Aspectos Diferenciais Das Cinco Lições Psicanalíticas
Por WAGNER PAULON | 07/04/2008 | EducaçãoASPECTOS
DIFERENCIAIS DAS CINCO LIÇÕES PSICNALÍTICAS
Dr.WAGNER PAULON
2008-04-07
Até aqui nos tem sido vantajoso caminhar ao lado dos médicos, mas breve os
deixaremos. que tomavam habitualmente como ponto de partida a situação DE UMA
JOVEM A CABECEIRA DO PAI DOENTE. Pôde-se também fazer desaparecer sintomas
quando; na HIPNOSE, a doente recordava, com exteriorização afetiva, a ocasião e
o motivo do aparecimento desses sintomas pela primeira vez. Os senhores
desejam, por certo, que lhes apresente outros exemplos de produção de SINTOMAS
HISTÉRICOS,além do da hidrofobia originada pela repugnância diante do cão que
bebia no copo. 'Caiu em
ESTADO DE SEMI-SONHO e viu, como se viesse da parede, uma
cobra negra que se aproximava do enfermo para mordê-lo". Charing Cross é o
último desses monumentos destinados a perpetuar a memória do cortejo fúnebre.12
Em outro ponto da cidade, não muito distante da London Bridge, verão uma coluna
moderna e muito alta, chamada simplesmente The Monument, cujo fim é lembrar o
grande incêndio que em 1666 irrompeu ali perto e destruiu boa parte da cidade.
Todos os TRAUMAS que influíram na moça DATAVAM DO TEMPO EM QUE ELA CUIDAVA DO
PAI DOENTE, e os sintomas que apresentava podem ser considerados como simples
SINAIS MNÊMICOS da doença e da morte dele. Correspondem, portanto, a uma
MANIFESTAÇÃO DE LUTO, e a fixação à memória do finado, tão pouco tempo depois
do traspasse, nada representa de patológico; corresponde antes a um processo
emocional normal. A doente de BREUER nos haveria de oferecer oportunidade de
apreciar a mesma fixação anormal, se não tivesse sido tratada pelo MÉTODO
CATÁRTICO tão pouco tempo depois do traumatismo e da eclosão dos sintomas.Até
aqui apenas discorremos sobre as relações entre os SINTOMAS HISTÉRICOS E OS
FATOS DA VIDA DA DOENTE, mas dois outros elementos da observação de BREUER
podem também indicar-nos COMO CONCEBER 1ºTANTO O MECANISMO DA MOLÉSTIA 2ºCOMO O
DO RESTABELECIMENTO.1° Quanto ao primeiro, é preciso salientar que a doente de
Breuer em quase todas as situações teve de SUBJUGAR UMA PODEROSA EMOÇÃO, EM VEZ DE PERMITIR
SUA DESCARGA POR SINAIS APROPRIADOS DE EMOÇÃO, PALAVRAS OU AÇÕES. A doente de
BREUER exibia, ao lado de seu estado normal, vários outros de ABSENCE, confusão
e alterações do caráter. Origina-se então, DO PROCESSO DE EXCITAÇÃO, UM PRODUTO
ANORMAL - O SINTOMA- que, como corpo estranho, se insinua no estado normal,
escapando a este, por isso, o conhecimento da situação patogênica hipnóide.
