AS RELAÇÕES FAMÍLIA-ESCOLA E O FRACASSO ESCOLAR
Por miguel lima | 15/04/2015 | EducaçãoAS RELAÇÕES FAMÍLIA-ESCOLA E O FRACASSO ESCOLAR
Para um melhor entendimento dos métodos de desenvolvimento e sua influência nos indivíduos, se torna necessário evidenciar o contexto familiar e o escolar e os vínculos que compõe o relacionamento. Dessen (2005), sobre o assunto, assegura que um estudo a respeito de atitudes violentas na adolescência não deve descartar as relações familiares, que fazem parte dos obstáculos às posturas sociais dentro da instituição de ensino.
Sobre a evasão e repetência na escola, salientam Fitzpatrick e Yoles (2002) que a alicerce familiar possui uma condição impactante quando se trata da permanência do discente na escola, sendo a influência da família essencial e capaz de evitar ou acentuar a evasão e a repetência. Entre os aspectos que reforçam tais argumentos estão os comportamentos familiares, a falta dos hábitos de estudos entre os membros, a irregularidade de frequência às aulas por parte do aluno e os problemas de vivência entre os familiares.
Para os autores acima, mesmo que passe a existir uma escola inovadora no sentido de reverter os aspectos desfavoráveis no sentido das dificuldades de aprendizagem que leve a evasão e repetência, é preciso que a escola tenha como aliados, alguns contextos que possam influenciar de maneira efetiva a aprendizagem do aluno. Dentro de tal cenário se encontra a família, como parceira primordial para o êxito dos educandos.
Parolin (2008) ressalta que se deve reconhecer que o aluno precisa do apoio dos pais nas atividades escolares. Além disso, existe o apoio psicológico, a atenção aos filhos, o verdadeiro carinho com horas à sua disposição. Neste caso o professor não substitui os pais, apesar de ser um profissional apto no trabalho que engloba educação e psicologia. Substituir os pais pelo professor é impraticável, uma vez que o carinho da família abrange toda uma história de parentesco, vínculos de sangue
Sintetiza Parolin (2008) que os familiares devem ter uma participação ativa na educação das crianças e adolescentes, envolvendo-se nas decisões e em ações voluntárias. É preciso que cada instituição, conjuntamente com os pais, encontre formas próprias de relacionamento que façam parte da realidade da família, alunos e equipe pedagógica, com a finalidade de transformar o espaço físico e psicológico em intervenção de envolvimento para o bem da aprendizagem do aluno.
Laureau (2007, p.120) ao analisar o relacionamento que envolve família e instituições escolares, assegura: “é importante ter em mente que, em todos os tipos de envolvimento família-escola, a qualidade dos relacionamentos é mais importante que a quantidade.”
Os três mais evidentes sistemas que influenciam a criança e o adolescente em seu desenvolvimento, podem ser considerados: a família, o universo escolar e o ambiente externo que envolve os dois citados. É destacada a influência das culturas vigentes, as crenças, princípios, ações com conhecimento, ou não dos pais e chances, capazes de promover uma facilitação ou mesmo dificultar a evolução individual (LAUREAU, 2007).
Como os pais têm um importante papel instrucional, pois são os agentes primários do desenvolvimento infantil, a importância e a influência da família como agente educativo é inquestionável. O estabelecimento de um vínculo afetivo saudável entre os pais e seus filhos pode desencadear o desenvolvimento de padrões interacionais positivos e de repertórios salutares para enfrentar as situações cotidianas, o que permite um ajustamento do indivíduo aos diferentes ambientes em que ele participa, incluindo a própria escola (MARQUES, 2001, p.88).
Por sua vez, filhos de pais que vivem em condições estressantes e são muito ansiosos, apresentam receios sem motivo aparente, obstáculos à interação com outras pessoas e demonstram tendência a um comportamento limitado quando se exige um relacionamento mais dócil em seu meio social. Dessa forma, fica a evidência de que a vida familiar é provedora de parte considerável do comportamento do jovem dentro da escola e na sociedade.
No momento em que a participação dos pais no meio escolar se intensifica, como parte da vida do aluno, a família se torna aliada da escola. Quando a equipe pedagógica sente os efeitos da parceria que se forma entre família e escola, estratégias são desenvolvidas, levando os pais a uma missão, a qual eles, em grande parte desconheciam e passam a ter uma maior interação com a instituição educacional e com o potencial que ela possui na melhor formação dos alunos (MARQUES, 2001).
