As origens remotas dos nomes de alguns clubes brasileiros

Por Laércio Becker | 30/12/2011 | Sociedade

            Por: Laércio Becker, de Curitiba-PR

SUMÁRIO

Botafogo

Calouros do Ar

Corinthians

Flamengo

Goytacaz

Íbis

Jabaquara

Lausanne Paulista

Leônico

Matsubara

Mavilis

Palmeiras

Radium

Rosita Sofia

Tuna Luso

Villa Nova 

Botafogo

Charles Dunlop conta que o nome “Botafogo” sempre provocou a curiosidade das pessoas, especialmente dos estrangeiros. Chegavam a perguntar se o Pão-de-Açúcar não seria um vulcão extinto, que “botava fogo”. Nessa linha vulcânica, o poeta João Pereira da Silva, no poema “A Estolaida”, escreveu os seguintes versos sobre o famoso morro:

“E, ou por jazer algum gigante,

Qu’inda chamas vomita exasperado,

Ou dos relâmpagos pelo assíduo jogo

Chama-se a curva praia – Bota-fogo.”

Mas é claro que o nome não tem nada a ver com vulcões. A história desse nome começa em 1519, quando D. João III mandou construir o galeão São João Batista. Como tinha 200 peças de artilharia pesada, ganhou o apelido de “Bota-Fogo”.

No final do século XVI, João Pereira de Sousa fugiu de Portugal, devido às desavenças que sua família se atreveu a ter com a realeza. Chegando no Rio de Janeiro, participou ativamente das expedições contra os franceses e tamoios, motivo pelo qual ganhou o apelido de “Botafogo”, que acabou por incorporar ao sobrenome. Como premiação, obteve uma grande sesmaria abandonada por Francisco Velho (companheiro de Estácio de Sá), numa região que os franceses chamavam de “Le Lac”. No século XVIII, a própria área já era conhecida como enseada de Botafogo, nome que depois foi herdado pelo bairro. E, é claro, pelos clubes lá fundados, como o Clube de Regatas Botafogo, o Botafogo Futebol Clube e o produto da fusão de ambos, o Botafogo de Futebol e Regatas.

 

Fontes:

COARACY, Vivaldo. Memórias da cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1965. p. 431-3.

CRULS, Gastão. Aparência do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1965. v. 1, p. 352.

DUNLOP, Charles J. Rio antigo. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rio Antigo, 1958. v. 1, p. 33-4.

GASPAR, Claudia Braga. Orla carioca: história e cultura. São Paulo: Metalivros, 2004. p. 182-3.

GERSON, Brasil Görresen, dito Brasil. História das ruas do Rio. 5ª ed. Rio de Janeiro: Lacerda, 2000. p. 282.

LAGO, Bia Corrêa do. Praias do Rio. Rio de Janeiro: Capivara, 2005. p. 39.

NOVAES, Cláudio. Praias cariocas. Rio de Janeiro: IPP, 2011. p. 96.

RIOS FILHO, Adolfo Morales de los. O Rio de Janeiro imperial. 2ª ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 2000. p. 214.

UNZELTE, Celso. Em cada time uma história: conheça a origem do nome de alguns clubes do futebol brasileiro. Língua Portuguesa, ed. esp. “Futebol e Linguagem”, abr. 2006, p. 22-5.

Calouros do Ar

O time da Base Aérea de Fortaleza chamou-se América até 1952, quando mudou para Calouros do Ar Futebol Clube. Por quê? Seria uma homenagem ao conjunto musical da Base Aérea de Fortaleza, bem como aos aspirantes a oficiais que treinavam na Base. Até aqui, consta em qualquer publicação sobre futebol.

O que não consta é que, na época da fundação do clube, Ary Barroso conduzia, no rádio, um programa chamado Calouros em Desfile, que também era conhecido como “Calouros do Ary”. Parece bastante provável que, para homenagear a banda, o time tenha se inspirado no nome desse programa: de “Calouros do Ary” para “Calouros do Ar”, a diferença é de uma letra.

E o apelido “Tremendão da Aerolândia”? Aerolândia é o bairro em que se encontra a Base Aérea. Já o apelido “Tremendão” foi lançado por Erasmo Carlos. Surgiu com o programa Jovem Guarda, que estreou na TV Record de São Paulo, em setembro de 1965, em que atuava ao lado de Roberto Carlos e Wanderléia. Depois, em 1964, ele lançou o LP O Tremendão, no qual constava uma música de mesmo título, de Marcos Roberto e Dóri Edson.

 

Fontes:

CRAVO ALBIN, Ricardo (org.). Dicionário Houaiss ilustrado da música popular brasileira. Rio de Janeiro: Paracatu, 2006. p. 156.

MARCONDES, Marcos Antônio (org.). Enciclopédia da música brasileira. 2ª ed. São Paulo: Art, 1998. p. 264.

MORAES, Mario de. Recordações de Ary Barroso. 2ª ed. Rio de Janeiro: Funarte, 2003. p. 69 e ss., 78.

PLACAR, nº 1127-A, maio 1997, p. 9 e 23.

Corinthians

A história da fundação do Sport Club Corinthians Paulista já foi contada e recontada milhares de vezes. Seu nome foi escolhido por votação. As outras opções eram Santos Dumont e Carlos Gomes. Venceu Corinthians em homenagem ao clube inglês Corinthian FC, que fez uma excursão ao Brasil, na qual aplicou uma goleada de 5x0 na hoje extinta Associação Atlética das Palmeiras. Até aí, tudo bem. O que normalmente não se diz é de onde vem o nome do clube inglês, ou seja, qual foi a origem remota do nome.