ONDE EXISTE UM SINTOMA, EXISTE TAMBÉM UMA AMNÉSIA, UMA LACUNA DA MEMÓRIA, CUJO
PREENCHIMENTO SUPRIME AS CONDIÇÕES QUE CONDUZEM À PRODUÇÃO DO SINTOMA.Receio
que esta parte de minha exposição não lhes pareça muito clara. A TEORIA DE
BREUER, DOS ESTADOS HIPNÓIDES, TORNOU-SE ALIÁS EMBARAÇANTE E SUPÉRFLUA, E FOI
ABANDONADA PELA PSICANÁLISE MODERNA. Mais tarde me ouvirão falar, nem que seja
sucintamente, das influências e processos que era mister descobrir atrás das
fronteiras dos estados hipnóides, por BREUER fixadas. Contrariando, porém, esta
suposta FRAQUEZA MENTAL dos PACIENTES HISTÉRICOS, podem observar-se neles, além
dos fenômenos de CAPACIDADE DIMINUÍDA, outros, por assim dizer compensadores,
de EXALTAÇÃO PARCIAL DA EFICIÊNCIA. Como não podia modificar à vontade o estado
psíquico dos doentes, procurei agir mantendo-os em estado normal. Partindo do
mecanismo da cura, podia-se formar idéia muito precisa da gênese da doença. A
esse processo, por mim formulado, DEI O NOME DE REPRESSÃO e julguei-o
demonstrado pela presença inegável da RESISTÊNCIA.Podia-se ainda perguntar, sem
dúvida, que FORÇA era essa e quais as condições da REPRESSÃO, em que
reconhecemos agora o MECANISMO PATOGÊNICO DA HISTERIA.Um exame comparativo das
situações patogênicas, conhecidas graças ao TRATAMENTO CATÁRTICO, permitia dar
a conveniente resposta. Tratava-se em todos os casos do aparecimento de um
DESEJO VIOLENTO mas em
CONTRASTE COM OS DEMAIS DESEJOS DO INDIVÍDUO E INCOMPATÍVEL
COM AS ASPIRAÇÕES MORAIS E ESTÉTICAS DA PRÓPRIA PERSONALIDADE. Era, portanto, a
INCOMPATIBILIDADE entre a IDÉIA E O EGO DO DOENTE, o MOTIVO DA REPRESSÃO as
ASPIRAÇÕES INDIVIDUAIS, éticas e outras, eram as FORÇAS REPRESSIVAS. A
aceitação do impulso desejoso incompatível ou o prolongamento do conflito
teriam despertado intenso desprazer; a repressão evitava o desprazer,
revelando-se desse modo um meio de PROTEÇÃO DA PERSONALIDADE PSÍQUICA.Dos
muitos casos por mim observados quero relatar-lhes um apenas, no qual são
patentes os aspectos determinantes e a VANTAGEM DA REPRESSÃO. A paciente era
uma jovem14 que perdera recentemente o pai, depois de tomar parte,
carinhosamente, nos cuidados ao enfermo — situação análoga à da doente de
Breuer. Se traduzirmos agora os dois lugares, SALA E VESTÍBULO, PARA A PSIQUE,
como "CONSCIENTE" E "INCONSCIENTE",os senhores terão uma
imagem mais ou menos perfeita do PROCESSO DE REPRESSÃO.Os senhores podem ver
desde logo onde está a DIFERENÇA ENTRE NOSSA CONCEPÇÃO E A DE JANET.Não
atribuímos a divisão psíquica à incapacidade inata para a síntese da parte do
aparelho psíquico, mas explicamo-lo dinamicamente pelo CONFLITO DE FORÇAS
MENTAIS CONTRÁRIAS, reconhecendo nele o resultado de uma LUTA ATIVA DA PARTE
DOS DOIS AGRUPAMENTOS PSÍQUICOS ENTRE SI. É forçoso, portanto, admitir que
outras condições são também necessárias para que do conflito resulte a
DISSOCIAÇÃO.Concordo de boa-vontade que com a hipótese da repressão, estamos
não no remate, mas antes no LIMIAR DE UMA TEORIA PSICOLÓGICA; só passo a passo
podemos avançar, esperando que um trabalho posterior mais aprofundado
aperfeiçoe os conhecimentos.Os presentes devem abster-se de examinar o caso da
doente de BREUER sob o ponto de vista da repressão: essa história clínica não
se presta para isso porque foi obtida sob o influxo do hipnotismo. Só
prescindido deste último poderão perceber a RESISTÊNCIA E A REPRESSÃO, e formar
idéia exata do processo patogênico real. A HIPNOSE ENCOBRE A RESISTÊNCIA,
deixando livre e acessível um determinado setor psíquico, em cujas fronteiras,
porém, acumula as resistências, criando para o resto uma barreira
intransponível.O que de mais importante nos proporcionou a observação de BREUER
foi esclarecer as RELAÇÕES DOS SINTOMAS COM AS EXPERIÊNCIAS PATOGÊNICAS OU
TRAUMAS PSÍQUICOS, resultado que não devemos deixar de focalizar agora sob o
ponto de vista da TEORIA DA REPRESSÃO.À primeira vista, com efeito, não se
percebe como, PARTINDO DA REPRESSÃO, SE PODE CHEGAR À FORMAÇÃO DOS SINTOMAS.
