Atitudes dos Profissionais de saude frente as mulheres com abortamento
Por Cundi Miguel | 28/06/2011 | PsicologiaINTRODUÇÃO
A sociedade é um conglomerado de indivíduos que pela sua particularidade manifestam um comportamento heterogéneo. Em função dessas particularidades o sujeito pode ser objecto de um trabalho social favorável (aceitação social) ou desfavorável (rejeição, rechaço). Este pensamento é consequência da postura assumida por diferentes sujeitos relativamente as (mulheres em abortamento)
Partindo de uma constatação feita e presenciada junto dos serviços de maternidade do hospital provincial de Cabinda sobre o comportamento exteriorizado pelos profissionais de saúde face as utentes com este agravo a saúde "abortamento", prestando-lhes pouca atenção e usufruindo de uma assistência despersonalizada e marcada por acções, relações preconceituosas (descriminação subtil, como que se estes fossem sujeitos - agentes e pacientes), a falta de um relacionamento terapêutico e humanizado entre o cliente e os profissionais de saúde, ocasionando uma assistência mecânica fragmentada e centralizada nos aspectos técnicos, deixando de lado o cuidado humano, dai as visíveis grandes dificuldades na inter relação das clientes e a equipa de saúde, levantamos a seguinte questão:
Quais são as causas das atitudes despersonalizadas dos profissionais de saúde no atendimento da mulher em abortamento na maternidade do hospital provincial de Cabinda?
Medidas de atitude
A ideia de que as atitudes representam a prontidão ou a predisposição de uma pessoa para responder a determinado objecto ou classe de objectos, de maneira favorável ou desfavorável, implica na constatação de que as mesmas não podem ser directamente medidas. Elas podem ser inferidas pela cuidadosa observação do comportamento das pessoas em situações sociais. As respostas a questionários elaborados, com a intenção de reflectir modos prováveis de sentir, reagir e agir, face a algum objecto de atitude, também possibilitam a identificação da atitude das pessoas.
Atitude a Valores
Segundo BALONE, (2005:s/p), os valores podem ser interpretados como atitudes geradas em relação a objectos de grande extensão e complexidade. Eles são categorias gerais dotadas também de componentes cognitivos, afectivos e de comportamento, diferindo das atitudes por sua generalidade.
A característica de generalidade dos valores e especificidade das atitudes faz com que uma mesma atitude possa derivar de valores distintos.
Exemplo: Uma pessoa pode ter uma atitude favorável em atender adequadamente uma cliente em estado de abortamento por valorizar a caridade, e outra, por valorizar o desejo de mostrar e respeitar ética profissional.
Em 1951, Allport, Vernan e Lindzey citado por DANIEL (2003:77) propuseram uma escala padronizada para a classificação das pessoas de acordo com a importância dada por ela a seis valores: teoria, estética, praticabilidade, actividade social, poder e religião.
Mudança no componente afectivo
Refere-se à mudança de atitude, porém relacionada à afeição.
Ex.: Devido a uma desavença, mudamos nosso comportamento afectivo em relação à alguém. A partir daí, começam os comportamentos hostis e a atribuição de defeitos (componente cognitivo), com o intuito de justificar a mudança de nosso afecto. Da mesma forma, passar a gostar de alguém com quem não simpatizávamos antes, é passar a perceber todos os defeitos capitais da pessoa de forma atenuada, ou até como virtudes.
Esse tipo de mudança de atitude é muito comum no cenário político mundial.
Mudança no componente comportamental
Refere-se à prescrição de determinado comportamento.
Ex.: A exigência de determinados pais para que os filhos estudem em escolas que não agrada aos pequenos, pode resultar numa reorganização dos componentes cognitivo e afectivo das crianças em relação ao colégio, passando este a ser um objecto de atitude positiva por parte delas.
Essa mudança de atitude caracteriza-se como uma busca de tornar as nossas crenças e afectos compatíveis/coerentes com o comportamento que precisamos exibir, assim como:
a. A Influências a serem consideradas no fenómeno da mudança de atitude.
b. A Influência do comunicador no fenómeno de mudança de atitude
Para Hovland, Janis e Kelley citado por MCGRAW (1995:218), a mudança de atitude deve ser provocada através de incentivos e reforçada para que se incorpore ao comportamento da pessoa. Eles apresentaram um estudo à respeito da origem das informações e de seus efeitos num determinado grupo. Verificou-se que as informações oriundas de fontes de alta credibilidade eram mais passíveis de promover uma mudança de atitude, que as de baixa credibilidade.
A aceitação tardia da comunicação oriunda de uma fonte de baixa credibilidade foi classificada como sleeper effect, que ocorre quando o recebedor dissocia a informação de sua fonte posteriormente.
Os mesmos autores dizem que, de fato, as intenções, os conhecimentos e a credibilidade inspirada pelo comunicador são variáveis importantes no que concerne à eficácia da comunicação persuasiva. Parece que a cultura tem algo à ver com a eficácia desta variável no processo persuasivo. Experimentos conduzidos por Walster e Festinger (1962) e por Becker (1965) demonstram que as pessoas que escutam uma comunicação persuasiva sem saber que ela está sendo dirigida à elas, mudam mais suas atitudes que aqueles que atribuem tendenciosidades e interesse por parte do comunicador. Porém, sugere que há uma mudança de objecto de julgamento e não no julgamento do objecto. Exemplo: versos de um mesmo autor apresentado à dois grupos distintos para análise. MCGRAW (1995:220)
Influência da forma de apresentação da comunicação no fenómeno de mudança de atitude.
