Avaliação Tradicional ou Avaliação Mediadora qual o melhor processo para a aprendizagem do aluno

Por Luís Fabhiano Pires Padilha | 15/09/2012 | Educação

Apartir da Constituição e Lei de Diretrizes e Bases vigentes, teve início uma maior discussão sobre avaliação. Que métodos utilizar? Qual o processo mais adequado? Como o professor pode ajudar o aluno numa melhor compreensão e assimilação da matéria para que o mesmo não fique apenas na obtenção de nota ou conhecimento mínimo para ser aprovado?

 Desde as mais remotas épocas a avaliação utilizada sempre foi baseada em notas e provas, ou seja, aquela que fornece um resultado mensurável, o que dá aos pais e alunos maior segurança em termos de controle. Este sistema, segundo Hoffmann (2009) é vago, uma vez que apenas aponta falhas no processo de aprendizagem. Além de discriminar e selecionar, reforça a ideia de uma escola para poucos.

A nova LDB preceitua que os docentes devem incumbir-se de zelar pela aprendizagem dos alunos e também verificar o rendimento escolar, realizando uma avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos. Porém na prática não é o que acontece, pois a prevalência nas avaliações é exatamente inversa, ou seja, priorizando o quantitativo sobre o qualitativo.

Na avaliação tradicional a classificação do aluno acontece a partir do processo corretivo, ou seja, eliminando-se a subjetividade, evitando, assim, que se cometam injustiças na contagem de erros e acertos. Visto que, muitas vezes, avaliar é confundido com medir. Nessa concepção, de acordo com Paulo Freire (1987), o professor será sempre o que sabe, enquanto

que o aluno será sempre o que não sabe. Esta forma avalia a fração do conhecimento desvinculando aquilo que o aluno lembra sobre o que lhe foi transmitido, daquilo que ele pode fazer com o que aprendeu.

Avaliação Mediadora, de acordo com Jussara Hoffmann (2009), exige prestar muita atenção no aluno, conhecê-lo, ouvir seus argumentos, propor-lhe questões novas e desafiadoras, guiando-o por um caminho voltado à autonomia moral e intelectual, pois estamos vivendo um momento caracterizado por uma infinidade de fontes de informação. Nessa concepção a subjetividade na elaboração das perguntas é positiva, uma vez que, permite no momento da correção uma reflexão sobre as hipóteses construídas pelos alunos, pois de acordo com Daniela Marti Barros em sua entrevista à Educação em Revista (Abril/Maio 2012) “quanto maior a empatia entre professor e aluno, maior será o aprendizado”.

Para Cipriano Luckesi existem duas práticas completamente diferentes, a saber: examinar e avaliar. Para ele avaliar significa subsidiar a construção do melhor resultado possível e não pura e simplesmente aprovar ou reprovar alguma coisa. Os exames engessam a aprendizagem; a avaliação a constrói fluidamente. Trazendo para o contexto do texto os exames dizem respeito à avaliação tradicional e a avaliação diz respeito à avaliação mediadora.

Cipriano Luckesi assevera em entrevista concedida ao Jornal do Brasil que essa nova abordagem sobre a avaliação, nasceu da insatisfação com os tratamentos somente técnicos da avaliação tradicional e que a escola hoje não avalia a aprendizagem do aluno, mas sim, examina ainda dentro da modalidade jesuítico-comeniana. Sendo assim os exames são pontuais, classificatórios e seletivos ou excludentes, uma vez que, excluem grande parte dos alunos. E, complementa suas afirmações dizendo que o pecado da Escola, ao avaliar o aluno, é examiná-lo em vez de avaliá-lo.

Nesse sentido temos o auxílio da Neurociência que é a ciência que aborda como o cérebro aprende. E, de acordo com a reportagem “Toda a atenção para a Neurociência” da Revista Nova Escola (Junho/Julho 2012):

 

“aprender não é só memorizar informações. É preciso saber relacioná-las, resignificá-las e refletir sobre elas. É tarefa do professor, então, apresentar bons pontos de ancoragem, para que os conteúdos sejam aprendidos e fiquem na memória, e dar condições para que o aluno construa sentido sobre o que está vendo em sala de aula”. (Revista Nova Escola, p. 55, 2012)

 

Tanto Hoffmann (2009) como a Neurociência concordam que o aluno deve ser instigado, provocado, que deve ser ativo em sua aprendizagem e que cabe ao professor propor, orientar e oferecer condições para que o mesmo desenvolva suas potencialidades.

Ainda, levando em consideração o que nos ensina a Neurociência, a pesquisadora Fernanda Antoniolo Hammes de Carvalho em entrevista à Educação em Revista (Fevereiro/Março 2012) nos diz que: “diante de uma educação que tem como finalidade levar o aluno a construir conhecimento, é essencial a compreensão real do significado de cada processo, e aí a exploração dos estímulos sensoriais é importantíssima.” Dito isto, posso afirmar que a Neurociência é uma forte aliada do professor que trabalha com a concepção mediadora de avaliação, pois em ambas o aluno é o sujeito da atuação e o conhecimento efetivo o objetivo final.

