ATITUDES EMPREENDEDORAS

Por CLAUDIA MARIA BONIFACIO | 06/11/2009 | Adm

 

Palavras-chave: Empreendedor, visão, sistema

 

 

1. Introdução

 

 

1.1  – Teorias Administrativas Tradicionais

 

            As organizações influenciam o ambiente, pois se constituem pelo e para o ser humano, modelando a vida das pessoas e satisfazendo as necessidades delas. Estão inseridas em um ambiente e suas relações com este trazem conseqüências ao seu próprio desenvolvimento, pois são elementos interligados que se influenciam. Segundo Daft (1999) as organizações são entidades sociais, dirigidas por metas, projetadas como sistemas de atividades, deliberadamente estruturadas e coordenadas e interligadas ao ambiente externo, elas são unidades sociais, que foram intencionalmente construídas e reconstruídas, a fim de atingir objetivos específicos.

Administrar estas organizações tem sido um constante desafio, embora a história da administração constituiu-se como uma constante luta pela ordem, pelo controle e pela previsibilidade. As teorias administrativas fortemente influenciadas pelo pensamento cartesiano utilizavam-se de modelos mecanicistas para encontrar o sucesso das organizações. A atuação em um ambiente globalizado exige das organizações uma nova percepção, onde se torna necessário ver o todo e não apenas as partes, as organizações para serem competitivas necessitam aprender a competir com cooperação e com interação com o ambiente no qual estão inseridas.

A sociedade industrial surgiu sob a crença segundo a qual os fenômenos podem ser compreendidos em partes, reduzidos em unidades básicas e depois de analisados, o todo seria a soma destas partes. Essa ação reducionista permitiu criar modelos, fazer categorizações, controlar, mas também criou obstáculos à compreensão de mudanças. A ciência das organizações oriunda deste contexto reducionista teve seu êxito em seu tempo, mas agora está fadada ao abandono.

Baseado em preceitos de nunca aceitar como verdadeiro qualquer coisa sem a reconhecer como tal, de dividir as situações em partículas cada vez menores para alcançar a melhor solução, iniciando a ordenação dos pensamentos pelos objetos mais simples e fáceis de serem conhecidos, ordenando estes de forma completa para não deixar dúvida Descartes apresentou um racionalismo radical, fez o pensamento funcionar independente da experiência. A divisão cartesiana se reflete no modo organizacional do ocidente, a sociedade dividida em nações, raças, grupos políticos, entre tantas outras fragmentações tem-se tornado um ambiente de crises sociais, exploração exacerbada da natureza, conflitos econômicos e políticos. Não se pode negar que a divisão mecanicista do mundo trouxe avanços nos estudos científicos e nas descobertas tecnológicas que permitiu o desenvolvimento da sociedade, mas este desenvolvimento sempre apresentou características de dominação.

A literatura sobre as organizações tem evidenciado que a teoria administrativa evoluiu gradativamente e de forma bastante abrangente. Marca o seu início a teoria dos sistemas fechados. Nesse sentido, Betman & Snell (1998) lembram que, até a primeira metade do século vinte, as organizações eram vistas como sistemas fechados, davam menor ênfase às forças do ambiente externo e que estavam apenas preocupadas com métodos e processos de trabalho. As organizações inspiradas na idéia de homem-máquina, planejadas e operadas com rigorosa precisão, regidas a luz da burocracia, acreditavam que as conclusões obtidas em uma empresa seriam generalizáveis para qualquer outra organização (Bauer, 1999).

A administração científica, difundida neste contexto, teve como pioneiro Frederick Taylor. Este afirmava que as decisões administrativas deviam ser baseadas num estudo científico. Ao propor o estudo de tempos e movimentos, onde o cronômetro era o instrumento básico, visava medir o tempo de cada um dos movimentos elementares de uma atividade produtiva buscando minimizar o tempo ideal de uma atividade. Inspirado na Lei de Termodinâmica de Carnot, este buscava a maximização da eficiência de cada uma das atividades o que permitiria a maximização da eficiência industrial (Bauer, 1999).

