Auto-analise e auto-gestáo do grupo e o lugar do expert
Por Marcela de Lima Silva | 27/05/2012 | PsicologiaAtravés de uma analise histórica vemos e percebemos como o saber saiu do senso comum, da coletividade, da maioria, das mãos dos curandeiros, das benzedeiras e até mesmo do domínio religioso e passou a ser propriedade de uma minoria, os experts.
Segundo BAREMBLITT (1998), nossa civilização tem produzido um saber a cerca de seu próprio funcionamento, dela mesma como objeto de estudo e tem gerado especialistas, intelectuais, experts que são conhecedores e mantenedores de tal conhecimento.
Assim qualquer um que queira validar seu conhecimento ou se mostrar mais imponente basta dizer que possui conhecimento passível de comprovação cientifica. Ao usar o argumento de ter um conhecimento cientifico o expert passa a ser inquestionável, portador de uma verdade absoluta.
Assim o experts, pessoas que dominam os diversos campos da ciência, ganham credibilidade, na medida em que desmistificam o saber coletivo e produzem novos saberes ou reformulam conceitos e idéias. Poderíamos então, citar como exemplo, o uso que os índios ou os curandeiros faziam das ervas medicinais para a cura de doenças. Na contemporaneidade essa pratica é condenada pela medicina.
Pensando ainda neste exemplo a coletividade já não pode mais gerir ou cuidar da sua própria saúde, antes tem que passar por vários especialistas (médicos, enfermeiros, farmacêuticos, biomédicos) para que estes lhe digam como proceder ou que remédio usar. Podemos então afirmar que a medicina se apropriou de um conhecimento, chamou essa pratica de sua e desconsiderou o saber popular, e, obviamente o faz a favor de uma lógica, pois há ai forças de interesses, forças de atravessamento que interferem nas varias áreas que envolve a vida do sujeito.
Não se pretende aqui massacrar a medicina, tão pouco desmerecer suas produções científicas, apenas estamos tomando ela por exemplo para clarificar a questão do saber-poder, da importância dada aos experts, enfim, da valorização dos intelectuais.
A pergunta que no cabe é: em que momento o saber coletivo foi preterido e o conhecimento produzido nas academias foi valorizado? Quando a ciência se apropriou dos conhecimentos que a própria coletividade ajudou a produzir? Como se deu a apropriação de tais conhecimentos?
Ainda no mesmo exemplo, a medicina, hoje, reconhece o valor das plantas medicinais. Porém pra não perder total credibilidade liberou o uso de plantas como remédio desde que o seja usado moderadamente e seja autorizado pelo medico ou que contenham o selo da ANVISA no caso das cápsulas ou dos chás.
Ao refletir sobre esse assunto temos que ter maturidade pra compreendermos tais processos. Quando digo maturidade me refiro a deixar de lado questões de valoração, pois não cabe aqui papeis de bons e de maus, mas sobre um exercício de tentar entender questões mais complexas como, de saber-poder, de coletividade e individualidade, de ser um expert ou ser um leigo, de instituinte e instituído, enfim trata-se de compreender uma lógica e perceber a favor de quem ela atua.
Não é necessário retirar o saber-poder das mãos do especialista, ate porque esse saber produzido é muito importante para a manutenção da sociedade, mas de aproximar esse saber da coletividade para que o mesmo atue em prol da própria comunidade. Pois não há saber sem uma pratica e nem uma pratica que não seja norteada por um saber. São dois conceitos diferentes, mas que ocorrem simultâneos e articulados.
Para tanto seria importante que os diversos grupos que compõe a sociedade e conforme seus interesses fizessem um processo de auto-análise e autogestão. Ao pensar sobre suas demandas, suas reais necessidades, pensar na sua utilidade enquanto grupo, ao se permitir esse conhecimento sobre si mesmo o grupo passa por um processo ao qual chamamos de auto-analise. Ao iniciar este processo automaticamente inicia-se também o processo de autogestão. Um é conseqüência do outro e ambos ocorrem concomitantemente. Por autogestão entende-se que é a capacidade do grupo se organizar e ser capaz de direcionar seu próprio caminho.
Na medida em que o grupo tomar conhecimento desses dois conceitos e for adquirindo independência o Expert poderá participar ou ocupar seu lugar no grupo não como o especialista do grupo mas como o especialista no grupo, será também um agente de mudança.