Avaliação da infecção experimental em codornas japonesas (Coturnix coturnix japonica) com duas concentrações, sem diluição e diluída, de Salmonella Gallinarum

Por Fábio Tavares Zancan | 28/03/2016 | Educação

Fabio Tavares Zancan1, Adriana Maria de Almeida3, Oliveiro Caetano De Freitas Neto1, Bruna da Silva Moura1, Priscila Diniz Lopes1, Anglo Berchieri Junior2,

 

1.Alunos de Pós-Graduando do Curso de Patologia Animal da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, São Paulo, Brasil

2.Professor Doutor do Curso de Patologia Animal Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, São Paulo, Brazil

3Funcionária do Laboratório de Ornitopatologia da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, São Paulo, Brasil

Resumo

O presente trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos de duas concentrações 6,3 x 108 e 4,7 x 106 UFC respectivamente de Salmonella Gallinarum estirpe 287/91, no desafio de codornas adultas com mais de 1(um) ano de idade. Foram utilizadas 80 codornas da linhagem de postura produtoras de ovos para consumo humano, que foram divididas em dois grupos (GA e GB) em um delineamento totalmente casualizado e alojadas em baterias separadas, onde receberam água e ração ad-libitum. As aves foram avaliadas até 28 d.i.p. com relação à mortalidade, sinais clínicos, lesões anatomopatológico.

Introdução

A expansão da coturnicultura no Brasil tem merecido destaque, pois inicia uma nova fase no País, superando o amadorismo e consolidando-se como exploração comercial (Leandro et al., 2005). Ultimamente tem-se observado um grande aumento não somente no consumo de ovos de codornas como também de carne (Oliveira, 2002). A produção de ovos de codorna encontra-se em expansão devido à importância produtiva que a coturnicultura atingiu no país. Como nos demais ramos da avicultura buscam-se o melhor retorno econômico e produtivo para o bom desenvolvimento da atividade (Narushin & Romanov, 2002). Em 2002, o numero de aves alojadas não passava de 6,2 milhões (IBGE, 2002). Esta expansão merece atenção dos pesquisadores da área avícola no sentido de desenvolver projetos em vários aspectos da produção como manejo, nutrição e proteção contra doenças (Minvielle, 2004). Outro motivo de preocupação é aproximação destas aves na criação de aves de postura comercial, ficando as codornas assim próximas das enfermidades, exemplo o tifo aviário, que é causado pela Salmonella enterica  serovar Gallinarum (Chacana et al., 2006), que é uma doença  septicêmica bacteriana grave. O tifo aviário das galinhas e perus pode acometer outras aves, como  faisão, codorna, pato,  tetraz, galinhas d’Angola  e pavões  (Pomeroy & Ngaraja, 1991, Shivaprasad, 2000). O objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito de duas concentrações, 6,3 x 108 e 4,7 x 106 Salmonella Gallinarum estirpe 287/91, no desafio de codornas adultas com mais de 1(um) ano de idade.

 

Material e Métodos

O experimento foi conduzido em salas com ar e ventilação controladas do departamento de Patologia Veterinária da FCAV/UNESP/Campus de Jaboticabal onde essas aves receberam alimentação e água a vontade.

Aves.  Foram utilizadas 80 codornas de linhagem de postura produtoras de ovos para consumo humano. O manejo e a alimentação seguirão as recomendações do fornecedor.

Inóculo. O inóculo foi preparado no Laboratório de Ornitopatologia do Departamento de Patologia Veterinária da FCAV/UNESP/Campus de Jaboticabal. Foi utilizada uma cepa de Salmonella Gallinarum resistente ao ácido nalidíxico (SGNal), de acordo com Berchieri Jr  et al (2001). A bactéria foi cultivada em caldo nutriente (Difco-244620) incubado sob agitação à temperatura de 37°C, durante 24 horas. As culturas foram preparadas em duas diluições diferentes, uma com aproximadamente 6,3 x 108 UFC de S. Gallinarum Nalr /mL e outra com aproximadamente 4,7 x 106 UFC de S. Gallinarum Nalr/mL. 

Procedimento experimental. As aves foram divididas em dois grupos (GA e GB) e alojadas em baterias separadas, onde receberam água e ração ad-libitum. Os grupos GA e GB receberam diretamente no papo, através de cânula, na dose 0,5 mL de inóculo contendo 1.108 e 1x106 UFC de Salmonella Gallinarum Nalr/mL, respectivamente. As aves foram desafiadas após cinco dias da chegada das aves. As aves foram avaliadas aos 7 d.p.i.,14 d.i.p., 21 d.i.p. e 28 d.i.p. com relação à mortalidade, sinais clínicos, lesões anatomopatológico.

