fluxos paralelos: um econômico (referente ao que é produzido, distribuído e consumido) e um simbólico (que diz respeito à transmissão de valores. mensagens, símbolos de uma Sociedade), aspectos que seguem paralelamente e em harmonia”.

Em seu livro “Economia da Cultura e Desenvolvimento Sustentável - O Caleidoscópio da Cultura”, propõe-se “a discutir como uma estratégia baseada em produtos e serviços culturais pode conduzir ao desenvolvimento sócio-econômico”. 

A preocupação com a cultura é considerada no núcleo da estratégia. A vertente cultural será desenvolvida a partir de ações que incluam a valorização da brasilidade.

A brasilidade é definida como a propriedade distintiva do brasileiro e do Brasil; no amor pelo Brasil ou naquilo que distingue o Brasil ou seu povo.

Com a estratégia buscar-se-á uma brasilidade atual, atenta, globalizada e consciente da diversidade. Valorizara o que é nacional, sem apegar-se a clichês, inspirando-se na cultura brasileira, com suas cores, exuberância, beleza e elegância. Ao observar, absorver e processar facetas do modo de ser brasileiro procurará como um dos resultados, infundir uma visão mais exclusiva dos artigos e conceitos comercializados por um dado segmento de varejistas na região do Brás.

Na primeira fase o planejamento e as ações dessa estratégia de marketing enfocarão, dentro do conceito de brasilidade, a contínua e renovada contribuição cultural do Nordeste, reconhecidamente produtiva, fecunda e significativa. Valorizara a intensa e rica confluência dessa cultura em São Paulo.

Ao desenvolvimento da estratégia inspirada na cultura, costumes e produção do Nordeste se incorporarão outros esforços de marketing para estimular a vinda, permanência e retorno de um novo publico consumidor procedente de outras regiões.

O perfil geral desse novo consumidor traduz-se em seu melhor poder aquisitivo, inclinação a adquirir também artigos diferenciados, além de interessar-se mais intensamente por temas da cultura brasileira.

Outras recomendações e atividades complementares serão implementadas com o adequado e ético emprego de técnicas do marketing cultural

Será gradativamente elaborado para implantação no médio/longo prazo, um segmento da estratégia de marketing focado no próprio bairro. A história do Brás, em face da forte presença da região já nas fases iniciais da industrialização de São Paulo facilitará ações de marketing cultural.

A estratégia ora proposta apresenta um bom grau de viabilidade. Pode ser entendida também como mais um esforço para tornar a região não apenas melhor conhecida, mas também valorizada a compradores habituais e consumidores em potencial.

Um perfil do bairro.

A realidade do bairro com suas deficiências, desigualdades e conflitos, constitui um tópico importante na estratégia de marketing.

A região do Brás poderia ser considerada como tendo uma estrutura satisfatória para favorecer a vinda, permanência e retorno de segmentos na forma cogitada nesse estudo. 

Entretanto, o Brás é um bairro no qual são registrados diversos conflitos; um dos diversos exemplos é relatado no Jornal da Tarde 01 08 07:-

Por ocasião das manifestações de 31 07 2007 nas ruas do Brás, o presidente do SindcispSindicato dos Camelôs Independentes de São Paulo, afirmou que “a cidade esta bonita às custas da miséria dos menos favorecidos”.

A reportagem discute vários ângulos da manifestação e um destaque desse jornal assinala“Manifestantes usaram tochas e bombas caseiras”.

O comentário do dirigente e a ênfase sugerida em um certo grau de violência traduzem parte do clima emocional que tende permear e influenciarrelações no bairro.

A reportagem é representativa da dimensão das tensões que perduram há tempos no Brás.Nicolau Sevcenko em um contexto lembrou que “o bairro sempre foi um foco de tensão social, sempre foi um foco de confrontação política, uma fronteira de atrito com a autoridade estabelecida na cidade”.

Gradativamente, nesse cenário turbulento diversas lojas de varejo do Brás estão se direcionando para atender inclusive à um publico que mais exige sem, contudo, descuidarse do cliente tradicional.

E nesse ambiente com avanços, oportunidades de negócio e consideráveis problemas, que se procura introduzir e desenvolver essa estratégia de marketing.

