AS ORIGENS DA QUESTÃO AGRÁRIA BRASILEIRA. BAUER, Guilherme Germano Telles
Por Lucas Ribeiro do Nascimento | 24/02/2018 | ResumosBAUER, Guilherme Germano Telles. Sobre as origens da questão agrária brasileira. Disponível em: . Acesso em: 03 dez. 2017.
Lucas Ribeiro do Nascimento¹
Guilherme Germano Télles Bauer possui graduação em Economia, Ciência Política e Sociologia, pela Universitat Heidelberg (Ruprecht-Karls) (1975), Alemanha, e doutorado em Ciência Política / Sociologia também na Universitat Heidelberg (Ruprecht-Karls) (1979). Atualmente Bauer é professor titular no Centro Universitário de Curitiba, é professor adjunto da Universidade Tuiuti do Paraná, professor do Instituto de Filosofia e Teologia Mater Ecclesiae. Durante sua carreira profissional procurou especializar-se nas áreas das ciências sociais e filosóficas, com ênfase em Movimentos Sociais, atuando principalmente nos seguintes temas: responsabilidade política, democracia, eleições municipais, cultura política e consolidação democrática.
O professor Guilherme Bauer, publicou em 1998, o artigo "Sobre as Origens da Questão Agrária Brasileira" na revista de história regional, Ponta Grossa. As análises e objetivos do autor são relevantes para uma reflexão sobre o desenvolvimento social rural mediante os conflitos enfrentados contra a classe dominante da maior parte territorial (latifundiários) em prol da autonomia do pequeno produtor (agricultor familiar).
Logo nas primícias, o autor faz questão de deixar claro a sua revolta, ao apontar para a referida origem da questão agrária, quando o mesmo elucida o brutal desnível entre as posses e qualidade de vida existente entre as classes (trabalhador rural e latifundiário). Ainda nesse tópico, mostra a enorme discrepância que há no meio agrário, mencionando a tamanha posse dos grandes produtores em relação aos trabalhadores, efetivando um dos maiores problemas no setor agrário: ostentativa riqueza, poder e status da minoria, e a miséria social e econômica enfrentada pela grande maioria.
O autor manifesta uma habilidade geral, um conhecer de sua natureza e conhecer especial, ligado à sua atividade docente, que traz ao seu leitor boas referências e, de forma crítica, o faz pensar melhor em tais situações que ocorreram e que ainda vem ocorrendo no Brasil.
Ao decorrer dos 9 tópicos que integram a obra, Bauer bate, intencionalmente, sempre na mesma tecla, ou seja, uma variação sobre o mesmo tema: a maneira tradicional, persistente desde o Brasil colonial, de se explorar as classes inferiores; a grande disparidade econômica e social; a obsessão incansável dos latifundiários pelo lucro e as condições de miséria enfrentada pela classe trabalhadora, principalmente com a ascensão tecnológico-capitalista, - tão comum na “origem agrária”.
Tudo isso leva o leitor a distinguir, com rigor, a estrutura agrária: usada com um sentido amplo, significando, neste contexto, a forma de acesso à propriedade da terra e à exploração da mesma, apontado os vínculos entre os proprietários e os não proprietários, a forma como as culturas se distribuem pela superfície de seu território. Outrossim, o autor mostra saberes substanciais à prática capitalista, quando faz uma colocação indubitavelmente coesa com a realidade vivida nos dias que se seguem: “a modernização tecnológico-capitalista, ocorrida nas últimas décadas, transformou os tradicionais latifúndios em modernas empresas rurais, com alta produtividade e rentabilidade”. Segundo Bauer, este é o fator contribuinte para o despertar das manifestações e revoltas daqueles mais oprimidos.
Bauer traz consigo um pensamento marxista, ficando bem explícito, quando ele diz que o Brasil sempre foi palco de conflitos sociais e, ainda, fazendo menção de que este fator estaria ligado diretamente com sua história (período colonial). O grandioso trabalho teórico do autor alemão Karl Marx, definiu a luta de classes como a força motriz da história humana, como sendo o combustível da mudança do mundo social. E, de fato, podemos notar que essa desavença entre latifundiário e trabalhador rural realmente existe, uma vez que, como o presente artigo relata, o avanço na tecnologia aplicada ao campo, transforma o latifúndio em empresas rurais, das quais, por um lado, enriquece ainda mais essa elite dominante e, do outro lado, empobrece os que dependem da terra para sobreviver. Tamanha desigualdade, ainda segundo Marx, faz com que a revolução do proletário seja algo inevitável.
Bauer, em todo o desenvolver de sua obra, mostra-se monótono, defendendo sempre os mesmos conceitos do prelúdio ao remate, e que, em alguns momentos faz com que sua escrita se torne cansativa e, momentaneamente repetitiva. Mas nada exagerado ao ponto de fazer com que o leitor largue de lado o conteúdo, principalmente se o leitor é um amante das ciências sociais.
Em síntese, a sua percepção do latifúndio em relação ao trabalhador do campo é de seres programados para gerar cada vez mais lucro e, portanto, sujeitos a exploração, que faz entender, na prática, como esse exercício constante em favor da produção e do desenvolvimento das grandes propriedades, contribuiu para que houvessem progressões promovidas pelos movimentos e manifestações ocorridas ao longo do tempo. Bauer finaliza a sua escrita afirmando que para o avanço da livre negociação, o reconhecimento e a efetivação dos direitos das classes, antes de tudo, faz-se necessário haver o acatamento e reafirmação do Estado de Direito, através do qual os indivíduos, segmentos ou mesmo essas classes, respeitem as suas diferenças e igualdades.
O artigo possui uma linguagem acessível no sentido da facilidade de compreensão de suas palavras, contendo apenas algumas ou outras partes um pouco mais complexas, no entanto, didático; dirigido aos educadores, educandos e também para aqueles ávidos por conhecimento.
Todas as concepções do artigo mostram, nitidamente, que o objetivo do autor está relacionado com as mudanças que ainda são necessárias.
Como um professor experiente (com quem se pode aprender a analisar, a avaliar e a opinar) ele nos mostra a importância de buscar compreender o passado para, assim então, transformar o presente. Sua maior contribuição nesse efeito, circunda um parecer de conhecimento que não se encontra pronto e acabado, instigando o sentimento do seu leitor acerca das adversidades enfrentadas pelas desproporcionais condições de vida, muito bem explanadas por Guilherme Bauer.
*¹ Acadêmico de Engenharia Agronômica da UFRB.