Avaliação clínica. As aves foram submetidas ao manejo, alimentação, água e exame físico diariamente nos períodos da manhã com registro de mortalidade, conforme descrito por Berchieri Jr & Freitas Neto, 2009.

Resultados e Discussão

Os resultados das mortalidades dos desafios pós-infecção dos grupos A e B estão demonstrados na tabela 1. A comparação entre os dois grupos mostra que existem diferença na mortalidade entre dias pós-infecção (dpi). A maior mortalidade no grupo A e B ocorreram entre as concentrações do desafio, 6,3 x 108 UFC e 4,7 x 106 UFC de S. Gallinarum Nalr/mL respectivamente como demonstrado na tabela 1. Os sinais clínicos como sonolência anorexia com desidratação, penas arrepiadas, degeneração e/ou necrose da musculatura esquelética e diarréia hemorrágica. E os órgãos mais afetados foram fígado, baço, sacos aéreos, pulmões, coração e o intestino nas porções do delgado, jejuno, íleo, ceco e intestino grosso apresentando uma extensa hemorragia e entres as aves necropsiadas do grupo A e B cerca de 65% observou-se dilatação da vesícula biliar.

 

Tabela 1. Mortalidade em relação aos dia pós-infecção (dpi)

Dpi

4 dpi

5 dpi

6 dpi

7 dpi

14 dpi

21 dpi

Grupo

A

1

10

20

5

4

0

B

0

2

13

4

15

0

Notou-se que as aves do grupo “A” que fora desafiadas com @ 6,3 x 108 UFC e não voltaram a postura a partir de 6 dpi e atingiam 100 % de mortalidade aos 8 dpi, diferente das aves do grupo “B” que fora desafiadas com @ 4,7 x 106 UFC que mantiveram a postura, logicamente em número menores, ao 8 dpi, apesar, da mortalidade atingir  50%. As codornas do grupo B mantiveram a postura, em número menor, até o dia 24/11 com uma mortalidade de @ 90% até o dia do sacrifício 21dpi.

Okoh & Onazi, 1980 encontraram em aves silvestres, no Jardim Zoológico de Kano na Nigéria, S. Gallinarum no fígado de pavão (Pavo cristatus) e abutre (Gyps ruepellii). Garcia e Schönhofen (1982) demonstraram que a S. Gallinarum foi isolada somente a partir de aves selvagens com sinais clínicos que tiveram contato com  resíduos,  de humanos ou aves domésticas. Deshmukh, 2005 que encontrou as mesas lesões de fígado, baço e vesícula biliar colhidas de codornas mortas. Em outro estudo Back 2007 observou anorexia, sonolência, diarréia, hepatomegalia, esplenomegalia e mortalidade que pode ser súbita em perus. Weinert et al. 2010 em estudos com as aves de vida livre, como pardais, podem transmitir às aves comerciais algumas enfermidades, Dentre as quais, temos a Salmonella gallinarum) e a ocorrência desta pode causar prejuízos econômicos ao país, diminuindo desta forma a exportação de carnes. BEYAZ et al. 2010 em estudos feitos com perus observaram que a infecção por S. Gallinarum causou  granulomas  heterofílicos, especialmente no duodeno de perus, bem como alterações císticas, degenerativas e necróticas na bolsa de Fabricius. 

Allgayer et al. 2008 em estudos com 280 psitacídeos, de 13 espécies, não foi observado a Salmonella Gallinarum na soroaglutinação rápida (SARP), mas 13,2% das amostras foram positivas para PCR mas negativas na SARP..

 

Conclusão

Baseado nos resultados do trabalho, a ocorrência encontrada de Salmonella gallinarum deve ser considerada como importante, pois as aves testadas apresentavam manifestação clínica e lesões consistentes de Salmonella Gallinarum e podem ser fontes de infecção para as aves dos criatórios comerciais, causando um grande impacto sanitário e econômico para a Avicultura.

 

Agradecimentos

   Nosso especial agradecimento ao Médico Veterinário José Eduardo Costa pelo fornecimento das aves bem como a FCAV – UNESP – Jaboticabal pelo alojamento destas.

 

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