AVALIAÇÃO ESCOLAR NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA

Por Josemary Ferreira Costa | 25/07/2019 | Educação

AVALIAÇÃO ESCOLAR NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA

 

Josemary Ferreira Costa[1]

josemarysantafe@yahoo.com.br

Docente da Faculdade do Maranhão  - FACAM – São Luís /MA

 

RESUMO

 

Trata-se a “avaliação escolar na perspectiva da educação contemporânea”, objetivando analisar o movimento histórico da forma de avaliar e a mudança provocada pela sociedade cada vez mais exigente. Utiliza-se a pesquisa qualitativa, bibliográfica, com método dialético. Busca-se autores como:Hoffmann (2003), Demo (2005),Luckesi (2006), Esteban (2002), entre outros. A História mostra o desenvolvimento da humanidadeem evoluçãoperpassando pormudanças que precisaser analisada e questionadanas diversas formas de aplicabilidade.Durante séculos a avaliação escolar foi usada como medida classificatória, sendo interpretada como instrumento de repressão utilizado para ameaçar. Nos últimos anos, com as transformações econômicas, sociais e educacionais,o homem muda a maneira de viver tornando-seindividualista e consumista. Naera da contemporaneidade surge um despontar de conhecimentos e novas tecnologias, e, novas exigências e, isto,deixa seus reflexos na forma de avaliar as práticas educativas conduzindo a reflexões no modo de avaliar os alunos.

 

Palavras-chave: Avaliação Escolar.Educação.Contemporaneidade.

 

1 INTRODUÇÃO

 

A avaliação faz parte do dia-a-dia dos seres humanos. Avalia-se a todo instante, quando nos olha-se no espelho, compra-se, assiste-sea um filme, estuda-se, planeja-se um passeio ou ainda, quando busca-se encontrar respostas para problemas que surgem no ambiente.

Este artigo aborda a avaliação escolar numa visão contemporânea, com a finalidade de discutir dialeticamente o assunto, considerando as ações humanas e o reflexo dessas ações para o seu dia-a-dia. Observa-se que muitas vezes o professor atribui uma nota de valor a um aluno sem conhecer realmente sua capacidade de abstrair informações econstruir conceitos.

Acredita-se, que para avaliar é necessário conhecer o aluno, suas habilidades e suas dificuldades. Portanto, deve haver diálogo entre o educador e o educando, para que o processo seja ativo e resulte em resultados fidedignos para ambos. A avaliação sempre foi uma temática muito discutida e também sempre causou muitas polêmicas, devido à carga da responsabilidade que lhe é atribuída, pois é ela que define a nota que irá aprovar ou reprovar o aluno. Essa visão seletiva transforma esse momento difícil para o aluno que é avaliado e para o professor que é o avaliador.

 

2 A AVALIAÇÃO: um caminho até nossos dias

 

Vive-se num mundo, no qual, o pensamento moderno é substituído pelo pós-moderno e a força das tecnologias de informação invade as residências, lojas, as escolas e, especialmente, chegamàs salas de aula tornando o indivíduo mais consciente de seus direitos e, portanto, mais exigente. Assim, não se pode deixar de visualizar a história da educação, com a evolução das práticas pedagógicas e o processo de avaliação utilizado.

Compreende-se a necessidade de analisar e compreender a evolução do pensamento humano. Portanto, busca-se contextualizarnuma reflexão analítica os momentos históricos para que se entenda a avaliação.Assim, considera-se, importante fazer um breve passeio pela história da humanidade. Nela podemos visualizar os conceitos de homem construído a cada tempo, dessa maneira, é possível perceber como acontece o processo avaliativo.

Na antiguidade observa-se a humanidade buscando formas se tornar o “serperfeito” aos olhos de Deus e dos que o rodeia. O homem primitivo vivia em tribo, seu conhecimento se baseava na observação da natureza, não havia sistematização do que lhe era ensinado. Os mais novos aprendiam com os mais velhos (ARANHA, 2006) e a valorização do ser humano se tornava essencial para o desenvolvimento de atitudes e comportamentos das crianças. Percebe-se que mesmo não conhecendo a avaliação sistematizada, nesse período o ser humano usava seu instinto natural para analisar a natureza e o seu próprio desenvolvimento.

Francisco Filho (2005) chama atenção que na Idade Média, verifica-se, que o domínio da igreja sobre o conhecimento limitava o acesso a uma pequena parcela da sociedade e se colocava como guardiã da sabedoria. Nesse período, pode-se identificar a avaliação rigorosa adotada pelo clero, que reconhecia o valor do conhecimento para a formação de consciência e, por isso manipulava a sociedade para torná-la obediente e servil aos desígnios divino, longe do pecado.

