Ataque ao World Trade Center em 2001

Por Paulo Eduardo Pereira | 28/09/2021 | Contos

Ataque ao World Trade Center em 2001

 

            Isso foi há 20 anos atrás e eu estava lá, as torres gêmeas de New York sendo completamente derrubadas por um ataque terrorista e eu estava lá. Parece brincadeira, mas eu estava lá nos Estados Unidos bem na semana do 11 de setembro de 2001.

 

            Essa sim foi uma situação que eu jamais imaginaria que passaria, eu nunca me senti tão pequeno e impotente quanto naqueles dias, pois nem tendo dinheiro, cartão de credito sem limite de gasto, amigos, contatos e uma grande empresa por trás, no caso a Johnson&Johnson, mesmo com tudo isso, eu não conseguia sair dali de jeito nenhum.

 

            Essa viagem tinha tudo para ser maravilhosa, uma viagem muito legal, afinal, além de ir a Feira de Embalagem PackExpo, justamente em Las Vegas, que eu queria muito conhecer, eu ainda iria pela terceira vez para Skillman / New Jersey  onde fica o Centro Mundial de Pesquisa da J&J, para uma série de reuniões, que na realidade não eram simples reuniões de projeto de embalagem, pois para orgulho meu, eram reuniões que eu mesmo havia marcado, em função da necessidade de tratar de alguns projetos globais que estavam sob a minha responsabilidade na época.

 

            Eu pretendia que fosse três situações de prazer, conhecer a tão famosa Las Vegas, terra dos cassinos e jogos no meio do deserto e mais importante do que isso, visitar uma das feiras mais importantes de embalagem do mundo e participar de reuniões de projeto no exterior e estar novamente na centro de pesquisa da J&J. Era bom demais para ser verdade e eu estava feliz por isso, só não imaginava que as coisas não sairiam como planejado, aliás nem de longe.

           

Tudo começou um mês antes, em Agosto de 2001, quando eu tive a viagem aprovada e marquei todas as reuniões de projeto na J&J em Skillman/New Jersey-USA, com bastante antecedência conforme recomendado pelo meu gerente, que já havia morado lá e conhecia bem a forma de trabalho dos americanos.

Foi tudo meticulosamente planejado e agendado para que a chegada, a estadia e a volta ocorressem na mais perfeita ordem e organização.

 

Foi um mês de preparação e ansiedade, tudo planejado minuciosamente, para que tudo desse certo.

Finalmente chegou o dia 8 de Setembro, o dia do meu voo, novamente pela Continental Airlines, pois eu faria escala em Houston para depois voar para Las Vegas, que até então eu pensava que ficava no Texas ou na Califórnia e depois descobri que na realidade ficava em Nevada no meio do deserto. Ignorância minha na época. Essa era a minha terceira viagem aos EUA, mas a primeira para visitar uma feira de embalagem lá.

O voo chegou em Houston por volta das 4:00 h da manhã. Fui direto para o terminal de onde partiria o meu voo para Las Vegas que sairia por volta das 7:00 h. Como era muito cedo estava tudo fechado, nenhuma loja, café ou banca de revistas aberta, só haviam pessoas lá esperando seus voos como eu. Tivemos que esperar por duas horas, até que por volta das 6:00 h tudo começou a se abrir e finalmente pudemos tomar um café e comer algo, para aguentar o tempo de espera até a partida do voo. Essa é a parte da viagem que eu normalmente não gosto, ficar esperando por tantas horas sem ter o que fazer. Por isso tenho o hábito de comprar pelo menos uma revista no aeroporto de Guarulhos.

Após toda essa espera, finalmente nosso voo partiu e desta vez na hora.

 

 

 

Chegando em Las Vegas, fui direto de táxi para o Hotel Riviera, que era bem grande. Sua entrada era um enorme cassino todo colorido, cheio de portas de entrada, muitas máquinas e muito barulho, aliás um barulho bem característico de máquinas caça níqueis, que eu passaria vários dias ouvindo. Mas esse barulho não incomodava, pois o lugar era tão agradável aos olhos que aquele barulho todo passava a ser música para os ouvidos de forma que todos ali acabavam se acostumando. Atrás da fachada muito colorida e iluminada haviam duas torres enormes de suítes e uma piscina compatível com o tamanho do hotel. E por falar nisso era impressionante o número de telefones públicos que havia em cada corredor daquele hotel ou mesmo no hall de circulação do andar térreo. Era para ninguém ficar sem telefonar, já que os telefones dos quartos eram altamente tarifados, pois você já começava pagando US$ 2,00 só pra fazer a ligação, mais as tarifas do tempo de utilização. Um absurdo!

 

Todo o andar térreo do hotel era ocupado pelo cassino, que ficava em um enorme salão onde se perdia de vista as máquinas caça-níqueis. Fiquei maravilhado, mas fui direto para a recepção. Como ainda era 9:00 h da manhã, não pude fazer o check-in, pois o horário de entrada daquele hotel era às 16:00 h. Sem opção tive que esperar até a hora de poder entrar, com a roupa do corpo e sem banho. Pelo menos eles me permitiram deixar as malas lá para eu não ter que ficar carregando elas pela cidade até a hora de entrar. Já que não tinha outro jeito, deixei as malas e sai para conhecer o cassino do hotel que era imenso, nem dava para contar o número de máquinas que tinha no salão. Embora eu não jogasse e nem tivesse vontade, por não ser adepto a jogos desse tipo, mesmo assim a visão e o barulho das máquinas eram contagiantes e envolventes. Mas não suficiente para me prender ali por muito tempo, pois assim que dei uma volta no cassino inteiro, vendo que até grandes motos Harley Davidson e luxuosos carros esportivos estavam expostos e eram dados como prêmios, sai por uma das portas para conhecer a tão famosa Las Vegas e para ser ainda melhor, começando pela avenida principal, a Las Vegas Boulevard Avenue. Nessa época ainda estava quente lá, os termômetros marcavam mais de 35o C, mas ainda bem que a humidade era baixa e o clima seco, o que não permitia que ficássemos suando em bicas, escorrendo e molhando a camisa. Logicamente dentro do hotel e do cassino a temperatura estava bem agradável, provavelmente uns 20o ou 22o C. O incrível foi observar que as várias entradas do cassino ao longo da avenida não eram fechadas por portas e tinham apenas uma forte cortina de ar, que conseguiam manter o local fresco, mesmo estando muito mais quente lá fora. Interessante notar o efeito que isso nos causava e como realmente funcionava, pois com apenas um passo para frente ou para traz sentíamos uma grande diferença de temperatura, separados apenas por uma cortina de ar. Assim que sai de dentro do hotel/cassino e senti a diferença de temperatura e principalmente os 35o C daquele lugar, imaginei que logo logo estaria suando muito, pois estava de camisa de manga longa e teria que passear à pé debaixo de um sol escaldante. Mas me enganei profundamente, pois como o clima era seco, senti calor sim, mas continuei seco, mesmo andando ao sol por quase duas horas antes de parar para almoçar.

Mesmo com todo esse calor o passei estava agradável, ainda mais considerando o fato de que muitas lojas, hotéis e outros estabelecimentos, tinham instalado em suas coberturas e toldos, uma espécie de tubulação de ar onde saiam vapores de água fresca para umedecer o ar, isso acabava refrescando alguns locais aonde íamos passando. No começo achei meio esquisito, depois achei lógico e me acostumei. Diferente das cidades úmidas e frias daquele país que têm chapéus de gás em cima das mesas dos restaurantes que ficam na beira das calçadas para aquecer os clientes.