Segundo MENDES, (2000:27-34), Esta pode ser apresentada de diversas formas:
Os resultados experimentais dos estudos de Hovland indicam ser a melhor posição, visto que com o passar da explanação do assunto, a audiência estará pouco motivada; porém, no caso de uma plateia sintonizada com o comunicador, a ordem dos argumentos em direcção ao clímax é mais eficiente.
Argumentação seguida de conclusão e/ou argumentação com conclusão implícita;
A apresentação da conclusão torna a comunicação mais clara e inequívoca, mas possui o inconveniente de despertar sentimentos negativos, referentes à uma possível parcialidade do comunicador. Ao deixar a conclusão para os ouvintes, o comunicador poderá parecer mais digno de crédito e menos interessado em conduzi-los para os fins desejados. Estudos revelaram ser a apresentação da conclusão mais eficiente para grupos pouco sofisticados intelectual e educacionalmente.
Apresentação de argumentos exclusivamente positivos:
Comunicação Unilateral ? apresentação dos argumentos prós ou contras certo tema;
Comunicação Bilateral ? apresentação de ambos os argumentos, sendo esta mais eficaz quando direccionada aos grupos mais sofisticados.
Porém, a escolha do tipo de comunicação depende da posição inicial da audiência e se ela será submetida à contrapropaganda. No caso de uma audiência à favor do exposto, recomenda-se a utilização da unilateral. A bilateral é de grande eficiência quando a audiência é exposta futuramente à contra propaganda. O fato de ter ouvido as duas posições, tem o poder de inocular a audiência contra as tentativas de persuasão no sentido contrário.
Apresentação de uma posição pouco divergente da do recebedor:
Latitude de aceitação ? a posição aceitável em relação à um tema, sem exclusão de outras opiniões também aceitáveis à respeito de determinado assunto, mesmo que não seja exactamente a mesma;
Latitude de rejeição ? Idem, porém em sentido inverso à anterior;
Latitude de não-envolvimento ? possuem latitudes de aceitação e rejeição pequenas.
Logo, tentativas de persuasão com pessoas cujas latitudes de rejeição são muito grandes, devem ser moderadas. Apelo a argumentos de natureza emocional e/ou apresentação de argumentos racionais, Comunicações com apelos emocionais:
a. Desperta mais atenção ao seu conteúdo;
b. Motiva o recebedor a entender a essência da comunicação, e
c. Facilita a aceitação das conclusões sugeridas.
Surtem mais efeito em audiências pouco sofisticadas intelectualmente.
Apelo a argumentos suscitadores de medo ou exclusão; Ou seja, uma comunicação que ameace o recebedor no sentido de que decorreriam situações desagradáveis de sua não-aceitação de determinado argumento. Porém, isso pode também suscitar a criação de defesas que resultem numa maior resistência.
1.9.1 ? Influência do tipo de audiência (Monteiro: 2003)
Segue abaixo a análise do efeito na personalidade dos recebedores da comunicação:
Personalidade do recebedor da comunicação persuasiva
Factores de personalidade capazes de resultar em maior ou menor persuabilidade:
a. auto-estima ? quanto maior a auto-estima, menos susceptível de influência será o indivíduo, ou seja, menos conformismo ele irá demonstrar.
b. autoritarismo ? pessoas autoritárias são altamente influenciáveis por comunicadores de prestígio.
c. isolamento social ? a sensação de isolamento conduz a uma maior dependência de aprovação por parte dos outros, o que representa maior susceptibilidade à influência.
d. maior ou menor riqueza de fantasias ? pessoas mais fantasiosas são mais propensas á persuasão.
e. sexo ? considerando o papel "passivo" da mulher (estabelecido pela sociedade), elas apresentam-se mais persuasíveis.
f. tipo de orientação vital ? pessoas que não estabelecem metas e objectivos pessoais e nem buscam por uma independência pessoal, são mais susceptíveis à persuasão.
Filiação a grupos sociais e susceptibilidade influência
Pesquisas realizadas pelos estudiosos da época, confirmaram que quanto mais inserido e realmente conectado com os ideais de um grupo, menos susceptível torna-se o indivíduo às comunicações contrárias às normas do grupo. E, além disso, as atitudes formadas no grupo ao qual este indivíduo encontra-se filiado, perpetuam-se por longos períodos.
CONCLUSÃO
1. Relativamente aos "motivos que levaram o internamento", observou-se que as mulheres percebiam modificações anormais e sintomas não comuns durante a gestação, os principais entre eles foram o sangramento com ou sem dores abaixo ventre. Constatou-se, sobre "assistência recebida, que as entrevistadas referiram Evidenciando-se uma assistência mínima e limitada que traduz o real acompanhamento, que de certa forma precisa urgentemente implantar a sistematização da assistência holistica, no sentido de melhorar a assistência à paciente portadora desta patologia.
2. No que tange à "satisfação/insatisfação da paciente com a assistência recebida", percebeu-se que a satisfação está diretamente ligada à parte instrumental do serviço feito, isto é, as clientes julgaram que a equipa, por estar desempenhando funções técnicas, estaria cumprindo seu papel satisfatoriamente. Pôde-se perceber que a quantidade de procedimentos realizados foram insuficientes para se avaliar a qualidade da assistência como satisfatória. Com referência à insatisfação, verificou-se que as entrevistadas os aspectos psíquicos e sociais, como relacionamento interpessoal, apoio emocional e atendimento de solicitações, deficientes. Ao considerarem que nem todos os profissionais assumiam essa postura diante da assistência, deixaram entendido que a insatisfação não abrangia a totalidade dos profissionais, pois deram relatos ambivalentes como: algumas são boas, outras não.
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