ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO CUIDADO À MULHERES VÍTIMAS...

Por Tâmila Mikaelle da Silva | 26/09/2016 | Psicologia

ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO CUIDADO À MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ATENDIDAS NOS CENTROS DE REFERÊNCIAS ESPECIALIZADOS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL(CREAS) UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO

TÂMILA MIKAELLE DA SILVA 

RESUMO

Podemos considerar o fenômeno violência como um problema social, esta se constitui como elemento estrutural na organização da sociedade, desencadeando-se por diversos motivos. Neste artigo, focaremos no tema violência doméstica contra a mulher, que ocorre historicamente devido visões conservadoras machistas hierarquizadas e alimentadas em nosso meio. Como resultado de uma ideologia de dominação do homem, tal ação transforma diferenças em desigualdades de forma hierarquizadas, visando dominação, exploração e opressão. Estudamos o fazer psicológico diante desta violência, realizando assim uma pesquisa de caráter qualitativo, trazendo como instrumento metodológico neste processo, a coleta de dados por meio de pesquisas bibliográficas em sites acadêmicos e livros. Tal pesquisa trás como objetivo geral analisar como é construído o fazer psicológico no cuidado as mulheres vítimas de violência doméstica que buscam os serviços do Centro de Referência Especializado de Assistência Social(CREAS) e como objetivos específicos compreender o processo histórico da mulher na sociedade, compreender o papel do Psicólogo diante da violência doméstica, analisar as principais técnicas utilizadas pelo profissional de Psicologia na atuação no CREAS, analisar a potência da Psicologia para o enfrentamento da violência. Este trabalho insere-se no eixo de deslocamentos clínicos e saúde, contribuindo com estudos relacionados à atuação do Psicólogo em Políticas públicas de saúde.

 PALAVRAS-CHAVE: violência doméstica. fazer psicológico. Psicologia. CREAS.

1.INTRODUÇÃO

1.INTRODUÇÃO

                  Sabemos que a violência é um problema social, desencadeada por diversos motivos e sendo expressa de diferentes formas. Especialmente, esse trabalho tratará da violência contra a mulher, tema de grande importância e relevância ainda nos dias de hoje. Cotidianamente ouvimos notícias referentes a episódios de agressões contra a mulher, onde os protagonistas destes, agem como tivessem direitos sobre essas mulheres. Acredito que a violência é um fenômeno social, marcada por uma ação que utiliza força física além do necessário, causando no indivíduo danos morais e invadindo sua integridade física e psicológica. Entre suas formas, encontramos a violência doméstica praticada no âmbito da família, podendo ser de forma explícita ou velada.

Tal tema cada vez mais ganha repercussão em programas de televisão, redes sociais, entre outros meios de comunicação que trazem noticiários referentes à exploração do homem frente a mulher por meio de agressão física e psicológica, casos de assassinatos, negligências, entre outros. Tais casos, nos fazem focar na violência doméstica contra a mulher, buscando assim formas para combatê-la. Como exemplo da repercussão deste assunto em nossos dias podemos trazer o tema proposto pelo Exame Nacional do Ensino Médio(ENEM) de 2015: “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”, que gerou reflexões por parte dos candidatos e boa parte da população a respeito do feminismo e a prática da violência contra a mulher. Dentre as discussões sobre o tema proposto, pudemos por maior visibilidade na Lei Maria da Penha sancionada em 2006 e considerada marco significativo no combate a prática da violência doméstica.    

Além do mais, tal interesse pelo tema surgiu em virtude de um estágio realizado no Centro De Referência Especializado de Assistência Social(CREAS) da cidade de Santana do Acaraú, que por mais que não tenha realizado atendimento individual, pude por intermédio de conversa informal com algumas usuárias do serviço que se sentiam à vontade para conversar, constatar  que as mesmas traziam como consequências das agressões físicas praticadas por seus parceiros, um sofrimento psíquico, marcado por baixa auto estima em relação ao seu ser, de certa forma aceitando essas agressões por não terem condições financeiras de sustentar a família, por se acharem incapazes de tomar novos rumos para suas vidas. Também mim vem à memória a naturalização dessa dominação por parte destas mulheres, em que algumas deixavam claro que era mulher por isso aceitava tais condições impostas pelo companheiro, sendo visível que as mesmas foram ensinadas a agirem assim. Em virtude disso, por meio de tal experiência fui instigada a buscar conhecer o que realmente consistia a prática da violência contra a mulher, e o que levam essas mulheres a procurar tal política pública e principalmente buscar entender o fazer do psicólogo e os desafios encontrados ao trabalharem com essas mulheres.  

O Centro de Referência Especializado de Assistência Social faz parte das políticas públicas de assistência, onde segundo o Conselho Federal de Psicologia, é a unidade pública estatal de abrangência municipal ou regional que tem como papel constituir-se em lócus de referência nos territórios, da oferta de trabalho social especializado no SUAS a famílias e indivíduos em situação de risco pessoal ou social, por violação de direitos.

Assim, considero fundamental para entender o fenômeno da violência doméstica, problematizar, estudar, desconstruir a visão sobre as mulheres e as relações da violência. Historicamente ao pensar sobre o poder de dominação e superioridade do homem face a mulher, Savedra e Nogueira (2006, p.117), afirmam que as mulheres geralmente eram vista pelo polo oposto: dependentes, subjetivas, passivas e ilógicas. E é a partir desse papel do homem como ser superior que nos podemos entender todas as vértices de submissão impostas às mulheres desde a dominação pelo pai e após o casamento pelo marido, bem como todos estereótipos criados levam a mulher a uma espécie de confinamento envolta de deveres maternos.                 

                  Este processo se deu por intermédio de disputas de poder, onde entra nesse contexto o patriarcado, que para Macdowell e Izumino(2005), é um sistema de ideológico, econômico e de organização onde  a mulher é vista como vitimada pelo controle social masculino. Por mais que a sociedade tenha passado por modernidade e afirmem igualdade entre todos os indivíduos, o mesmo ainda encontra-se embutido no meio social, podendo assim em alguns casos surgir vítimas de violência doméstica, ou seja, as mulheres tornavam-se membros de uma esfera privada, em que o homem exerce uma dominação simbólica sobre a sociedade.

                  Em busca de uma recriação de como a sociedade ver os papéis do homem frente a mulher, não seguindo modelos hierarquizados, no século XIX surgiu o movimento feminista como forma de reconhecer as relações entre os gêneros, tirando tais mulheres do anonimato, dando –as voz na busca pelo fim da dominação masculina. Onde através do acúmulo desse movimento, surge a Lei Maria da Penha.

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