Banda Municipal de Uruará : um levantamento histórico sobre a formação de Músicos na Transamazônica
Por Lucas Correia Lima | 22/10/2010 | ArteMÚSICA
3.4.1 FAMÍLIA LAZARINI
Os primeiros movimentos musicais de Uruará começaram com a chegada da família Lazarini, em busca de terras e uma nova vida, com eles, trouxeram seus conhecimentos musicais com instrumentos de sopro. Vindos da cidade de Tupi Paulista e Dracena São Paulo, o primeiro da família a chegar ao Km 180 da rodovia Transamazônica (Uruará) foi Antonio Lazarini trazido pelos aviões do INCRA em 1972.
No entanto é desde São Paulo que se pode reconhecer a herança musical da família, pois no mesmo estado o envolvimento com a música começou com Sr. José Lazarini patriarca da família, quando tocava tuba em uma banda da cidade de Dracena, morou nesta cidade uns 05 anos enquanto trabalhava como servente de pedreiro na construção da Igreja Matriz existente até os dias de hoje. Ao se mudarem para o interior do município o Sr. José Lazarini pára suas atividades musicais porque no local não havia nenhuma banda de música.
Já na cidade de Tabajarinha em 1969 o Sr. José Lazarini coloca seus filhos (Porfírio, Zé Mario e Luis Lazarini) para aprenderem música com um Professor chamado Seu Nelson que morava a 03 km da cidade na localidade de Dracena. O ensino de teoria musical era realizado a partir do conhecido Bonna. As aulas eram duas vezes por semana, e após o estudo de toda a parte teórica a partir do Bonna era feita então a distribuição dos instrumentos para cada aluno que deveria integrar a banda da localidade. Na banda de Dracena permaneceram quase 05 anos.
Quando Antonio, filho do Sr. José Lazarini veio ao Km 180 da Rodovia Transamazônica levou a expectativa de mudança da família influenciada pelo Programa do Governo Federal. Dizia ele, que a região era boa e que a família poderia adquirir terras para plantar.
O entusiasmo de vir ao Pará era medido de acordo com a vontade da família de possuir sua própria terra, sendo que a família Lazarini era estritamente agricultora, meeiros de café. A prática comum nesse tipo de emprego era que trabalhavam em uma lavoura de café e no final da colheita entregavam a metade da colheita para o dono da plantação e a metade ficava com eles. Quando acabou a ultima colheita no dia 23 de outubro de 1973 a família alugou um caminhão e embarcou rumo ao norte do Brasil, pela BR 010 (Belém ? Brasília), a qual ainda não era asfaltada, foram 07 dias de viagem.
Na bagagem que veio para o Pará também trouxeram seus instrumentos musicais e equipamentos entre eles: alto falantes e microfones. No entanto como na região do Km 180, não havia energia elétrica e ao redor apenas a mata virgem, para fazer os ensaios tiveram que comprar um motor e um gerador para usarem os equipamentos.
Essa foi uma das dificuldades que tiveram que enfrentar logo na chegada a região, sem televisão, telefone, e com problemas de locomoção porque a estrada era de terra e com as chuvas freqüentes havia muitos atoleiros. O local mais próximo para comprar alimentos era em Altamira que fica a 200 km do município, muitas vezes apesar de terem dinheiro não tinham como comprar mantimentos, o que ajudou foram os animais trazidos de São Paulo, que eram trocados por mantimentos com os vizinhos que moravam a uns 5 km de distância.
Foto 2. Atoleiro na Rodovia Transamazônica Km 180
Fonte: arquivo pessoal
Apesar das dificuldades, a vontade de continuar com a prática de música não havia acabado e já no ano de 1973 a convite de funcionários do INCRA são chamados à tocar nas festas e datas comemorativas que tinha na região. Com a qualidade que vinham demonstrando em suas apresentações, eles foram chamados para tocar os carnavais em Altamira.
Além de tocarem em festas de carnavais poderia se atribuir aos músicos a função de tocarem nas comemorações da semana da Pátria acompanhado os alunos. Como relata o Sr. Porfírio Lazarini no ano de 1974, tendo Antonio Lazarini como condutor foram executados os seguintes dobrados: Cisne Branco, Dois Corações, Canção do Exército entre outros. O local era no Km 170 as margens da Rodovia Transamazônica onde não havia casas nem comércios somente caminhões que passavam deixando rastro de poeira na estrada. O público presente era composto por pais dos alunos que vinham dos seus lotes para a Rodovia para prestigiar seus filhos na comemoração da independência do Brasil.