A satisfatória estrutura de apoio na região compreende restaurantes tradicionais -Castelões e Presidente-, a Cantina Gigio e O Lavrador, espaços de cultura, Memorial do Imigrante, festas populares e religiosas, unidades de ensino técnico superior voltadas ao ensino da moda e do vestuário, quadros de profissionais capacitados, o Brás Moda, shoppings em edifícios com interesse historico/cultural, entre outros.

O êxito dessa e de outras estratégias empresariais e de marketing. poderá acarretar maiores empenhos para que alguns galpões próximos às vias férreas, com adaptações, sejam cogitados para funcionarem como núcleos culturais, de artesanato, de exposições, ateliês e Centros de Tradição Nordestinas. Em uma perspectiva mais otimista, os êxitos mesmo que parciais decorrentes da estratégia de marketing podem incentivar a realização de restaurações, melhorias no acesso aos prédios e identificação do seu valor como patrimônio cultural. Os benefícios para o bairro, auto-estima da população e desenvolvimento dos negócios seriam proveitosos.

Experiéncias anteriores

Houve iniciativas empresariais, em suas essências estruturadas na compreensão e hábil interferência em processos culturais. 

O conhecimento da motivação, fundamentos e principais distinções desses empreendimentos permitem melhor estimar resultados na estratégia ora sugerida para alguns varejistas do Brás.

Um primeiro caso apóia-se no relato de Gilberto Dimenstein na Folha de São Paulo de 25 10 06.

Do texto do jornalista pode-se inferir a validade de projetos de marketing, envolvendo inclusive deslocamentos seletivos de pessoas e o apelo de locais e eventos específicos, dois pontos importantes da estratégia endereçada à varejistas da região do Brás.

Dimenstein trata dos resultados da eficaz percepção de Cacá Ribeiro ao ser convidado a associar-se na abertura de uma casa noturna. Sua vivência tanto nas “sofisticadas casas noturnas da Vila Olímpia e do Itaim”, como o conhecimento seguro da relativamente degradada região central de São Paulo, levaram-no a apostar no sucesso do novo empreendimento, localizando-o nesse mesmo centro da cidade com estrutura fisica e social comprometidas.

O articulista relata o bom movimento de pessoas dirigindo-se dos Jardins para o então recém inaugurado bar-clube Royal, atraídas também pelos apelos do velho centro paulista

Esse Sucesso contrariou algumas expectativas pessimistas em torno da viabilidade de sua aposta em fazer com que os freqüentadores transitassem de áreas nobres para a região central de São Paulo.

Os comentários sobre o Royal no encarte de turismo do Jornal da Tarde são bastante elucidativos quanto a estrutura e proposta do estabelecimento:

“Royal

Aberto na galeria Zarvos, que já abrigou os outrora finos restaurantes Bistrô e Paddock, devolve certo glamour ao local. Tem como mérito maior fazer gente abonada “conhecer o centro da cidade em que vive, ao menos que seja para dançar ao som de hip-hop e house. " (grifos da transcrição).

Gilberto Dimenstein faz breves considerações sobre outros empreendimentos com trajetórias elogiadas na região central de São Paulo, invariavelmente incluindo iniciativas de levar um tipo mais requintado de freqüentador à ambientes distintos de seus cotidianos.

A análise, comparações e projeções desse caso são particularmente úteis aos varejistas do Brás que adotarem a estratégia de marketing.

A abertura do Royal deu-se na parte da região central de São Paulo com um traçado urbano relativamente funcional e arborizado. Diversos prédios próximos formam um distinto e agradável conjunto arquitetônico Há equipamentos urbanos, teatros, além de diversos pontos tradicionais e eventos, invariavelmente referenciados na mídia paulistana. 

Alguns desses espaços públicos bem próximos ao empreendimento, conforme reportagem da revista E de março de 2007, foram revitalizados por associações de bairros, ONGs e cidadãos comprometidos com a melhoria de áreas urbanas.

Em decorrência dessas iniciativas, houve a reforma do Obelisco, na Ladeira da Memória, o monumento mais antigo de São Paulo e mudanças significativas na Praça Roosevelt. O ambiente é mais apropriado do que o Brás para receber consumidores de maior poder aquisitivo

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