As representações sociais da escola e da família acerca do exercício da docência masculina em séries iniciais

Por Alexandra Paula Cyrino dos Santos Souza | 23/08/2012 | Educação

A Educação participa da vida do ser pessoa de forma ativa e contínua, conduzindo-o ao crescimento e preparando-o para o convívio social de forma harmônica e disciplinar, buscando atender aos anseios da comunidade de ideias do qual se encontra inserido.

A transitoriedade é uma característica comum ao processo da aprendizagem que é dinâmico e efêmero, e que se desenvolve em ciclos que perpassam o sujeito por diversas vezes, imbuído de um caráter renovador, mas nunca finito. Neste movimento onde a Educação se aplica, permeia as relações entre os sujeitos - com os sujeitos - concomitantemente com o mundo, destas relações surge à sociedade, que estabelecem normas, padronizam comportamentos e inserem conceitos que irão determinar aquilo que é permitido e o que não é permitido no âmbito destas relações,            como que uma lista de certo/errado. Assim, o desenvolvimento físico, moral e intelectual favorece a interação dos sujeitos individualmente e socialmente.

Assim, faremos uma análise bibliográfica sobre os autores que abordam a temática das relações de gênero, buscando compreender aspectos obscuros que envolvem as relações humanas, a partir das diferenças biológicas dos sexos no âmbito social.

Na procura de encontrar respostas para justificar as representações sociais desempenhadas por homens e mulheres atualmente, retornaremos a educação na Idade Média. A Educação na idade média era ministrada pelos jesuítas para os filhos dos senhores feudais, as mulheres e os filhos primogênitos (responsáveis, posteriormente, pela direção dos negócios paternos) eram excluídos deste processo de formação. Portanto, o trabalho docente era desempenhado por homens e para “homens”. Então, o que fez a docência tornar-se uma profissão feminizada?

No Brasil, por exemplo, a docência é atualmente uma profissão especificamente feminina, com exceção da Educação Profissional. Segundo os dados divulgados pelo Ministério da Educação (MEC ) em 2011 , existem na Educação Básica (EB) 2 milhões de professoras/es, onde 1,6 milhões são mulheres, ou seja, 81,5% do total de docentes. Assim, constata-se a forte presença feminina no setor educacional, no Ensino Fundamental 1,1 milhão são professoras para 245 mil professores, temos nesta modalidade de ensino, uma diferença ainda maior, são 82,2% de professoras, para 17,8% professores. Isso sem mencionar a Educação Infantil, que alarga bastante essa diferença, ou melhor, quase toda totalidade dos docentes neste ciclo são mulheres, 358 mil (97%) para apenas 11,2 mil (3%)  homens em sala de aula. Este ranking pertence mesmo as mulheres, com presença marcante também na modalidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA), que atuam 186 mil professoras e 74,9 mil professores. Talvez, a Educação Profissional seja uma exceção, justamente por ser uma profissão que oferece status, além de uma remuneração razoável.

Dentre as profissões reconhecidas como masculinizadas estão o direito, economia e a política, além de outras, mas o que podemos concluir, quer sejam, femininas ou masculinas, o que parece estar por trás das identidades das profissões,  são resquícios de uma sociedade patriarcal que considera o homem, um ser real e único e a mulher um ser passível de ser inventado.

Entretanto, hoje há algumas especificidades acerca do ensino de séries iniciais, que ratificam a ideia que o ensino nesta categoria é uma profissão feminizada.

Analisando alguns materiais que oferecesse respaldo para adentrar nas diversas formas de relações sociais e daí perceberem como se processam, especificamente, às relações de gênero dentro das instituições escolares, considerando-as provenientes de uma sociedade machista e androcêntrica, deparamo-nos com a primeira grande dificuldade, a escassez de dissertações e/ou teses relacionadas a esta problemática. 

Por conseguinte, a representação androcêntrica, da reprodução biológica e da reprodução social vê-se investida pela objectividade de um sentido comum entendendo como consenso prático, dóxico, sobre o sentido das práticas. E as próprias mulheres aplicam a toda realidade, e, em particular, às relações de poder nas quais se encontram tomadas, esquemas de pensamento que são o produto de incorporação dessas relações de poder e que se exprimem nas oposições fundadoras da ordem simbólica. Segue-se que os seus actos de conhecimento são, por isso mesmo, actos de reconhecimento prático, de adesão dóxica, crença que não tem de se pensar e de se afirmar enquanto tal, e quedos “faz” de certo modo a violência simbólica que sofre.(BOURDIEU, 1999, p.29) 

Como pesquisadoras entendemos a relevância de aprofundar na compreensão dos aspectos que envolvem as confluências de gênero na docência, como também, sentimo-nos instigadas a refletir sobre os aspectos que interceptam a Educação em toda sua plenitude, não só, pela nossa formação acadêmica, mais, ou talvez apenas, por inquietações que sempre os convidam a refletir sobre comportamentos comuns à sociedade, esmiuçando aspectos relevantes e essenciais a formação do sujeito.

Esta temática será abordada à luz das categorias; Identidade, gênero, representações sociais e profissionalização docente. Assim, acreditamos que este estudo, irá contribuir para uma melhor compreensão dos fatores que percorrem esta realidade, trazendo à reflexão pontos relevantes desta problemática e favorecendo a sociedade com um todo a desmitificar conceitos e a olhar o ser pessoa e  percebê-lo sem rótulos e sem os moldes previamente construídos a partir das representações sociais do sujeito.