Sai do hotel pela porta principal, na Avenida principal, a Las Vegas Boulevard Avenue e comecei a fazer o reconhecimento do local para poder escolher para onde ia primeiro. Olhei para a frente e vi do outro lado da rua o Hotel Circus-Circus, olhei para a direita e pude ver que além do Hotel Sahara, havia ao longe apenas a grande torre chamada Estratosfera, que depois vim a saber que lá havia um shopping no térreo e outro lá em cima em um dos quatro andares, pois o penúltimo era um restaurante e no último um parque de diversões. Fiquei imaginando a linda vista que teria daquela altura. Olhei então para a esquerda e pude ver que era para lá o centro nervoso, pois os grandes prédios e todo o movimento estavam para aquele lado. Atravessei a rua, dei uma espiada no Circus-Circus e comecei a andar em direção aos prédios que avistei ao longe. Fui andando a passos lentos, observando o local, tirando fotos e parando nos locais que eu achava mais interessante, ou evidentemente nos locais onde eu achava algum carro diferente, principalmente se fosse Corvette, pois quem me conhece sabe que sou fã desse carro. Fiquei maravilhado com a visão que tive de tantos letreiros gigantes e coloridos em todo o lugar que eu olhava. Andei quase uma hora até chegar a um Shopping, fiquei feliz por alguns instantes, pois poderia parar para descansar, tomar um café e passear em um lugar mais fresco. Mas a minha alegria durou pouco, pois só abria as 11:00 h e ainda faltava muito tempo.  Como eu já estava cansado de andar e começando a ficar com fome, pois havia tomado café muito cedo, resolvi voltar imaginando comer um lanche num McDonald’s que vi próximo ao meu hotel. Voltei pelo outro lado da rua, da mesma forma, devagar e olhando tudo o que podia e já procurando por lembranças e roupas para a minha esposa e para as minhas filhas.

Como era domingo, durante todo o trajeto, tanto de ida quanto de volta, passavam por mim os mais lindos carros esportivos de todas as cores e marcas, picapes V8 com aquele ronco maravilhoso e muitas motos Harley Davidson com aquele barulho tradicional e inconfundível. Aquilo tudo era música para os meus ouvidos. Não bastasse os carros passando, pude ver várias outras máquinas quentes paradas nos estacionamentos dos restaurantes e lojas ou à venda nas lojas. Mas isso não era nada perto do que eu veria metros a frente, em termos de carros esportivos, algo realmente estonteante. Continuei andando por aquela imensa avenida, olhando lojas de roupa, de presentes e lembranças, de conveniência e principalmente as Farmácias Walgreens que haviam ali perto. Essa então de farmácia só o nome, mais parece um supermercado, pois tem muito mais que só medicamentos ou correlatos, tem roupas, perfumes, cosméticos, papelaria, material fotográfico, utensílios domésticos, produtos de higiene diária, refrigerantes, chocolates, doces, balas e mais alguns produtos que já não me lembro, ou seja, dá pra se gastar um tempão lá dentro comprando coisas ou só olhando e vendo tudo o que ainda não temos disponível para compra aqui no Brasil. Continuei andando pela avenida quando há algumas quadras antes de chegar ao meu hotel, tive uma visão, como disse antes, realmente estonteante para quem gosta de carros, uma locadora. É isso mesmo uma locadora. Mas não como as outras que eu já conhecia, era uma locadora apenas de carros esportivos, onde bem na frente estavam expostos logo de cara algumas Ferraris, Corvettes, Dodge Viper, Pontiac Chrysler Cruiser, Hummer e até um Belair Rabo de Peixe amarelo. Todos disponíveis para alugar.  É lógico que eu parei para fotografar aquelas maravilhas e perguntar quanto era o aluguel dos carros, mas de apenas dois, o Corvette que era US$ 260 por dia e a Ferrari que era US$ 400 por dia, mas era exigido um depósito calção de US$ 10.000 no cartão de crédito por segurança, pois qualquer encostada num carro desse o prejuízo seria grande. No mesmo instante que eu fazia as perguntas, um feliz locador abonado acabara de alugar um Corvette amarelo, lindo lindo e nem foi discreto ao sair, pois saiu dali acelerando tudo o que podia e fritando os pneus e tatuando o asfalto na frente da locadora.  E para ficar melhor ainda, no banco do carona, uma linda e bela companheira, ou seja, tudo isso era só pra desfilar na avenida.

Sai dali animado com aquela cena, mas desanimado porque não era para mim. Não pela companhia, mas pelo carro. Mas antes de sair parei na frente e tirei algumas fotos daquela visão que mais parecia uma miragem, pois dificilmente eu veria todos esses carrões juntos novamente. Antes de chegar ao McDonalds para finalmente almoçar, dei mais uma parada em um mini shopping que vendia de tudo um pouco, como roupas, presentes em geral, mas principalmente lembranças daquele local.

Chegando ao McDonalds, fui logo pedindo um Big Mac e uma Coca para não perder tempo e não errar o pedido, pois estava com fome e ainda tinha muito que ver na cidade, afinal eu tinha que aproveitar bem o domingo, pois na segunda e na terça eu visitaria a feira o dia todo e na quarta feira eu pegaria o meu voo para Newark – NJ para depois seguir para Skillman, centro de pesquisa da J&J onde seriam as minhas reuniões de projeto.

Assim que comi, voltei a andar na avenida e voltei ao Shopping que a esta altura já deveria estar aberto. Realmente estava. Entrei dei uma volta dentro dele e continuei andando pela avenida. Durante o trajeto passei pelo Hotel Tresure Island, onde bem na frente havia um grande lago artificial com dois navios, um da corte real e outro de piratas. Nos finais de semana, em horários específicos havia uma encenação de ataque do navio pirata ao navio real, com tiros de canhão, tiros de espingarda, piratas pulando de um navio para o outro e lutando com espadas, tudo muito bem preparado e parecendo muito real.  Foi um espetáculo muito interessante. Em toda a volta do lago, bem na beira da calçada, de onde os pedestres podiam assistir ao espetáculo, também havia aquele caninho furado vaporizando água fresca nas pessoas para tornar o ambiente seco mais confortável.  O espetáculo é indescritível como tudo naquela cidade, não dá para imaginar apenas lendo a respeito ou vendo fotos, é preciso estar lá e não só ver, mas participar, fazer parte daquele ambiente.

Mais pra frente, estava o Hotel Mirrage, enorme, com uma entrada gigantesca e também com um lago artificial na frente, mas com um espetáculo diferente, o das fontes de águas coloridas e iluminadas, com som ao fundo, que subiam e desciam. Da mesma forma as pessoas também paravam na calçada para assistir a esse outro espetáculo majestoso e único.

Do lado do Mirrage estava o não menos majestoso Hotel Caesar. Nesse eu fiz questão de entrar e olhar por dentro e para surpresa minha ao entrar nele, fui andando junto com as pessoas e sai direto em um shopping realmente diferente de tudo que eu já havia visto, pois ao entrar nele, tive a impressão de ter saído para fora do hotel, pois o chão era de pedra, como se estivéssemos numa rua, a lojas tinham telhado, fachada e toldo, como se estivessem ao ar livre, mas o mais impressionante era o teto, que era bem alto, arredondado e azul, imitando o céu, com nuvens e tudo. Era um céu artificial, mas parecia bem real, inclusive com aquela claridade toda dentro, parecia até dia lá dentro, inclusive à noite, pois ele não escurecia nunca. Fui andando pelas ruas artificiais, olhando as lojas, muitas delas de marcas caras e famosas como Hugo Boss, GAP, Vitor Hugo, etc. Até que sai numa enorme praça, com coreto e tudo, com artistas pintando e tocando, bares ao redor com mesas para fora, pessoas comendo e bebendo, e contemplando toda aquela beleza artificial.  Do lado desse hotel, havia outro que não me lembro o nome e que tinha o mesmo tipo de céu artificial, mas com uma pequena diferença, durante o dia o céu ficava claro, mas quando anoitecia lá fora, o céu escurecia também lá dentro. Acabava sendo um pouco mais real e você ainda poderia saber se lá fora já estava escuro ou não. Mas independente dessa diferença os dois locais eram maravilhosos e muito aconchegantes, principalmente considerando o fato de como lá dentro tinha ar condicionado, a temperatura estava sempre agradável e mesmo se chovesse lá fora, poderíamos continuar passeando lá dentro sem nos molharmos.