Graças à autoridade do DR. HALL, condescendemos em DESFAZER A REPRESSÃO,
VOLTANDO A PAZ E O SOSSEGO. EIS UMA REPRESENTAÇÃO MUITO APROPRIADA DA MISSÃO
QUE CABE AO MÉDICO NA TERAPÊUTICA PSICANALÍTICA DAS NEUROSES.Agora, para
dizê-lo sem rebuços: chegamos à convicção, pelo exame dos doentes histéricos e
outros neuróticos, de que a REPRESSÃO DAS IDÉIAS, a que o DESEJO INSUPORTÁVEL
está apenso, malogrou. Expeliram-nas da CONSCIÊNCIA E DA LEMBRANÇA; com isso os
pacientes se livraram aparentemente de grande soma de dissabores. ESTA
SUBSTITUIÇÃO DA IDÉIA REPRIMIDA — O SINTOMA —é protegida contra as FORÇAS
DEFENSIVAS DO EGO e em lugar do breve conflito, começa então um sofrimento
interminável. No sintoma, a par dos sinais do disfarce, podem reconhecer-se
traços de semelhança com a IDÉIA PRIMITIVAMENTE REPRIMIDA. Nesta (3º) última
hipótese o mecanismo da repressão, automático por isso mesmo insuficiente, é
substituído por um julgamento de condenação com a ajuda das mais altas funções
mentais do homem — O CONTROLE CONSCIENTE DO DESEJO É ATINGIDO.Desculpem-me se
porventura não logrei apresentar-lhes mais compreensivelmente estes pontos de
vista capitais do método terapêutico hoje denominado "PSICANÁLISE". A
dificuldade não está só na novidade do assunto. A NATUREZA DOS DESEJOS
INCOMPATÍVEIS QUE, NÃO OBSTANTE AS REPRESSÕES, CONTINUAM A DAR SINAL DE SI NO
INCONSCIENTE, E OS ELEMENTOS DETERMINANTES SUBJETIVOS E CONSTITUCIONAIS QUE
DEVEM ESTAR PRESENTES EM QUALQUER PESSOA ANTES DO MALOGRO DA REPRESSÃO
PODEM OCORRER E UM SUBSTITUTO OU SINTOMA SER FORMADO — SOBRE TUDO ISTO
PROCURAREI ESCLARECER EM ALGUMAS
OBSERVAÇÕES POSTERIORES.♦♦♦O PENSAMENTO que no doente vinha
em lugar do desejado, tinha ORIGEM idêntica à de um SINTOMA; era uma nova
SUBSTITUIÇÃO ARTIFICIAL e efêmera do reprimido e tanto menos semelhante a ele
QUANTO MAIOR A DEFORMAÇÃO que tivesse de sofrer sob a influência da
resistência. Conhecemos, no domínio da vida psíquica normal, exemplos em que
situações análogas às que admitimos produzem resultados semelhantes. É o caso
do CHISTE.O problema da técnica psicanalítica forçou-me a estudar o MECANISMO
DA FORMAÇÃO DAS PILHÉRIAS. Se diante de um doente quiserem os presentes ter um
conhecimento rápido e provisório dos complexos reprimidos, sem lhes penetrar na
ordem e nas relações, podem dispor da "EXPERIÊNCIA DA
ASSOCIAÇÃO",cuja técnica foi aperfeiçoada por JUNG (1906) e seus
discípulos. PARA O PSICANALISTA ESTE MÉTODO É TÃO PRECIOSO QUANTO PARA O
QUÍMICO A ANÁLISE QUALITATIVA; PRESCINDÍVEL NA TERAPÊUTICA DOS NEURÓTICOS, É
INDISPENSÁVEL PARA A DEMONSTRAÇÃO OBJETIVA DOS COMPLEXOS E PARA O ESTUDO DAS
PSICOSES, COM TANTO ÊXITO EMPREENDIDO PELA ESCOLA DE ZURIQUE.Não é o estudo das
divagações, quando o doente se sujeita às regras psicanalíticas, O ÚNICO
RECURSO TÉCNICO PARA SONDAGEM DO INCONSCIENTE.