Pois bem, a palavra inglesa “corinthian” corresponde ao português “coríntio”, isto é, natural de Corinto, cidade grega fundada por volta do séc. IX a.C. Basta lembrar as duas Epístolas de São Paulo aos Coríntios, no Novo Testamento.

Além disso, tanto em inglês quanto em português, o adjetivo “coríntio” normalmente se refere a uma ordem arquitetônica surgida naquela cidade, no séc. VI a.C., em cujas colunas o capitel é ornamentado em forma de folhas de acanto. E é justamente nesses dois sentidos que a palavra é traduzida para o português.

Por isso, à primeira vista, os ingleses resolveram homenagear os coríntios. Mas aí a pergunta seguinte é: “Por que diabos os ingleses escolheram isso para o nome de um clube esportivo? O que Corinto tem a ver com o futebol? Se ainda fosse Olímpia, vá lá...”

A resposta está no seguinte: em inglês, a palavra “corinthian” tem também outros significados além dos dois acima. Vamos a eles.

1) Há um sentido bem antigo, pelo qual “corinthian” significa: licencioso, dado à luxúria. Desde o séc. XVI, a palavra teve esse sentido pejorativo, derivado do fato de que o povo de Corinto era considerado muito lascivo, durante a Antigüidade. (Bem, hoje isso pode ser até motivo de orgulho, mas na época era um xingamento...)

2) Com o tempo, o termo foi ficando mais leve e passou a ser sinônimo da expressão “man about town”, ou seja: homem rico e socialmente bem informado, que gasta bastante tempo em clubes e lugares elegantes.

3) Por fim, na evolução desse sentido, “corinthian” passou a significar: cavalheiro rico e elegante, dedicado aos esportes, especialmente iatismo, boxe, turfe e cricket. É justamente neste sentido que muitos times amadores ingleses se intitulavam “coríntios”. P.ex., o Corinthian Football Club (Clube de Futebol Coríntio), também conhecido como Corinthians’ Team (time dos coríntios), que veio ao Brasil e inspirou a fundação do Timão.

 

Fontes:

NOVO Michaelis: inglês-português. 7ª ed. São Paulo: Melhoramentos, 1968. p. 237.

SCHOTT, Ben. A miscelânea de esportes, jogos & ócio de Schott. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2011. p. 151.

SOB a luz de um lampião. Aventuras na História, nº 81-A, maio 2010, p. 16-7.

THE American Heritage Dictionary. Boston: H. Mifflin Co., 1982. p. 324 e 761.

UNZELTE, loc. cit.

WEBSTER’S New Universal Unabridged Dictionary. New York: Dorset & Barber, 1979. p. 406 e 1.931.

Flamengo

Bem havia percebido o poeta Olavo Bilac que “cada seção da nossa linda enseada possui o seu club” de regatas. É como conta Mário Filho: a vizinha praia de Botafogo tinha um clube, bem como Gragoatá e Icaraí, em Niterói. Desse espírito misto de admiração e inveja do bairro vizinho, surgiu a idéia, entre os moradores do Flamengo, fundar um clube de regatas próprio. Claro que com o nome do bairro.

A região era conhecida, pelos índios, como Sapucaitoba. Quando os portugueses chegaram, mas antes de fundarem a cidade, chamavam o lugar de Aguada dos Marinheiros, porque ali, na foz do rio Carioca, as embarcações se abasteciam de água potável. Depois, ficou conhecida como Praia do Sapateiro, por ali ter uma sesmaria o sapateiro Sebastião Gonçalves.

Mas qual é a origem do nome Flamengo? Há quem diga que seria uma referência às aves pernaltas que viviam no lugar, os “flamingos”. Logo após a Independência, p.ex., um oficial alemão relatou que via “voando os flamingos com o esplendor de suas cores brilhantes” (apud Gerson). Vivaldo Coaracy nega veementemente essa hipótese porque, segundo ele, originalmente não havia flamingos no Rio de Janeiro. Mas Gustavo Barroso afirma que o “flamengo” carioca existia sim, era uma garça vermelha que os índios chamavam de guará-piranga ou guará-miranga (apud Morales de los Rios Filho).

No entanto, há outras versões para o nome. Segundo alguns autores, no século XVII, residiu nesse lugar um holandês (ou “flamengo”, como se dizia antigamente). Há quem diga que foi um prisioneiro de guerra ou fugido da capitulação da colônia holandesa no Recife, como Joost Vrisberger, que depois publicou, em sua terra natal, um relato minucioso sobre o Rio. Outra hipótese é que o nome se devia a descendentes desses holandeses do Nordeste, que cuidavam de engenhos de cana-de-açúcar no Rio. Outros dizem que foi o navegante holandês Olivier Van Nord, que fazia uma volta ao mundo quando aportou no Rio, em 1698. Por fim, também já se disse que o nome se deve não a um holandês, mas ao francês Jean de Léry, que veio ao Rio com Villegaignon, e era originário da região de Flandres, que engloba trechos da França, Holanda e Bélgica. De qualquer modo, graças a qualquer um desses holandeses ou desse francês, a região ficou conhecida como Flamengo.

 

Fontes:

BILAC, Olavo. Registro. Campinas: Unicamp, 2011. p. 93-4.

COARACY, op. cit., p. 439-41.