A essa altura, como eu já estava cansado de andar, voltei ao hotel para fazer o check-in, desfazer as malas e finalmente tomar um banho, para depois sair novamente e conhecer o que eu pudesse daquela cidade, que à noite deveria ser ainda mais linda que de dia, com todos aqueles letreiros acesos e aqueles telões enormes nas laterais dos prédios e hotéis. Eu estava louco para ver o que até então só tinha visto nos filmes no cinema, pela televisão ou pela Internet.

Naquela noite após ligar para a família e me aprontar para sair, procurei saber se havia no hotel mais algum brasileiro que tivesse vindo à feira, mas entre os poucos que tinha eu não conhecia nenhum, sendo assim, como eu não havia alugado carro, desci para procurar algum lugar perto para jantar e nem precisei andar muito, pois ao lado do hotel estava o Peppermint, um restaurante bonito e aconchegante. Um lugar diferente do que estamos acostumados a ver aqui no Brasil. Ao invés de mesas e cadeiras, ele tinha sim mesas, mas com poltronas de couro circundando as mesas, com arvores artificiais com flores brancas e roxas dentro das jardineiras que separavam as mesas. Isso no salão do restaurante, pois havia também bar, onde você podia ficar tomando um aperitivo enquanto esperava a mesa e também mais ao fundo um lugar, meio estranho, separado por uma pequena porta, que também tinha um bar, mas o ambiente era com menos luz e menos familiar, pois era o cassino do restaurante, com mulheres com pouca roupa no atendimento e gente nas máquinas caça-níqueis jogando suas fichas para ver se faturavam algum dinheiro. Olhei o movimento lá dentro, mas achei melhor ficar no salão do restaurante, afinal eu queria mesmo era comer. Comer comida de verdade, daquelas que matam a fome. A recepcionista me acompanhou até uma mesa e me deixou à vontade até eu escolher o que iria beber e comer. Depois de analisar o cardápio, resolvi matar a saudade da comida mexicana e pedi um prato de nachos mexicanos que achei bem interessante pela forma que era feito. Era montado com os nachos em baixo, aqui chamados de “Doritos”, por cima eram distribuídos, azeitona picada, tomate picado, pimenta verde chamada Jalapenho e queijo tipo prato ou mussarela, não sei bem ao certo e após montado, levado ao forno para derreter o queijo. Se é que eu não esqueci de nada é assim que era, ou pelo menos, é assim que faço esse prato até hoje, só variando entre azeitona preta ou verde e normalmente não coloco pimenta, pois aqui em casa só eu gosto de pimenta na comida. Para acompanhar, como de costume pedi uma Coca Cola bem gelada. Enquanto aguardava, fiquei olhando o movimento da casa, o entra e sai das pessoas, principalmente os tipos esquisitos, com aquelas roupas coloridas, aqueles chapéus e sapatos estranhos. Mas nem podia olhar muito, pois eles não gostavam e poderiam me perguntar o que eu estava olhando. E encrenca não era o que eu queria ter naquele lugar distante.

Minutos depois, finalmente chegou o meu prato. Quando a garçonete veio se aproximando da mesa e colocou o prato na mesa, tomei um susto com a quantidade de comida e com o tamanho do prato, pois era enorme, acho que dava para pelo menos para umas 2 ou 3 pessoas comerem e eu teria que comer tudo sozinho. Como não tinha jeito, mãos a obra, comecei a comer e comer e comer, e os nachos pareciam que brotavam de dentro do prato, pois nunca que a tigela ficava vazia, para piorar além do grande diâmetro ela ainda era funda. Comi o que eu aguentei, o que não aguentei ficou no prato, não dava nem pra levar e comer depois. Mas estava muito bom, sai dali satisfeito e saciado, com as energias renovadas e pronto para andar mais um pouco e ver como seria aquela avenida toda iluminada e com todos aqueles letreiros coloridos. Sai do restaurante e tive uma visão realmente indescritível, pois o que era bonito de dia, ficou ainda mais bonito à noite e o movimento maior ainda, pois além das atrações visuais, aquela cidade tem muitos shows de artistas e cantores famosos e outras muitas atrações tipo Circo de Solei, o Mágico David Copperfield, lutas de Box do Mike Tyson e outros famosos, musicais, peças de teatro, discotecas, além é claro das atrações mais picantes da noite, do tipo shows eróticos ou coisa parecida. Ou seja, você não fica sem fazer nada e nem dá tempo de fazer muita coisa, precisaria ficar ali por vários dias só passeando e gastando, e isso se você não resolver tentar a sorte no jogo, seja ele em caça-níqueis, roletas, dados, pocker ou mesas de jogo em geral. Nessa época fiquei sabendo que a cidade recebia jogadores especiais cujos hotéis davam estadias de graça, já que eles movimentavam ali fortunas jogando e ganhando, mas na maioria das vezes perdendo. Os hotéis pagavam até a viagem como atrativo para que esses jogadores inveterados e compulsivos voltem sempre e nunca deixem de jogar. Nessa mesma época fiquei sabendo também de um empresário brasileiro que uma vez por ano vai para Las Vegas com um milhão de dólares no bolso, reservados para gastar em jogo. Coisa de louco, para mim isso pareceu meio absurdo, mas perto do movimento que vi lá, ele não é o único a gastar essa pequena fortuna, que certamente não faz diferença perto do total que esses milionários possuem.

Depois de andar mais algum tempo naquela avenida tremendamente iluminada, voltei ao hotel, para finalmente descansar e me preparar para o dia seguinte, no qual eu andaria certamente muito mais, pois eu teria apenas dois dias para ver toda a feira de embalagem Pack Expo, motivo pelo qual eu estava ali.

 

Na segunda feira dia 10 de Setembro, acordei bem cedo e comecei a rotina diária: tomei banho, fiz barba, me aprontei e desci para tomar o meu café. Em seguida sai para pegar um táxi até a feira que ficava longe dali para ir a pé, alias eu nem sabia onde ficava. Quando cheguei ao local, logo vi uma grande placa com as inscrições da feira e um monte de gente chegando. Ao entrar no pavilhão de exposições me deparei com uma escadaria que dava acesso ao hall da feira, onde deveríamos pegar nosso crachá de identificação. A feira estava dividida em quatro salões de exposição que eu pretendia ver naqueles dois ou três dias que ficaria em Las Vegas. Sendo assim eu fiz a minha programação, veria dois por dia e no último dia visitaria novamente alguns stands que eu achasse importante. Engano meu, pois eu não fazia ideia do que viria pela frente. Logo nesse primeiro dia, andando pela feira encontrei algumas pessoas da J&J no saguão principal e parei para trocar cartões e conversar com eles. Um fato curioso que observei foram as várias pessoas sentadas nas escadas ou no chão do salão, comendo seus lanches ou apenas descansando tranquilamente. Algumas falando ao telefone e outras apenas olhando o movimento. Chegava a ser engraçado ver todos aqueles profissionais de terno e gravata sentados de forma tão informal no chão.