Segundo Grossman (2009) se a equipe pedagógica e os professores se mantêm distante da família do aluno com um comportamento rígido, proporcionam aos pais a condição de que eles também tenham a adoção de um posicionamento semelhante, tornando difícil uma relação entre escola e família, frustrando o que poderia ser uma boa oportunidade para os filhos na sua formação. Quando o afastamento da família se torna mais efetivo da vida educacional do aluno, as percepções desfavoráveis se evidenciam entre os discentes.
O pouco tempo para acompanhar os filhos em sua trajetória escolar, as oportunidades mínimas para realizar a aproximação com a escola, a indiferença ou antagonismo quanto à sua presença na instituição, são comuns no espaço escolar. Outros fatores dificultam a aproximação entre pais e professores, dentre eles, as barreiras culturais, especialmente quando a escola não as considera como elo importante nesta cadeia. [...] professores, diretores e outros segmentos da escola devem desenvolver habilidades e ações que explorem as experiências, conhecimento e oportunidades dos pais, buscando uma participação mais efetiva do envolvimento família e escola (FERREIRA; MARTURANO, 2002; et al).
Grossman (2009) considera que existem fatores diversos que partem dos professores a respeito do vínculo entre a família à escola, que criam proximidade ou afastamento entre as duas instituições. Entre eles, a mentalidade de que família de nível socioeconômico inferior é mais despreocupada com a educação dos filhos, com adoção de uma postura desatenta e de menor participação.
Algumas equipes pedagógicas de certas escolas mantêm o conceito de que os pais nada tem a oferecer, no que se refere a participação no currículo escolar. Tal conceito é de que apenas as reuniões de pais façam parte desse compartilhamento. Embora exista tal pensamento, a participação da família na educação padronizada dos filhos, é uma grande inquietação do universo escolar, pois estudos comprovam que uma família participativa na formação curricular do aluno cria laços mais legítimos entre as partes (MARQUES, 2001).
Assegura Marques (2001, p.92): “Os diferentes graus de envolvimento de cada um auxiliam na identificação de entraves e soluções nas atividades escolares e fornece informações sobre a dinâmica da família e dos processos evolutivos dos alunos”.
5 O FRACASSO ESCOLAR
Ireland (2007) considera a aprendizagem uma ação de risco, sendo possível que o aluno possa deixar de ter êxito em sua trajetória escolar. As dificuldades no aprendizado sempre existiram e embora muitas vezes o culpado do insucesso seja a questão pedagógica, pode-se atribuir a responsabilidade, em grande parte, às circunstâncias econômicas e sociais.
O autor acima afirma ainda que não se pode desconsiderar, no que se refere ao fracasso escolar, algumas fases, sendo a primeira delas no século XVIII, quando era comum que as pessoas não soubessem ler, a instrução primária era rudimentar e, diante disso, o fracasso escolar não era uma preocupação. A falta de presença das crianças na escola era considerada como normal, não gerando nenhum tipo de inquietação e os que assimilavam algum conhecimento em desacordo com sua condição social, não eram bem vistos pelos demais.
Até meados do século XX, era inexistente a preocupação com a interferência da escola na vida da criança, mas na década de setenta começaram as primeiras observações sobre o fracasso dos alunos, quando os europeus inseriram na educação a presença de crianças de quatro a nove anos. A partir de então, o fracasso escolar passou a ser considerado como uma realidade, diante dos currículos mais densos e dificuldades dos alunos (PATTO, 2006).
Pelo lado social, tem-se como conceito a necessidade de que todos os jovens cursem o ensino médio, técnico que o leve ao uma profissão. Os que não terminam estas fases de estudo fazem parte da condição de fracasso escolar e em vista disso, serão considerados também fracassados sob o aspecto socioeconômico. Entende-se então que o êxito ou fracasso na vida escolar terão influência na definição do desempenho individual na sociedade (DUBET, 2003).
Analisando o fracasso escolar, Angelucci (acesso em 18 mar. 2015) assinala que o fracasso tem várias origens, sob aspecto psíquico, institucional e político. Para cada espécie de fracasso escolar existe um conceito específico, onde se credencia a falta de êxito, ao aluno e seus familiares, à equipe pedagógica, à educação que exclui e a cultura educacional.
