Atuação Do Enfermeiro Ao Paciente Com Acidente Vascular Cerebral

Por Hoverney Quaresma Soares | 04/07/2008 | Saúde

INTRODUÇÂO



O termo Acidente Vascular Cerebral, também conhecido como ‘derrame’, significa o comprometimento súbito da função cerebral por inúmeras alterações histopatológicas que envolvem um ou vários vasos sanguíneos intracranianos ou extracranianos. O grande problema desta patologia não se encontra apenas no elevado índice de mortalidade, mas, sim, na incapacitação que impõe ao indivíduo, como por exemplo, não se alimentar ou locomover sozinho além do problema social (Neto 2002).

O ataque vascular cerebral pode ser definido como um déficit neurológico focal súbito devido a uma lesão vascular. Este termo evoluiu nas últimas décadas para incluir lesões causadas por distúrbios hemodinâmicos e da coagulação, mesmo que não se tenha alterações detectáveis nas artérias ou veias (André, 1999).

Aproximadamente 80% dos acidentes vasculares cerebrais (AVC) são causados por um baixo fluxo sangüíneo cerebral (isquemia) e outros 20% por hemorragias tanto intraparenquimatosas como subaracnóideas (Neto 2002).

O acidente vascular isquêmico consiste na oclusão de um vaso sangüíneo que interrompe o fluxo de sangue a uma região específica do cérebro, interferindo com as funções neurológicas dependentes daquela região afetada, produzindo uma sintomatologia ou déficits característicos (Aspesi e Gobatto,2001).

No acidente vascular hemorrágico existe hemorragia (sangramento) local, com outros fatores complicadores tais como aumento da pressão intracraniana, edema (inchaço) cerebral, entre outros, levando a sinais nem sempre focais (Aspesi e Gobatto,2001). Estes índices são maiores entre negros, pois a raça negra exibe maior tendência ao desenvolvimento do acidente vascular cerebral, provavelmente por maior tendência genética de desenvolver hipertensão arterial sistêmica (André, 1999). Cerca de 40 a 50% dos indivíduos que sofrem um acidente vascular cerebral estarão mortos após 6 meses. A maioria dos sobreviventes exibirá deficiências neurológicas e incapacidades residuais significativas. Reduzir a incidência através da prevenção de seus fatores de risco pode ser um meio eficaz de economizar recursos hoje utilizados no tratamento dos doentes ou perdidos em produtividade (André, 1999).

É uma patologia que atinge mais a raça negra, especialmente a faixa etária mais jovem. Pessoas de etnia negra parecem apresentar um defeito hereditário na captação celular de sódio e cálcio, assim como em seu transporte renal, o que pode ser atribuído à presença de um gen economizador de sódio que leva ao influxo celular de sódio e ao efluxo celular de cálcio, facilitando deste modo o aparecimento da Hipertensão Arterial. (BARRETO et al, 1993).

Associados ao fator de herança da própria etnia encontramos os fatores ambientais, tais como o fumo, álcool e estresse, dentre outros, que irão se unir ao primeiro e potencializar os riscos para o desenvolvimento da HAE. Justifica-se desta maneira a grande importância de divulgar esta maior tendência às pessoas afro-brasileiras.

Confirmar o diagnóstico de um acidente vascular cerebral (AVC) é importante sob dois aspectos: sua diferenciação dos outros distúrbios que causam déficit neurológico focal e a identificação dos pacientes sob risco particularmente alto de ter obstrução vascular subseqüente (AVC ou infarto do miocárdio), ou AVC por outra causa.

Quando não conduz ao óbito, o AVC pode ocasionar graves seqüelas, levando o paciente a vários níveis de incapacidade física, com enorme impacto econômico, social e familiar.