Com o advento da modernidade, houve uma ruptura com a ideologia opressiva da Igreja, vivenciada no período medieval. O renascimento foi um momento de transformação, dos grandes inventos e grandes navegações. Surgem novos conceitos sobre a avaliação da aprendizagem.

Conforme apontamentos de Pinto; Santos (2006), na metade do século XIXsurge a primeira geração da avaliação voltada para medir o rendimento escolar. Os experimentos psicológicos buscavam estudar o desenvolvimento do homem, nesse momento, os testespsicrométricos de Alfred Binet são utilizados e a avaliação passou a ser vista como uma medida de capacidade e, a inteligência e ser representada pelo QI (quociente intelectual). Nesse período surgem os pensadores com seus questionamentos e a avaliação se faz presente nas ideias pedagógicas, que primam pela valorização do homem. O mundo busca novas formas de ensinar e aprender. Os métodos tradicionais utilizados até então, são questionados, surgem novas perspectivas para uma educação que valorize o homemem suatotalidade.

A segunda geração teve início a partir de 1930,conforme estudos de Pinto; Santos (2006) a avaliação se caracteriza pela preocupação com o currículo, com registros, com provas e comparação com os resultados apresentados. A terceira geração é nomeada por julgamento, enfatiza o juízo de valor sobre as tarefas realizadas pelos alunos.

Hadji (apud PINTO;SANTOS, 2006, p.29) esclarece que: “[...] não há avaliação sem uma tomada de juízo de valor. Avaliar é tomar posição face ao valor de algo”. Para se avaliar é preciso apreciar o objeto avaliado e esse olhar necessita do conhecimento sobre o que é observado. Para avaliar o professor precisa manter na neutralidade sobre o processo e conhecer sobre o que está avaliando. A quarta geração veio a negociação que segundo Esteban (2002) vem romper com as dicotomias existentes e a articulação em torna da avaliação, passando a existir o diálogo.

Com a evolução da ciência e os avanços tecnológicos fornece à educação globalizada um dinamismo global e o homem chega ao século XXI, na Idade contemporânea, buscando informação tecnológica. O acesso aos computadores permite que ele tenha conhecimentos de fatos que acontecem do outro lado do mundo. Com isto vem o progresso e, o dinheiro torna-se o principal motivode sua existência, esquecendo-se do amor ao próximo, busca a valorização de si mesmo.Em relação à avaliação, esta se torna questionável, fala-se na flexibilidade do currículo, para atender as carências particulares e buscam-se formas flexíveis para avaliar a aprendizagem, mas ainda existem muitos desafios a serem superados.

ConformeDale (2004) revela em seu artigo, a avaliação escolar possuía ao longo dos séculos, o caráter de seleção classificatória, e contagem de erros e acertos para atribuir ao aluno uma medida de valor representada pela nota. Atualmente, considera-se importante que a prática educativa seja reflexiva e repense sobre o processo avaliativo como um instrumento de base para novas aprendizagens. Dessa forma, o “erro”, ganha um novo olhar do mestre da contemporaneidade, que o utiliza para nortear suas ações visando o desenvolvimento de novas aprendizagens. Assim, O “erro”, deve ser um recomeço e não o fim(HOFFMANN, 2009).

Nessa visão de avaliação escolar na pós-modernidade, Hoffmann (2003) diz, que não se pode ficar no fim do caminho, e esperar que o aluno chegue lá, é preciso acompanhá-lo no processo. Com isso, a autora leva a reflexão sobre a continuidade do processo avaliativo e, especialmente, sobe a prática educativa, que deve estar voltada para a aprendizagem global do aluno.

Na educação, os avanços da prática de ensino colocam o foco na aprendizagem do aluno, que é estimulado a buscar seus conhecimentos em pesquisas. Sobre o assunto Gadotti(2002), diz que tal postura pedagógica é pontuada pelos pensadores anti-autoritarista, que já buscavam a liberdade como essencial para a aquisição do conhecimento. Dessa forma, a avaliação deve ser vista como qualitativa, considerando as habilidades que o aluno tem e a que ele adquiriu com estudos e pesquisas. Mas, isto não dispensará a avaliação quantitativa, e, não pode ser considerado apenas um processo técnico, já que ela também é uma questão política cujo dilema está no exercício da autoridade de julgar, ou ainda num processo em que o avaliado e o avaliador sofrem na busca do qualitativo, definindo-se, como uma avaliação emancipadora, que prevê uma reflexão crítica da prática para transformação mútua dos participantes.