Daft (1999. p. 8) resume o estudo das organizações como sistemas fechados:

 

Um sistema fechado não dependeria de seu ambiente; ele seria autônomo, encerrado e isolado do mundo externo. Embora este sistema realmente fechado não possa existir, os primeiros estudos organizacionais focalizavam sistemas internos. Os primeiros conceitos gerenciais, incluindo o gerenciamento cientifico, estilo de liderança e engenharia industrial, consistiam em abordagem de sistemas fechados porque tomavam o ambiente por certo (...) o ambiente seria estável e previsível, e o único problema do gerenciamento seria fazer tudo funcionar eficientemente.

 

As organizações caracterizadas pelo comportamento racional sofrem ao não conseguir interagir com a totalidade do ambiente onde estão inseridas. Formas de atuação baseadas no cartesianismo não são suficientes para explicar a totalidade das relações. Muitas ainda acreditam ser possível permanecer no mercado atuando dentro de visões racionalistas, mas a interação e interdependência das atividades tornam insuficiente a atuação baseada no rigor do paradigma cartesiano. É preciso lidar com diferenças entre um mundo eletrônico, baseado na lógica binária dos computadores e as sutilizas dos sentimentos presentes nas interações humanas e decisões organizacionais. Questionar e impor dúvidas para encontrar “as verdadeiras” verdades torna-se impossível em um ambiente dinâmico de atuação e de diferentes sentidos, é preciso ver a totalidade (Vergara & Branco, 1993).

 

1.2 –  Teorias Sistêmicas

           

No contexto atual, torna-se impossível retratar a atuação humana através de partes, a busca de clareza, rapidez, precisão e regularidade introduzida pela burocratização que visava a rotinização dos processos, não pode ser aplicada ao comportamento humano, pois afeta diretamente o atendimento de suas necessidades. O homem não pode ser visto em partes, assim como as organizações. Estas têm necessidades de permanência competitiva, de expansão e de reconhecimento, tratá-las em partes compromete seu desempenho, é preciso atuar em conjunto com o ambiente, interagindo e modificando a percepção (Morgan, 1996).

Em 1918, Mary Parker Follet já falava na necessidade de os administradores considerarem a “situação total”. Essa pioneira imaginava um modelo holístico de gerência, que incluía não apenas os indivíduos e os grupos, mas também os efeitos de fatores ambientais, como política, economia e biologia. Outros pensadores retomaram a mesma proposição e desenvolveram diversas linhas de pensamento que convergiram para o moderno enfoque sistêmico. Três são as mais importantes dessas linhas de pensamento: a teoria da forma (ou Gestalt), a Cibernética e a Teoria Geral dos Sistemas.

Max Wertheimer e outros psicólogos alemães desenvolveram o conceito de Gestalt. Em 1924, Wertheimer sintetizou os princípios da teoria:

A fórmula fundamental da teoria da Gestalt pode ser expressa da maneira a seguir. Há todos ou totalidades, cujo comportamento não é determinado por seus elementos individuais. Ao contrário, as partes-processos é que são determinadas pela natureza intrínseca do todo. A teoria da Gestal espera poder definir a natureza desses todos.

 

 

            A Teoria da Forma (ou Gestalt) já é suficiente para induzir o enfoque sistêmico, porque sua idéia básica (a idéia de que a finalidade do conjunto define a natureza de suas partes) conduz a um raciocínio integrativo, que considera qualquer objeto, evento ou sistema do ponto de vista do conjunto a que pertence.

            Na década de 40, o enfoque sistêmico recebeu algumas contribuições importantes do matemático americano Norbert Wiener. Wiener participou do projeto de desenvolvimento de mísseis autocontrolados, que deram origem aos mísseis inteligentes e a muitos sistemas automáticos da atualidade. Em uma das etapas desse projeto, Wiener verificou que o sistema que pretendia desenvolver poderia inspirar-se em um modelo de autocontrole dos organismos vivos.

