Bombas, balas e beijos...
Por Edson Terto da Silva | 21/11/2012 | Crônicas
Em tempo em que ligamos a TV ou conectamos a Internet e continuamos a deparar com chuvas de bombas na terra em que Jesus nasceu ou com cena de seres humanos exterminados a tiros como se fossem baratas (isso aqui mesmo no Brasil, diante de câmeras de segurança) nos perguntamos pra onde caminhou a humanidade?
Talvez por isso e ao ouvir a música “Beijoqueiro”, dos gaúchos Kleiton e Kledir, me bateu saudade do seu José Alves, 72 anos, português que veio para o Brasil aos 17 anos, radicou-se no Rio e passou a ter problemas psiquiátricos, a partir de 66, ao ser agredido na cabeça por um assaltante.
Alves foi comerciante, taxista e empresário de futebol, mas ganhou notoriedade a partir dos anos 80 ao começar a cometer inocentes “atentados”, beijando rostos de celebridades da música, do esporte e da política, o que lhe deu fama e apelido de “Beijoqueiro”. Sua primeira “vítima” foi cantor norteamericano Frank Sinatra, que se apresentava no estádio Maracanã, em 26 de janeiro de 80.
Alves tinha feito uma aposta com amigos, cumpriu e não parou mais de se aventurar na caça aos famosos. Entre suas “vítimas” famosas estão os cantores Roberto Carlos, Tony Bennett ; o ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio Leonel Brizola; a ex-primeira dama brasileira Sarah Kubitschek; e os jogadores de futebol Roberto Dinamite, Garrincha, Falcão e Zico. Aliás, ao beijar Zico, Alves foi espancado por policiais e acabou preso.
A “fama” lhe trouxe problemas. Foi demitido do emprego de taxista, supostamente porque passageiros temiam ser “atacados” aos beijos. A mulher o deixou por suspeitar de homossexualismo. Já os louros da fama renderam um documentário, em 92, no qual o cineasta Carlos Nader o chamou de Serial Kisser. Ao liberar Alves da prisão após o beijo em Zico, o juiz Mayrino da Costa fez declaração que mostrou sensibilidade impar: "Beijar não é crime. Quem dera se todos os deliquentes do Brasil trocassem suas armas por beijos".
Ainda em 80, Alves virou caso de segurança nacional, pois o Papa João Paulo II viria ao Brasil. Ele chegou ser detido preventivamente no Rio, mas não desistiu seguiu o roteiro do santo padre até conseguir beijar-lhe 17 vezes nos pés, em Manaus. Nos anos 2000, talvez intimidado por seriais que dão tiros e não beijos, Alves anda sumido. Em 2007, beijou a atriz Dercy Gonçalves, que completava 100 anos; beijou a jogadora de basquete Janeth, que se despedia da carreira nos jogos Panamericanos Rio. Sua última aparição, em 2009, dava conta que tentaria beijar o presidente norteamericano Barack Obama, no Rio. Se a tentativa deu certo não ganhou publicidade. É, infelizmente, valorizam mais bombas e balas do que beijos solitários de nosso Serial Kisser importado de Portugal.