Para Angelucci (acesso em 18 mar. 2015), grande parte das pesquisas educacionais aponta o fracasso escolar como obstáculo de ordem psíquica, proveniente das questões emocionais e, por este motivo, originário da falta de capacidade intelectual. Explica-se pelo fato de algumas crianças carregarem na bagagem cognitiva características psíquicas sem a devida maturidade, resultando em ansiedade, bloqueio na atenção na sala de aula, comportamento agressivo e outros. São condições causadoras da inibição ao intelecto, prejudiciais à aprendizagem escolar.
“entretanto, o fracasso pode também ser visto sob a ótica das carências técnicas do corpo docente, sendo compreendido como consequência da utilização de técnicas inadequadas de ensino ou da má utilização das técnicas corretas” (ANGELUCCI, acesso em: 18 mar. 2015).
Pelo que expõe o autor acima, quando o aluno frequenta uma escola que se utiliza corretamente das técnicas pedagógicas, independentemente de sua capacidade intelectual, poderá apresentar condições suficientes para desenvolver seu aprendizado.
Segundo Charlot (2000) o fracasso escolar é uma questão que precisa ser vista de modo individual, sem deixar de lado o pensamento de que não se trata de um fenômeno isolado. São várias situações que podem proporcionar a falta de êxito na vida escolar que passam longe do propósito de apenas considerar a questão social, isolamento das classes mais favorecidas, as dificuldades financeiras e a família desajustada como as grandes culpadas pelo evento.
Existem muitas situações relacionadas a má aparelhagem da escola, métodos inadequados de ensino, má formação dos professores, elevado número de alunos por classe na escola pública brasileira, sobrecarga da escola em suas funções, construções escolares inacabadas e mal conservadas, equipamentos em precária condição de uso, baixos salários dos docentes, formação e atualização continuada inexistente ou inadequada, funcionamento escolar em regime de vários turnos, pouco interesse governamental em promover parcerias com universidades públicas para respaldar o trabalho educativo dos docentes do ensino fundamental, negação da legitimidade de conhecimentos e formas de vida formulados à margem dos limites socialmente definidos como válidos e utilização de modelos inadequados, parciais e fragmentados de avaliação (PARO, 2000, p. 58).
Paro (2000), afirma ainda que embora existam situações como as descritas acima, responsáveis pelo mau desempenho dos educandos, a ausência da família na vida escolar do aluno ainda é um dos motivos mais evidentes para que ocorra os desajustes no processo de ensino-aprendizagem. “A contribuição que os pais podem dar para o processo pedagógico escolar precisa ser levada em conta para evitar o risco de se ignorar algo que é imprescindível para o bom desempenho dos alunos” (PARO, 2000, p. 72).
5.1 O FRACASSO ESCOLAR EM FUNÇÃO DAS CARÊNCIAS FAMILIARES
Para Fernandes (2007) nas últimas décadas é comum a tentativa de considerar o fracasso escolar como um fato gerado pelos conflitos familiares e pela instabilidade proveniente das disparidades sociais. Segundo Patto (2004) tal afirmação pode se constituir em uma explicação pouco convincente para o fracasso escolar sem acreditar que outros fatores são também dignos de se levar em consideração para as dificuldades escolares atuais.
Na visão de Formosinho (2008) a família que não possui seus preceitos de bom convívio, representa um fator determinante para o fracasso dos filhos da escola. Quase sempre pais autoritários e embates entre membros familiares produzem questões que levam os alunos a perder o interesse pela sua trajetória escolar, onde atitudes inadequadas são os primeiros indícios de que o aluno está próximo de fracassar na escola.
O aluno procedente de uma classe social mais desfavorecida tem sido citado como exemplo na tentativa de justificar o mau desempenho na escola. Os baixos salários dos pais, o ambiente em que convive em meio a pessoas que abandonaram a escola ainda jovens, a proximidade com drogas e álcool, levam ao conceito de que as desigualdades sociais são, em caráter definitivo, considerados como as causas do insucesso na escola (FERNANDES, 2007).
