Avaliação Escolar

Por Cíntia Silva | 07/08/2008 | Educação

Introdução

Este trabalho refere-se às problemáticas que envolvem diretamente a aula de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental, visto que, as grandes mudanças que estão acontecendo na sociedade vêm nos fazendo refletir sobre os procedimentos didáticos que estão sendo utilizados, como o objetivo de conseguir uma melhor adequação entre o ato de ensinar e a necessidade educacional postas pelo processo de transformação social.

Há tempos o universo da avaliação da aprendizagem escolar vem sendo discutido, estudado e criticado. E foi através dessa crítica que se descobriram os diferentes e difíceis caminhos que se alargam formando espaços e o valor da tão “poderosa semente” que refloresta e devasta a área do conhecimento. “Dependendo da maneira como é semeada deixa a 'terra irritada e infértil, adubada ou pronta', e nessa semiologia 'nasce ou morre' o melhor fruto, o aluno”. (DONATONI & LEMES, 2003).

A escolha do tema foi devido à observação dessa problemática que envolve o tratamento da gramática na escola e a concepção que a sociedade tem dessa disciplina. Fato que preocupa, pois as aulas de gramática consistem numa simples transmissão de conteúdos expostos no livro didático em uso, visto que os professores acreditam que a função do ensino da gramática é levar a escrever melhor.

Sabemos o quanto à avaliação é importante, uma vez que ela é a responsável pelo destino escolar do aluno, ou de êxito ou de fracasso. E devemos estar cientes de que a prática da avaliação escolar não pode ser feita simplesmente de forma medida, calculada, impressa por um valor numérico. Ela precisa estar ressarcida de valores construídos pelos homens, buscando um projeto maior de sociedade que atenda os interesses de toda população.

A atualidade deste tema se afirma na medida em que é preciso considerar a realidade do aluno e da escola, uma vez que, é partindo das vivências dos alunos que se pode organizar programas que permitam uma articulação com os pressupostos da área.

(...) desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de confiança em suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com perseverança na busca de conhecimento e no exercício da cidadania. (PCN, 1998, p. 7)

A importância desse estudo está ligada à possibilidade de fazer um acompanhamento das ações que vêm sendo desenvolvidas pelas escolas para orientar os alunos que as aulas de português não devem ser vistas como uma dolorosa experiência da repetência e da evasão escolar.

"Logo de saída, manifesta-se na súbita descoberta por parte do aluno de que ele 'não sabe português, de que 'o português é uma língua muito difícil'. Posteruiormente, manifesta-se na confessada aversão às aulas de português e, para alunos na dolorosa experiência da repetência escolar". (ANTUNES, 2006)

Além disso, alguém que faz curso de habilitação para o magistério precisa distinguir-se do leigo que ensina – e até mesmo, eventualmente, o faz bem -, contando apenas com sua experiência pessoal e suas improvisações. Assim, espera-se que o aluno aprenda e que o professor oriente a aprendizagem do aluno.

Então, podemos dizer que "todo o trabalho do professor se resume na questão da aprendizagem. E se o aluno não aprendeu é por que o professor não ensinou; ou, se o aluno não aprendeu, o esforço do professor foi uma tentativa de ensinar, mas não ensinou". (FALCÃO, 1989) 

Contudo, devemos levar em consideração que a aprendizagem é o fenômeno do dia-a-dia, que ocorre desde o início da vida. E também que a escola, como qualquer outra instituição social, reflete as condições gerais de vida da comunidade em que esta inserida. No entanto, é evidente também que fatores internos à própria escola condicionam a qualidade e a relevância dos resultados alcançados.

Objetivos

Este artigo objetivou descrever e analisar o método de ensino/aprendizagem em detrimento da produtividade nas aulas de português. E, além disso, discutir subsídios para o aprimoramento da prática educativa de professores de português no Ensino Fundamental, debatendo metodologias de abordagem em sala de aula para trabalho das competências exigidas pelo docente na questão da aprendizagem do conteúdo e da produtividade dos alunos.

Procedimentos Metodológicos

A pesquisa foi realizada através da observação não-participante de duas aulas de Língua Portuguesa de uma turma de 7ª série do Ensino Fundamental com 33 alunos matriculados, no Colégio Estadual Ministro Marco Maciel, localizada no bairro Santos Dumont, Aracaju/SE, nos dias 06 e 13 de Dezembro de 2006, no período matutino e mediante a realização de pesquisas bibliográficas.

Resultados e Discussões

Através da pesquisa verificou-se que as aulas de português são voltadas para o ensino tradicional da gramática, uma vez que, nas duas aulas assistidas não houve em nenhuma circunstância espaço para a leitura.

Segundo Antunes, a prática da leitura não é muito comum, “uma escola ‘sem tempo para a leitura’, porque, como declaram os alunos, ‘tinha que aprender as narrativas, a língua portuguesa e as palavras que a gente fala errado’ ou, ainda, porque ‘atrapalha o professor em suas explicações’”. (2003: 28).

Os alunos desta turma demonstraram não saber regras de ortografia, de acentuação e muito menos dizer significado das palavras, pois a professora Carlota fez a exposição do assunto através de um ditado na primeira aula. Ou seja, no que diz respeito à escrita existe uma prática da escrita mecânica, artificial e inexpressiva, realizadas em exercícios de criar listas de palavras soltas ou, formar frases.