 

Ao fim do dia, já cansado, voltei ao meu hotel, o Riviera, para deixar as amostras e catálogos que peguei na feira e sai para dar uma volta na cidade, pois ainda tinha muita coisa pra ver. Depois de andar novamente a pé por toda a Avenida Las Vegas Boulevard, já bastante cansado, voltei novamente ao hotel para então tomar um bom banho e me preparar para o jantar. Como já era tarde, eu estava sem carro e cansado, resolvi jantar no Peppermint, de novo, um restaurante que ficava bem perto, era só atravessar a rua. Era um restaurante bem bonitinho, bem decorado, com mesas redondas e estofamento de couro em volta da mesa, com arvores e folhagens entre as mesas e com pouca luz. Como de costume naquele país, logo na entrada havia um balcão com uma pessoa para atender e perguntar para quantas pessoas era a mesa, se era fumante ou não fumante e para te levar até uma mesa, normalmente escolhida por eles mesmos. Do lado esquerdo do balcão havia um sofá, à direita um bar para quem quisesse primeiro tomar um aperitivo e à frente, uma porta que dava acesso a um pequeno cassino particular do restaurante. Engraçado observar a sedução do local, pois no ambiente do restaurante as garçonetes estavam de saia relativamente curta, mas vestidas e cobertas, mas no ambiente do cassino, roupas com decotes e saias ou shorts muito curtos, tudo bem amostra, como que sendo já um convite para você entrar. Fui até a porta, olhei, mas não entrei. Levado à mesa pela garçonete, sentei relaxadamente para escolher o que eu comeria de diferente naquela noite, porque o almoço foi na própria feira e na realidade eu não havia almoçado e sim apenas comido um lanche. Por esse motivo, escolhi uma bela carne, um famoso New York Steak com mashed potatoes e pra variar Coca Cola com muito gelo. Tudo muito gostoso e saciante. Pois dali voltei direto para o hotel para finalmente descansar, pensando que no dia seguinte eu iria ver o resto da feira e teria que andar muito para isso. Mal sabia eu que essa seria a última noite tranquila daquela viagem. O melhor, ou pior, ainda estava por vir.

 

Terça feira, 11 de Setembro de 2001. Acordei normalmente e comecei a minha rotina diária, inclusive ligando a TV para quebrar um pouco o silêncio do quarto. Liguei na CNN, apenas para ouvir qualquer coisa e fui para o banheiro fazer barba, e tomar banho. Assim que acabei de colocar a roupa e sentei na cama para colocar e amarrar os sapatos, olhei para a TV e vi a imagem do World Trade Center, as torres gêmeas, pegando fogo, mas como estava com pressa, não me dei ao trabalho de ler a legenda ou escutar o que eles estavam falando, mesmo porque até então eu não sabia o que era “hijaker” que ouvi o locutor falar. Apenas pensei comigo mesmo: “Nossa! Está pegando fogo, que coisa.” Desliguei a TV e desci para tomar o meu café e seguir para a feira.  Mas como de costume, antes disso, fui direto a um telefone para ligar para o Brasil e falar com a minha família, pois como a diferença de horário era de 4 horas, no Brasil já era meio dia. Foi então que reparei um movimento um pouco acima do normal no saguão e principalmente nos telefones públicos e celulares. Parecia que todo mundo resolveu falar ao telefone ao mesmo tempo. Mesmo assim, não me importando muito com isso, bem típico meu mesmo, peguei um dos telefones e comecei a discar para o Brasil. Foi ai que a dificuldade começou, pois tive que tentar várias vezes até conseguir falar com a minha esposa, que mal eu sabia, mas estava apavorada e ansiosa para receber notícias minhas. Depois de várias tentativas, finalmente consegui falar com ela e ela estava realmente apavorada e muito preocupada, pois considerando a diferença de fuso, havia já horas que elas já sabiam com detalhes do que estava acontecendo e tanto ela quando a Waldenise, secretária da J&J, estavam tentando falar comigo sem sucesso, isso em função do congestionamento das linhas logicamente causado pelo grande volume de pessoas tentando conseguir notícias dos seus parentes, amigos e funcionários, como eu por exemplo. Ao completar a ligação, nem deu tempo de eu começar a falar e a Roseli, minha esposa, já entrou de sola, com um montão de perguntas, mas todas para saber a mesma coisa. Se eu estava vivo, se estava bem e se poderia voltar imediatamente. Até esse momento eu ainda não tinha me dado conta do que estava acontecendo. Só entendi a gravidade da situação ao falar com a minha esposa e ao mesmo tempo escutar um outro brasileiro no telefone do lado, contar a história para a esposa dele. Foi ai então que ao desligar o telefone, voltei correndo ao quarto para ligar a TV e ver o que estava acontecendo. Nessa hora eles já tinham todas as imagens, ou seja, a do primeiro avião batendo na torre e também a do segundo, bem como a queda das torres ao chão. Assustador e inacreditável ver aquela cena. Parecia apenas um filme. Passei praticamente o dia todo ali no quarto vendo todos os detalhes pela TV e ao telefone para conseguir uma passagem de volta para o Brasil mais cedo, o que na realidade não aconteceria, pois tinha eu e só todo mundo ali querendo isso. Ao ver e prestar atenção ao noticiário pude então saber que praticamente tudo havia fechado naquele dia, principalmente os grandes centros e locais onde costumam se aglomerar muitas pessoas, como shoppings, teatros, cinemas, supermercados, centros de lazer e logicamente a feira que eu iria visitar. Parece que finalmente eu havia me dado conta que a situação estava feia mesmo, foi ai então que fiquei preocupado e, apavorado, comecei a ligar para o Brasil para falar com o meu chefe Armando Albarelli que estava no lugar do meu diretor Álvaro Oliveira que também estava viajando e com a Waldenise, secretária do nosso departamento, para ver se ela me ajudava a conseguir passagem de volta. A recomendação do Armando foi cancelar a segunda parte da viagem e voltar imediatamente e a secretária do meu chefe, a Waldenise, me disse que não saísse do hotel sem ter algum voo confirmado. Posto isso comecei a ligar para a agência de viagem pedindo noticias e providências para a minha volta. Quando consegui falar com o responsável na agência, a única informação que ele me deu era que eu teria que aguardar, pois todos os voos estavam cancelados e os aeroportos fechados.

 

Como depois de visitar a feira eu iria para a cidade de Skillman em New Jersey para as reuniões que eu havia marcado, liguei para o Brasil para ver como deveria proceder e liguei também para um dos responsáveis pelas reuniões na matriz da J&J.

A posição do meu diretor era que eu seguisse viagem assim que desse, mas a posição dos meus colegas da matriz da J&J que participariam das reuniões de projeto que eu agendei era para nem me preocupar em ir para lá, pois estavam todos apavorados e perplexos com os acontecimentos e me informaram que todas as reuniões estavam canceladas até que tudo voltasse ao normal, pois ninguém fazia ideia do que estava realmente acontecendo e alguns tinham inclusive perdido amigos e parentes no atendado as torres gêmeas e evidentemente nem tinha clima para fazer qualquer tipo de reunião.

De posse dessas informações e determinações, tanto do Brasil quanto dos EUA, fiquei pensando o que fazer.

 

Na verdade, acabei passando o dia todo, no caso 11 de Setembro, ao telefone, falando com a agência de viagem e com a companhia aérea, na época a Continental Airlines, para tentar conseguir adiantar a minha passagem de volta para o Brasil, mas infelizmente a única informação que eu recebia é que eles não tinham informação e que todos os voos estavam cancelados.

 

Eu passei o dia todo, 11 de Setembro de 2001, falando com todos que podia, agências de viagem, companhias aéreas, amigos influentes e todos que eu lembrei e que achei que poderiam eventualmente me ajudar de alguma fora, mas confesso que me senti uma formiga .... na verdade me senti um nada no mundo, pois nada eu conseguia fazer, mesmo tendo um cartão de crédito corporativo sem limite, isso não me adiantava de nada, pois estava preso lá no hotel, até tudo aquilo acabar ou ser revolver de alguma forma

A verdade é que ninguém tinha a mínima ideia ou dimensão do que estava realmente acontecendo ou que ainda iria acontecer diante dos fatos que tínhamos conhecimento.

Passei o dia todo no quarto do hotel tentando uma forma de voltar para o Brasil, mas não consegui nada neste dia, a noite chegou e eu tive que me contentar e jantar, graças a Deus, me acalmar e esperar o próximo dia para ver como as coisas iriam ser.

Com medo de sair do hotel, acabei pedindo comida no quarto mesmo e fiquei matando o tempo a noite vendo as notícias, os acontecimentos e tentando me atualizar, para ver quais seriam os próximos passos a tomar no dia seguinte.

