Beleza versus juventude… ou para sempre?

Por Custódio Grenho | 21/02/2018 | Educação

Aos jovens, anima-os a pujante e louca irreverência da juventude de que só eles fazem apanágio. Contudo é igualmente efémera a sua duração, como um vento de Outono que em breves momentos tudo arrasta numa nuvem de destroços extinguindo-se de imediato como se nunca tivesse existido.

Breves e fúteis são as inconstâncias da juventude, sempre marcadas pela inevitável pressa de viver, como se o tempo que se escoa fosse parar de fluir a qualquer momento. Pois tudo o que é bom dura pouco.

Mas se alguma vez estivemos perto de ser felizes, foi certamente nesse período conturbado das nossas vidas em que éramos irreverentes, irresponsáveis, e despreocupados.

…Então, ainda bem que o fomos.

Dizemos hoje, depois dela ter passado, que a juventude é um estado de espírito… e que enquanto jovens a vivemos intensamente, sempre no limite e que agora... é ela que vive intensamente em nós.

É o que nos resta. Cada um diz o que quer, contudo, por muito bonitas que sejam as palavras que utilizemos, em nada contribuirão para mudar a verdade. Ela existe por si só, intrínseca e incólume, sem dó nem piedade e cumpre-se impávida e serenamente perante o desenrolar dos acontecimentos.

Com sorte, podemos até convencer quem nos ouve. Mas, no fundo perguntamos… - E agora…quem é que nos convence a nós?

Ninguém.

De pouco ou nada nos valerá fingir. Os anos passaram, deixaram as suas marcas; Aquelas que vemos nos outros e que tanto insistem em se mostrar quando nos vemos ao espelho.

Nos nossos corpos transformados pelo passar do tempo ficaram indelevelmente as cicatrizes do que fomos sendo, do que vivemos.

...Mas se tivemos sorte. Se fomos bem-sucedidos, então em qualquer altura das nossas vidas também nós deixámos nele as nossas marcas como pagamento pela transfiguração que sofremos.

Então, não se esqueça:

Da próxima vez que se olhar ao espelho lembre-se que o seu corpo é como uma paisagem, uma vasta planície atravessada por rios de águas cristalinas, verde, florida e abundante de vida, mas com o tempo os caudais desses rios irão diminuindo até ficarem resumidos a finos fios sobre a paisagem e acabarão por secar, inevitavelmente deixarão de correr… o verde e as flores circundantes darão lugar ao pasto, a água desaparecerá da paisagem e o leito do rio tornar-se-á lamacento, depois a própria lama secará também, como se isso não bastasse a seguir greta abrindo fissuras profundas separando-se em placas como se fossem escamas dispostas lado a lado.

Da água? Nem sinal. Mas sabemos que grande parte dela se infiltrou no solo, que continua lá, que não o abandonou. Preservou-se no seu interior para poder continuar a nutri-lo. Apenas se retirou da nossa vista dando-nos a ilusão de se ter sumido.

Da mesma forma acontece quando nos vemos ao espelho. A primeira coisa que nos vem à mente é que a beleza que tínhamos antes desapareceu, se evaporou. Mas não é bem assim, lembre-se do que acontece na paisagem quando o rio deixa de correr. Quando a água deixa de ser visível e se infiltra no leito arenoso deixando visíveis apenas por testemunho da sua permanência sulcos profundos na paisagem.

O mesmo acontece com a beleza que em tempos emanava dos nossos corpos.

Na paisagem… da água, restam apenas as fissuras talhadas na lama seca no leito pedregoso do rio. Nos nossos corpos existem as marcas equivalentes, aquelas a que vulgarmente chamamos rugas, elas não são nem mais nem menos que os sinais deixados no processo de interiorização da beleza que tínhamos à superfície e que também migrou, interiorizou-se, recolheu-se no interior para se preservar e continuar a nutri-los. Não pense nunca que nos abandonou.

A verdadeira beleza está dentro de cada um de nós, no interior dos nossos corações, ou se for mais espiritual na profundeza das nossas almas. É ai que deve ser procurada e não nos traços físicos que o tempo imprime nos nossos corpos, isso é apenas o nosso aspeto, o que parecemos, mas não o que verdadeiramente somos.

A nossa verdadeira natureza não é visível aos olhos. Esses apenas podem ver o invólucro… a embalagem.

Confundir o aspeto físico com a beleza é confundir o ser com a aparência.

A verdadeira beleza está fora do tempo, é por isso intemporal e não desaparece com a alteração do aspeto.

Ela permanece no ser que se modifica.

Por isso, dou-lhe um conselho; Se é beleza que procura não precisa de se olhar ao espelho, em vez disso feche os olhos e deixa o coração procurá-la.

…Ele saberá como fazê-lo.