Para Demo (2005) “Na qualidade não vale o maior, mas o melhor, não o extenso, mas o intenso, não o violento, mas o envolvente, não a pressão, mas a impregnação”.Conforme se observa, na citação, o a avaliação quantitativa perde seu lugar e a qualidade é valorizada, no sentido de desenvolver interesse e prazer pela aprendizagem. Demo (2005) destaca alguns critérios que para ele é a base da avaliação, assim diz que a representatividade, legitimidade, participação, convivência, entre outros, são importante para avaliar. Conclui dizendo que: “Se qualidade é participação, avaliação qualitativa equivale à avaliação participante” (DEMO, 2005, p. 221).Percebe-se quea sociedade atual, vem cobrando das escolas e professores uma avaliação qualitativa. No entanto, é preciso o professor ficar atento, para os registros e anotações que faz de seus alunos, e a cada aula, refletir sobre sua prática e, se a aprendizagem realmente aconteceu.

Para Vasconcellos (2008) é preciso considerar que para ter uma avaliação reflexiva sobre o ensino e aprendizagem, o professor precisa estar aberto às mudanças educacionais que o momento exige. Neste caso,Hoffmann (2003), diz que a busca pela qualidade de aprendizagem é um dos pontos que deve ser discutido nesse século, pois exige formação e qualificação do docente. Sabe-se que existem diversos fatores que dificultam a superação das praticas tradicionais, ente elas está no próprio docente que demonstra resistência e mantém sua prática usando a avaliação classificatória, para garantir que o aluno estude e aprenda. Hoffmann (2003) reitera que existe o descrédito no sistema avaliativo adotado pelas escolas inovadoras, pois muitos acreditam que os professores se tornam menos exigentes comprometendo os resultados do desempenho do aluno. Tal resistência, também nasce no seio da Instituição familiar, que com seu conservadorismo, ainda exige deveres de casa, e que a prova final classifique o aluno, para que eles, os pais, possam identificar os avanços de seus filhos na escola.

 

3 METODOLOGIA

 

O estudo aqui delineado segue a pesquisa bibliográfica com abordagem qualitativa, utilizando o método dialético, analítico explicativo,buscando apoio em estudiosos sobre o assunto fazendo uma reflexão sobre a trajetória e uso da Avaliação. No sentido de tornar a leitura mais clara e científica, busca-se apoio teórico em autores como Jussara Hoffmann (2003, 2009), Demo (2005), Luckesi (2006), Esteban (2002), entre outros.Assim, aborda-se o assunto na tentativa de levar o leitor ampliar seus conhecimentos e melhorar sua prática avaliativa.

 

4RESULTADOS E DISCUSSÕES

 

O assunto abordado nesse artigo foi e continua sendo de suma importância para a comunidade educadora que busca para ampliar e aprofundar leituras, pois trata de avaliação, que é um assunto que causa muitas polêmicas, no meio social e educacional. Durante a revisão da literatura sobre o assunto foi possível analisar que existe ainda muita resistência pela mudança e transformação das práticas avaliativa na sala de aula.

Segundo Hoffmann (2003), a avaliação mediadora exige mais tempo do professor, mais permanência na sala de aula midiatizando o estudo, maior interesse do aluno em aprender. Tudo isso voltado para o diálogo e valorização de experiências, que vai consolidar os conhecimentos. Essa apropriação do saber acontece na “ação – reflexão – ação”, que exige compreensão do que ensinado e aprendido.

Verifica-se, que as práticas avaliativas de alguns professores, ainda conservam o ranço do tradicionalismo, do rigor das provas, das arguições, das atitudes ameaçadoras e do erro como final. Portanto, ainda é comum encontrar escolas que adotam uma postura tradicional, utilizando somente as provas como instrumento de medida classificatória, não considerando a avaliação qualitativa e nem permitindo o desenvolvimento da capacidade criativa inerente aos seres humanos.Vasconcellos (2005) afirma que a superação das práticas opressoras é um dos principais objetivos da educação pós-moderna. Portanto urge a aceitação da sociedade, para desenvolver uma prática mediadora do processo avaliativo. Uma prática reflexiva tanto da escola, quanto do aluno. Pois se precisam vencer os descréditos fantasmagóricos que envolvem a avaliação.

Na educação pós-moderna existem muitos desafios a serem enfrentados. Entre eles está “Educação para todos”, que é uma questão em debate permanente, pois em pleno século XXI, muitas crianças ainda estão fora da escola e, outras enfrentam o terror da repetência e terminam por evadissem das salas de aula. Quanto à avaliação, será que evoluiu para uma reflexão? As maiorias dos estudantes questionam e afirmam que ela se mantém presa as práticas tradicionais e segue o modelo classificatório.