Mas neste dia de 11 de Setembro de 2001, tudo era uma incógnita para nós todos, não sabíamos de nada, não sabíamos o que mais iria acontecer e nem muito menos o que fazer, o negócio então era tentar se distrair e comer algo que tivesse para pedir no restaurante 24 h do Hotel Riviera de Las Vegas, que por sinal era muito bom, não posso reclamar de nada, além das mais de 1000 máquinas caça niqueis que tinha no hall ou térreo, tinha um ótimo serviço de quarto. Se bem que do lado do hotel tinha um excelente restaurante, o Peppermint, com vários tipos de comida e comida boa para quem gosta de comida americana ou mexicana evidentemente, na verdade o que eles chamam de Tex-Mex, uma adaptação.

 

Na quarta feira dia 12 de Setembro de 2011 eu acordei, tomei meu café e continuei ao telefone tentando falar com todos que podia tanto no Brasil quanto nos EUA para tentar uma forma de voltar pra casa. Liguei para a secretária do meu departamento na J&J, liguei para a agência de viagem que naquela época era a American Express, agência interna da J&J com o objetivo de obter alguma informação ou forma de voltar para o Brasil, mas infelizmente ninguém sabia de nada e nem muito menos como me ajudar, pois não haviam voos disponíveis, não haviam informações e ninguém sabia de nada. A única certeza que me davam é que todos os voos estavam cancelados e que ninguém sabia quando tudo iria voltar ao normal, ou seja, caos total. Eu me senti muito impotente, como se fosse uma formiga no universo, pois nada eu podia fazer a não ser esperar. Mesmo assim liguei outras vezes para a agencia de viagem para ver se tinham novas notícias, na verdade passei o dia todo atrás de novas notícias, mas as respostas eram sempre as mesmas, ou seja, que não tinham notícias e que ainda não sabiam como fazer para que eu pudesse voltar para o Brasil.

No meio desse desespero me lembrei do Johnny, um amigo meu que era gerente administrativo da Varig no aeroporto de Los Angeles, que ficava há 5 horas de Las Vegas de carro. Logicamente liguei para ele, pois imaginei que ele teria uma solução para o meu caso e me ajudaria a voltar pra casa. Ledo engano, pois quando consegui falar com ele e pedi ajuda, ele me disse ceticamente que estava na sala dele, olhando pela janela e que não havia nenhum avião no pátio, que nenhum avião estava chegando e portanto nenhum avião estava saindo, ou seja, sem chance de eu conseguir voo de volta para o Brasil, pois segundo ele, pela situação que se apresentava o pais, nem ele mesmo estava conseguindo voo para sair dos EUA.

Mas no meio da conversa ele sugeriu uma forma de eu conseguir voltar para o Brasil a qual a princípio de deixou animado pela possibilidade, mas não era muito animadora.

Ele sugeriu que eu pegasse um ônibus de Las Vegas para Los Angeles, mais ou menos umas 7 horas de viagem, chegando em Los Angeles pegaria outro ônibus para Tihuana no México. Dos EUA não tinha voos, mas no México estava normal e o Johnny me garantiu que se eu chegasse até lá, ele conseguiria me colocar num voo de volta para o Brasil. Achei legal e fiquei muito feliz com essa possibilidade, mas ai vieram as dúvidas, pois seriam muitas horas de viagem, num momento complicado do pais que naquele dia ou semana nem sabíamos direito o que estava acontecendo e nem muito menos o que ainda estava para acontecer e com muita incerteza de tudo. Uma delas é que eu não tinha visto para entrar no México e nem sabia se precisaria, ai eu correria o risco de ir de ônibus até lá e ser barrado na fronteira e sinceramente eu não queria passar por mais esse problema e acabar ficando parado em alguma cidade sem estadia e sem saber o que viria pela frente, confesso que fiquei com medo de ir e passar por isso. Mas confesso que considerei a possibilidade, pensei muito a respeito, ponderei, conversei com a minha esposa e com meu chefe e minha secretária na J&J Brasil e a recomendação foi unanime ..... “melhor ficar ai no hotel que está e esperar uma solução melhor.” Pois é foi que fiz afinal eu estava muito bem instalado, num ótimo hotel, confortável, com boa comida e numa cidade maravilhosa .....Las Vegas, que sinceramente é uma cidade dos sonhos, mesmo sendo tudo artificial e tendo coisas que não interessam, ainda tem muita coisa legal para fazermos, muitos lugares para conhecermos, muita diversão, comida boa e turismo pra fazer, ou seja, não seria entediante ficar ali, muito pelo contrário, seria um grande prazer, evidentemente tirando todo a tensão do momento que estamos passando de toda a incerteza de não saber o que estava por vir e de quando eu conseguiria voltar para o Brasil, pois a minha passagem que era na sexta-feira já havia sido cancelada e sem data prevista para a volta.

Como eu já disse, passei o dia todo, quarta-feira 12 de Setembro de 2001, falando com todos que podia para tentar uma forma de voltar, mas sem sucesso.

Tanto no próprio dia 11 quanto no dia 12, eu fui ao balcão da Companhia Aérea, pois como o hotel era muito grande tinham balcões da Continental Airlines e da Locadora de Carros Hertz no saguão do hotel para facilitar a vida dos hóspedes. Para infelicidade minha o balcão da companhia aérea estava absolutamente fechado, não tinha ninguém nem para dar informação. Na verdade era um balcão onde poderiam fazer o check-in do nosso voo ali mesmo. Frustrado, voltei para o quarto para tentar mais algumas ligações.

Ao final do dia na última ligação que fiz para agencia de viagem tive que me convencer que não tinha jeito, que eu teria que esperar a abertura dos aeroportos e a normalização da situação assim que entendêssemos o que estava acontecendo e que tudo voltasse mais ou menos ao normal. O duro era segurar a ansiedade e o desespero, pois eu queria voltar de qualquer jeito, eu estava absolutamente inconformado de não conseguir fazer nada, mesmo tendo de certa forma condições de pagar pela minha volta, afinal eu tinha um cartão de credito corporativo sem limite de crédito, mas nem assim eu conseguia fazer nada, me senti muito impotente. Na verdade me lembrei do meu Deus e orei a ele pedindo calma, sabedoria e discernimento diante daquela situação na qual eu me sentia tão pequeno e impotente. Pois nunca na minha vida eu tinha me sentido tão pequeno e tão insignificante, pois nada podia fazer diante daquela situação, nenhum dinheiro do mundo podia compra a minha volta ou qualquer outro tipo de solução.

O jeito foi me acalmar, jantar, sossegar e dormir, pois quem sabe no dia seguinte eu conseguiria alguma solução.

Na quinta-feira 13 de setembro de 2001, acordei, liguei a televisão para ver se havia alguma notícia boa, mas tudo continuava na mesma, ou seja, sem noticia, tudo ainda fechado, sem voos, sem possibilidade de volta e sem solução. Então já que não tinha jeito resolvi descer e tomar meu café, pelo menos estaria bem alimentado para correr atrás de alguma solução. Afinal saco vazio não pera em pé, e sinceramente eu penso melhor de estomago cheio.

Após o café eu corri para o balcão da Continental Airlines para ver se estava aberto e se tinham alguma novidade, ou seja, se eu já poderia fazer o check-in e voltar pra casa. Nova decepção. Eles estavam abertos, mas ainda não tinham boas perspectivas e nem muita certeza de nada, pois os voos começaram a ser disponibilizados, mas sem confirmação ou certeza de saída, eram apenas possibilidades que eles estavam informando que haviam.

Logicamente eu me interessei pelas possibilidades, que para minha surpresa e felicidade, só que não, eram três.

A primeira proposta que me fizeram era um voo na sexta feira dia 14 de Setembro de 2001 para Cleveland, dormiria lá a noite e no dia seguinte sábado de manhã seguiria para Newark e a noite pegaria o voo para o Brasil as 21:00 h, chegando no aeroporto de Guarulhos no domingo de manhã, mas ainda não estava confirmado.

A segunda opção era ir na sexta de manhã para Miami, dormir lá uma noite e no dia seguinte sábado de manhã pegaria um voo para Newark e de lá outro voo as 21:00 h para o Brasil no sábado a noite, mas também não estava confirmado.

