As imagens da princesa nos trópicos: Carlota Joaquina

Por Etiêne Maria Barbosa dos Santos | 22/10/2011 | História

AS IMAGENS DE UMA PRINCESA NOS TRÓPICOS:  CARLOTA JOAQUINA

Etiêne Maria Barbosa dos Santos

Resumo: Este artigo discute em linhas gerais a relação entre a princesa, Carlota Joaquina, o príncipe, D. João VI, e as discussões ferozes acerca da personalidade da mesma, vista sob três ângulos apresentados no Brasil, o filme- Carlota Joaquina, princesa do Brazil- a doutrina historiográfica, e as cartas deixadas pela princesa, que se mostrou como um documentário vivo da vida e pensamentos desta. Carlota era essencialmente livre, revolucionária, politizada, com ideais e personalidade forte, nasceu para decidir e não “esperar”, que, sem dúvida, estava à frente do perfil exigido para uma mulher dos parâmetros do século XIX. Fora criada no seio da sociedade cultural da Espanha, berço cultural do mundo, e desde cedo era conhecida garota prodígio. Já em Portugal, quando contraiu matrimônio com D. João, Carlota enveredou-se na vida política, conseguindo adeptos e seguidores do Carlotismo. Nessa época, em 1806, seu casamento entrou em profunda crise e, em 1808, o príncipe decide pela transferência de toda família real para o Brasil e é sob este âmbito que a investigação se perfaz, tentando desvencilhar as diferentes ideologias que apareceram através de numerosos perfis e personalidades criados pela história daquela que foi matriarca de todo início da história política do Brasil.

Palavras Chave: perfil, sociedade, fidelidade, filme, historiadores, as cartas, ideologia.

 “A minha primeira amiga e o meu maior  amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino   que  acabassem juntando-se e enganando-me... A terra lhes seja leve!” (Machado de Assis, 1996, p. 184)

Abrimos este artigo com a citação de Machado de Assis em sua imortalizada obra prima Dom Casmurro porque, a meu ver, ela se aplica perfeitamente a imagem que nos foi transmitida da princesa Carlota no Brasil. Não devemos esquecer que a imagem construída da princesa perfaz-se aqui no Brasil a partir do século XIX, século no qual a objetividade, a concepção do amor baseado na atração sexual, a exaltação do adultério, a dissimulação, a paixão pelo dinheiro, o medo da opinião alheia, a vaidade são os traços característicos do período, sendo este bastante evidenciado no trecho da obra supracitada; Segundo, porque, a palavra “Dom” veio na obra para lhes dar atribuição de fidalguia, já “Casmurro” significa teimoso, cabeçudo, adjetivo no qual bem retrata a personalidade do príncipe, D. João VI, que segundo a visão, um tanto caricata da imagem deste, relatada nos manuais e na mídia, era um bobão, bastante influenciável, que assim como Casmurro, mostrava-se incapaz de assumir suas responsabilidades em tempo real vivendo sendo sondado por personagens que o julgava importante para decidir sua vida.

Várias ideologias perfazem o universo da criação do estereótipo da princesa, mas as principais reproduções obtiveram como parâmetros as fontes historiográficas, as quais denotam um enraizamento profundo de pré-conceitos e visões unilaterais, pois é sabido que, predominantemente, nas sociedades ocidentais, há muito a condição da mulher foi extremamente marcada pela visão machista e reducionista que lhe conferia um lugar inferior em relação ao homem, chocando-se com as características da princesa, considerada inteligente, audaciosa, ambiciosa e despótica, nas suas veias corria uma vicissitude política.