FILHO, Mário (Rodrigues). Histórias do Flamengo. 3ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1966. p. 59.

GASPAR, op. cit., p. 175.

GERSON, op. cit., p. 253.

LAGO, op. cit., p. 31.

NOGUEIRA, Claudio. Futebol Brasil memória. Rio de Janeiro: Senac, 2006. p. 108.

NOVAES, op. cit., p. 98.

RIOS FILHO, op. cit., p. 216.

UNZELTE, loc. cit.

Goytacaz

Em torno da origem do nome e das cores do Goytacaz FC, de Campos dos Goitacazes (RJ), há uma verdadeira lenda. Em vez de fazer uma perífrase pobre, melhor transcrever as palavras do jornalista Hervê Salgado Rodrigues, publicadas no jornal A Notícia, de 27.11.1977, e republicadas no livro de Paulo Ourives:

“Um dos maiores valores do Goytacaz FC – esse patrimônio de nossa terra – é o seu nome. O adepto do alvi-anil orgulha-se do nome do seu clube, o qual considera o mais belo e expressivo de todo o Brasil. Nenhum mais representativo da terra a que pertence, nenhum exprimindo com abundância igual a esse identificação com as origens e tradições do meio e sua força telúrica.

Também nenhum outro município do Brasil dá-se ao luxo de ter uma tribo indígena com exclusividade. E uma tribo diferente, cujas origens ninguém identifica com convicção porque não há nada que ligue os goytacazes aos troncos principais das nações índias do Brasil. Elas não são gês, nem tapuias, nem aruaques, nem tupis, nem guaranis.

Quando José de Alencar criou o romance O guarani, centralizando-o na figura do herói índio Peri e situou toda a ação do livro às margens do rio Paraíba, estava usando apenas a sua imaginação, inspirado, talvez, nos livros de Chateaubriand, como Les Amours de Deux Sayages. Peri não podia ser nunca um guarani, mas podia (ou devia) ser um Goytacaz.

Por uma coincidência muito curiosa as cores desse herói que não é de capa e espada, mas de cocar e penas, eram (ou são) azuis e brancos. Numa cena muito lírica do romance, Ceci explica ao índio como os cavaleiros da Idade Média mantinham a tradição de usar em suas armas as cores das damas a quem serviam. (...)

É mais provável que os fundadores do Goytacaz não tivessem sido inspirados pelas cores de Peri, o bravo guerreiro, mas é certo que foi uma coincidência feliz. Mais feliz ainda foi, entretanto, a escolha do nome.”

Vejamos, então, o trecho do capítulo XII de O guarani citado pelo jornalista acima:

“O moço [branco, Álvaro] recuou um passo e levou a mão à cinta; logo refletindo aproximou-se da seta e examinou a plumagem de que estava ornada; eram de um lado penas de azulão e do outro penas de garça.

Azul e branco eram as cores de Peri; eram as cores dos olhos e do rosto de Cecília. Um dia a menina, semelhante a uma gentil castelã da Idade Média, tinha se divertido em explicar ao índio como os guerreiros que serviam uma dama costumavam usar nas armas de suas cores.

- Tu dás a Peri as tuas cores, senhora? disse o índio.

- Não tenho, respondeu a menina; mas vou tomar umas para te dar; queres?

- Peri te pede.

- Quais achas mais bonitas?

- A de teu rosto, e a de teus olhos.

Cecília sorriu.

- Toma-as; eu te as dou.

Desde esse dia, Peri enramou todas as suas setas de penas azuis e brancas.”

Segundo Augusto Faria (apud Hélvio Santafé), não é lenda, mas a pura verdade. No entanto, os pesquisadores do futebol campista desconfiam que é uma lenda mesmo, mas que, nas palavras de Nilo Terra Arêas, “enfeitiça de maneira irresistível” os torcedores do Goytacaz.

 

Fontes:

ALENCAR, José de. O guarani. São Paulo: Ateliê, 1999. p. 272-3.

ARÊAS, Nilo Terra. Almanaque esportivo jubileu de ouro do futebol campista. Campos: Nilpress, 1962. p. 6.

OURIVES, Paulo. História do futebol campista. Rio de Janeiro: Cátedra, 1989. p. 75-6.

SANTAFÉ, Hélvio. Ídolos do esporte: a história do esporte de Campos. 2ª ed. Campos: Grafimar, 2006. p. 16.

Íbis

Íbis é uma ave pernalta, caracterizada pelo bico fino e comprido. Tem seu habitat em regiões tropicais, onde vive próximo a cursos d’água. Alimenta-se de pequenos peixes, crustáceos, insetos e anfíbios. Algumas espécies, como a íbis-vermelha, vivem na América do Sul. Mas a mais conhecida é a íbis-sagrada (Threskiornis aethiopica), de plumagem branca, exceto cabeça, pescoço e parte das asas, pretas. Porque aparecia nas enchentes do Nilo e matava as serpentes, a íbis-sagrada era venerada no Egito antigo com o nome de Thot, o deus egípcio da lua, inventor da escrita, patrono da sabedoria, representado com um corpo humano com cabeça de íbis. Em heráldica, essa ave simboliza o amor paterno, a gratidão e a salubridade.