Eram duas opções que na verdade nem estavam confirmadas, confesso que fiquem meio sem saber o que fazer, ai perguntei se não teria uma terceira opção. Sim tinha. O atendente me deu a opção que me pareceu a mais próxima de estar confirmada, mas essa era só no domingo, ou seja eu ainda teria que esperar 4 dias para pegar um voo e voltar para o Brasil. Longa espera, considerando a situação de medo e incertezas que todos estávamos passando.

Nessa terceira opção eu sairia de Las Vegas no domingo dia 16 de Setembro de 2001 em um voo para Houston as 9:00 h da manhã, pegaria outro voo para Newark as 13:00 h e finalmente um voo para o Brasil as 21:00 h, chegando no dia seguinte, segunda-feira 17 de Setembro de manhã no aeroporto de Guarulhos em São Paulo.

Avaliando as 3 opções que me foram apresentadas, optei por esta última que além de me parecer a menos estressante em termos de conexões me parecia que tinha a maior chance de estar confirmada. Então relaxei e escolhi essa última opção que me pareceu a melhor, confirmei meu voo, deixei o check-in feito e fiquei pensando o que faria nos próximos quatro dias até poder voltar pra casa.

Foi ruim estar nos Estados Unidos neste momento, pois foi uma semana de medo e terror, por não sabermos direito o que estava acontecendo nem o que ainda poderia acontecer, pois ninguém fazia ideia se outros pontos importantes ou outras cidades ainda seriam atacadas pelos terroristas e isso logicamente me deixava inseguro, como todos as outras pessoa que estavam lá.

Mas como diz o velho ditado .... “Aquilo que não tem solução, solucionado está.” Pensando dessa forma, ao sair do balcão da companhia aérea, olhei para traz e ali estava o balcão da Locadora de Carros Hertz, e já que ainda faltavam 4 dias para eu ir embora resolvei alugar um carro e passear um pouco em Las Vegas e arredores.

Quase não consegui e nem pude escolher o carro, pois dada a situação que nos encontrávamos, por sorte minha e com a graça de Deus ainda havia um carro disponível, o único, um pequeno Suzuki Sedan, ou seja, era esse ou nenhum, mas para o que eu queria esse carro serviria perfeitamente.

Sendo assim aluguei esse carro pelo mínimo de 2 dias, quinta e sexta, podendo esticar pois mais dias caso eu quisesse e sai andando pelas ruas de Las Vegas para conhecer tudo o que eu pudesse daquela cidade e o que tivesse em volta dela, pois dada a situação a qual o pais se encontrava sem saber o que poderia acontecer eu não planejava ir muito longe dali.

Esquecendo um pouco da tensão de não poder voltar para o Brasil e ter que ficar ali, preso, por mais quatro dias, resolvi aproveitar e curtir o momento, peguei o carro e sai dirigindo, andando a ermo, sem saber para que lado ir, mas fui indo, andando pelas avenidas, ruas paralelas e transversais, primeiramente somente fazendo um reconhecimento dos locais para depois começar a parar em algum lugar e conhecer algum deles em detalhes, algum que valesse a pena.

Comecei logicamente pela Las Vegas Boulevard Avenue e segui do começo ao fim, para ver tudo que tinha dos dois lados, e tinha de tudo que vocês podem imaginar. Tinha lojas de carro, lojas de roupa, lojas de presentes, de lembranças e logicamente restaurantes e lanchonetes, mas o que me chamava muito a atenção eram os letreiros gigantes, mas apagados por ser de dia e os carros maravilhosos que já passeavam pela avenida logo cedo e a julgar pelo ronco do motor, a maioria era motor V8 ou pelo menos V6. Sem contar a motos maravilhosas que também desfilavam pela avenida, realmente era uma visão e um som muito gostoso, só mesmo pessoalmente para sentir o prazer que senti.

A Tropicana Ave era uma travessa da Las Vegas Boulevard Ave e dava para fazer um circuito legal de passeio e visitas nessas duas avenidas, pois tanto uma quanto a outra tinham muitas atrações para se ver e foi ai que eu comecei o meu passei, conhecendo essas duas avenidas e parando onde desse para conhecer o turismo e comércio local. Considerando que eu já tinha andado bastante a pé e conhecido lojas e shoppings, desta vez estando de carro que queria procurar e conhecer algum lugar diferente e que preferencialmente tivesse lugar para estacionar, pois na Las Vegas Boulevard e no centro da cidade onde tinham as maiorias das atrações não tinha lugar na rua, somente em estacionamentos pagos.

Falando nesse início de passeio no dia 11 de Setembro, enquanto estava ao telefone tentando entender o que estava acontecendo eu conheci um brasileiro e um espanhol que trabalhavam na mesma empresa e que também estavam ali para visitar a feira, os quais acabei reencontrando novamente no café no dia que aluguei o carro. Como eles também não tinham o que fazer até que conseguissem passagem de volta para a casa eu os convidei para passear comigo e logicamente eles concordaram imediatamente, assim fomos os três andar pela cidade, mas agora de carro, podendo ir um pouco mais longe, isso foi na quinta-feira, pois logo na sexta-feira já perdi a companhia, pois eles haviam conseguido um voo e iriam tentar pegar.

Passeamos pela cidade o dia todo, almoçamos juntos, fomos a muitos lugares turísticos de Las Vegas, foi um dia longo e cansativo, mas muito proveitoso, pois como costumo dizer, conheci a cidade como a palma da minha mão, sem contar que andamos na Las Vegas Boulevard do começo ao fim, até conhecemos o lado mais simples ou mais urbano da cidade, do outro lado do centro nervoso e mais para perto da torre chamada Estratosfera, a qual fomos visitar e conhecer, mas não subimos, só visitamos o shopping do piso térreo, pois queríamos ver outras partes da cidade que seriam mais interessantes, afinal nenhum de nós três estava a fim de ir no parque de diversões que ficada no último andar e tinha até uma montanha russa e outros brinquedos insanos bem lá no alto. O curioso era que só para subir e visitar os andares de cima, ou seja, o restaurante e o parque, já tinha que pagar US$ 15,00, mas não subimos por questão de tempo, pois queríamos visitar muitos outros locais na cidade e se ficássemos ali muito tempo não conseguiríamos ver o restante.

Quando fomos para o centro da cidade onde se encontram todas as atrações e os hotéis famosos que eu citei no começo da narrativa, tivemos que parar o carro num estacionamento próprio, pois nas ruas não haviam vagas e fomos andar pelos arredores para conhecer o que pudéssemos, pois o tempo era curto.

Enfim, conhecemos o que pudemos, almoçamos num ótimo restaurante no shopping que havia no meio da avenida e continuamos nosso passeio até o final da tarde.

Ao chegar no hotel nos despedimos, pois eles iriam arrumar as malas e tentar pegar o voo de volta pra casa, no caso para a Espanha, no dia seguinte, sexta-feira 14 de Setembro.

No dia seguinte eu levantei cedo como de costume peguei o carro e sai novamente dirigindo e passeando pela cidade, tentando conhecer lugares que ainda não tinha ido, lugares novos e mais distantes, foi ai que acabei indo até o final e saída da cidade, onde começava a rodovia que atravessava o deserto do Sahara e que ia até Los Angeles.

Parei justamente em baixo da placa famosa onde está escrito “Bem vindo a Fabulosa Las Vegas - Nevada”, ou ser preferirem “Welcome to Fabulous Las Vegas - Nevada”. Fiquei ali por algum tempo contemplando a paisagem e pensando o que fazer, pois como eu tinha a sexta e o sábado livres eu estava pensando que poderia ir até Los Angeles e aproveitar para conhecer mais uma cidade que na verdade eu tinha muita vontade de conhecer. Olhei bem para a imensidão daquele rodovia que ser perdia de vista no meio do deserto e não tive coragem de ir, pois naquele momento me vieram a mente a dúvida do que ainda estaria por vir em função dos acontecimentos de 11 de Setembro, e mais, seriam pelo menos 5 horas de viagem pelo deserto até Los Angeles. Teria valido a pena sim, mas presei pela minha segurança naquele momento e resolvi dar meia volta e voltar para a cidade e continuar passeando ali mesmo e conhecer o que ainda não tinha conhecido, de qualquer forma valeu a pena do mesmo jeito. Fui a lugares que ainda não tinha ido e voltei a lugares que já tinha gostado, comprei muitas lembranças para a família e comi boa comida.