            A idéia central da Cibernética é o autocontrole dos sistemas, visando ao alcance de um objetivo. De acordo com Wiener, o comportamento autocontrolado, tendo em vista a realização de um objetivo, é um comportamento cibernético.

            O autocontrole dos sistemas por meio da informação está ligado à idéia de equilíbrio dinâmico (o equilíbrio entre o sistema e seu objetivo), que passou da cibernética para o campo da administração. A principal aplicação desta idéia é o conceito de que todo sistema deve ser autocontrolado por meio de algum fluxo de informação (feedback) que lhe permita manter sempre o funcionamento desejado.

            O método que procura entender como os sistemas funcionam é a teoria Geral dos Sistemas, desenvolvida pelo cientista alemão Ludwig Von Bertalanffy. Para Bertalanffy:

É preciso analisar não apenas os elementos, mas também suas inter-relações (...). Isso exige a exige a exploração dos muitos sistemas no universo à nossa volta, com todas suas particularidades. Além disso, é evidente que há aspectos gerais, correspondências e isomorfismos comuns aos sistemas. A teoria Geral dos Sistemas, portanto, é a exlporação cinentífica de todos e totalidades que, há pouco tempo, eram considerados noções metafísicas, que transcendiam as fronteira da ciência.

 

            A segunda idéia importante da teoria é uma variante da primeira. De acordo com Bertalanffy, essa idéia é a necessidade de aplicar vários enfoques para entender e lidar com uma realidade que se torna cada vez mais complexa:

A tecnologia e a sociedade hoje tornaram-se tão complexas que as soluções tradicionais já não são suficientes. É necessário utilizar abordagens de natureza holística ou sistêmica, generalistas ou interdisciplinares.

 

            Segundo a teoria Geral dos Sistemas, os limites de um sistema dependem não do próprio sistema, mas do observador. As fronteiras entre sistemas, ou entre o sistema e seu ambiente, são arbitrárias. Enxergar sistemas é a habilidade que corresponde a essa idéia. Mais tarde, outros autores reforçariam essa idéia, recusando as definições de sistemas como entidades com atributos objetivos. Sistemas devem ser definidos em termos da percepção e das distinções traçadas pelos observadores.

           

           

2. Método

 

            Para a elaboração deste artigo, foram realizadas pesquisas exploratórias com o intuito de contextualizar a teoria referente ao pensamento sistêmico moderno em contraponto ao pensamento organizacional tradicional. A pesquisa concentrou-se também, em identificar empreendedores famosos que demonstraram de forma mais explícita possível, possuírem visão sistêmica no empreendimento de negócios.

            Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica na Biblioteca Central da Universidade de Brasília (UnB), na Internet e em exemplares da revista Exame. Foram feitos resumos para que todos os componentes pudessem participar da discussão e elaboração do artigo.

            Como resultado das pesquisas, foram obtidos diversos trabalhos na Internet que discutiam sobre o tema proposto. Foram obtidos também, livros sobre visão sistêmica e revistas com entrevistas e reportagens que detalhavam perfis de empreenderores famosos.

O material obtido também serviu como base para a elaboração de uma apresentação, resumindo o inteiro conteúdo do artigo. A apresentação foi realizada mediante slides projetados para os colegas da turma de administração empreendedora.

A introdução serviu como uma breve revisão literária do tema, uma visão geral dos aspectos teóricos mais importantes da pesquisa.

O resultado foi formado com as reportagens obtidas na pesquisa.

O material e o conhecimento obtido anteriormente, durante o curso da matéria, foram utilizados para delinear as características do empreendedor, com o intuito de fazer a conclusão do artigo, direcionada ao tema específico deste artigo: visão sistêmica.