Ok, mas por que cargas d’água foram escolher essa ave como nome – e mascote – do famoso time pernambucano? A resposta está no livro de Israel Leal. É que, em 15.11.1938, o time foi fundado por funcionários da Tecelagem de Seda e Algodão de Pernambuco (TSAP). Eles moravam na chamada Vila Tecelagem, no bairro de Santo Amaro, Recife, e receberam o apoio do dono da fábrica, que concordou em pagar ao novo clube uma verba mensal. Em troca, o clube adotou o logotipo da fábrica, que também era reproduzido sobre as portas das casas da Vila Tecelagem: uma íbis preta. E, em vez de adotar também o nome da patrocinadora (TSAP), preferiu o nome da ave: Íbis Sport Club. Eis a origem do nome do auto-intitulado “pior time do mundo”.

 

Fontes:

LEAL, Israel. O vôo do pássaro preto: a história do Íbis, o pior time do mundo. Olinda: Livro Rápido, 2010. p. 32-3.

MOYA, Salvador de. Biblioteca genealógica latina: simbologia heráldica. São Paulo: Instituto Genealógico Latino Brasileiro, 1961. p. 126.

Jabaquara

O Jabaquara Atlético Clube foi fundado em 15.11.1914 com o nome de Hespanha Foot-ball Club, porque era o time da colônia espanhola em Santos (SP). Assim como o Palestra Itália teve de mudar de nome para Palmeiras, o Hespanha, por ser nome de país, mudou para Jabaquara, em 1942.

Jabaquara porque é o nome do bairro em que o Hespanha havia sido fundado. O nome tem origem em Yâb-a-quára, “o buraquento”, ou Y-a-baquara, “o corredor, ligeiro” – em alusão a um córrego que passava por ali.

Sérgio dos Santos Silveira, em seu livro sobre o Jabuca, explica que há uma outra versão para a etimologia desse nome: jabá, “fujão”, e quará, “refúgio”. Coincidentemente, nessa região existiu um quilombo a partir de 1882. No entanto, o autor diz que esse quilombo não teve relação com a origem do nome. Provavelmente porque o local já era conhecido por Jabaquara antes do quilombo, em razão do córrego.

 

Fontes:

GEHRINGER, Max (org.). Pílulas de sabedoria instantânea da Professora Etelvina. São Paulo: Globo, 2009. p. 168.

SILVEIRA, Sergio dos Santos. Jabuca dos nossos corações. Santos: Parma, 2002. p. 14, 36-7.

 

Lausanne Paulista

Alberto Savoy foi um filho de imigrantes suíços num lugarejo próximo à cidade suíça de Lausanne. Dono de grandes glebas na zona norte de São Paulo, um dia ele vendeu mais de mil quilômetros quadrados ao amigo Francisco Amaro que, em homenagem aos pais do vendedor, deu à área o nome de Lausanne Paulista.

Depois, essa área foi vendida a Piero Roversi que, coincidentemente, também era de origem suíça. Por isso, manteve o nome para iniciar o loteamento Lausanne Paulista.

Além disso, a região tinha uma fonte de água mineral chamada Fonte Lausanne, bem como uma pedreira – que deu origem ao nome de um time local, o Pedreira FC. Em 20.03.1927, um grupo de jogadores dissidentes do Pedreira resolveram criar um novo clube. Surgiu aí o Lausanne Paulista FC.

 

Fonte:

RODRIGUES, Alberto et alii. A história do Tigre da Cantareira: edição histórica ilustrada dos 75 anos do Lausanne Paulista FC. São Paulo: Ferrari, 2002.

Leônico

Creio que a escritora Zélia Gattai, que foi esposa de Jorge Amado, foi a mais ilustre torcedora da história da Associação Desportiva Leônico. E ela escolheu esse clube baiano por um motivo bastante singelo, o nome: “Em São Paulo, sou Palmeiras; no Rio de Janeiro, Flamengo. Quando cheguei à Bahia, precisava ter um time. Escolhi pelo nome, achei Leônico um nome agradável, simpático” – contou a escritora paulista à Folha de S. Paulo.

De fato, Leônico é um nome interessante, diferente, talvez único no mundo, para um clube. Como surgiu? Que conta é Guiovaldo Veiga, filho do fundador, em livro sobre a história do “Moleque Travesso” baiano (interessante... o mesmo apelido e as mesmas cores do Juventus da rua Javari, em São Paulo).

Seu pai, Oswaldo de Castro Veiga, remador e jogador do Vitória e depois do Galícia, queria montar um time de futebol com seus colegas, para representar a empresa em que trabalhavam, no “torneio caixeiral” (de caixeiros, ou seja, comerciários). A empresa se chamava Carl Leoni & Company. Ou, em sua forma abreviada ao estilo americano, Leoni & Co. Bastou abreviar mais um pouquinho e estava pronto o nome do clube assim fundado em 03.04.1940.

 

Fontes:

VEIGA, Guiovaldo. Leônico 50 anos. S/l: Pallotti, 1990. p. 6.

VICTOR, Fábio. “Ele sempre escolheu times fracos”. Folha de S. Paulo, 17.10.1999, Especial Esporte, p. 4.

 

Matsubara

Mal a AA Cambaraense fechou as portas, a cidade paranaense de Cambará ganhou um novo clube: a SE Matsubara, fundada em 14.12.1974. O nome tem origem na família que criou e gerenciou o clube – com destaque para Teruo, Takeo e Sueo Matsubara.

Sob a liderança de Kanematsu Matsubara, a família chegou do Japão em setembro de 1925 e radicou-se em Cambará, onde todos juntos construíram um verdadeiro império agrícola com base no cultivo e comercialização de algodão: a Algodoeira Matsubara Indústria e Comércio Ltda. Por isso, aliás, é que há um ramo de algodão no escudo do clube.

