AS INTERAÇÕES SOCIOECONÔMICAS E CULTURAIS DAS COMUNIDADES RIBEIRINHAS...
Por Sydney Pinto dos Santos | 14/11/2022 | EducaçãoAS INTERAÇÕES SOCIOECONÔMICAS E CULTURAIS DAS COMUNIDADES RIBEIRINHAS NO DISTRITO DE SANTA MARIA DO URUARÁ NO PERÍODO DO INVERNO AMAZÔNICO DENTRO DE UMA PERSPECTIVA DE INTERCULTURALIDADE
Artigo elaborado e apresentado ao Curso de Mestrando em Educação à Faculdade Iberoamericana - FUNIBER/UNINI - 2022
Por: Sydney Pinto dos Santos[1]
Introdução
O inverno amazônico, período que tem duração entre seis a sete meses, tornou-se um dilema aos povos ribeirinhos nos últimos tempos; isto porque, este período tornou-se mais volumoso, implicando em alagar as residências dos habitantes das comunidades ribeirinhas do município de Prainha, inclusive àquelas que estão localizadas às margens e furos próximos ao Rio Amazonas.
Santos (2021), retrata sobre o Amazonas, os próprios ribeirinhos e as questões naturais que são manobradas:
pelos ribeirinhos que são acostumados com as intempéries locais e naturais, assim com os navegantes contumazes este trecho, independentemente da situação e horário, torna-se uma aventura ou mesmo uma situação corriqueira, provocado pelas necessidades individuais e coletivas, sempre fazendo esta conexão entre a sede (cidade de Prainha), com as comunidades da outra margem e outras regiões do município que estão localizadas na Margem direita do rio Amazonas.
Estas populações, então procuram os espaços mais altos para “se alojarem” durante este período, e certamente se deslocam para as áreas de terras firmes mais próximas; fazendo com que, um destes locais escolhidos seja o Distrito de Santa Maria do Uruará, que dista em linha reta, de algumas destas comunidades, em aproximadamente 15 quilômetros ou menos.
Assim, a Vila de Santa Maria do Uruará, como sede do distrito do mesmo nome, acabou se tornando o refúgio desta população durante este período de cheio. O que implica se deslocarem trazendo junto até os animais de estimação e de criações diversas, como cachorros, galinhas, porcos, cavalos, bois e outros. Ficando por estes recantos, até as águas baixarem novamente e possibilitar o retorno às comunidades de origem.
Neste período, os habitantes deslocados, passam a viver em casas de parentes, espaços alugados, ou alguns mais prevenidos quanto a situação, já tem uma residência no distrito, o que facilita a sua convivência e relação social como os comunitários distritais.
Descrição do problema
Famílias das comunidades ribeirinhas vindo conviver no Distrito de Santa Maria do Uruará na época do inverno amazônico, com seus filhos, os quais passam a estudar nas escolas do referido local.
Por circunscrever famílias que apresentam, em tese, baixo conhecimento e contato escolar, assim como mantém uma economia de subsistência, baseada na pequena criação de animais: galinhas, porcos e bois, em locais conhecidos como marombas na época do inverno amazônico, e soltos, durante o período da baixa das águas; como também, estão vinculados à pesca artesanal, quando o quantitativo, uma parte é vendida para os cubeiros-geleiros, que na verdade são atravessadores deste produto, e outra parte do pescado, para o consumo própria da famílias.
Como são pessoas que moram em palafitas, ou seja, em casas que são seguradas ao terreno por inúmeras estacas de madeira forte, as quais sustentam a estrutura do piso superior, onde ficam os locais propriamente dito da casa; porém oferecem pouca segurança na época do inverno amazônico; pois estas construções estão sujeitas a alagamento, pois cada inverno amazônico, pode variar no que diz respeito a metragem do volume da água sobre o terreno de várzea, o que também implica nas relações sociais e comunitárias das comunidades que estão localizadas neste ambiente inóspito e por via perigoso.
Pois inóspito, não por ser um meio natural e também, livres de certas perturbações da vida dos centros urbanos, porém, pelas pessoas se encontrarem distantes de certos bens e serviços públicos essenciais, como: atendimento à saúde, saneamento básico adequado, comunicação, e interação social contínua. Pois, neste último caso, as pessoas estão distantes umas das outras, por optarem fazer suas residências em locais às margens de igarapés, rios e furos na área de várzea que melhor lhe convém. Já perigoso, pelo fato, que convivem na época com vários perigos, não só as suas criações de “quintal”; mas também aos pequenos, que muitas vezes, por não saberem nadar ou utilizar os meios de transportes, no caso, as canoas motorizadas, estão sujeitas a afogamento, alagamento e também a escalpelamento (meninas).
