Bens terrenos
Por Silvio Dutra | 05/09/2012 | Bíblia“13 Disse-lhe alguém dentre a multidão: Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança.
14 Mas ele lhe respondeu: Homem, quem me constituiu a mim juiz ou repartidor entre vós?
15 E disse ao povo: Acautelai-vos e guardai-vos de toda espécie de cobiça; porque a vida do homem não consiste na abundância das coisas que possui.” (Lc 12.13-15)
Nosso Senhor Jesus Cristo é o Criador de tudo quanto há no céu e na terra, juntamente com Deus Pai e o Espírito Santo. Tudo foi criado por Ele, por meio dEle e para Ele.
Todavia, nos deu o exemplo em Seu ministério terreno, que o propósito da vida não está em acumular bens e manter a posse de tais bens.
Não somente por causa do argumento lógico de que tudo o que faz parte da criação material e visível passará um dia, em razão da destruição de todas as coisas pelo fogo do juízo de Deus, para a criação de um novo céu e de uma nova terra.
O que está em foco nas palavras de nosso Senhor no texto de Lc 12.13-15, não se trata, conforme muitos costumam entender, de um ensino de despojamento de bens materiais, ou seja, de não termos a posse de qualquer bem terreno.
O grande ensino é o de que o valor que daremos à vida, e que o próprio Deus dará à nossa vida não consiste no critério do quanto temos ajuntado de bens terrenos.
O que está em foco é que o nosso coração deve estar concentrado nas coisas celestiais e não nas que são terrenas. Naquilo que é eterno e não nas coisas que são passageiras e que não podem alimentar o nosso espírito.
Teremos bens, mas a nossa satisfação não será decorrente do fato de possuí-los, caso seja o Senhor e o seu céu o grande tesouro pelo qual anseia o nosso coração.
Na verdade, há muito enfado e canseira em adquirir bens e mantê-los.
Nosso Senhor, enquanto neste mundo, não teve em sua posse sequer um cavalo para fazer os Seus muitos deslocamentos.
Quantos, em nossos dias, pensam que o grande objetivo da vida é o de estar na posse de todo novo modelo de carro que for fabricado.
E ficam insatisfeitos se não podem queimar muita gasolina se deslocando para tantos lugares, sem um objetivo definido de vida que esteja relacionado à vontade de Deus.
Deus nos deu um corpo físico e um mundo material para nele vivermos, enquanto aguardamos a vida no espírito no céu, para que aprendêssemos a ser econômicos, responsáveis, generosos, cuidadosos, no uso que fazemos de todas as coisas que Ele colocou à nossa disposição.
Mas nunca foi do intento de Deus que ficássemos dominados por qualquer coisa desta criação, conforme podemos aprender das palavras do apóstolo Paulo em I Cor 6.12:
“Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas; mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas.” (I Cor 6.12)
Assim, somente é verdadeiramente feliz e contente a pessoa que aprendeu a não se deixar dominar por qualquer bem terreno. Que não vive para acumular tesouros. Que está satisfeita somente com os bens necessários à manutenção da vida, e sobretudo para a realização do ministério que recebeu da parte de Deus.
Tal pessoa não ficará abatida por causa de danos e perdas materiais. Ao contrário, terá prazer em se despojar de muitos bens para atender às necessidades do seu próximo.
Olhe para a vida de nosso Senhor Jesus Cristo e dos Seus apóstolos, enquanto viviam neste mundo. Eles sabiam que o grande alvo não é ter, mas ser, sobretudo aquilo que Deus espera que sejamos.
O homem cujo coração está no tesouro celestial e não no terreno, é na verdade um homem livre. Ele não é escravo de qualquer bem terreno. Nenhuma coisa deste mundo terá domínio sobre a sua vontade, porque ela é guiada pela vontade de Deus, e não por qualquer paixão terrena de sua alma.
Assim, estará, tal como o apóstolo Paulo, contente em toda e qualquer situação, conforme este se expressa no texto de Fp 4.11,12:
“11 Não digo isto por causa de necessidade, porque já aprendi a contentar-me com as circunstâncias em que me encontre.
12 Sei passar falta, e sei também ter abundância; em toda maneira e em todas as coisas estou experimentado, tanto em ter fartura, como em passar fome; tanto em ter abundância, como em padecer necessidade.” (Fp 4.11,12)
Nunca é demais lembrar que a escravidão ao dinheiro e a tudo que ele pode comprar, nos torna imprestáveis para o serviço de Deus, porque não se pode amar a dois senhores, conforme nos ensinou nosso Senhor Jesus Cristo:
“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de dedicar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.” (Mt 6.24)
Um coração apegado aos bens terrenos e uma mente cujo objetivo é o de juntar bens na terra, não pode estar disponível para o serviço de Deus, porque tais bens serão o senhor de sua vontade.
Portanto, nada adianta vender nossos bens e dá-los aos pobres, caso o nosso coração esteja ainda apegado ao desejo de viver para adquirir e juntar tais bens terrenos.
O problema não está no fato de termos ou não bens e dinheiro, mas em amar tais bens e o dinheiro, porque é nisto que consiste a raiz do mal: no amor que nos prende às coisas deste mundo, e que nos impede de nos prendermos exclusivamente a Deus.
É o Senhor que deve ser amado e servido, quanto aos interesses do Seu reino e da Sua justiça, e os bens que necessitarmos nos serão acrescentados por Ele para a nossa subsistência.
Todavia, é somente com o tempo de comunhão com Deus, que aprendemos finalmente, tal como aprendera o apóstolo, que não são tais bens a razão da nossa alegria, mas o próprio Senhor, em razão do modo como caminhamos neste mundo vivendo para agradá-lO em tudo.
Assim, tragamos sempre em mente as seguintes palavras do apóstolo:
“7 Porque nada trouxemos para este mundo, e nada podemos daqui levar;
8 tendo, porém, alimento e vestuário, estejamos com isso contentes.
9 Mas os que querem tornar-se ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na perdição.
10 Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.” (I Tim 6.7-10)
Pr Silvio Dutra