QUANDO ME PERGUNTAM COMO PODE UMA PESSOA FAZER-SE PSICANALISTA, RESPONDO QUE É
PELO ESTUDO DOS PRÓPRIOS SONHOS. Se não repugna aos presentes, ao contrário,
ACEITAR AS SOLUÇÕES DOS PROBLEMAS DA VIDA ONÍRICA, já não apresentam aos
ouvintes dificuldade alguma as novidades trazidas pela psicanálise. As camadas
baixas do nosso povo, mesmo hoje, não estão totalmente desnorteadas na
apreciação do valor dos sonhos, dos quais esperam, como os antigos, A REVELAÇÃO
DO FUTURO. Estaria certamente resolvido, e de modo satisfatório, o enigma do
sonho, se o do ADULTO não fosse nada mais que o da CRIANCINHA: REALIZAÇÃO DE
DESEJOS TRAZIDOS PELO DIA DO SONHO. O conteúdo manifesto do sonho, recordado
vagamente de manhã e que, não obstante a espontaneidade aparente, se exprime em
palavras com esforço, deve ser diferenciado dos pensamentos latentes do sonho
que se têm de admitir como EXISTENTES NO INCONSCIENTE. Esta DEFORMAÇÃO possui
mecanismo idêntico ao que já conhecemos desde quando examinamos a gênese dos
SINTOMAS HISTÉRICOS; e é uma prova da participação da mesma interação de FORÇAS
MENTAIS tanto na formação dos sonhos como na dos SINTOMAS. O CONTEÚDO MANIFESTO
DO SONHO É O SUBSTITUTO DEFORMADO PARA OS PENSAMENTOS INCONSCIENTES DO SONHO.Esta
deformação é obra das FORÇAS DEFENSIVAS DO EGO,isto é, das RESISTÊNCIAS que na
vigília IMPEDEM, de modo geral, a PASSAGEM PARA A CONSCIÊNCIA, dos DESEJOS
REPRIMIDOS DO INCONSCIENTE ENFRAQUECIDAS DURANTE O SONO,estas resistências
ainda são suficientemente fortes para só os tolerar disfarçados. Pondo de lado
a aparente conexão dos elementos do sonho manifesto, procurarão os senhores
evocar idéias por LIVRE ASSOCIAÇÃO,partindo de cada um desses elementos e
observando as regras da prática psicanalítica. De posse deste material chegarão
aos PENSAMENTOS LATENTES DO SONHO com a mesma perfeição com que conseguiram
surpreender no doente o COMPLEXO OCULTO, por meio das idéias sugeridas pelas
ASSOCIAÇÕES LIVRES a partir dos sintomas e lembranças. Pelos PENSAMENTOS LATENTES
DO SONHO, descobertos desse modo, pode-se ver sem mais nada como é justo
equiparar o sonho dos adultos ao das crianças. Pela análise dos sonhos
descobrirão os senhores ainda mais, com surpresa, porém do modo mais
convincente possível, o papel importantíssimo e nunca imaginado que os FATOS E
IMPRESSÕES DA TENRA INFÂNCIA EXERCEM NO DESENVOLVIMENTO DO HOMEM. Não seria
impossível que essas últimas criações populares recebessem, portanto, do sonho,
a sua explicação.