 Fala-se muito em qualidade na educação, mas o que isso significa levando em consideração as concepções tradicional e mediadora de avaliação?

Conforme Hoffmann, esta questão é assim apresentada:

 

“Na concepção de avaliação classificatória, a qualidade se refere a padrões preestabelecidos, em bases comparativas: critérios de promoção (elitista, discriminatório), gabaritos de respostas às tarefas, padrões de comportamento ideal. Uma qualidade que se confunde com a quantidade, pelo sistema de médias, estatísticas, índices numéricos dessa qualidade. Contrariamente, qualidade, numa perspectiva mediadora de avaliação, significa desenvolvimento máximo possível, um permanente “vir a ser”, sem limites preestabelecidos, embora com objetivos claramente delineados, desencadeadores da ação educativa. Não se trata aqui, como muitos compreendem, de não delinearmos pontos de partida, mas, sim, de não delimitarmos ou padronizarmos pontos de chegada.” (2009, p. 31-32).

 

Isto evidencia que é importante levar em consideração todo o conhecimento que o aluno carrega consigo, aquele conhecimento não institucionalizado, e, porque não, partir desse conhecimento para se chegar ao conhecimento que queremos que aprendam? Outro ponto importante é não propor uma avaliação “fechada” que conduza às respostas “sim e não”, pois isso não avalia o que o aluno realmente assimilou. Deve-se sim, elaborar uma avaliação “aberta” que possibilite ao aluno refletir sobre sua resposta, o que conseqüentemente fará com que o professor também reflita sobre que conhecimentos o aluno assimilou e onde terá que reforçar esta assimilação.

Portanto, Hoffmann (2009) assevera que “a ação avaliativa mediadora se desenvolve em benefício do aluno e dá-se fundamentalmente pela proximidade entre quem educa e quem é educado”.

Mas, do que realmente necessitamos para poder realizarmos uma avaliação mediadora? Conforme Luckesi:

“Necessitamos de um currículo centrado no desenvolvimento, na construção, na experiência da igualdade e da democracia, pois neste sentido avaliação é o ato de subsidiar a construção de resultados satisfatórios. Necessitamos de um currículo que valorize os conhecimentos prévios do aluno, que o respeite e valorize como indivíduo formador de opinião e ser crítico da realidade que o cerca. Temos de abrir mão do poder autoritário e aprender a viver democraticamente, o que implica em servir e não impor.” (2000)

 

Porém, infelizmente hoje o que temos é o currículo tradicional de uma pedagogia tradicional, como já foi dito, impregnada de característica seletiva.

A qualificação da aprendizagem enquanto princípio da educação tem na Avaliação Mediadora um caminho seguro, pois através dela educadores e educandos estabelecem vínculos na construção contínua e cumulativa de conhecimentos.

Conclui-se corroborando com Cipriano Luckesi (2000) quando diz que o professor necessita compreender o que é avaliar e, ao mesmo tempo, praticar essa compreensão no cotidiano escolar e, que repetir conceitos de avaliação é uma atitude simples e banal; o difícil é praticar a avaliação. Isso exige mudanças não só do professor, mas também do sistema de ensino. E que a escola necessita praticar a avaliação, prática essa que realimentará novos estudos e aprofundamentos que possibilitem identificar sucessos e deficiências e, desse modo orientar novas situações motivadoras e com significação de ensino aprendizagens para os alunos. Evidenciando-se, a partir destas percepções a prática refletida, investigada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

Brasil, Leis e Decretos. Lei nº 9.394/96. Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 5ª Ed. Porto Alegre, CORAG- Assessoria de Publicações Técnicas, 2004 

Educação em Revista. A neurociência como aliada da educação. Ano XVI. Nº 90. Fevereiro/Março. Porto Alegre: Editora Sinepe, p. 38-39. 2012. 

Educação em Revista. Ano XVI. Nº 91. Abril/Maio. Porto Alegre: Editora Sinepe, p.38-39. 2012.

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

 

HOFMANN, Jussara. Avaliação Mediadora: uma prática em construção da pré-escola à universidade. Porto Alegre: Mediação, 2009.

 

LUCKESI, Cipriano. Entrevista sobre Avaliação da Aprendizagem, concedida ao Jornal do Brasil e publicada no dia 21/07/2000. Disponibilizada no site WWW.luckesi.com.br. Acesso em 1º/06/2012 às 21:00.

 

LUCKESI, Cipriano. Entrevista concedida à Aprender a Fazer, publicada em IP – Impressão Pedagógica, publicação da Editora Gráfica Expoente, Curitiba, PR, nº 36, 2004, p. 4-6. Disponível em WWW.luckesi.com.br. Acesso em 1º/06/2012 às 21:00.

 

Revista Nova Escola. Toda a atenção para a Neurociência. Ano XXVII. Nº 253. Junho/Julho. São Paulo: Editora Abril, p. 48-55, 2012.