As Máscaras Sociais E O Seu Poder Oculto

Por Armando Correa de Siqueira Neto | 03/07/2006 | Sociedade

Ao admitir que cumpre-nos apenas viver conforme a sociedade já bem o definiu, cada qual desempenhando seus papéis sociais como o de marido, esposa, pai, mãe, trabalhador etc, permanecemos presos, impedindo o maior desenvolvimento. Não percebemos que cada papel carrega em si o próprio limite de atuação. Este limite é o referencial a que recorremos para definir as regras de cada atuação social necessária ao melhor convívio. Se por um lado ganhamos, ao identificar, aprender e ensinar à descendência como se deve viver para que não se sujeite à sorte, em contrapartida perdemos o espaço à criação de performances alternativas e desta forma reduzimos as chances de desenvolver a autonomia crítica, visto pouco questionarmos se os papéis que desempenhamos socialmente são a única maneira de viver e interagir.

Cada papel diz respeito a uma máscara usada para encenar o teatro da vida. Temos que ser de um jeito para com nosso chefe, seguidores, colegas de trabalho, filhos, vizinhos, padeiro, pastor etc. É claro que temos personalidade. Todavia, ela nos leva a vestir tais máscaras para que haja adaptação cotidiana. Não obstante, cada máscara possui uma limitação de se agir, moldando-nos a uma forma de ser. Ocorrem conflitos por causa do desacordo entre tipo de temperamento introvertido ou extrovertido, experiências acumuladas, conceitos formados, e padrões de comportamento sugeridos pela sociedade. Nas relações conjugais, por exemplo, o psicólogo Carl Rogers (1902-1987) concluiu que Numerosos problemas desenvolvem-se na medida em que tentamos satisfazer as expectativas do outro..., e que não devemos nos afeiçoar pelos desejos, regras e papéis que os outros insistem em impor-nos.

Sabemos que limites são importantes para o adequado convívio. Não se defende aqui a abolição de leis e regras, já bem explicadas por pensadores de outros séculos, como Thomas Hobbes (1588-1679), por sua afirmação de que O homem é o lobo do homem, e Voltaire (1694-1778), ao comparar: Para que uma sociedade consiga sobreviver, fazem-se necessárias as leis, assim como as regras para os jogos. A ordem política tem o seu papel na regulação do convívio entre os homens. No entanto, nos revestimos destes papéis ao usar as máscaras sociais e agimos apenas em conformidade a eles. Tal fato oculta poder, vez que imputamos limitação a nós mesmos seguindo rigorosamente as diretrizes que cada papel determina. Não nos inquietamos a ponto de refletir sobre se devemos pensar e agir diferentemente do que estamos acostumados. Não ousamos participar mais dos acontecimentos. Um exemplo é a idéia de que política deve ser realizada apenas por político ou quem detém o papel deste setor para lidar com os assuntos pertinentes. Nos enganamos. Podemos e devemos ser mais presentes em assuntos dessa natureza. Já se provou que a opinião popular é importante e tem peso, não só nas eleições, mas na luta pelos direitos democráticos, em processo de impeachment presidencial, referendo, etc. Basta usar a máscara para este tipo de necessidade e exercitar o seu papel.

Não nos damos conta de que respeitamos em exagero os limites dos papéis sociais e por tal razão criamos uma mentalidade enrijecida. Agimos desta forma despercebidamente desde bem pequenos. Cremos que outros papéis como o de pessoas de talento, bem sucedidas, com carreira em dada profissão etc, servem apenas para quem já os exerce. Entretanto, muitos são os papéis a serem utilizados até se chegar onde o sonho alcança. Outra questão crucial é o medo e a obediência incondicional a que nos sujeitamos mediante personagens que usam máscaras de posição social ou hierarquia acima da nossa. Simplesmente obedecemos ou nos queixamos às escondidas sem propor idéias e pontos de vista contrários, que podem, conforme a ocasião e a necessidade, serem surpreendemente melhores.

Por detrás de toda máscara há um ser humano tentando sobreviver em seu meio, buscando a adaptação à sociedade ou grupo ao qual pertence. Portanto, os papéis são importantes. Segue-se, porém, que é relevante a capacidade potencial que todos possuem para desenvolver a criatividade, autonomia e ações pessoal e comunitária. Mas para dinamizá-la, urge reconhecer as múltiplas possibilidades a se desempenhar por meio de novos e essenciais papéis, além dos que já temos.

Há o poder que prende e o que liberta. Podemos crescer em outro papel, libertando-se da idéia prisioneira de limitação. A vida é repleta de oportunidades, mas se não acreditarmos em nossa própria capacidade, nada acontecerá. Escolha uma nova máscara ou melhore o desempenho das que já usa. Aproprie-se do poder que há em cada papel. Máscaras sociais que antes pareciam impossíveis de lhe pertencer estão mais próximas do que você supõe. Com que máscara deseja triunfar?