As Garras Afiadas do Kremlin

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 07/06/2024 | Política

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho

Artigo Escrito e Publicado em 2024

A recente morte do opositor russo Alexey Navalny, numa prisão em que cumpria pena no Ártico, nos revela o quão sádico pode ser o ditador Vladimir Putin na consecução de seus objetivos. Tomemos como exemplo este e outros casos envolvendo cidadãos russos, dentro e fora da Federação Russa (em outros artigos, expostos no meu livro "Artigos Sobre História, Política, Geopolítica e Outras Vertentes, Bem Como Trabalhos Acadêmicos de História Antiga e Medieval", relato por que penso que, na questão ucraniana, a Rússia tem a razão, embora nada, absolutamente nada justifique as ações e reações do carniceiro do Kremlin).

Em Moscou, no início dos anos 2000, havia uma jornalista que cobria, de forma nua e crua - e sem submeter à pesada censura - as atrocidades cometidas pelas tropas federais na República separatista e muçulmana da Chechênia. Era Anna Politkovskaya. Independente, sem amarras e corajosa, pagou o preço de perder a vida com um tiro no rosto, dentro do edifício em que morava, na capital. Vladimir Putin, já no poder de fato, sempre afirmou que nada tinha a ver com o referido assassinato. É bastante difícil acreditar, pois falamos de um país no qual, dentro do capitalismo ou do socialismo, a autocracia sempre foi onipresente, passada adiante a cada geração de governantes que, em nome de si próprios, de seus comparsas ou do proletariado, sempre mantiveram sangue nas mãos. Este foi um aviso de advertência ao povo russo, dentro de seu próprio território (assim como o ataque terrorista de bandeira falsa a um edifício residencial, também em Moscou, atribuído a militantes chechenos com o fim de perpetuar a repressão na República caucasiana, hoje violentada por um dirigente fantoche de Putin, Ramzam Kadyrov, que a todos lá aterroriza com seus horrendos campos de concentração).

Já o aviso de que suas garras vão além das fronteiras, também se vitimou o desertor Alexander Litvinenko, dentro do Reino Unido, na mesma época da morte de Politkovskaya. No caso de Litvinenko, o mesmo foi assassinado com materiais radioativos, numa clara violação da soberania territorial britânica e no contexto da consolidação de Putin como alguém que não deixa de perseguir, mesmo exteriormente, os compatriotas que considera terem-no traído, o que se aplica, recentemente, ao atentado contra o avião que transportava o líder do exército mercenário Wagner, Yevgeny Prigozhin, após uma fracassada rebelião, por ele liderada, contra a forma com que seus soldados eram, e são tratados, no front ucraniano. Putin nada e ninguém perdoa. E isso se reflete na relação com longos aliados da Guerra Fria.

Falo da queda do helicóptero que matou o presidente do Irã, Ebrahim Raisi. Para mim, como observador, é inverossímil que, justamente neste momento - em que a geopolítica dá sinais da maior perigo, diante da grande animosidade entre as superpotências  - os EUA e o Ocidente, desgastados pelo assassinato per si perpetrado contra o general líder das iranianas Forças Quds, Qasem Soleimani, em 2020, iriam se aventurar, também, a matar o líder formal (porque de fato é o Aiatolá Ali Khamenei) de um inimigo mortal como o Irã, já que possuidores do conhecimento que, se provado, dito fato atrairia, ainda mais, a fúria de xiitas numa Terceira Guerra Mundial: estes se uniriam aos russos na eventual incursão contra as tropas ocidentais, sob a alegação de se tratar de uma causa maior que o separatismo checheno, que seria esquecido (isso na melhor das hipóteses, já que a pior seria o uso de armas nucleares, que o ditador russo ameaça a todo instante). Portanto, também sustento que a morte de Raisi foi, do mesmo modo que a destruição do edifício residencial em Moscou, uma operação de bandeira falsa de Putin.

Vivemos numa época distópica. E Putin, junto ao seu “establishment”, são a maior prova disso, pois o fim, para grande parte do Ocidente - e, em retaliação, para a própria Rússia - vai se aproximando.

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