Back2Black é um trocadilho de "back to black" (volta ao negro).
Por Félix Maier | 03/09/2009 | SociedadeO Back2Black Festival ocorreu de 28 a 30 de agosto de 2009, no Rio de Janeiro, com a presença da ativista política moçambicana Graça Machel, esposa de Mandela, do músico senegalês Youssou N'Dour, da economista zambiana Dambisa Moyo, do escritor e pintor sul-africano Breyten Breytenbach, considerado um dos nomes mais fortes de resistência ao Apartheid, do cineasta sul-africano Gavin Hood que produziu o filme Tsotsi, do escritor angolano José Eduardo Agualusa e do humanista popstar Bob Geldof.
Na parte musical, o B2B
teve artistas de nome nacional como Marisa Monte, Ed Mota, Gilberto
Gil, Dona Ivone Lara, Luiz Melodia.
É ótimo que ocorram eventos dessa natureza, para a preservação da rica e
multicolorida cultura negra oriunda da África. No entanto...
No entanto, não é só de cultura negra que vive a África. Esta, predomina
apenas abaixo da região sub-saariana. Todo o Norte da África - região do
Magrebe, da Líbia e do Egito - não é negro, mas pardo, composto principalmente
por árabes.
Claro, quando se fala da África, a primeira ideia que nos vem à mente é de que
se trata do "continente negro", especialmente por ter o Brasil se
servido de escravos negros oriundos de lá, durante o Império.
Mas, o que significa back to black, a volta ao negro? Significa que os
promotores do evento passam a ideia erronea de que a humanidade teve origem na
África negra, de que o primeiro homem, ou melhor, de que a primeira Eva
("Lucy"?), foi uma mulher negra. Se isso fosse
realmente verdade, Beethoven seria negro, Einstein seria negro e até
Pelé seria também negro. Por que, então, instituir o sistema de cotas racistas
nas universidades, se até um branquelo azedo, como eu, sou negro?
Muitos movimentos negros não passam de movimentos racistas disfarçados. Algumas
pessoas não tem o menor pudor em ostentar camisetas com os dizeres
"Orgulho da raça negra" ou "100% negro". No fundo, não
passam de 150% racistas!
O que se estranha é que os ditos grupos de "defesa de afrodescendentes" queiram
chamar de negra, p. ex., uma morena como Thaís Araújo ou Camila Pitanga. Elas
têm, digamos, uns 50% de sangue branco e outros 50% de sangue negro. São,
naturalmente, "morenas", não "negras", como muitos (racistas de cor?) querem
impor. Chamá-las de "negras" equivale a chamá-las também de "brancas", o que
efetivamente elas também não são. Nesse mesmo erro incorreu Paula Barreto,
branca, filha do produtor de cinema Luís Carlos Barreto, que se casou com o
jogador de futebol Cláudio Adão, e que não aceita a denominação do termo
"pardo": "Tenho horror a ele. É feio, preconceituoso. Meus filhos são negros e
são felizes" (in Racismo Cordial – A mais completa análise sobre
preconceito de cor no Brasil, Editora Ática, São Paulo, 1995. pg. 38). Pelo
visto, virou mesmo moda de muito "moreno-claro" se apresentar como "negro", só
para acompanhar a onda "politicamente correta" em voga. Colocar uma cor acima
da outra é racismo puro.
Por que chegamos a esta ridícula situação?
O (pouco) disfarçado racismo negro teve grande impulso com FHC, que na deliberação do Programa Nacional dos Direitos Humanos, criado em 1996, deu início à divisão do Brasil em um país bicolor: "Determinar ao IBGE a adoção do critério de se considerar os mulatos, os pardos e os pretos como integrantes do contingente de população negra". Assim, os negros mestiços, ainda que tenham 50% de sangue europeu, passam a ser tratadas como africanos puros, um absurdo! Com uma penada, FHC pretendeu acabar com uma instituição nacional, a "mulata".
"Com este jogo de conceitos, o censo, que apresentava 51,4% da população brasileira como sendo branca, 5,9% como negra e 42% como parda, com o advento da nova expressão fez com que a população negra passasse a constituir 47,9% dos brasileiros. Diante dos números aima, foi criado o slogan: 'No Brasil a pobreza tem cor, e ela é negra'. A causa da pobreza dos negros seria um 'racismo escondido'. O governo, em vez de combater a pobreza com os instrumentos clássicos de educação de qualidade, geração de emprego, fortalecimento da família e de valores morais, com amor ao trabalho e à poupança, vem criando uma série de programas de incitamento à revolta, resultando em invasões de propriedades e desrespeito às decisões judiciais" (Nelson Barretto, in A Revolução Quilombola, Artpress, São Paulo, 2007, pg. 11-12).
Quando uma pessoa morena abomina sua "branquelice", em favor de sua "negritude", apresentando-se orgulhosa como sendo da "raça negra", está provando que é uma pessoa que tem preconceito da "raça branca". Trata-se, apenas, de uma pessoa racista e ponto final. Segundo os últimos estudos do genoma humano, dois zulus podem ser mais diferentes entre si do que em relação a pessoas de outros povos, vizinhos ou não, inclusive nórdicos.
Assim, falar em "raça" é enaltecer algo já enterrado pela ciência moderna. Falar em "raça" não passa de coisa de racista. Hoje, de cor invertida. Back to black é isso.