Em japonês, “matsu” significa pinheiro; “bara” é a forma eufônica de “hara”, que significa campo. Assim, “matsubara” pode ser traduzido como “campo de pinheiros”, ou seja, pinheiral. Como sobrenome, provavelmente surgiu para indicar famílias que residiam dentro ou perto de pinheirais. Do pinheiro à araucária; da araucária ao algodão; e do algodão... à zona do agrião.

Há algum outro clube de futebol com nome japonês no Brasil? Ver o capítulo sobre o Olaria, a seguir.

 

Fontes:

ALONSO, Antônio Padilha. Interior bom de bola. S.l.: ed. do autor, 2005. p. 56.

CARPIGIANI, Wilson (org.). História da imigração no Brasil: as famílias. São Paulo: Cultura Brasileira, 1978. p. 255.

SAKANE, Shigueru; HINATA, Noemia. Dicionário português-japonês romanizado. São Paulo: Casa Ono, 1986. p. 86, 559.

Mavilis

Para início de conversa, o nome do clube era Mavilis, não Mavillis, nem Mavilles, como se vê alhures. E sua origem não é uma corruptela de “Ma Ville” (“minha cidade”, em francês), como já disseram. Podemos fazer ambas as afirmações com base na história desse nome, que se encontra no livro O fio da meada e que resumiremos abaixo.

A origem está na Fábrica de Tecidos Pau Grande, fundada em 1878 na cidade de Pau Grande (RJ). Em 1885, ela ganhou oficialmente o nome (razão social) de Companhia de Fiação e Tecidos Pau Grande (CFTPG). Um dos diretores da CFTPG foi o gaúcho Manuel Vicente Lisboa, comerciante e atacadista de tecidos, considerado pelos demais sócios o responsável pela reorganização da empresa. De 1889 a 1896, foi o presidente.

Em 1891, a CFTPG comprou a Fábrica Cruzeiro, que estava sendo construída pela Companhia Manufatureira Cruzeiro do Sul numa chácara na Rua Barão de Mesquita, nº 82. Com essa expansão geográfica da empresa, não fazia mais sentido manter o nome da cidade de origem, onde mantinha a primeira fábrica, de modo que, em 1892, ela mudou a razão social para Companhia América Fabril.

Em 1903, a companhia comprou a Fábrica Bonfim, que havia pertencido à Companhia União Industrial São Sebastião, e que se localizava na Rua General Gurjão, nº 25, no bairro do Caju – próximo à estação inicial da Estrada de Ferro Rio d’Ouro. Em 1910, construiu uma nova unidade fabril ao lado da Fábrica Bonfim, no nº 81 da mesma rua. Em homenagem ao já citado Manuel Vicente Lisboa, essa fábrica acabou sendo batizada de “Mavilis”, sigla formada pelas primeiras sílabas de seu nome.

Para (controlar) o lazer de seus funcionários, a empresa criou, em 1919, a Associação dos Operários da América Fabril (para estudos sobre futebol de fábrica, ver Antunes e Guedes). Mas além dela, as unidades fabris também tinham seus times próprios. P.ex., a Fábrica Pau Grande sustentava o SC Pau Grande, em que, a partir de 1947, jogaria um garoto de quatorze anos chamado Manuel dos Santos, ou melhor, Mané Garrincha. A Fábrica Cruzeiro apoiava o Andaraí AC, que jogava num terreno vizinho (Rua Barão de São Francisco, nº 236), que depois seria do America FC (nada a ver com a América Fabril!), com o nome de Estádio Wolney Braune. Já a Fábrica Mavilis mantinha o Mavilis FC, que tinha tanto sua sede quanto seu campo nos terrenos da empresa, na Rua Carlos Seidl, Praia do Retiro Saudoso (bairro do Caju). Seu grande feito foi um vice-campeonato estadual, pela Amea, em 1934.

 

Fontes:

ANTUNES, Fátima Martin Rodrigues Ferreira. Revista USP, São Paulo, nº 22, p. 102-9, jul./ago. 1994.

ANTUNES, Fátima Martin Rodrigues Ferreira. O futebol na Light & Power de São Paulo. Pesquisa de Campo, Rio de Janeiro, nº 3/4, p. 51-64, 1996.

CASTRO, Ruy. Estrela solitária: um brasileiro chamado Garrincha. 13ª reimp. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 32-9.

GERSON, op. cit., p. 160.

GUEDES, Simoni Lahud. O Brasil no campo de futebol: estudos antropológicos sobre os significados do futebol brasileiro. Niterói: Eduff, 1998. p. 107 e ss.

LOPES, Nei. Guimbaustrilho e outros mistérios suburbanos. Rio de Janeiro: Dantes, 2001. p. 27.

PEREIRA, Leonardo Affonso de Miranda. Footballmania: uma história social do futebol no Rio de Janeiro, 1902-1938. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. p. 295, 298.

WEID, Elisabeth Von der; BASTOS, Ana Marta Rodrigues. O fio da meada: estratégia de expansão de uma indústria têxtil. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1986.

 

Palmeiras

Que a Sociedade Esportiva Palmeiras primeiramente se chamou Palestra Itália, isso todo mundo sabe. Na adolescência, eu me perguntava: por que “Palestra”? Para mim, palestra nunca tinha sido mais que uma comunicação formal e pomposa. E, de fato, o dicionário de sinônimos aponta, para palestra: conversa, conversação, colóquio, conferência, discurso. Eu não sabia que “palestra”, em italiano, também significa “ginásio para exercícios”, para educação física. E, em termos figurados, “todo exercício intelectual e moral”.

