As palavras das imagens 4
Por António Lourenço Marques Gonçalves | 07/01/2013 | PoesiasAS PALAVRAS DAS IMAGENS 4
AO FERNANDO PAULOURO:
Foi o trilho do Jornal,
No tempo, o envaideceu.
Leva o fogo real
Amigo de Prometeu. - Em Fundão
QUANDO AS MÓS SALTAREM DOS MOINHOS...
Quando as mós saltarem dos moinhos
E da ribeira a água não regar,
Quando o verde já for o trilho dos caminhos
Onde os passos perderam o andar.
Quando a fruta cair inerte no pomar
E o chão em vez de uvas der espinhos
E a azeitona não luzir na pia do lagar
E nem vivalma aqui houver, sozinhos
Ficarão o vento, que à mesma irá chegar,
Sorrateiro ou brusco sobre os pinhos
Com os ramos a gemer ou a cantar
E o sol alegre em dias lavadinhos,
(Deixando a noite fasta de luar)
Saudoso de dar viço aos cebolinhos.
- Em Souto da Casa, Serra da Gardunha
O NATAL DO MENINO
O menino foi dormir
Com o arrimo do gato
E a mãe poupou de ir
A esconder o sapato.
– Em Fundão
CHEGA O NATAL NA CRISE....
Chega o Natal na crise
Que exaure mas não desdize,
E sendo uma noite santa
Não calarei a garganta.
– Em Souto da Casa
A TAXA
Fazer os velhos em trapos,
Há quem os queira arrimar.
Andam aí uns larápios
Com vontade de os tramar!
- Em Freixial
A NOITE
Acaso será a Noite
Uma gruta, dente, e quente
Onde o meu amor se acoite
Da tempestade vigente?
- Em Souto da Casa
FOI-SE O CASEIRO...
Com a fome atiçada, o rapaz
Havia de saltar a cerca, e zás!
Foi-se o caseiro e porque já se não faz,
Se houvesse rapaz, p'ra quê ser audaz?
– Em Souto da Casa
P'RA TER IDEIA CONCRETA...
P'ra ter ideia concreta
Da realidade existente,
Só vale a visão completa
Que tem de trás e de frente.
– Em Castelo Branco
TRANSPARÊNCIA DE CRISTAL…
Transparência de cristal,
Frio solar penetrante.
A terra aqui tal e qual
Atravessa o viajante.
— Em Fundão
ESTA IMAGEM COMO A VIDA…
“Esta imagem como a vida
Tem movimentos discordes:
O espelho que é na descida
Depende como o abordes.
– Em Souto da Casa
O MELHOR ANO NOVO!
É o desejo que faço:
Amigos, tenham saúde,
Que não seja um bem escasso,
Que a gozem em plenitude.
Quanto ao resto, o que vos peço
Olhando o horizonte,
Com incertezas, confesso,
Encarem tudo de fronte.
– Em Souto da Casa
SERRA DA ESTRELA
Ah este manto d' inverno
Luminoso e transparente!
Tem um aconchego terno:
E o frio torna-se quente.
– Em Fundão
ENTRE O CAMPO E A CIDADE…
Entre o campo e a cidade
O muro está e não está:
A urbe, com à vontade,
Passou pr´ó lado de lá.
Mas se o verde enfim resiste,
Direi, com certa ironia:
Está no destino, que é triste,
Da urbe, já mais vazia.
– Em Castelo Branco
TAL MAHAL
Quem olha esta moldura,
Acaso dirá: feliz.
Verdade. Mas a ventura
É sempre um bem de aprendiz.
- Em Agra.
HÁ UM AMOR QUE É VELOZ…
Há um amor que é veloz
E outro não aparece.
Ei-lo a ser um algoz,
Comece ou não comece.
– Em Madrid
NÚBIA
ALI, NA TERRA DA NÚBIA...
Ali, na terra da Núbia,
Sorrisos e linda voz
São riqueza, sem ser dúbia,
No filão dos faraós.
De ouro foi seu terreno
E as jóias maravilharam.
Tão lindo rosto sereno,
Pergunto: "quantos gostaram?
Como se fosse uma ceia
Numa mesa de manjares.
Quem está tece uma teia
P´ra colher os seus pomares.
- Em Assuão
(As palavras das imagens, numa colheita do meu facebook, nos primeiros dias de janeiro do ano da graça de 2013.)