Ao final do dia estava exausto e já entrando em processo de ansiedade pela volta, pois o dia de voltar finalmente estava chegando, sendo assim e sem vontade de passear mais e nervoso pela incerteza da volta eu devolvi o carro na locadora no final do dia, ainda sem saber o que faria no sábado, teoricamente meu último dia ali naquela cidade maravilhosa, totalmente artificial, mas maravilhosa, pelo menos para mim, pois sei que muitas pessoas preferem visitar cidades históricas.

Como de costume, sai para jantar e comer algo legal, como estava sem carro, voltei ao Peppermint, que além de perto e dar par ir a pé, tinha muita opção de comida para escolher e como eu sempre gostei muito de comida mexicana, acabei pedindo Quesadilha, pois ainda não tinha comido esse prato durante a semana e como eu gosto de comer tranqueira, foi o suficiente para o meu jantar, logicamente seguindo de alguns copos de Coca Cola. Foi uma noite tranquila, sem muito o que contar a não ser que resolvi comprar um kit de ralador de sal grosso e pimenta lindo e maravilhoso que eles tinham para vender como souvenir e era o que eles usavam para nos servir, e que nos chamava muito a atenção. Tenho guardado até hoje. Terminando o jantar voltei para o Hotel Riviera para tentar relaxar um pouco, pensar na vida, ver algum filme da TV e começar a me preparar para a volta, que na verdade era incerta, afinal ainda não tínhamos certeza de nada. As coisas começavam a voltar ao normal naquele pais, pois de terça até sexta não tinha acontecido mais nada, mas mesmo assim, ainda haviam incertezas dos voos. Reafirmo a horrível sensação de impotência diante de tudo aquilo, nada podíamos fazer a não ser confiar em Deus e esperar.

Como eu nada podia fazer o jeito era tentar relaxar e dormir, tentei e depois de um tempo consegui, mas depois de me distrair na TV vendo um filme que confesso nem lembro o nome e em muito menos do que se tratava, foi apenas para me distrair. Logicamente liguei para a família para compartilhar toda essa situação e ansiedade.

Finalmente conseguir dormir.

No sábado de manhã acordei pensando que estaria melhor e feliz por estar perto do dia de voltar pra casa, mas não, o efeito foi contrário, eu estava muito mais nervoso e muito mais ansioso pela possibilidade da volta.

Como procedimento normal, acordei, tomei banho, fiz barba e me arrumei para o café, o qual fui tomar como de costume no restaurante do Hotel Riviera, mas sozinho e muito nervoso com o dia da volta ao Brasil chegando.

Tomei o meu café e embora tivesse o dia todo livre para passear novamente, não consegui, estava tão nervoso e ansioso que voltei para o quarto e fiquei ali, praticamente hipnotizado, sem ação, sem saber o que fazer e sem vontade de fazer nada. Liguei a TV e procurei algum filme para ver e me distrair. Foi o que fiquei fazendo, parece patético, um sábado de sol, um dia lindo e eu enviado num quarto de hotel sem vontade de sair, pois o stress era muito grande, a vontade de voltar pra casa, a vontade de sair dali e de me livrar de toda aquela dúvida que ainda pairava no ar de qual seria a próxima ação dos terroristas, na verdade me aterrorizavam e me deixaram completamente impotente, sem saber o que fazer.

Fiquei matando o tempo na TV, assistindo nada ou algum filme tosco que nem me lembro, mas fiquei deitado na cama num estado estranho, sem vontade de nada a não ser de ir embora pra casa, voltar para o Brasil e ver a minha família, e voltar a vida normal, ou seja, sair daquele ambiente de tensão total, daquele ambiente de terror.

Como realmente não tinha o que fazer eu também não tinha vontade de fazer nada, pois o stress, o nervoso e a tensão eram muito grandes fiquei ali como uma estátua deitado na cama sem nem saber o que eu estava assistindo e pensando na vida, de como somos nada diante de tudo que estava acontecendo.

O tempo passou e finalmente chegou a hora de almoçar, mas cadê a fome, sumiu, pois a ansiedade levou ela embora, mas de qualquer forma eu precisava comer, sendo assim e como não tinha vontade de sair, pedi comida no hotel para comer no próprio quarto, confesso que nem me lembro o que era, mas provavelmente um sandwich, pois não estava a fim de comer comida normal e sinceramente como eu já disse adoro uma tranqueira.

Me saciei e como já não tinha mais o que fazer e nem queria sair para a rua passear, resolvi dormir um pouco para matar o tempo, e foi o que fiz, dormi uma parte da tarde, descansei, relaxei e logo chegou o final da tarde e com ele logo chegaria o dia seguinte, ou seja, o dia da tão esperada volta ao Brasil, volta pra casa, finalmente. Será? Pois ainda tínhamos a expectativa da confirmação ou cancelamento do voo, afinal alguns estavam sendo cancelados por diversos motivos.

Uma certa hora da tarde acordei, achei melhor fazer a malas e deixar tudo pronto, pois logo seria o horário do jantar e de novo a noite que seria a última ali naquele lugar maravilhoso, mas certamente e infelizmente seria entediante e de muita ansiedade, pois teoricamente no dia seguinte, ou seja, no domingo 16 de Setembro eu voaria de Las Vegas/Nevada para Newark/New Jersey com escala em Houston/Texas e dali para Guarulhos/SP – Brasil, enfim, de volta pra casa.

O sábado passou lentamente e sob muito stress, o nervoso estava lá em cima, a ansiedade sem limite, nunca tinha me sentido assim antes, mas neste dia realmente foi o ápice, estava realmente com um sentimento meio misturado de felicidade pela oportunidade da volta depois de quatro dias esperando, mas dúvida por ainda não ter certeza que iria realmente conseguir voltar pra casa na segunda-feira.

Foi um final de tarde bem difícil de aguentar, tão difícil que eu que sou um morto de fome e adoro comer tudo que vejo pela frente, não tive vontade de sair do quarto para jantar em algum dos bons restaurantes que tinha naquela cidade e poder experimentar algo gostoso ou diferente.

Conclusão, o nervoso era tão grande que a noite acabei pedindo uma Pizza Hut no próprio hotel e que na verdade nem consegui comer inteira, tamanha era a minha ansiedade pelo dia seguinte e pela possibilidade da volta pra casa. Sensação horrível e que não recomendo para ninguém. Hoje lembro de tudo com saudade, ainda mais considerando que tudo acabou bem, mas confesso que na época não foi nada agradável.

Comi metade da pizza que já era pequena e voltei para a TV para tentar distrair a mente até conseguir dormir, pois a ansiedade era enorme pela possibilidade de pegar alguns voos no dia seguinte e poder, quem sabe, voltar pra casa, diante de toda aquela situação de incerteza que os EUA e o mundo estava vivendo.

Não tendo nenhuma ação para tomar que fizesse alguma diferença naquela situação, só me restava sossegar, confiar em Deus e aguardar o dia seguinte, o tão esperado dia da volta ao Brasil, pra minha casa.

Não tendo o que fazer, continuei assistindo filmes e dormi.

No dia seguinte como de costume acordei cedo, na verdade um pouco mais cedo, pois teria que ir para o aeroporto de Las Vegas pelas o primeiro voo para Houston logo cedo. Seguindo as atividades normais e um pouco mais calmo pela possibilidade da volta, fui tomar meu último café no restaurante do Hotel Riviera e me alimentei bem, pois aquele seria um longo dia de viagem, pois meu voo de volta para o Brasil seria somente as 21:00h.