FOI TODAVIA NO DECORRER DO TRATAMENTO PSICANALÍTICO DOS NEURÓTICOS QUE CHEGAMOS
ATÉ ELE. Pelo que até agora dissemos podem compreender facilmente que a
interpretação de sonhos, quando não a estorvam em excesso as resistências do
doente, leva ao CONHECIMENTO DOS DESEJOS OCULTOS E REPRIMIDOS, bem como dos
exemplos entretidos por este. São extraordinariamente significativas e quase
sempre de interpretação fácil e segura, tendo-se em vista a situação em que
ocorrem; verifica-se que mais uma vez EXPRIMEM IMPULSOS E INTENÇÕES QUE DEVEM
FICAR OCULTOS À PRÓPRIA CONSCIÊNCIA, ou emanam justamente dos DESEJOS
REPRIMIDOS E DOS COMPLEXOS que, como já sabemos, são CRIADORES DOS SINTOMAS E
FORMADORES DOS SONHOS.Fazem jus à mesma consideração que os sintomas, e o seu
exame, tanto quanto o dos sonhos, pode levar ao descobrimento da parte oculta
da mente. São porém do mais alto valor teórico: testemunham a existência da
REPRESSÃO E DA SUBSTITUIÇÃO mesmo na saúde perfeita.NOTARÃO DESDE LOGO QUE O
PSICANALISTA SE DISTINGUE PELA RIGOROSA FÉ NO DETERMINISMO DA VIDA MENTAL. O
orgulho da consciência que chega por exemplo a desprezar os sonhos pertence ao
forte aparelhamento disposto em nós de modo geral contra a invasão dos
complexos inconscientes. Esta é a razão por que tão dificultoso é como vencer
os homens da REALIDADE DO INCONSCIENTE e dar-lhes a conhecer qualquer novidade
em contradição com seu conhecimento consciente.♦♦♦SF♦♦♦
QUARTA LIÇÃO
-SENHORAS E SENHORES-
Desejam os ouvintes saber agora o que, com auxílio dos meios técnicos
descritos, logramos averiguar a respeito dos COMPLEXOS PATOGÊNICOS E DOS
DESEJOS REPRIMIDOS DOS NEURÓTICOS.Mas, antes de tudo, uma coisa: o exame
psicanalítico relaciona com uma regularidade verdadeiramente surpreendente os
SINTOMAS MÓRBIDOS A IMPRESSÕES DA VIDA ERÓTICA DO DOENTE; mostra-nos que os
DESEJOS PATOGÊNICOS são da natureza dos componentes INSTINTIVOS ERÓTICOS:e
obriga-nos a admitir que as PERTURBAÇÕES DO EROTISMO têm a maior importância
entre as influências que LEVAM À MOLÉSTIA, TANTO NUM COMO NOUTRO SEXO.Bem sei
que não se acredita de boa mente nesta minha afirmação. Quando muito, REFORÇAM
A AÇÃO DO ELEMENTO SEXUAL, mas nunca podem substituí-lo. Se os interrogarem,
ouvirão que todos eles a princípio recebiam com a maior descrença a afirmação
da importância decisiva da ETIOLOGIA SEXUAL, até que pelo exercício analítico
pessoal foram obrigados a aceitar como sua própria aquela afirmação.O modo de
proceder dos doentes em nada facilita o reconhecimento da justeza da tese a que
estamos aludindo. Infelizmente, os MÉDICOS NÃO DESFRUTAM nenhum privilégio
especial sobre os demais homens no tocante ao comportamento na ESFERA DA VIDA
SEXUAL, e muitos deles estão DOMINADOS por aquela MESCLA DE LUBRICIDADE E
AFETADO RECATO, que é o que governa a maioria dos "povos civilizados"
nas coisas da SEXUALIDADE.Deixe-me prosseguir no relato das nossas
contestações. Chegamos aqui à mesma conclusão do exame de sonhos, isto é, QUE
FORAM OS DESEJOS DURADOUROS E REPRIMIDOS DA INFÂNCIAque emprestaram à formação
dos sintomas a força sem a qual teria decorrido normalmente a reação contra
traumatismos posteriores. Estes potentes DESEJOS DA INFÂNCIA hão de ser