Atualmente, fala-se muito em educação humanizadora, no entanto muitos docentes continuam com suas armaduras tradicionais e não se permitem mudanças. É preciso que se repense a educação com compromisso ético voltado para a formação do cidadão reflexivo, consciente dos seus direitos e deveres. O profissional da educação deve estar ciente que a avaliação reflete nos resultados obtidos e o professor poderá diagnosticar como o aluno está aprendendo, e, ainda o que falta aprender. Assim, é necessário primar pelo desenvolvimento de competências.

 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Percebe-se, que os resultados avaliativos estão interligados as práticas adotadas na sala de aula, que muitas vezes é repressora e ameaçadora, pois alguns professores são resistentes às mudanças e não conseguem aceitar uma avaliação que tenha o erro como começo e não como fim.

É preciso que os profissionais docentes que praticam a avaliação escolar, reflitam sobre suas práticas e repensem nas suas metodologias, pois os resultados do desempenho dos discentes podem ser melhores do que apresentam se antes da avaliação o educador se preocupar com a avaliação mediadora e fizer uma regulação na aprendizagem ao longo do processo.No entanto, chama-se atenção para que os professores não confundam a prática avaliativa transformadora com a permissividade, pois se acredita no ensino de qualidade, no qual as ações pedagógicas possam se estabelecer numa visão de humanização.

 

RESUMEN


 

Se trata de la "evaluación escuela en la perspectiva de la educación contemporánea", con el objetivo de analizar el movimiento histórico de la forma de evaluar y el cambio provocado por la sociedad cada vez más exigente. Se utiliza la investigación cualitativa, bibliográfica, con método dialéctico. Se busca autores como: Hoffmann (2003), Demo (2005), Luckesi (2006), Esteban (2002), entre otros. La historia muestra el desarrollo de la humanidad en evolución pasando por cambios que necesita ser analizada y cuestionada en las diversas formas de aplicabilidad. Durante siglos la evaluación escolar se utilizó como medida clasificatoria, siendo interpretada como instrumento de represión utilizado para amenazar. En los últimos años, con las transformaciones económicas, sociales y educativas, el hombre cambia la manera de vivir haciéndose individualista y consumista. En la era de la contemporaneidad surge un despuntar de conocimientos y nuevas tecnologías, y, nuevas exigencias y, esto, deja sus reflejos en la forma de evaluar las prácticas educativas conduciendo a reflexiones en el modo de evaluar a los alumnos.


 

Palabras-clave: Evaluación Escuela. Educación. Contemporaneidad.

 

REFERÊNCIAS

 

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. 3 ed. São Paulo: Moderna, 2006.

 

DALLE, Armistrong.Uma Visão Contemporânea de Avaliação. Presença Pedagógica.v.10 n.57, maio/jun. 2004. Disponível em:<http://www.presencapedagogica.com.br/capa6/entrevistas/57.pdf>. Acesso em 16 jan. 2010.

 

DEMO, Pedro. Avaliação qualitativa. São Paulo: Autores Associados, 2005.

 

ESTEBAN, Maria Teresa. O que sabe quem erra? Reflexões sobre a avaliação e fracasso escolar. 3 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

 

FRANCISCO FILHO, Geraldo. História geral da educação. 2 ed. Campinas, SP: Alínea, 2005.

 

GADOTTI, Moacir. A história dasideias pedagógicas. 8 Edição. São Paulo: Ática, 2002.

 

HOFFMANN, Jussara. Avaliação mediadora: uma prática em construção da pré-escola à Universidade. Porto Alegre / RS: Mediação, 2003.

 

HOFFMANN, Jussara. Avaliação mediadora:uma prática da pré-escola à universidade. Porto Alegre: Mediação, 2009.

 

LUCKESI, Cipriano. Avaliação da aprendizagem escolar. 18 ed. São Paulo: Cortez, 2006.

 

PINTO, Jorge; SANTOS, Leonor. Modelos de avaliação das aprendizagens. Lisboa: Universidade aberta, 2006.

 

VASCONCELLOS, Celso. Avaliação: concepção dialética libertadora do processo de avaliação escolar. 15. Ed. São Paulo: Libertad, 2005.

 

VASCONCELLOS, Celso. Avaliação da aprendizagem: práticas de mudanças – por uma práxis transformadora. 9 ed. São Paulo, Libertad, 2008.

 

[1] Pedagoga, Especialista em Educação Especial e Psicopedagogia Clínica e Institucional. Mestre e Doutora em Ciência da Educação pela Universidade Americana de Asunción – PY. Exerce a profissão de docente na Faculdade do Maranhão – FACAM, em São Luís Maranhão.

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