Carlota relatou que a freqüência da leitura em sala de aula e da produção textual acontece de vez em quando, e que apesar dos alunos não terem o hábito de ler e escrever, ela garantiu que trabalha esses outros dois gêneros com eles.

Um fato que chamou a atenção foi à influência do comportamento na aprendizagem, pois na primeira visita os alunos estavam muito atônitos. A sala estava lotada e os alunos ficavam conversando, brincando e alguns chegaram atrasados. A professora até que tentava ter domínio sobre a turma, mas isso não ocorria. Alguns demonstravam estar totalmente desinteressados, porém, outros mesmo bagunçando até tentavam tirar as dúvidas. Fato que comprova a relação entre a aprendizagem e o comportamento, uma vez que, a “aprendizagem trata-se de uma mudança de comportamento”. (FALCÃO, 1989).

Já na segunda visita, os alunos estavam mais calmos, porém tinham poucos alunos em sala de aula, e os que estavam presentes copiavam quietos os exercícios sobre o assunto dado nas aulas anteriores, que era concordância verbal. E pelo fato de ter poucos alunos interessados a professora não corrigiu o exercício oralmente, ela chamou individualmente os alunos e deu o visto no caderno. Dessa forma a professora pretendia estimular os outros alunos a responderem o exercício. E enquanto a professora explicava os erros aos alunos que responderam o exercício, alguns dos que não haviam respondido ainda tentavam responder, enquanto os outros ficaram dispersos. Os alunos tinham dúvidas sobre o assunto, mas muitos permaneceram indiferentes a essa situação.

Outro fato interessante que ocorreu nas duas aulas foi à falta de produtividade. Na primeira só houve o ditado, nas aulas seguintes seria a continuação do assunto e a explanação dele. E mesmo assim, na segunda aula assistida, quatro aulas depois da primeira visita, houve apenas um exercício de uma questão com 12 frases para fazer a concordância verbal completando com os verbos entre parênteses.

Assim, é necessário que o educador, ao lidar com a avaliação da aprendizagem escolar, deva ter em mente a necessidade de colocar em sua prática diária novas propostas que visem a melhoria do ensino, pois a avaliação é parte de um processo e não um fim em si e deve ser utilizada como um instrumento, também, para a melhoria da aprendizagem dos educandos. (DONATONI & LEMES, 2003).

Considerações Finais

Pelo exposto, entendemos que “a complexidade do processo pedagógico impõe, na verdade, o cuidado em se prever e se avaliar, reiteradamente, concepções (O que é linguagem? O que é língua?), objetivos (Para que ensinamos? Com que finalidade?), procedimentos (Como ensinamos?) e resultados (O que temos conseguido?), de forma que todas as ações se orientem para um ponto comum e relevante: conseguir ampliar as competências comunicativas e interacionais dos alunos”. (ANTUNES, 2003).

Percebemos também a grande importância das relações de interação entre o aluno e o professor no processo de ensino/aprendizagem/produtividade. Pois a avaliação educacional, ao lidar com a complexidade do ser humano, deve orientar-se, portanto, por valores morais e paradigmas científicos. (DONATONI & LEMES, 2003). 

Além disso, é necessário que os professores estimulem seus alunos, para que estes possam aprender através da observação do que ocorre à sua volta, e de experiências, no sentido de algo que impressiona e marca a pessoa no seu viver. Atentando-se é claro, para cuidados especiais que devem ser tomados para que se atinja cada um dos tipos de produtividade. 

"Os processos avaliativos não podem estar fundamentados, apenas, em princípios, critérios e regras da investigação científica e considerações metodológicas. Torna-se necessário, essencialmente, recorrer a princípios de interação e relação social, numa análise ético-política das práticas e metodologias da avaliação. ( DONATONI & LEMES, 2003)

A superação de práticas mecânico - burocráticas (aplicar testes, selecionar alunos, dar notas, detectar talentos) pela busca de prática produtiva - criativas e reiterativas, que possibilitem mobilizar plenamente a consciência dos alunos, seus saberes e suas capacidades cognitivas, habilidades e atitudes para enfrentar problemas e necessidades, buscando novas soluções para as relações consigo mesmo, com os outros e com a natureza, e que estas soluções criativamente encontradas sejam estendidas a outras situações semelhantes.

Assim, as práticas avaliativas produtivo-criativas - reiterativas buscam imprimir à avaliação uma perspectiva de busca constante da identificação de conflitos no processo ensino-aprendizagem, bem como a superação dos mesmos, através do esforço crítico e criativo coletivo dos alunos e as orientações do professor. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.104)

Referência Bibliográfica

ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro e interação. São Paulo. Parábola Editorial, 2003, p. 19-37.

BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros curriculares de língua portguesa - terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental. Brasília, 1998.

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de educação física. São Paulo, Cortez, 1992.

DONATONI, Alaíde Rita & LEMES, Maria Cleusa Santos. Avaliação Docente. Que semente é essa? 2003. E – book disponível em: . Último acesso em: 01/02/2007 às 17h 58 min.

FALCÃO, Gérson Marinho. Psicologia da aprendizagem. 5 ed. São Paulo: Ed. Ática, 1989, p. 18-25.