reconhecidos, porém, em sua absoluta generalidade, como SEXUAIS.Mas, agora sim,
estou realmente certo do espanto dos ouvintes. "EXISTE ENTÃO — PERGUNTARÃO
— UMA SEXUALIDADE INFANTIL?""A infância não é, ao contrário, o
período da vida marcado pela ausência do instinto sexual?" Não, meus
senhores. Eis aqui o trabalho do DR. SANFORD BELL, impresso em 1902, em The American Journal
of Psychology. Nesse trabalho, intitulado "A PRELIMINARY STUDY OF THE
EMOTION OF LOVE BETWEEN THE SEXES", publicado três anos antes dos meus
THREE ESSAYS ON THE THEORY OF SEXUALITY [1905D],(TRÊS ENSAIOS SOBRE A TEORIA DA
SEXUALIDADE),escreve o autor, tal qual há pouco lhes dizia: "A EMOÇÃO DO
AMOR SEXUAL… NÃO APARECE PELA PRIMEIRA VEZ NO PERÍODO DA ADOLESCÊNCIA, COMO SE
TEM PENSADO." (CF. BLEULER, 1908.)".É facílima de explicar a razão
por que a maioria dos homens, observadores médicos e outros, NADA QUEREM SABER
da VIDA SEXUAL DA CRIANÇA. Sob o peso da educação e da civilização, ESQUECERAM
A ATIVIDADE SEXUAL INFANTIL e não desejam agora relembrar aquilo que já estava
reprimido. A PRINCIPAL FONTE DE PRAZER SEXUAL INFANTIL É A EXCITAÇÃO APROPRIADA
DE DETERMINADAS PARTES DO CORPO PARTICULARMENTE EXCITÁVEIS, ALÉM DOS ÓRGÃOS
GENITAIS, COMO SEJAM OS ORIFÍCIOS DA BOCA, ÂNUS E URETRA E TAMBÉM A PELE E
OUTRAS SUPERFÍCIES SENSORIAIS. Ao lado dessas e outras atividades AUTO-ERÓTICAS
revelam-se, muito cedo, NA CRIANÇA, aqueles componentes INSTINTIVOS DO GOZO
SEXUAL ou, como preferimos dizer, da LIBIDO,que pressupõem como objeto uma
pessoa estranha. Esta vida sexual infantil desordenada, rica mas dissociada, em
que cada impulso isolado se entrega à conquista do gozo independentemente dos
demais, experimenta uma condensação e organização em duas principais direções,
de tal modo que AO FIM DA PUBERDADE O CARÁTER SEXUAL DEFINITIVO ESTÁ
COMPLETAMENTE FORMADO. DE UM LADO SUBORDINAM-SE TODOS OS IMPULSOS AO DOMÍNIO DA
ZONA GENITAL, POR MEIO DA QUAL A VIDA SEXUAL SE COLOCA EM TODA A PLENITUDE
AO SERVIÇO DA PROPAGAÇÃO DA ESPÉCIE, PASSANDO A SATISFAÇÃO DAQUELES IMPULSOS A
SÓ TER IMPORTÂNCIA COMO PREPARO E ESTÍMULO DO VERDADEIRO ATO SEXUAL.DE OUTRO
LADO A ESCOLHA DE OBJETO REPELE O AUTO-EROTISMO, DE MANEIRA QUE NA VIDA ERÓTICA
OS COMPONENTES DO INSTINTO SEXUAL SÓ QUEREM SATISFAZER-SE NA PESSOA AMADA.Mas
nem todos os componentes instintivos originários são admitidos a tomar parte
nesta fixação definitiva da vida sexual. A EQUIVALÊNCIA PRIMITIVA DOS SEXOS
COMO OBJETO SEXUAL PODE CONSERVAR-SE, E DISSO SE ORIGINARÁ NO ADULTO UMA
TENDÊNCIA HOMOSSEXUAL,capaz de chegar em certas circunstâncias até a da
HOMOSSEXUALIDADE EXCLUSIVA.Esta série de distúrbios corresponde a entraves
diretos no desenvolvimento da função sexual: abrange as perversões e o nada
raro INFANTILISMO GERAL DA VIDA SEXUAL.A PROPENSÃO À NEUROSE deve provir por
outra maneira de uma PERTURBAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO SEXUAL. Temos aqui ainda
muito que rever, porque nossa atenção foi dirigida mais para as manifestações
somáticas da vida sexual do que às psíquicas. A relação entre CRIANÇA E PAIS
não é, como a observação direta do menino e posteriormente o exame