 

3. Resultado

 

O foco do nosso trabalho, visão e pensamento sistêmico, é um pouco difícil de achar explicitamente em entrevistas e artigos. É um comportamento que, na verdade, fica subentendido em decisões tomadas e/ou ações e comportamento de cada um.

Sendo assim, selecionamos alguns artigos onde podemos destacar o pensamento sistêmico como um ponto forte no sucesso empresarial bem como a falta da visão sistêmica pode representar uma falha grave e conduzir o empreendimento ao fracasso.

Artigos sobre ramos de negócios diversos abordam ações e decisões tomadas por empresas, na iniciativa privada, e por governos e órgãos, no ambiente público, que nos permitem verificar o pensamento sistêmico.

No Brasil, é patente a urgência em modernizar a infra-estrutura de escoamento da produção nacional. Esse é um assunto que vem sendo tratado nas esferas governamentais (municipal, estadual e federal), e mais recentemente pela iniciativa privada (por meio das PPPs – Parceria Público-Privado), já há anos e nada de concreto foi feito para que se revertesse o quadro e evitar que chegássemos à situação deficitária que vivenciamos hoje. As dificuldades de hoje, a saber: filas nas estradas para descarregar nos portos brasileiros, estradas em situação precária, portos sem estrutura, falta de contêiners, malha ferroviária insuficiente para escoamento etc. É interessante notar que, as mais recentes iniciativas para resolver este problema são de empreendedorismo coletivo: várias empresas se juntam, até mesmo com o governo, para propor e viabilizar soluções.

A situação precária em logística no Brasil vem sendo alvo de diversas reportagens na imprensa a exemplo da Revista Exame em “Releiam o relatório” de outubro de 2004. No artigo fica claro a falta de pensamento estratégico que acomete o nosso governo e emperra a produção brasileira, pois estamos operando no limite de nossa capacidade. No passado não houve investimento na infra-estrutura e o reflexo das decisões daquela época se dá agora. Hoje, o objetivo do “sistema”, realizar o escoamento da produção nacional, encontra-se comprometido e sem perspectivas de solução em curto prazo. É o retrato de um Brasil que se lança cada vez mais ao exterior – mas que ainda carece de infra-estrutura para garantir que os produtos saiam do campo e cheguem aos portos em pouco tempo e em condições competitivas.

Em um exemplo totalmente oposto ao exposto acima, ainda na mesma edição da Exame, relata-se a vida e o perfil de Francesco Matarazzo, um grande empreendedor. “Francesco Matarazzo não foi apenas um dos maiores empresários da história brasileira. Matarazzo foi o maior empreendedor do país em todos os tempos e ainda um dos nomes de destaque do capitalismo mundial” relata a Exame. Numa época em que o Brasil tinha dois terços de sua população vivendo no campo, virada do século 19 para século 20, o italiano Francesco ergueu um império diversificado que empregava mais de 30.000 pessoas e tinha mais de 200 empresas. Seu sucesso nos negócios estava intrinsecamente ligado à sua capacidade de analisar todos os elementos de um mercado e o objetivo a ser alcançado com muita precisão e profundidade. Fato, digo, característica pessoal que seus sucessores não tinham, não têm.

Ele foi beneficiado, de certa forma, pela época em que viveu, pois não existia muita competição com empreendedores locais. “Circunstâncias históricas favoreceram a formação do império Matarazzo... Tudo o que implantava tinha caráter pioneiro, preenchia uma lacuna no mercado” cita a reportagem. Nas palavras do jornalista percebemos a visão sistêmica desta personalidade. As “sacadas” de negócios que tinha o tornaram uma pessoa de sucesso.

A revista menciona “Sem saber, é claro, Matarazzo estava construindo o que mais tarde seria conhecida como a economia de mercado.” É interessante observar que “No tempo em que Matarazzo e seus contemporâneos bilionários de todo o mundo viveram, a influência que eles tinham transcendia o campo dos negócios”. Ou seja, pelo pensamento sistêmico tanto a empresa e os gestores sofrem influência do ambiente como também influenciam o meio onde estão inseridos.