Que o Palestra Italia teve de mudar de nome durante a 2ª Guerra Mundial, também todo mundo sabe: porque a Itália integrava o Eixo. A primeira providência foi trocar “Itália” por “São Paulo”. Não foi suficiente. O São Paulo FC, com quem o Palestra disputava o título paulista de 1942, fazia pressão para que o clube italiano mudasse de nome. Suspeitava-se inclusive que havia a possibilidade de uma interdição.

O clube tentou argumentar que “palestra” era uma palavra de origem grega, que significa “local ou praça em que se praticam exercícios, esportes”. Não adiantou: como diz José Renato de Campos Araújo, a simples menção a essa palavra, na cidade de São Paulo, remetia automaticamente à Itália. Foram sugeridos os nomes Brasil, Piratininga e Paulista, mas venceu o nome Palmeiras.

Por que “Palmeiras”? Pelo que pesquisei, foi por três motivos: em primeiro lugar, é uma palavra bem enraizada no português e que denomina uma planta tropical abundante no Brasil e bem identificada com este país, pelo menos desde o séc. XIX (basta lembrar a “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias: “minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá”) – afastando de vez qualquer vinculação do clube com a Itália. Em segundo lugar, era uma homenagem à Associação Athlética das Palmeiras, extinta desde o fim da década de 20, clube que apoiou o Palestra quando da inscrição na liga paulista. Apesar de ter adotado esse nome, o Palestra não adotou suas cores nem seu escudo, que se manteve com a letra P no meio. Em terceiro lugar, devido às palmeiras que ficam em volta do Parque Antarctica.

O curioso é que a AA das Palmeiras era um clube alvinegro, como o Corinthians. Ademais, quando foi extinto, seus jogadores, junto com os do CA Paulistano, que saiu do futebol profissional, ajudaram a fundar o São Paulo da Floresta, precursor do São Paulo. Ou seja, o clube dos italianos escolheu um nome que remetia às cores de um rival e à origem de outro!

Por fim: por que a AA das Palmeiras tinha esse nome? Para responder a essa pergunta, vejamos o que dizia Antonio Figueiredo, em 1918, sobre a região em que seus fundadores instalaram o clube, em 1902:

“As ruas Martins Francisco, Tatuhy, Imaculada Conceição, Baronesa de Itu, não existiam; e a alameda Angélica era quase toda mato. No meio dessas ruas ficava um amplo terreno, coberto de verduras selvagens; mas era plano, propício, por conseguinte, para um ground. Não custava nada mandar capinar, e transformá-lo numa praça de sports. Foi o que se fez.”

Agora vejamos um trecho de um livro de Antonio Egydio Martins sobre a história de São Paulo (nada a ver com futebol), publicado originalmente em 1911, sobre:

“... a grande Chácara das Palmeiras, que hoje está transformada nas ruas da Imaculada Conceição, Baronesa de Itu, Martim Francisco, Barão de Tatuí, São Vicente de Paula, Albuquerque Lins, Avenida Angélica, Alameda Barros e outras.”

Notem que são basicamente as mesmas ruas! Mais adiante, prossegue o autor, transcrevendo uma notícia publicada no jornal Diário de S. Paulo, de 22.08.1872:

“Chamamos a atenção do público para a aquisição de um prédio, de uma chácara sita nos subúrbios desta Capital, no lugar mais pitoresco, ameno e saudável possível, podendo não somente servir de recreio, como para estabelecimento de qualquer fábrica. Falamos da grande Chácara das Palmeiras (...). Esta chácara contém mais de 25 alqueires de terras em parte cultivada, com grande pomar, plantações de chá, mandioca, capim e dá bom rendimento.”

Creio que está respondida a questão: a AA das Palmeiras tinha esse nome porque ficava onde antes estava localizada a Chácara das Palmeiras, local bastante aprazível que acabou se tornando perfeito para a prática do futebol.

 

Fontes:

AMENDOLA, João. Dicionário italiano português. 4ª ed. São Paulo: Hemus, s/d. p. 547.

ARAÚJO, José Renato de Campos. Imigração e futebol: o caso Palestra Itália. São Paulo: Sumaré, 2000. p. 126-9.

DUARTE, Marcelo (org.). Enciclopédia do futebol brasileiro. São Paulo: Areté, 2001. v. 1, p. 215.

FARAH NETO, José Jorge; KUSSAREV JR., Rodolfo. Almanaque do futebol paulista 2001. São Paulo: Panini, 2001. p. 414-5.

FIGUEIREDO, Antonio. História do foot-ball em São Paulo. São Paulo: O Estado de São Paulo, 1918. p. 28.

MARTINS, Antonio Egydio. São Paulo antigo, 1554 - 1910. São Paulo: Paz e Terra, 2003. p. 389-90.

MORAIS, Orlando Mendes de; PENA, Leonam de Azeredo. Dicionário de sinônimos e antônimos. 9ª ed. Rio de Janeiro: EC, s/d. p. 321.

RIBEIRO, Rubens. O caminho da bola. São Paulo: CNB, 2000. v. 1, p. 43 e 496.

SILVA, Patricia dos Santos da. Do Palestra ao Palmeiras: relações entre o design da identidade visual e o contexto histórico da SEP. São José do Rio Preto: Life, 2012. p. 24.