psicanalítico do adulto concordemente demonstram, absolutamente livre de
ELEMENTOS DE EXCITAÇÃO SEXUAL. O Hamlet de Shakespeare assenta sobre a mesma
base, embora mais velada, do COMPLEXO DO INCESTO.25 No tempo em que é dominada
pelo COMPLEXO CENTRAL ainda NÃO REPRIMIDO, a CRIANÇA dedica aos INTERESSES
SEXUAIS notável PARTE DA ATIVIDADE INTELECTUAL. O próprio fato dessa
investigação e as conseqüentes teorias sexuais infantis são de importância
determinante para a formação do caráter da criança e do conteúdo da neurose
futura.É ABSOLUTAMENTE NORMAL E INEVITÁVEL QUE A CRIANÇA FAÇA DOS PAIS O OBJETO
DA PRIMEIRA ESCOLHA AMOROSA. Desprender dos pais a criança torna-se portanto
uma obrigação inelutável, sob pena de graves ameaças para a função social do
jovem. Não julguem que com esta dissertação acerca da vida sexual infantil e do
desenvolvimento psicossexual da criança nos tenhamos afastado da psicanálise e
da terapêutica das perturbações nervosas. No distanciar da realidade
reconhecemos também a tendência principal e ao mesmo tempo o dano capital do
estado patológico. Não somente o EGO do doente se RECUSA a desfazer a REPRESSÃO
por meio da qual se esquivou de suas disposições originárias, como também PODE
O INSTINTO SEXUAL não renunciar à satisfação vicariante enquanto houver dúvida
de que a REALIDADE LHE OFEREÇA ALGO MELHOR.A fuga, da realidade insatisfatória
para aquilo que pelos danos biológicos que produz chamamos DOENÇA,não deixa
jamais de proporcionar ao DOENTE UM PRAZER IMEDIATO; ela se dá pelo caminho da
REGRESSÃO ÀS PRIMEIRAS FASES DA VIDA SEXUAL a que na época própria não faltou
satisfação. Sob ambos os aspectos a REGRESSÃO ORIENTA-SE PARA A INFÂNCIA,
restabelecendo um estado infantil da vida sexual.Quanto mais profundamente
penetrar-lhes a patogênese das afecções nervosas, mais claramente verão os
liames entre as neuroses e outras produções da vida mental do homem, ainda as
mais altamente apreciadas. Nestas FANTASIAS há muito da própria natureza
constitucional da personalidade e muito dos SENTIMENTOS REPRIMIDOS. Quando esse
RESULTADO NÃO É ATINGIDO, seja por oposição do mundo exterior, seja por
fraqueza do indivíduo, este se desprende da realidade, RECOLHENDO-SE aonde pode
gozar, isto é, AO SEU MUNDO DE FANTASIA, cujo conteúdo, no caso de moléstia, se
TRANSFORMA EM
SINTOMA. Conforme as circunstâncias de quantidade e da
proporção entre as FORÇAS EM CHOQUE, será o RESULTADO da luta A SAÚDE, A
NEUROSE ou a SUBLIMAÇÃO COMPENSADORA.Aquele trecho da vida sentimental cuja
lembrança já não pode evocar, o paciente torna a vivê-lo nas relações com o
médico; e só por este ressurgimento na "TRANSFERÊNCIA" é que o DOENTE
SE CONVENCE da existência e do poder desses SENTIMENTOS SEXUAIS INCONSCIENTES.
O ESTUDO DA TRANSFERÊNCIApode dar-lhes ainda a chave para compreenderem a
SUGESTÃO HIPNÓTICA de que a princípio nos servimos como meio técnico de
ESQUADRINHAR O INCONSCIENTE dos doentes. Naquela época o HIPNOTISMO revelava-se
um meio terapêutico, mas constituía ao mesmo tempo um EMPECILHO ao conhecimento
científico da questão, REMOVENDO as RESISTÊNCIAS psíquicas de um CERTO
TERRITÓRIO, para AMONTOÁ-LAS COMO MURALHA intransponível nos confins do mesmo.
