As Maravilhosas Colunas Sociais

Por Nilson Maranhao Moreira | 26/08/2008 | Sociedade

Não sei se em todos os países é assim, mas há nos jornais do Brasil uma coluna que é a própria cara da sociedade, invertida. Louras, bem-vestidas, sorridentes, bonitas por escolhidos ângulos fotográficos, dir-se-ia que são caras e personagens que vêm de outro país, mui distante. De um país que não há em qualquer lugar do mundo, na verdade. Pois em que lugar do mundo haveria sempre pessoas vestidas para o casamento, no momento do “sim” alheias à gravidade fatal do passo, em que país há tantos mestiços arrependidos com os cabelos amarelíssimos, em que nação há tantos brancos bronzeados pelos trópicos, em que ficção de room de aeroporto, enfim, há tantos dentes na cara, ainda que sob constrangimento, porque vêm de casais há décadas em pose para a foto? Somente mesmo nesses territórios onde a gente elegante se encontra, mais conhecidos como colunas sociais.

 

O interessante é que neste caso também o vulgar ganha o seu estatuto de universalidade. As caras que vemos no Recife, em Botucatu, no Rio de Janeiro, em São Paulo, também poderiam ser vistas em Londres, Madrid, Paris e Tegucigalpa. Elas, essas caras, fazem parte de um gênero tão universal quanto a decoração de qualquer shopping center da Terra. São caras de bonecas Barbie traduzidas aqui e ali em olhos mais ou menos oblíquos, são peles de plástico matizadas conforme o vento e a geografia. Em nome do respeito caridoso, de um humanismo que cede lugar ao humanitário, deveríamos dizer que são caras de gente em situações e poses artificiais, ou para abusar dos superlativo que nas colunas sociais são uma língua, são caras elegantérrimas e artificialíssimas, tão universais quanto uma Barbie num comercial de Coca-Cola.

 

Neste momento, tenho os olhos voltados para as colunas sociais do Nordeste. Mas saibam que no tapete mágico da web voei por várias colunas do Brasil. E aqui o coração pressentiu menos que a vista presente. Que estranha unidade nacional. Vejo caras todas sorridentes de um extremo a outro do vasto território brasileiro. Nesse mesmo dia e coluna um casal, sempre apaixonado. Apaixonadérrimos, para melhor sorriso dos amantes, de ambos. Um deputado federal é só relax, e a esposa, enquanto não vai a uma CPI, aproveita esse minuto de glória para dizer “eu também sou feliz”, de oeste a leste, de norte a sul da face, com todos os dentes e maxilas.

 

E o domingo, que sempre é dia de gente bonita, com jovens de cabelíssimos longuérrimos, a exibir a despreocupação com esse mundo distante, de guerras, de conflitos, com a exceção, é claro, de achar a sorrir o melhor sorriso para este domingo? Vemos inexpugnáveis alas de frente de senhoras, com a nova praga do blazer preto, e colares e gargantilhas, e aquele cair de lado da cabeça, que é uma graça... Para que museu de cera posa toda essa gente?

 

As descrições de jantares não recuam diante da extravagância, do rico e imaginoso mundo do VIP até o colunista, atônito com os bolos sextavados, com as raízes de inhame, shitakes, doces em coração de veludo e porta-guardanapos que se transformam em orquídeas. Se alguém, na vizinhança da nossa periferia, imagina uma burguesia sem educação, ora sem educação, se alguém imagina uma burguesia sem a mais elementar riqueza de espírito, que se deixa retratar por um servidor doméstico, o colunista social, à sua altura, então esse alguém é um sujeito razoável, ainda que não receba jamais um convite para tão fino Olimpo. Sorry, periferia.