UNZELTE, Celso. Em cada time uma história..., loc. cit.

UNZELTE, Celso; DUARTE, Orlando; KUSSAREV, Rodolfo. Campeonato Paulista: guia oficial 2009. São Paulo: FPF, 2009. p. 56.

 

Radium

Muito interessante a história do Radium FC de Mococa (SP). E está bem contada no livro de Marcos Eduardo Santoni.

Diz o autor que, em 01.05.1919, o Operário FC e o Mocoquense FC convocaram a população para comparecer ao Teatro Variedades, para fundar um novo clube que congregasse todos os mocoquenses. Porque os clubes anteriores eram sempre muito fracos e efêmeros.

Então, os presentes resolveram escolher um nome que fosse totalmente diferente de todos os outros clubes que existiram na cidade. Após vários nomes serem recusados, Pedro Daniel sugeriu o nome de Radium, porque tinha lido coisas extraordinárias, nos jornais, sobre esse novo elemento químico descoberto pela Madame Marie Curie, Prêmio Nobel de Química de 1911. Era um nome que sugeria a força e a energia que o novo clube haveria de ter. A proposta teve total aprovação, para sorte do Verdão da Mogiana.

A propósito, devo dizer que já esbarrei com referências a pelo menos mais dois times com o mesmo nome – muito provavelmente inspirados no xará mais velho, de Mococa. Um é o Radium FC de Osasco, sobre o qual há referência em obra de Euclides Silva Netto. Outro é o Radium de Bauru. Seu time infantil, conhecido pelo diminutivo Radinho, venceu o primeiro campeonato de futebol de salão de Bauru. E ainda emplacou o artilheiro da competição, um tal de Edson Arantes do Nascimento...

 

Fonte:

NASCIMENTO, Edson Arantes do. Eu sou Pelé. São Paulo: Francisco Alves, 1961. p. 75-6.

NASCIMENTO, Edson Arantes do. Pelé, a autobiografia. Rio de Janeiro: Sextante, 2006. p. 57-9.

SANTONI, Marcos Eduardo. Radium: o verdão da mogiana. Mococa: ed. do autor, s/d. p. 9.

SILVA NETTO, Euclides. Várzea futebol dos sonhos. São Paulo: Scortecci, 2002. p. 17.

Rosita Sofia

Pense bem, são muitos os clubes têm nomes de mulheres? O Paula Ramos EC, de Florianópolis (SC), não se refere a uma mulher, mas ao engenheiro pernambucano Vitorino de Paula Ramos, deputado por Santa Catarina.

Então, salvo engano, pode-se dizer que um dos únicos clubes do Brasil – se não o único – a homenagear uma mulher é o Sport Club Rosita Sofia, do bairro Cosmos, Campo Grande, Rio de Janeiro (RJ). Fundado em 10.03.1941, pelo joalheiro e escritor português Serafim Moreira da Silva, que se mudou para o Brasil em 1919, trazendo a esposa e os filhos. Um deles foi o compositor Adelino Moreira autor de inúmeros sucessos, como “A volta do boêmio”, “Negue”, “Fica comigo esta noite”, entre mais de 1.200 canções gravadas e regravadas. Destaque para o samba-canção “Meu bairro”, de 1962, em cuja última estrofe aparece o Rosita Sofia, assim:

 

“Você não pense mulher,

Que eu deixaria,

Campo Grande, Rosita Sofia,

Cosmos do meu coração,

Onde eu curti minha primeira dor,

Onde nasceu meu verdadeiro amor,

E a minha primeira canção.”

 

Pois bem, Serafim Moreira era conhecido como “Comendador Sofia”. Comendador, porque recebeu esse título do Papa, devido aos serviços prestados à Igreja. Sofia, dizem, porque filho de Sofia Moreira – que é nome de praça, onde há um busto em bronze do Comendador, feito pelo escultor Miguel Pastor, em 1968.

Eu tenho cá uma explicação para isso, se me permitem. É fato que o Comendador construiu a Igreja de Santa Sofia, no mesmo bairro, como pagamento de uma promessa, por não ter morrido num naufrágio, quando vinha de Portugal, durante a Segunda Guerra Mundial. Provavelmente era devoto dessa santa por influência familiar, tendo em vista o nome de sua mãe. E o título de Comendador creio que foi decorrência da construção dessa Igreja. Daí o nome com que era conhecido.

Ele foi um benemérito do bairro, tendo inclusive distribuído pão e leite para pessoas carentes. A importância do Comendador para o bairro, aliás, foi imortalizada no samba-enredo de 2008 do Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos de Cosmos (autores: Fábio Santana, G. Rios, Bira Nota 10, Renatinho e Marquinhos Imperial), em que se cantava o seguinte:

 

“Serafim Sofia deu emprego a muita gente

Amparou muitos carentes, foi um grande benfeitor

Pelo esporte e na saúde, contribuiu com a educação

A fé e a devoção se transformaram nesta canção.”

 

Aliás, essa Escola de Samba ele mesmo ajudou a fundar em 01.01.1948. Doou o terreno para construção da quadra de ensaios e pediu em troca que seu filho Adelino fizesse os primeiros samba-enredos, enquanto não fosse formada uma ala de compositores – uma condição dessas nem era um requisito, mas um presente...

No futebol, o Comendador participou da fundação do Kosmos AC, em 01.05.1930. (A propósito, o bairro tem esse nome porque foi construído pela Companhia Kosmos Engenharia e Imobiliária, com base em planta elaborada por Oscar Niemeyer.)