As criações, citadas anteriormente, são sujeitas a viverem confinadas a pequenos espaços, conhecidos como puleiro, chiqueiro, maromba ou os galinheiros, onde há visitas de espécies como de sucuri, e quando caem na água, sujeitos a ação de cardumes de piranhas de algum jacaré faminto. Além, claro, da possibilidade de morrerem afofadas.
Porém, o grande problema, na época do inverno amazônico rigoroso, é a paralização das aulas, nos ambientes escolares, já que não há condições viáveis de funcionamento, em vista de se tornar um lugar com poucas opções de atividades recreativas (o que acontece apenas no verão), assim como muitos moradores preferem deixar os seus pequenos sem estudar, pelo fato do perigo da distância da escola em relação à casa do estudante. Além do risco, de acontecer algum acidente no percurso, visto que além das canoas que utilizam remos para se mover, algumas delas passaram a serem motorizadas, mas que são operadas pelos pequenos.
Foi então, que surgiu a alternativa de se mudarem, neste período de cheia, para os locais mais altos, que são urbanizados, oferecem os serviços de educação próximo das residências, estão próximos das áreas de pesca do “chefe da família”, como também, se faz notório, pelos serviços públicos mais próximos e mais eficientes, e claro, tem todos os serviços necessários à sobrevivência de uma maneira mais eficaz ao indivíduo.
E, um destes locais, é o Distrito de Santa Maria do Uruará, que tem sua sede na vila com o mesmo nome, a qual possui em torno de 8 mil pessoas vivendo e convivendo na área urbanizada. Se destacando aí, um serviço de comunicação mais condizente, via internet, assim como serviço público de saúde oferecido pelo PSF local, serviço de segurança pública com um PPD da Policia Militar do Pará; como também, escola de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Ensino Profissionalizante (técnicos) e Educação Superior.
Desenho de intervenção
Em tese, a primeira fase é o recebimento ou receptividade pela comunidade local, no caso da Vila de Santa Maria do Uruará, dos habitantes que se deslocam destes lugares alagados, das áreas de várzea, próximos ao rio Amazonas e outros rios, e que neste período, trazem seus filhos, que são estudantes nestas comunidades, os quais buscam “fugir” da água grande, assim como pela procura dos recursos que este local lhes oferece, inclusive o educacional, implementando com isto, a não paralização do percurso educativo e nem atrasa-los em relação aos conhecimentos e informações advindo pela aprendizagem. Pois:
O que não podemos é negligenciar que o conhecimento, a informação, e as diversas possibilidades do aprender e do apreender não significa nada, que não possibilita mudanças profundas e significativas na vida do outrem, do ente querido. Pelo contrário, as relações entre a natureza, a cultura e o viver de todos, fazem um entrelaçamento que conduz, produz e não reduz o caráter, a personalidade de cada um vivente deste pulsante ambiente que o homem amazônida faz parte. (SANTOS, 20
Na segunda fase ou etapa, que é feito pelas escolas locais, a qual é conhecedora do aumento considerável de alunos neste período, e assim, deverá assegurar-lhes as vagas necessárias para todos os envolvidos, e claro, em todos os níveis escolares. Visto que é de conhecimento de todos os setores, que há neste período a fuga destes moradores, destas áreas alagadas, para as mais altas de terra firme, as quais não apenas buscam segurança durante este período, mas também, dos serviços básicos que vão desde o entretenimento, até a educação, passando pela saúde e pela alimentação.
Já alocados no ambiente, mantém-se um cadastro contínuo pelas escolas, destes alunos, pois, possivelmente por três motivos: primeiro, certamente construirão uma residência excedente para que assim, não estejam no futuro alugando ou morando com familiares nestes momentos; segundo, para assegurar um espaço para seus filhos, tendo em vista o avanço nos níveis de ensino-aprendizagem; terceiro, com possibilidade de se tornarem moradores fixos do local, pois sendo muitos deles pescadores, não têm dificuldades em chegar aos locais da atividade, já que a região lacustre fica próxima da própria vila.
No que trata ao desenvolvimento de uma intervenção educacional, trabalhando a interculturalidade junto a estes indivíduos, provenientes destas comunidades, significa a etapa mais importante, pois cada indivíduo, inclusive os estudantes, trazem para a comunidade e em especial à escola, um conjunto de atitudes particulares, hábitos variados, comportamentos sociais diversos, assim como dificuldades de aprendizagem. Que além de serem convividas e respeitadas pelos comunitários locais, assim como pelos integrantes dos segmentos da escola, precisa-se de um projeto didático-pedagógico, que em suma atenda às necessidades de uma realidade, assim como ingresse e permita a eles que não haja a estes quaisquer tipos de discriminação ou exclusão em detrimento aos benefícios operados pela escola.
Pois, Santos (2021), explicita que:
por “educação intercultural”, que pode ser um processo em que não só existe um pensamento em questão a serem debatidos, nem uma única interpretação diante a um fato, mas uma tendência de, primeiro de respeito pelas diversas manifestações existentes dentro do contexto educacional; segundo, uma interação saudável e agregada entre as diversas culturas existentes dentro do espaço de ensino e aprendizagem. Fazendo assim, com que, os elementos ou agentes envolvidos, sejam eles professores, pais e alunos, possam ver, viver, vivenciar, e experienciar de forma harmoniosa e sem perder os elementos de sua cultura, assim como, observar os elementos construtivos de cada manifestação cultural, sem estar fazendo um pré-julgamento negativo destas manifestações.
Avaliação geral
Dentro do aspecto avaliativo, podemos definir alguns parâmetros e aspectos, assim como fatores que mostram a garantia de um processo ser compensador, e assim possibilita a integração, a socialização e mantém as garantias de uma relação social, educacional e democrática de viventes e pessoas com modos de vida diferenciados, assim como lhes permite reconhecer que o espaço natural e cultural, se entrelaçam, independentemente de suas necessidades, agonias e vicissitudes temporárias.
Assim, o recebimento, mesmo que temporário deste número expressivo de habitantes de outras comunidades que fogem das intempéries naturais, não somente fortalece os vínculos pessoais, econômicos e financeiros, pois cada um traz a sua colaboração, trazendo a sua atividade e praticando-a, como fornecendo os alimentos, no caso da atividade pesqueira, como se tornem uns consumidores em potencial ao comércio local; e que, ao longo do tempo e convivência com o local, os filhos destes ribeirinhos, passam a adotar costumes do distrito, de vivência e relação, religiosos, entretenimento, de comportamento, mudanças até mesmo de hábitos laborais, pois abraçam, com o tempo outra função e profissão que não seja a de pequeno criador na várzea e de pescador.
Como aponta Santos (2021), que:
de todas as maneiras e levando em consideração uma análise mais aprofundada a qual permita uma crítica mais analítica do que construtiva, percebemos que, os hábitos que se interagem entre os seres humanos de diversas nacionalidades, sociedades ou de costumes regionais diferentes, acabam por se somar, e assim, permitindo que desenvolva-se comportamentos e hábitos que proporcione uma vivência e convivência sadia, duradoura e democrática, o que as vezes, o melhor meio ou campo para se viver isto, chama-se escola ou campo da educação…
Portanto, no meu entender, a escola ou as escolas, que atendam estes cidadãos advindos de outras áreas, e que por razões diversas, passam a conviver e interagir com os demais locais, deve permitir-se, sobretudo desenvolver a socialização e inter-relação cultural, e assim modelar e construir um espaço de condutas, hábitos, comportamentos saudáveis e atitudes exemplares, onde todos os envolvidos possam se respeitar e serem respeitados, colocando em prática
Referências bibliográficas
SANTOS, S. P. dos. TRAVESSIA DO RIO AMAZONAS EM PRAINHA: CARACTERÍSTICAS, DILEMAS PONTUAIS E CONVIVÊNCIA COM O MEIO NATURAL. Prainha- PA, 2021. Disponível em: http://webartigos.comsydneypintodossantos/
SANTOS, P. S. dos. INTERCULTURALIDADE E EDUCAÇÃO: Uma promoção de Vivência e Convivência Harmoniosa. Santa Maria do Uruará, 2021. Disponível em: http://webartigos.comsydneypintodossantos/
SANTOS, P. S. dos. INTERCULTURALIDADE E EDUCAÇÃO: PROCESSO MEDIADOR E FAVORÁVEL A UMA EDUCAÇÃO DEMOCRÁTICA. Santa Maria do Uruará, 2021. Disponível em: http://webartigos.comsydneypintodossantos/
[1] Professor do quadro de efetivos de Ensino do Município de Prainha desde 1998. Pedagogo da mesma rede desde 2013. Mestrando em Educação com Especialização em Ensino Superior pela FUNIBER/UNINI