Bem Mais Do Que Parece

Por Armando Correa de Siqueira Neto | 03/07/2006 | Crescimento

Em nossa infância andávamos em bicicletas de vários tamanhos, inclusive as grandes. Eram bem maiores do que nós. No entanto, era o desafio que nos atraia àquela tentativa. A prova era de fogo, mas a gente conseguia. A sensação era de que podíamos tudo nesta vida. Nada poderia nos deter na trajetória de nossos corajosos passos. Pulávamos muros três vezes maiores do que a nossa altura. Subíamos em arvores fáceis e difíceis. Andávamos por tempo indeterminado e em direções desconhecidas. Éramos verdadeiros exploradores de tudo. Caminhávamos sob sol e chuva e sorriamos por estas e outras tolas razões. Olhávamos estupefatos os horizontes de nossa cidade por cima de telhados, muitas vezes de vizinhos e até de gente que sequer conhecíamos. Tínhamos apelidos que nos caracterizavam pelo tipo físico e pelo comportamento: gordo, magro, capitão, nenê, louco etc. Era uma marca registrada e a defendíamos com unhas e dentes. Pouco medo e muita ousadia. Coisas típicas da meninice.

Crescemos. Nos tornamos pensadores e cheios de regras para a existência de um adequado convívio social. Nos controlamos para não impressionar negativamente os outros. Medimos os atos regularmente. Temos medo de arriscar para não passar vergonha. Na hora de aprender nas salas de aula, nos calamos para não pagar mico. No trabalho, idéias ficam guardadas e perdem o seu valor prático porque não as expomos, com receio de sermos ridicularizados, afinal, porque uma boa solução ou sugestão criativa nasceria em nós? Elas normalmente brotam de especialistas no assunto. Puxamos o freio de mão pessoal e quando aceleramos, avançamos até a segunda marcha. Temos motor de sobra, contudo, ele não é experimentado. Não como anteriormente, na infância.

É uma questão de cabeça. A maneira como pensamos e cremos sobre a forma de viver define a velocidade e o limite da estrada da própria vida. Pouco nos arriscamos em fazer mediante coisas maiores do que nós. Novos cargos e empregos. Novas amizades, independentemente de serem tão diferentes do que estamos acostumados. Viagens distantes. Parcerias. Ações sociais e humanitárias. A bicicleta é grande, então, desistimos. Nos frustramos e impedimos o crescimento da auto-estima e das capacidades existentes. Ficamos chatos e reduzidos à bem menos do que podemos. Estabelecemos a nós mesmos pouca esperança com relação ao desenvolvimento. E assim o fazemos por causa da mentalidade que criamos a respeito da vida adulta. Nela, devemos permanecer mansos e repetitivos. Pouca ação e bastante rotina. Não optamos pelo equilíbrio, decidimos extremar e assim sendo, comprometemos em boa dose o restante de vida e evolução a que temos direito.

Repense sobre cada coisa boa que o fez se sentir melhor durante o tempo em que arriscava e pagava com orgulho o preço dos erros e se vangloriava pelo sucesso. Ser adulto não impede que sejamos ousados e exploradores de novas situações e sejamos recompensados por resultados inéditos. Consideremos ainda que os nossos filhos observam a nossa maneira de viver. Servimos de exemplo e os influenciamos em seu futuro. A vida oferece bem mais do que parece ser.