Tomei meu café e bem reforçado, com direito a tudo que eu gosto .... café preto puro, suco de laranja, begals e torrada com “cream cheese”,  manteiga e geleia, melão americano e sei lá mais o que eu comi para aguentar o dia inteiro de viagem.

Após toda essa comilança eu fiz o check-out no hotel e peguei um taxi direto para o aeroporto de Las Vegas para finalmente pegar o primeiro voo, dos três que eu teria de volta pra casa.

Chegando ao aeroporto de Las Vegas, passei por um procedimento absurdo de revista em função do que estava acontecendo e das incertezas, a segurança era máxima, todo mundo sendo revistado, todas as malas, tudo sendo visto minuciosamente.

Após despachar as malas, fui para a sala de espera, onde haviam, para variar, muitas máquinas caça niqueis, aquelas que você coloca uma moeda puxa a alavanca e aguarda para ver se as três imagens serão iguais e você irá ganhar algumas moedas ou eventualmente encher o balde que eles te dão quando compra as fichas.

Fiquei ali por vários minutos olhando o movimento enquanto aguardado o horário do meu voo. Pude ver várias apostadores colocando suas moedas e tentando a sorte, alguns que ficaram por muito tempo colocando moedas ou fichas várias vezes e puxando aquela alavanca pensando em ganhar algum dinheiro naquelas máquinas, eram pessoas eu sentavam ali, gastavam algumas moedas, não ganhavam nada e iam embora, colocavam muitas moedas, puxavam a alavanca várias vezes e eram muitos que se revezavam naquela mesma máquina a minha frente, mas todos perdiam, a máquina engolia todas as moedas e ninguém ganhava nada, todos saiam frustrados, apenas com a satisfação de que um dia foram “jogadores” em Vegas.

Faltando alguns minutos para a chamada o meu voo chegou uma pessoa perto daquela mesma máquina onde até então todos colocaram suas moedas e perderam, sentou se calmamente, colocou seu balde no local onde sairiam as moedas caso ganhasse, colocou uma única moeda, puxou a alavanca e para surpresa minha e principalmente dele, com uma única moeda e uma única puxada da alavanca, ele ganhou, sim ganhou, fez 3 figuras iguais e encheu o balde, não parava mais de cair moedas dentro do balde, até que finalmente encheu e encheu até a boca. Na verdade não deveria ser nenhuma fortuna, mas era um balde cheio de moedas, todas as moedas que todos os outros jogadores colocaram e perderam, sorte de um, azar de outros, assim é a vida dos jogadores, mas confesso que foi muito legal ver aquele cara ganhando aquele balde cheio de moedas, o semblante dele e a felicidade dele foram indescritíveis, ele ficou muito surpreso, pois acho que realmente não esperava, afinal já estava no aeroporto indo embora pra casa também e se não havia ganho nada em algum cassino, tinha ganho numa máquina caça níqueis do aeroporto, sairia dali com a sensação de ganhador, mesmo que já tivesse perdido algum dinheiro nos cassinos ou em algum outro lugar, pois em Las Vegas, todo e qualquer lugar tem máquinas de jogo, é impressionante a quantidade e a variedade.

Em seguida a essa cena, ouvi a chamada para o meu voo e finalmente entrei no meu primeiro voo que para felicidade minha decolou em direção a Houston, seria a primeira parte da volta pra casa.

Fora a parte estressante da revista pela segurança no aeroporto, o voo foi rápido e tranquilo até Houston.

De Houston que era apenas uma conexão, segui direto para Newark, finalmente meu último voo para voltar pra casa. Essa era uma grande expectativa e a ansiedade era muito grande, pois naquela semana muitos voos haviam sido cancelados e o meu último voo corria o mesmo risco.

Depois de horas de viagem atravessando os EUA, finalmente cheguei a Newark no final da tarde, fiz meu check-in e aguardaria a hora da chamada para o voo e ida pra casa. Mas logicamente não poderia faltar a última emoção de pensar que ainda não seria essa a hora de voltar para a casa, que nadei nadei e morri na praia. Porque?

No momento em que eu já estava na sala de embarque devidamente pronto e alimentado, pois evidentemente já tinha até tomado mais um café e comigo um lanche para aguardar o meu voo, estava calmamente conversando com uma brasileira que também estava ansiosa para voltar pra casa, quando de repente ouvimos um comunicado do alto falando do recinto informando que um voo havia sido cancelado, mas como eu não estava prestando muita atenção não consegui ouvir direito qual voo estava sendo cancelado. Só consegui ver uma decepção geral de muitos passageiros que estavam ali sentados e a tristeza no semblante de cada um pelo cancelamento do voo. Neste momento fiquei atento as comunicações dos auto falantes do aeroporto, para ver se era o meu voo que foi cancelado ou o que estava acontecendo. Mesmo prestando muita atenção ao que estava sendo comunicado eu não tinha entendido bem o que foi comunicado, mas entendi que algum voo havia sido cancelado ou postergado naquele momento, mas para pânico meu pude ver muita gente que estava na mesma sala de embarque que eu fazer cara de tristeza e desânimo, pois pelas conversas paralelas entendi que o voo realmente havia sido cancelado, entrei pânico e fiquei muito preocupado, pois poderia ser o meu voo de volta para o Brasil sendo cancelado aos 46 minutos do segundo tempo, que tristeza. Mas para como sou brasileiro e não desisto nunca, fui procurar saber o que estava acontecendo, falei com algumas pessoas que ali estavam e me dirigi ao balcão de embarque do meu voo, que além do voo para o Brasil estava embarcando ou voo um pouco antes. Ao perguntar para o atendente fui informado que realmente o voo tinha sido cancelado, mas por mal tempo e os passageiros teriam que aguardar o tempo melhorar para ver se o avião sairia ou não. O bom foi que na verdade essa informação não era sobre o meu voo de volta para o Brasil e sim sobre o outro voo que estava sendo embarcado antes do meu. Nossa, que alivio, respirei fundo e agradeci a Deus, pois a cada minuto eu chegava mais perto de ir pra casa. Como ainda faltavam alguns minutos para o meu embarque, continuei sentado ali e conversando com alguns brasileiros que como eu também estava desesperados para voltar pra casa, pois já estavam presos ali por alguns dias, vindos de vários outros estados e sem a perspectiva de voltar pra casa, podíamos ver em seus rostos a expressão de felicidade com um misto de dúvida e desespero, pois enquanto não entrássemos no avião e chegássemos ao Brasil nada era certo.

Finalmente nos chamaram para o embarque, ô glória, que felicidade, que alívio, pois nosso voo não havia sido postergado e nem muito menos cancelado, sairíamos as 21:10 h e chegaríamos no aeroporto de Guarulhos/SP pela manhã, lá pelas 5 ou 6 h da manhã. Nem acreditei quando sentei na minha poltrona e pude relaxar, afinal depois de quatro dias esperando, finalmente eu estava voltando para casa. A viagem foi tranquila, foi normal, sem estresse, sem turbulência, sem que nada mais acontecesse e finalmente depois de muitas horas de viagem durante a noite, chegamos ao Brasil e horas depois eu finalmente cheguei na minha casa para felicidade minha e de toda a minha família, pois havia sobrevivido a tudo aquilo com a graça de Deus.

O bom de tudo isso é que embora essa viagem não tenha dado muito certo por conta do atentado de 11 de Setembro de 2001, eu acabei tendo a oportunidade de voltar aquele lugar em Setembro de 2005 e sem todo esse estresse, podendo revisitar todos os lugares que eu já conhecia muito bem e ainda poderia conhecer outros, isso não tem preço. Mas essa é uma outra história.

Como sempre, gosto de finalizar agradecendo a Deus por tudo que ele fez e ainda irá fazer na minha vida, e toda essa experiência me levou a lembrar do versículo bíblico abaixo.

 

“Grandes coisas fez o Senhor por nós, pelas quais estamos alegres.” Salmo 126:3

 

FIM


Artigo completo: