Atriz de “Amor à Vida” engrossa estatísticas de mulheres que sofrem de endometriose

Por Ricardo Machado | 22/08/2013 | Saúde

A atriz Fernanda Machado, atualmente no ar na novela global “Amor à Vida”, se submeteu recentemente a uma cirurgia de endometriose, o que a afastou por alguns dias das gravações da trama das nove. Mas Fernanda não está sozinha e faz parte de uma estatística alarmante: cerca de 15% das mulheres entre 15 e 45 anos de idade sofrem desse mal.

Como a dor causada pela endometriose é frequente e muitas vezes intolerável, é comum que as mulheres tenham que se afastar de suas atividades laborais, assim como Fernanda. “O incômodo pode ficar ainda maior durante o período menstrual”, explica o ginecologista Marco Aurélio Pinho de Oliveira, membro da Comissão Nacional de Endometriose da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). “A cólica menstrual é o pior sintoma, e a dor é incapacitante”, diz. Ele alerta ainda que é importante que as pessoas se conscientizem que sentir dor durante a menstruação não é normal. “Nesses casos o recomendado é procurar a ajuda de um especialista”, completa.

Mas afinal, o que é essa doença que afeta a vida de tantas mulheres? “Consiste na presença do endométrio, que é a camada interna do útero, em outros locais”, diz Pinho de Oliveira, que também dirige o Ambulatório de Endometriose do Hospital Universitário Pedro Ernesto, ligado à Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Ele explica que, no momento da menstruação, parte do sangue eliminado passa pelas trompas e cai dentro da barriga. Ele contém células que têm a capacidade de crescer em locais como o ovário. “Quando o sistema imunológico responsável pela defesa do organismo não consegue eliminar essas células tem início o processo que leva à endometriose”, completa.

Repercussões

A doença afeta as mulheres de várias maneiras. “A vida conjugal, por exemplo, pode ser prejudicada pelas queixas de dor na relação sexual e pela ausência de gravidez”, explica o ginecologista. Mas as cólicas, a infertilidade e as dores durante a relação sexual não são os únicos sinais. “Dor com irradiação para a raiz da coxa ou para o ânus e desconforto para evacuar (às vezes acompanhada de diarreia) ou para urinar durante o período menstrual também são sintomas da doença”, esclarece.

Prevenção, diagnóstico e tratamento

 

Como o estabelecimento da endometriose necessita da presença da menstruação, qualquer tratamento que consiga bloqueá-la por um tempo prolongado pode impedir ou dificultar o crescimento dos focos. “Existem alguns medicamentos hormonais que são normalmente usados para esse fim”, diz Marco Aurélio Pinho de Oliveira. No caso de mulheres que já sofrem da doença, é importante estimular o conceito de prevenção secundária, ou seja, impedir ou dificultar o avanço.

De acordo com ginecologista, o toque ginecológico pode revelar nódulos fixos e dolorosos na parte posterior do útero. “O toque retal também pode detectar o envolvimento dos tecidos em torno dele e do reto”, informa. A coleta de sangue venoso para dosagem do Ca-125 também pode ser utilizada, especialmente quando realizado no período menstrual.

Mas a certeza do diagnóstico só pode ser dada por meio da biópsia feita durante a laparoscopia. “O procedimento consiste na introdução de uma microcâmera através de um pequeno corte no umbigo e na manipulação da cavidade abdominal com instrumentos cirúrgicos delicados”, explica. Por ser considerada uma cirurgia, já que necessita de anestesia geral, ela assume cada vez mais um papel no tratamento. "A alta qualidade da visão obtida permite a ressecção precisa dos focos de endometriose, minimizando a formação de aderências, com o consequente aumento das taxas de gravidez”, completa.

É importante salientar que a endometriose não é um câncer e não leva à morte. Porém, ainda assim, não se pode garantir a cura definitiva, mesmo com o tratamento adequado. “Mas a dor e os sintomas da doença podem ser bastante reduzidos, preservando inclusive a fertilidade”, explica o especialista. “Uma coisa é consenso: o pior a fazer é não fazer nada, já que a doença pode ser evolutiva”, finaliza.