“Para ele, comprar era até mais importante do que vender pelos melhores preços” segundo a reportagem. Aqui percebe-se que ele tinha uma opinião que invertia a importância dos elementos de um sistema: entrada, processamento e saída, pois ele dava mais importância à entrada do que a saída como é o usual no mundo dos negócios. Seu foco no trabalho era o oposto do que se prega, talvez pela pouca concorrência que havia na época. Em todo caso, não deixa de ser uma experiência curiosa e digna de ser estudada mais a fundo.

Além da visão sistêmica, Matarazzo possuía outras qualidades que eram marcantes em seu perfil gerencial/empreendedor como ele mesmo “gabava-se da memória que, descrita como “prodigiosa”, considerava um trunfo, além da habilidade de fazer contas sem ajuda do lápis.”

Uma outra edição de Exame traz a reportagem “A vida começa aos 75 anos”. No artigo são citados alguns empreendedores que alcançam o sucesso e que, no entanto, mesmo já podendo se aposentarem, não conseguem. Seja pelo gosto pelo trabalho seja pelo dinamismo com que levam a vida. Há também uma razão pouco comum de se ver nas pessoas, mas que de maneira geral podemos notar em  empreendedores de sucesso que é a visão sistêmica. A passagem a seguir ilustra que toda e qualquer atividade com que lidam essas pessoas tendem a render lucros pela capacidade de identificação dos elementos de um sistema, bem como de entendimento de como se inter-relacionam: “O gaúcho Raul Rondon, de 75 anos, controlador do grupo de implementos rodoviários Randon, já tentou pendurar as chuteiras diversas vezes, trocando seu dia-a-dia na empresa por hobbies. Todos tornaram-se novos negócios: maçãs, queijos, vinhos.”

Os exemplos citados demonstram que a atividade empreendedora, seja de cunho individual seja coletivo, precisa ter, dentre muitos outros atributos, o pensamento sistêmico sob o risco do negócio tornar-se um fracasso.

 

 

 

4. Discussão/Conclusão

 

Os empreendimentos se constituem com finalidades especificas, buscando sempre a satisfação das necessidades dos indivíduos. Estes estão inseridos em um ambiente e suas relações com este trazem conseqüências ao seu próprio desenvolvimento, pois são elementos interligados que se influenciam.

Criar e administrar um empreendimento tem sido uma contenda. A história da administração é marcada pela constante busca da eficiência, pela ordem, pelo controle e pela previsibilidade. A racionalidade dos processos, instituída pelas teorias administrativas influenciadas pelo pensamento cartesiano, moldaram as organizações a exemplos de máquinas, desconsiderando o ambiente e as relações com este. Esta conduta permitiu às empresas, no surgir da era industrial, um grande sucesso, pois as organizações encontraram nestas teorias uma maneira de gerir grandes investimentos, pela regularidade das ações, pelo rigor e pela confiabilidade das ações regidas pela burocracia.

As grandes transformações e o constante cenário de mudança exigiu das organizações atuantes no mundo global, uma nova conduta. O ambiente passa a ser considerado como um fator necessário para a permanência no mercado, é através da análise ambiental e das relações mantidas entre a organização e o ambiente em que a mesma está inserida que se torna possível à realização de feedbacks, que conduzem a busca por posições estratégicas. A permanência competitiva das organizações contemporâneas está no conhecimento adquirido por organizações de sistemas abertos, onde o indivíduo passa a ser valorizado e incentivado a tomar suas próprias decisões, em vez do uso puro e simples de comandos e controles diretos, difundido pelas teorias mecanicistas.

Muito se fala atualmente sobre a necessidade de gestores e empreendedores terem visão sistêmica de seus negócios. Vê-se noticiado em revistas, periódicos e, principalmente, no ambiente acadêmico.

