As Marcas Do Tempo

Por claudia flores | 12/02/2008 | Crônicas

O tempo do corpo e da alma

claudia Flores

Eu sei que o tempo passa, deixa marcas na alma e no corpo, faz da gente alguém melhor ou pior. Sei disso.

Então, decidi que quero saber lidar com a dor, com o medo, com a notícia ruim da televisão, do jornal; com o olhar do mendigo que me faz rever meus impulsos consumistas e me prende àquilo que sou: carne, corpo, virtudes, defeitos.

Eu sei, o tempo vai passar. Quero aprender a andar com ele; aproveitar mais meu filho, ver além dos vincos que o espelho insiste em mostrar para dizer que meu corpo envelhece, que a juventude passa e que afinal, o que são as rugas senão marcas do que vivi?

Quero continuar sensível, leve; me nutrir de esperança e desejo a cada aniversário, sair com as amigas e rir à toa, escutar música e cantar, mesmo sem saber a letra, quero rir alto quando der vontade, quero tomar sorvete logo ali na esquina e lamber os dedos feito criança. Quero entender meus pais, meus amigos e não julgar meus inimigos. Quero poder assoviar quando sentir vontade de jogar tudo pro alto, quero andar de bicicleta e sentir um friozinho na barriga quando minhas pernas atingirem uma velocidade acima da permitida ,quero pequenas transgressões,sem culpa, sem  neuras. Quero sentar numa mesa de bar e pedir o que eu quiser na transparência típica de quem está ali só pra observar o movimento solidário das mãos, dos gestos e dos sorrisos embriagados.

Quero manter em mim a moleca, a mãe, a mulher, a filha, a amiga, a louca ( faço questão de mantê-la).

Quero continuar caminhando e vibrando, e vivendo e aprendendo e amando e... amada.

Por fim, vou sorvendo a vida até que chegue um outro tempo, um novo ciclo, o final que pode ser o início de tudo. Aquilo que me levará do casulo e me transormará em asas coloridas e leves.
E quando estiver pronta, voarei tranqüila, porque terei morrido.Morrido de viver.