Para Benavente (2009) é comum que nas famílias mais carentes, os pais tenham um comportamento pouco flexível, incutindo nos familiares regulamentos que não deixam condições de questionamentos, exigindo obediência. No momento em que os filhos se tornam adolescentes se encontram inaptos para se confrontar com as dificuldades relativas ao processo de afirmação da personalidade.
A falta de estabilidade nas emoções dos filhos torna-se acentuada, dando lugar à carência de valores estáveis, que faz com que o faça se afastar da escola, perdendo os interesses pelos estudos. Esses alunos, provenientes de famílias desagregadas de princípios que tem origem, muitas vezes, nas dificuldades financeiras, não recebem motivação no sentido de construírem na escola seus ideais. Em muitos casos são incentivados pelos pais, ao primeiro sinal de fracasso, a se afastar da escola para se dedicar ao trabalho, ampliando taxas de evasão escolar (WEIL, 2004).
Ainda segundo Weil (2004) as dificuldades são vistas como um incômodo pelos alunos, diante da exigência de uma maior disciplina. Consideram qualquer obstáculo como intransponível e entre eles, a linguagem formal na escola que faz parte da vivência entre docentes e discentes. Em muitos casos, esta é diferente do modo de se comunicar dentro da família e intensifica as dificuldades de entendimento e integração ao novo meio social, ampliando o desinteresse pela escola.
O ambiente familiar quando é de extrema pobreza e de precariedade social, afeta o desenvolvimento psicológico da criança e dos adolescentes. Os pais, de maneira quase generalizada, levam aos filhos sua história de vida, na qual se engrandecem de não terem se dedicado com afinco à escola, fato desconsiderado em seu cotidiano. Os filhos, diante dos obstáculos encontrados na sua aprendizagem, tomam para si os conceitos dos pais e passam a demonstrar um desinteresse maior que os leva ao fracasso (STANHOPE, 2005).
É retratado que para essas famílias tradicionais, a preparação do individuo é outra, como: boas escolas, bons lugares para estudo, o que torna mais fácil o desenvolvimento da criança. Já a família de classe trabalhadora forma a criança para a vida, preparando-a para o ambiente de trabalho, e devido a isso, crescem sem ter estrutura na família por conta de uma série de consequências causadas pela falta de dinheiro, brigas entre pais, discussões diárias, falta de estudo, ambiente familiar precário, alimentação ruim, educação precária, entre outros (BENAVENTE, 2009, p. 192).
São muitos os problemas familiares que levam os alunos a neles se apoiarem, fracassarem diante das dificuldades e posteriormente se evadirem da escola. Para Vasconcellos (2001), a o insucesso na escola é apenas uma das consequências dos conflitos iniciados na sociedade, sendo que as mudanças constantes e os desafios resultantes das disparidades sociais, só fazem ampliar. A escola com sua função de educar é a primeira a sentir os reflexos, sendo possível sua participação no combate a tais desajustes
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora a participação familiar e sua importância na escola tenham sido tão discutidas, buscou-se discorrer sobre a mesma, no desenvolver deste estudo. A parceria que vincula educador e família acentua a experiência adquirida pelos alunos na escola e determina seu bom andamento com relação à aprendizagem. Quando a família tem uma participação ativa na educação das crianças, consegue despertá-la para um melhor desempenho na escola e na vida, demonstrando interesse e curiosidade. Mesmo que sejam pequenas atitudes, elas prestam um valor inestimável à formação cognitiva do aluno.
Essa pesquisa buscou conceituar a família como uma instituição importante na formação da criança e do adolescente e discutir sua participação na vida escolar do aluno. Outro ponto abordado foi o fracasso escolar, em grande parte, motivado por conflitos familiares, exclusão social e ausência dos pais diante das necessidades intimas dos filhos. São de várias origens os desacertos dos adolescentes na escola, porém são evidentes que os insucessos podem ser minimizados diante de uma participação da família dentro da escola.
Assim, o objetivo foi investigar o vínculo que possa existir entre o fracasso escolar e a família, considerando que pais ausentes da vida escolar do aluno e com desajustes na sua estrutura, podem ser associados à falta de êxito na aprendizagem e comportamento do aluno na sala de aula. Embora o fracasso escolar seja gerado por uma série de motivações, o insucesso, em grande parte, é extraído da despreocupação com a vida escolar dos filhos por parte dos familiares.