De fato, é uma das características mais importantes que um gestor ou empreendedor deve possuir dentre, é claro, um universo de outras qualidades como saber comunicar-se, ter tino para os negócios e capacidade de vislumbrar oportunidades e ameaças, saber liderar etc.

Em contraponto às teorias tradicionais, a idéia de sistema, elementos que interagem e influenciam-se, agregados em conjunto ou todos complexos, surgiu como a essência do enfoque sistêmico. É uma idéia simples, mas de grande influência na formação intelectual do empreendedor de negócios no mundo moderno. O enfoque sistêmico oferece ao empreendedor uma visão integrada da organização e do processo administrativo. O enfoque sistêmico é também uma ferramenta para planejar e montar sistemas que produzam resultado.

Uma das premissas mais importantes do moderno enfoque sistêmico é a noção de que a natureza dos sistemas é definida pelo observador. Para entender a complexidade, é preciso ter a capacidade de enxergá-la. O empreendedor que possui uma visão sistêmica aprende a enxergar sistemas e sua complexidade. Para enxergar sistemas, é preciso educar-se para perceber os elementos da realidade como parte de sistemas. Todas as organizações são sistemas que podem fazer parte de outros sistemas maiores.

A necessidade de compreender a complexidade do ambiente na atualidade é de suma importância para o sucesso de um novo empreendimento. O empreendedor de sucesso precisa visualizar como será seu novo empreendimento, seu novo sistema dentro do ambiente ao qual pertence.

Boa parte dos empreendedores inicia seu negócio confiando em seus conhecimentos técnicos sobre o produto ou serviço a ser oferecido adicionado a grande disposição e motivação. Entretanto, se o empreendedor não estudar se o seu novo sistema pode interagir com o meio, o negócio provavelmente irá fracassar.

Após estudar o seu empreendimento como um ser vivo dentro de um ambiente maior, o empreendedor deve se preocupar em como deverá ser a alimentação de seu sistema, como adquirir matéria-prima e pessoas para seu empreendimento. Deve buscar eficiência em seus processos internos para criar resultados que atendam às necessidades do mercado, que será a sua fonte de informações para melhoria de seus processos ou mudanças estratégicas.

Um exemplo ilustrado no artigo deixa bem clara a vantagem obtida por um empreendedor que possuía uma boa visão sistêmica. Francesco Matarazzo conseguiu formar um grande império, pois cada novo empreendimento ia de encontro com a necessidade do mercado. Seus empreendimentos estavam em sintonia com o ambiente. A importância dada ao processos internos era acessória e não principal. Afinal, a interdependência entre o sistema “vivo” e o ambiente, é o mais importante.

     

 

 

 

5. Referências bibliográficas

 

DAFT, R. L. Teoria e projeto das organizações. 6 ed. Rio de Janeiro: LTC, 1999;

 

BETMAN, T. S. & SNELL, S. A. Administração: construindo vantagem competitiva. São Paulo: Atlas, 1998;

 

BAUER, R. Gestão de Mudança: Caos e complexidade nas organizações. São Paulo: Atlas, 1999;

 

Taylor, Frederick W., 1964, Scientific Management - Comprising Shop Management;

 

VERGARA, S. C., & BRANCO.P.D., A necessidade de uma visão de totalidade por parte dos administradores em oposição a uma visão de mundo reducionista e fragmentada. In: Revista de Administração de Empresas. São Paulo, 1993;

 

MORGAN, G. Imagens das organizações. São Paulo: Atlas AS, 1996;

 

FOLLET, Mary Parker. Profeta do gerenciamento: uma celebração dos escritos dos anos 20. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1997;

 

MAX WERTHEIMER, Gestalt theory. Social Research, 1924;

 

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Revista Exame, Editora Abril, Edição 823, ano 38, 4/08/04;

 

Revista Exame, Editora Abril, Edição 829, ano 38, 27/10/04;