Não pensem, além disso, que o fenômeno da transferência, a respeito do qual
infelizmente pouco posso dizer aqui, seja produzido pela influência da
psicanálise. A PSICANÁLISE, PORTANTO, NÃO A CRIA; APENAS A DESVENDA À
CONSCIÊNCIA E DELA SE APOSSA A FIM DE ENCAMINHÁ-LA AO TERMO DESEJADO.Não posso
certamente deixar o assunto da transferência SEM FRISAR QUE ESTE FENÔMENO É
DECISIVO NÃO SÓ PARA O CONVENCIMENTO DO DOENTE MAS TAMBÉM DO MÉDICO. Uma das
formas de oposição mais espalhadas contra o emprego da psicanálise, tanto em
doentes como em sãos, se liga ao último desses dois fatores. Ninguém pensa já
em incriminá-lo pelos inevitáveis incômodos do exame nem pelos fenômenos
pós-operatórios, desde que a operação tenha bom êxito e que, mediante a agravação
passageira do mal, o doente alcance a definitiva supressão do estado mórbido.
Em relação à psicanálise, as condições são semelhantes; ela pode reivindicar os
mesmos direitos que a cirurgia; a exasperação dos incômodos que impõe ao doente
durante o tratamento é, uma vez observada a boa técnica, incomparavelmente
menor que a infligida pelo cirurgião, e em geral nem deve ser tomada em
consideração diante da gravidade da moléstia principal. O TRATAMENTO
PSICANALÍTICO COLOCA-SE ASSIM COMO O MELHOR SUBSTITUTO DA REPRESSÃO FRACASSADA,
JUSTAMENTE EM PROL
DAS ASPIRAÇÕES MAIS ALTAS E VALIOSAS DA CIVILIZAÇÃO.Que
acontece geralmente com os DESEJOS INCONSCIENTES libertados pela psicanálise, e
quais os MEIOS por cujo intermédio pretendemos TORNÁ-LOS INOFENSIVOS à vida do
indivíduo? Desses MEIOS há vários. Por causa das repressões, o neurótico perdeu
muitas fontes de energia mental que lhe teriam sido de grande valor na formação
do caráter e na luta pela vida. A REPRESSÃO PREMATURA EXCLUI A SUBLIMAÇÃO DO
INSTINTO REPRIMIDO; desfeito aquele, está novamente livre o caminho para a
sublimação.Não devemos deixar de contemplar também o terceiro dos possíveis
desenlaces do tratamento psicanalítico. Certa parte dos DESEJOS LIBIDINAIS
REPRIMIDOS faz jus à SATISFAÇÃO DIRETA e deve alcançá-la na vida. A
plasticidade dos COMPONENTES SEXUAIS, manifesta na capacidade de SUBLIMAREM-SE,
pode ser uma grande tentação a conquistarmos maiores frutos para a sociedade
por INTERMÉDIO DA SUBLIMAÇÃO contínua e cada vez mais intensa. Mas assim como
não contamos transformar em trabalho senão parte do calor empregado em nossas
máquinas, DE IGUAL MODO NÃO DEVE ESFORÇAR-NOS EM DESVIAR A TOTALIDADE
DA ENERGIA DO INSTINTO SEXUAL DA SUA FINALIDADE PRÓPRIA. SF♦♦♦OBSERVAÇÕES Outro
relato da ocasião será encontrado na A History of the Psycho-Analytic Movement
(A História do Movimento Psicanalítico) (1914 d). Uma descrição mais completa,
da qual se origina a maioria dos detalhes apresentados aqui, consta da
biografia de Ernest Jones (1955, págs. (N. DO E.)1 [Nota de rodapé acrescentada
em 1923:] Ver, contudo, nesse sentido, minhas observações em A History of the
Psycho/Analytic Movement (1914d) (A História do Movimento Psicanalítico), onde
assumi toda a responsabilidade pela psicanálise.2 Dr Joseph Breuer, nascido em
1842, membro correspondente da Kaiserliche Akademie der Wissenschaften ([Real
Academia de Ciências], conhecido por trabalhos sobre a respiração e sobre a
fisiologia do sentido do equilíbrio). ("contribuições à Psicologia do
Amor").]SF♦♦♦PSICANÁLISE - PSICANALISTASDOUTOR SIGMUND FREUD O GRANDE
LIBERTADOR DA ALMA © O PRESENTE TRABALHO FOI REEDITADO PELO DR WAGNER PAULON
2007