O Enfermeiro poderá estar atuando na conscientização com objetivo principal de orientar a população sobre a importância de fazer prevenção, principalmente depois que o paciente sofreu um primeiro episódio, quando as chances de ocorrer um segundo derrame aumentam em até 9 vezes1. A campanha orientará o público a identificar os fatores de riscos, a reconhecer os seus sinais e sobre como proceder diante do problema.

- Fatores de Riscos

1. Hipertensão arterial sistêmica (HAS);

2. Diabetes;

3. Dislipidemia e obesidade;

4. Tabagismo;

5. Álcool;

6. Anticoncepcional oral;

7.Doenças associadas que acarretem aumento no estado de coagulabilidade (coagulação do sangue) do indivíduo.



- Fisiopatologia

Uma vez ocorrida interrupção da circulação arterial, uma série de alterações funcional e estrutural surgirá no território acometido, com estabelecimento de uma “cascata isquêmica” complexa, que significa o desequilíbrio entre a oferta e o consumo de oxigênio levando a alterações miocárdicas provocadas pela isquemia, que seguem uma seqüência determinada de fenômenos fisiopatológicos e representada pelos seguintes eventos: heterogeneidade de perfusão, alteração metabólica, disfunção diastólica do VE, dissinergia regional, alterações eletrocardiográficas e dor precordial.

No miocárdio normal, durante a sístole, há um espessamento da musculatura que é bem demonstrado pelo ecocardiograma e, após submetermos o coração a um estresse, quer seja por estímulo físico ou farmacológico, podemos observar a quarta etapa da cascata isquêmica que é a diminuição ou ausência do espessamento sistólico, um evento precoce, sensível e específico da isquemia.

Resultando em última estância em morte neuronal. Por outro lado, áreas vizinhas com perfusão parcial, manterão um funcionamento ainda que anormal, mas potencialmente reversível. Estas áreas, chamadas de “penumbra” são o principal alvo da terapêutica atual.

- Prevenção

Apesar de todas estas novidades que surgem no tratamento do acidente vascular cerebral, ainda é a prevenção o principal fator atuante sobre a doença. A identificação correta do risco deve ser preocupação permanente do Profissional que, através de exame minucioso, deve destacar as possibilidades da doença.

A identificação de arteriosclerose familiar, o estudo cuidadoso do coração e das artérias, procurando arritmias e sopros. O exame do fundo de olho, sempre fundamental para a avaliação do estado das artérias.

O controle da hipertensão arterial e do diabetes, bem como do colesterol e do peso.

A eliminação do tabagismo e da vida sedentária e o combate ao estresse. Muitas vezes há necessidade de orientação da dieta apropriada e também do uso de medicamentos.



- Papel do Enfermeiro

Cabe ao enfermeiro orientar o doente e estimulá-lo a fazer os exercícios em casa, assim como aconselhar quanto aos cuidados a ter com a pele, bexiga e intestinos e ajudá-lo na escolha e utilização de dispositivos e aparelhos de que necessita. Cabe-lhe também dar informações, apoio e orientações à família e a outras pessoas envolvidas na prestação de cuidados.

Os com seqüela de AVC, têm uma diminuição da força muscular gerando dependência de outros, tanto no meio hospitalar quanto no domiciliar. Cuidar parece ser um papel específico e definidor de enfermagem, mas a casos que a família é fator essencial para este cuidado e a enfermagem tem como aliada no tratamento destes pacientes. A família deve sempre estar orientada e sendo orientada a evolução deste paciente. O paciente com suas atividades restritas passa a depender de outrem para a higiene corporal, para seu conforto e até mesmo para sua auto-estima. Desta forma pode ser que ocorram outras deficiências.



- Prescrição de Enfermagem

1- Realizar exercícios passivos nos membros afetados. Fazer os exercícios lentamente, para permitir que os músculos tenham tempo de relaxar e apoiar extremidades acima e abaixo da articulação para prevenir lesões nas articulações e nos tecidos;

2- Durante os exercícios, os braços e as pernas do cliente devem ser movimentados delicadamente no limite de sua intolerância à dor e realizar o exercício lentamente, permitindo o relaxamento muscular;

3- Ensinar o cliente a realizar exercícios ativos nos membros não afetados, no mínimo quatro vezes por semana;

4- Apoiar as extremidades com travesseiros, para evitar ou reduzir o edema;

5- Posicionar em alinhamento para prevenir complicações.