Os desfiles no dia 07 de setembro se tornaram um compromisso que a cada ano se repetia até 1979. A herança da família Lazarini se mantém presente até os dias de hoje como se pode observar no registro abaixo:
Com o passar dos anos os irmãos Lazarini seguiram profissões diferentes. Dentre as quais se destaca o serviço público na ocupação do cargo de prefeito, o qual, Antonio Lazarini ocupou após a emancipação do km 180. Este foi o primeiro prefeito do já existente município de Uruará no ano de 1989.
Segundo Porfírio Lazarini, a última vez que tocaram foi em um dos carnavais dos anos 80.
O ultimo ano que nós tocamos carnaval foi no "Três Estrelas" (salão de festas de Uruará) não lembro o ano, inclusive, esse ano foi pra se acabar às coisas, porque nós já não estávamos mais bons de embocadura e cansamos rápido, ai, agente desceu do palco e decidimos não voltar mais, deixamos os instrumentos todos lá, depois de alguns dias, quando fui procurar pelos instrumentos já não estavam mais lá tinha "sumido", a partir daí não tocamos mais. (Porfírio Lazarini, Anexo -)
A experiência musical vivida pelos irmãos Lazarini nas décadas de 70 e 80 foi fundamental para a implantação de uma Banda de Música no Município, pois foi em seu segundo mandato, em 1997, que Antonio Lazarini junto com a Secretária de Educação na época Elvira Comerlato, tiveram a iniciativa de tornar realidade a implantação. O então Prefeito desejava montar uma banda aos moldes da que seu pai, Sr. José Lazarini participava em Dracena ? SP, ou seja, um centro de convivência musical em que jovens exercitariam seusestudos musicais por meio de instrumentos de sopro o que poderia ajudar também no desenvolvimento do município.
A primeira iniciativa foi fazer um convênio com a Fundação Carlos Gomes de Belém do Pará, que ofereceu instrumentos e indicou o Professor Flávio Jardilino para ministrar as primeiras aulas de música no município de Uruará.
4. A BANDA MUNICIPAL DIEGO COTES DE MORAES
4.1 A INSTITUIÇÃO
SALLES (1985) afirma que a maioria dos conservatórios tradicionalmente, destina-se ao ensino do piano, do canto e do violino a banda de música, torna-se, a escola de música do povo. A principal prova disto é o período colonial, quando os Jesuítas utilizavam-se de pequenos grupos instrumentais, a fim de educar religiosamente os índios. Desses grupos surgiu a banda de música no modelo atual.
Em Uruará, como também não existia conservatório a experiência de educação musical por meio de banda de musica, surge com o Professor indicado pela Fundação Carlos Gomes, Flávio Jardilino, natural do Ceará, que ministrou as primeiras aulas de flauta e instrumentos de sopro. No ano de 1998 os alunos das escolas regulares de Uruará foram convidados para aulas de música com iniciação em flauta doce. Como no município ainda não havia um espaço para essas aulas, as primeiras foram ministradas no Instituto Educacional de Uruará e depois na Escola Melvin Jones. Essa turma de flauta doce tinha aproximadamente 20 alunos.
Com a chegada de instrumentos de sopro em 1999 a Secretaria Municipal de Educação (SEMEC) cedeu um espaço no seu próprio prédio para as primeiras aulas com os instrumentos recém chegados para criação da banda municipal. No ano de 2000, a prefeitura alugou um espaço destinado a funcionar os ensaios e novas turmas de musicalização por meio da flauta-doce.
O objetivo da musicalização era formar uma Banda "B" e os alunos que se destacassem nas aulas de flauta-doce tinham a chance de aprender a tocar um dos instrumentos que a banda possuía, para isso, no ano de 2001, no Governo do Prefeito Mario Lobo, alguns dos integrantes mais antigos da banda principal ganhavam uma bolsa para monitorar aulas nos instrumentos de sopro e até mesmo de flauta-doce. É no mesmo ano que no prédio que fora alugado para os ensaios da banda passou a funcionar como uma escola de música atendendo naquele ano quase 300 alunos.
Entre os novos alunos que faziam parte da Banda "B" estava o aluno de trompete Diego Cotes de Moraes irmão do trompetista da Banda principal David Cotes de Moraes. Aos 13 anos de idade em um trágico acidente Diego Cotes perde a vida.
O impacto de sua morte provocou distinta homenagem do município que instituiu por meio da Lei n. 3003\2003 o nome da Escola de Música e Banda Municipal: Escola Municipal de Música Diego Cotes de Moraes e Banda Municipal de Uruará Diego Cotes de Moraes.