Depois, em virtude de desentendimentos dentro do Kosmos, o Comendador fundou o Rosita Sofia. Confesso que não encontrei nenhuma referência direta ao porquê de Rosita, mas desconfio que foi uma homenagem à esposa. Ela se chamava Maria Rosa Martins de Castro e a mãe dela, Rosa Martins de Castro. Por ser Rosa e filha de Rosa, talvez fosse conhecida como Rosita – os portugueses têm esse costume de usar, no círculo de relações pessoais, alguns diminutivos em “ito” e “ita”, como Anita. E por ser casada com o Comendador Sofia, provavelmente era conhecida como Rosita Sofia.

Considero pouco plausível que fosse uma homenagem à sogra. Se bem que... segundo o Dicionário popular de futebol, o Rosita Sofia foi praticamente um precursor do Íbis, pois perdia para todo mundo nos anos 40 e 50, nos campeonatos do Departamento Autônomo da Federação Metropolitana de Futebol, do então Distrito Federal (Rio de Janeiro). Nelson Rodrigues, p.ex., ao dizer que um time era ruim, gostava de compará-lo ao Rosita Sofia, ou dizia que não conseguia ameaçar nem sequer o Rosita Sofia. Bem, tudo é possível, mas convenhamos que seria muito maquiavelismo dar ao clube o nome da sogra com o propósito de fazê-lo um saco-de-pancada...

 

Fontes:

ABRAHÃO, Raphael. <http://amigosdogresunidosdecosmos.blogspot.com>

ADELINO Moreira. <www.adelinomoreira.com.br>

ADELINO Moreira. <http://pt.wikipedia.org>

ADELINO Moreira, compositor de música ligeira (1918-2002). <http://portugal-mundo.blogspot.com>

COMENDADOR Serafim Moreira. <www.monumentosdorio.com.br>

CRAVO ALBIN, Ricardo (org.). Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro: Paracatu, 2006. p. 500-1.

ESPAÇO Cultural Compositor Adelino Moreira preserva a cultura da região oeste do Rio de Janeiro. <www.jornalriooeste.com.br>

G.R.E.S. Unidos de Cosmos. <http://unidosdecosmos.no.comunidades.net>

LOPES, Wellington. O sertão carioca está em festa, parabéns Cosmos, 60 anos de samba! <www.obatuque.com> – 22.05.2008.

MARCONDES, Marcos Antônio (org.). Enciclopédia da música brasileira: popular, erudita e folclórica. 2ª ed. São Paulo: Art Ed., 1998. p. 535.

PENNA, Leonam. Dicionário popular de futebol. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998. p. 179.

RODRIGUES, Nelson. A pátria em chuteiras. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. p. 76, 101.

SERAFIM Sofia. <www.revista.agulha.nom.br>

 

Tuna Luso

A Tuna Luso surgiu como uma orquestra popular, criada por jovens portugueses, liderados por Manoel Nunes da Silva e inspirados pela orquestra de bordo do cruzador português D. Carlos, que havia feito uma visita de cortesia ao porto de Belém (PA), em 12.11.1902.

Pouco depois, em 01.01.1903, foi oficializada a fundação do grupo musical, com o nome de Tuna Luso Caixeiral, sob a regência do famoso maestro português António Lobo. “Tuna” significa conjunto ou orquestra popular. “Luso”, uma homenagem à terra natal dos fundadores. “Caixeiral”, como já vimos no capítulo sobre o Leônico, diz respeito aos caixeiros – no caso, os fundadores eram todos ligados ao comércio. Em 1968, mudou de “Caixeiral” para “Brasileiro”.

 

Fonte:

OLIVEIRA, Manoel. Conjunto musical deu origem à Tuna. In: FERREIRA DA COSTA, João Batista. A enciclopédia do futebol paraense. 4ª ed. Belém: ed. do autor, 2007. p. 103-4.

OLIVEIRA, Manoel. Tuna: sua vida e glória. Belém: Smith, 2003. p. 13, 41, 55-7.

 

Villa Nova

Nesse caso, quem nos conta é Wagner Augusto Álvares de Freitas, em dois livros sobre o Villa Nova Atlético Clube. A origem está no nome da cidade em que foi fundado e em que ainda hoje impera: Nova Lima. É que, na época da fundação do clube, 28.06.1908, a cidade se chamava Villa Nova de Lima. Por quê? Era uma homenagem a Antônio Augusto de Lima, nascido na região. Jornalista, poeta, historiador e governador de Minas nos primórdios da República, ele foi o responsável pela transferência da capital de Ouro Preto para Curral Del Rei, atual Belo Horizonte.

Somente em 1923 a cidade teve seu nome oficialmente simplificado para Nova Lima. Contudo, o clube manteve o nome antigo. Depois, chegou até a aportuguesar o “Athletic Club”, mas não abriu mão do duplo L no “Villa”. E assim se mantém até hoje o centenário Leão do Bonfim.

 

Fontes:

FREITAS, Wagner Augusto Álvares de. Villa Nova: 100 anos de glória em vermelho e branco. Belo Horizonte: ed. do autor, 2008. p. 29 e 59.

FREITAS, Wagner Augusto Álvares de; RODRIGUES, Rodrigo; RIBEIRO, Henrique. Almanaque do Leão do Bonfim. Belo Horizonte: ed. do autor, 2011. p. 19.