 Usar apoio para os pés;

 Evitar períodos prolongados sentado ou deitado na mesma posição;

 Mudar a posição das articulações do ombro a cada 24 horas;

 Apoiar a mão e o punho em alinhamento natural;

 Usar talas de mão e pulso.

6- Proporcionar mobilização progressiva;

• Auxiliar lentamente para a posição sentada;

• Permitir que as pernas fiquem suspensa sobre a lateral da cama por alguns minutos antes de ficar em pé;

• Limitar em 15’, três vezes por dia as primeiras saídas da cama;

• Aumentar o tempo fora da cama em 15’ conforme o tolerado;

• Evoluir para a deambulação com ou sem auxílio;

• Encorajar a deambulação por períodos curtos e freqüentes;

• Aumentar progressivamente as caminhadas a cada dia.

7- Implementar as precauções de segurança;

• Proteger as áreas com sensibilidade diminuída dos extremos de frio e calor;

• Orientar quanto às complicações da imobilidade:

1- Flebite;

2- Escara de decúbito;

3- Comprometimento neurovascular.

8- Auxiliar nos cuidados diários como higiene geral, vestir-se, alimentar se.

9 – Administrar medicações conforme prescrição medica;

10 – Aferir sinais vitais;



CONSIDERAÇOES FINAIS

Muitas vezes, torna – se necessário em ultimo caso a contenção de pacientes mais agitados e principalmente quando estes dependem de prótese ventilatória. As manobras de contenção, quando utilizadas de maneira consciente, e, portanto, com finalidade terapêutica, poderão ajudar a pessoa internada em ambiente desconhecido a diminuir o nível de ansiedade. As atividades de enfermagem são direcionadas para evitar posturas inadequadas que contribuam para lesões do sistema músculo-esquelético e contribuindo para a preservação da boa mecânica corporal.

O processo de enfermagem, implica numa implementação de cuidados de enfermagem de modo que o trabalho seja executado dentro de um protocolo direcionado para todos os diagnósticos avaliados pelo Enfermeiro.

Devemos valorizar a prática de enfermagem, mas, sobretudo a prática elaborada com fundamentos científicos e com análise dos resultados esperados que teremos através do processo de enfermagem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:



1. ASPESI,Nelson e GOBATTO,Pedro. Acidente vascular cerebral. Outubro de 2001. Acessado em 22 de janeiro de 2002. (www.abcdcorposalutar.com.br)

2. ANDRÉ, Charles. Manual de AVC. 1a edição. Editora Revinter: Rio de janeiro, 1999.

3. BARRETO, N.D.M. et al. Prevalência da hipertensão arterial nos indivíduos de raça negra. Arquivos Brasileiros de Medicina, v. 67, n. 6, p. 449-51, 1993.

4. CAMBIER,J.;MASSON,M.;DEHEN,H. Manual de neurologia. 9a edição. Editora MEDSI: São Paulo, 1999.

5. MACHADO, Ângelo. Neuroanatomia funcional. 2a edição. Editora Atheneu. Rio de Janeiro, 1993.

6. NETO, Alcindo. Acidente vascular cerebral. Acessado em 15 de janeiro de 2002.(www.medstudentes.com.br/neuro/neuro8.htm)

7. Jornal da AME. AVC: o que fazer diante do derrame. Setembro de 2000. Acessado em 22 de janeiro de 2002.(www.entreamigos.com.br)

8. Sem autor. Doenças das carótidas. Acessado em 22 de janeiro de 2002. SOS vascular. (www.sosdoutor.com.br).